sábado, 7 de outubro de 2023

LEMBRA-TE ...

 Lembra-te quando te informavas através de uma multiplicidade de fontes de informação. Os quotidianos em papel, eram - pelo menos - 6 de  ampla circulação, na região da capital e entorno. Estes incluíam matutinos: "Diário de Notícias", "Jornal de Notícias" e "O Diário", assim como vespertinos: "Diário Popular", "Diário de Lisboa", "A Capital". Uma pessoa de baixo salário podia facilmente comprar um jornal por dia, algumas compravam mais do que um. Havia vários canais de TV , não por rede de cabo, mas pelas ondas eletromagnéticas. Não se tinha de pagar para receber um canal TV (eram canais abertos). 



A Lei da imprensa, da rádio e do audiovisual, obrigava a respeitar o pluralismo de informação. Cada meio de comunicação era obrigado a dar espaço a várias correntes políticas e ideológicas, em tempo «normal», por rotina. Nas campanhas eleitorais, além do espaço reservado aos concorrentes, havia obrigatoriedade de relatar  - de forma equilibrada - os diversos acontecimentos das campanhas e seus diversos protagonistas. As rádios, mesmo as locais, tinham serviços noticiosos próprios. Havia programas culturais em todos os media: pessoas de renome nas letras, na música, na ciência, etc. tinham programas regulares num canal de TV, numa rádio, num jornal diário ou num semanário. 

As  pessoas, quer fossem ilustres, quer anónimas, tinham direito a exprimir a sua opinião. Os casos de difamação, de ataque pessoal, de insultos, não eram frequentes: A dissuasão funcionava, pela possibilidade de ser levantado processo em tribunal, por difamação,  ou insultos em público. 

A vida em sociedade era muito mais intensa e desinibida, havia múltiplos sítios de convívio. Os bares, cafés e outros locais públicos tinham tertúlias informais, onde as pessoas costumavam reunir-se e falar do que lhes apetecesse. 

A era da Internet e do «smartphone» roubou às pessoas a noção da liberdade de expressão. As pessoas começaram a viver fechadas em círculos (presenciais ou virtuais) cada vez mais estreitos. A tolerância (em termos sociais) para com as ideias e defeitos dos outros, é agora muito menor. 

O leque de opiniões políticas e ideológicas, que são audíveis nos media de grande circulação, é cada vez mais estreito e as opiniões de uns (autointitulados) «especialistas», substitui-se à real opinião pública. 

A «vox populi» («voz do povo»), considerada -no passado - como uma força a ter em conta , mesmo no tempo os imperadores de Roma, desapareceu. Agora temos mil e uma maneiras de fabricação artificial da «opinião», mas isso não se pode considerar verdadeira opinião pública. Esta, pressupõe que as pessoas sejam informadas com verdade e recebam informação sobre qualquer assunto, através de várias fontes. Hoje, há uma situação de monopólio no acesso à media de massa. A concorrência comercial não significa variedade de opiniões, nem pluralidade de fontes informativas. A democracia (seja qual for a definição desta) não pode viver sem liberdade de  informação. 

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

DESPOVOAMENTO DA UCRÂNIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS (Artigo de "Moon of Alabama")

O colapso demográfico na Ucrânia sendo total, põe em risco a possibilidade da recuperação económica, no pós-guerra. 

Num artigo* muito bem documentado, o autor do blog «Moon of Alabama» mostra que os desequilíbrios populacionais são bem anteriores a Fevereiro de 2022 (início da intervenção russa na Ucrânia). 

O decréscimo de nascimentos e redução das faixas etárias jovens, já se verificava  no início dos anos 90, após o colapso da URSS, quando a Ucrânia se tornou independente. 

Mesmo antes disso, quando a Ucrânia ainda estava integrada na URSS, a situação já era preocupante do ponto de vista demográfico, como aliás também  se verificava na maioria das Repúblicas da URSS (incluindo a Federação Russa). 

Leia o artigo, ele tem muita informação objetiva!

(*)Ukraine SitRep: Bad Demographics - End of Support


Figura (do artigo de "Moon of Alabama")Pirâmide etária, por sexo, na Ucrânia, no ano de 2020. Note-se o estreitamento brutal das faixas etárias correspondentes à adolescência e jovens adultos, em ambos os sexos. 

terça-feira, 3 de outubro de 2023

PORTUGAL, «O TERCEIRO MUNDO DA EUROPA»

Portugal é um país totalmente dependente. A sua estrutura produtiva é cada vez mais estreita, não conseguindo autossuficiência sequer em termos alimentares, apesar das excelentes condições naturais para a agricultura

Portugal, após alguns laivos de políticas desenvolvimentistas nos anos imediatos pós-25 de Abril de 74, teve uma sucessão de governos conformados com a divisão internacional do trabalho, favorável aos grandes potentados. 

Bairro da Serafina em 1970, arredores de Lisboa (foto do arquivo de José Pacheco Pereira )

 Bairro de lata «Pedreira dos Húngaros» em Algés, perto de Lisboa



Casa em ruína (Portugal); uma imagem frequente tanto em ambientes urbanos, como rurais

O alinhamento total e incondicional com a Europa da UE e, em termos geoestratégicos, com a OTAN (dominada pelos EUA) é tido, pelos políticos do sistema e empresários, como uma necessidade e um bem. Pensam egoisticamente que, estando Portugal subordinado às grandes potências capitalistas,  isso lhes traz - a eles, do sistema - a garantia de tranquilidade no plano social, eliminando quaisquer hipóteses de agitação sócio-laboral ou surpresas eleitorais, como a subida ao poder de governos de Esquerda. Por outro lado, este tem sido o papel tradicional da «burguesia compradora». No presente, este papel traduz-se em investir apenas no sector terciário, o turismo sobretudo, com hipertrofia da economia parasitária e especulativa. 


Isto é bem visível com o nível atingido pela especulação imobiliária. Neste sector, após a transitória paralisia causada pelos confinamentos da pandemia do Covid, há cerca de dois anos atrás, tem havido mais do que um «boom»: É uma «fúria do imobiliário», com construção desenfreada de condomínios de luxo, em especial nas zonas litorais mais caras, cobiçadas por estrangeiros endinheirados. Ao mesmo tempo, verifica-se uma carência aguda de casas a preço abordável, até mesmo para a classe média. Hoje,  a maioria das pessoas não aufere rendimentos suficientes para comprar uma casa a crédito. Ficam afastados da compra de casa, porque o seu nível de ordenado não chega para obter o necessário crédito bancário. 

A planificação urbana, os PDM (Planos Diretores Municipais), ficaram «na gaveta». Não há qualquer restrição verdadeira, quer relativa a sobrecarga de construção, quer para canalizar investimento para habitação social. Hoje em dia, tornou-se banal, que seja ignorada e violada impunemente legislação ambiental, em particular, aquela visando a proteção da paisagem e ambiente natural. Este desprezo do ambiente resulta - sem dúvida - da corrupção ativa, exercida por interesses empresariais. Os candidatos, nas campanhas eleitorais, arvoram-se em «defensores ambientais intransigentes». Mas os autarcas e outros políticos, depois de eleitos, têm uma tendência curiosa para esquecer, quando se trata de aprovar os projetos de novos edifícios, quando estão em jogo chorudos capitais.  

A corrupção atingiu os que estão  ou ambicionam estar no poder. Isto inclui uma esquerda que gostava de arvorar sua suposta superioridade moral. Agora, já não é «esquerda de causas», mas a «esquerda que causa nojo». O restante da esquerda é insuficiente para catalisar a mudança. Além disso, esta tem sido incapaz de avaliar corretamente a situação em que se encontra e tem-se deixado dividir por querelas internas, alimentadas por rancores do passado. 

Por todos estes motivos, Portugal é «o porto seguro» dos capitalistas e capitais exteriores. Eles estão tranquilos, com o atual governo de Portugal e com as forças políticas com representação parlamentar. Também são favorecidos pela falta de preparação dos militantes sindicais catapultados para os cargos de direção nos sindicatos.

Assim, pode ler-se, em artigos dos jornais de negócios dirigidos à classe empresarial dos países mais ricos (Norte da Europa, América do Norte, e outros), que Portugal é realmente competitivo em relação a muitos outros países do Terceiro Mundo, não apenas pela estabilidade política, como também pelo baixo preço da sua mão-de-obra e pelas condições que o governo oferece aos investidores estrangeiros. Na realidade, não existe regulamentação restritiva, na prática, ao investimento estrangeiro. Neste país, também a exportação de capitais e dos lucros gerados não sofre qualquer limitação, de facto.    

Enfim, Portugal é o paraíso com que sonham os capitalistas mundiais. Discretamente, os oligarcas do Brasil, da China, da França, do Reino Unido e de muitos outros países, decidiram investir em Portugal. Não foi, certamente, por amor às gentes e à sua cultura!

De facto, não conheço nenhum outro país que discrimine os nacionaiscomo este o faz. Os mais competentes portugueses têm sido preteridos para agradar aos estrangeiros. Uma razão para isso (não tem que ver com hospitalidade ou abertura) é os burocratas parasitas e  corruptos aproveitarem-se da inexperiência de estrangeiros recém-chegados.

Portugal inaugurou a política oficial, no governo de direita de Passos Coelho, de exportação de cérebros. Em geral, são portugueses jovens, com qualificações elevadas, que não conseguiam encontrar aqui lugar compatível com sua formação e expectativas, porque estes lugares estariam «ocupados». Isto acontece, tanto em instituições de investigação e universidades, como em empresas ou quaisquer outras instituições, desde que elas beneficiem da «proteção» do poder político. O volume de exportação dos quadros técnicos e científicos não parou de crescer. Por alturas do referido governo de Passos Coelho, haveria cerca de 50 mil cientistas com doutoramento ou grau mais elevado, permanentemente no estrangeiro, ou seja, residindo e trabalhando nesses países e não tendo intenção de regressar a Portugal, a não ser em férias. Eles formaram-se totalmente, ou em grande parte, aqui, com a participação económica e o esforço de suas famílias, comunidades e Estado português. Isto corresponde a desbaratar o mais precioso potencial de um país, o potencial humano. Estes jovens foram fornecer trabalho valioso às empresas e instituições estrangeiras, que reconhecem suas elevadas qualificações. Esta exportação de «massa cinzenta» orquestrada pelos órgãos superiores do Estado português, significa que parte dos indivíduos com maior capacidade e potencial criativo, não irão contribuir para o desenvolvimento do seu próprio país. Não foi por escolha deles, não é por desígnio próprio, mas porque foram mantidos fora dos empregos, depois de formados. Foram atirados para o estrangeiro... pois aqui (supostamente) não teriam lugar!   

As crises que assolam o Mundo também são ressentidas em Portugal. É difícil um pequeno país fazer frente às dificuldades originadas no exterior. Mas, se as dificuldades  aqui sentidas, tivessem apenas aquela origem exterior, como nos querem fazer crer, haveria razões para guardar alguma esperança. 

Mas, no caso português, é diferente: Os que ocupam, por turnos, as poltronas do poder, especializaram-se em aproveitar-se sempre, quer em tempos de crise ou de bonança. Eles estão em «altos cargos» a espremer o povo. Igualmente dilapidam - sem nenhuma preocupação - o património histórico e a natureza. Assim, vendem este território ao «metro quadrado»: os pedaços mais apetecíveis, quer para fins habitacionais, agrícolas ou industriais, vão parar aos que façam a maior oferta, normalmente estrangeiros.  

Para garantir o negócio, os governos de turno são vigilantes e céleres em usar meios de repressão sobre movimentos sociais que eles não controlem. Eles também exercem permanente e massiva influência sobre as mentes, através dos meios de comunicação, em grande parte possuídos ou participados pelo Estado. Assim, garantem que o povo se mantenha ignorante e possa ser explorado pelos muito ricos, estrangeiros ou nacionais.

BILLIE HOLIDAY, «LADY DAY»



«LADY 'DAY» PLAYLIST DE CANÇÕES 

Dedico esta playlist aos que frequentavam comigo o Hot Clube nas décadas de 70-80, quando aprendi a apreciar o jazz e «descobri» a voz e personalidade extraordinárias de  Billie Holiday:



LADY 'DAY




Body and Soul

2


St. Louis Blues

3


Keeps on A-Rainin'

4


This Years Kisses

5


He's Funny That Way

6


Romance in the Dark

7


- Easy Living

8


- Lover Man

9


Lady Sings the Blues

10


- don't explain

11


- I'm a Fool to Want You 

12


 I'll Get By

13


All of Me 

14


Blue Moon

15


Lover Come Back to Me

16


- The Way You Look Tonight

17


I Cover The Waterfront 


18


The Man I Love

19


 - I Can't Give You Anything But Love

20


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

AS PALAVRAS [OBRAS DE MANUEL BANET]




 A palavra ciciada ao ouvido do amor nascente

A palavra gutural num soluço de ódio demente 


A palavra altaneira, de vazio cheia como vento

A palavra medida, calculando pelo sustento 


A palavra jocosa, saída de lábio sorridente

A palavra erudita, que revela o ignorante


A palavra bolsada com raiva e desespero

A palavra mão estendida em franca amizade


A palavra cozinhada com subtil tempero

A palavra esquecida em provecta idade


As palavras são tão diversas como as gentes

Traiçoeiras ou puras, radiosas ou cinzentas


Quem só sabe palavras, de vida pouco sabe

Viver, não é lição escolar que se aprenda





HENRY MANCINI, O COMPOSITOR DE MÚSICA DE FILMES

O compositor americano Henry Mancini deixou-nos uma profusão de músicas de filmes.  
Ele é dos que, se não existisse*, a cultura cinematográfica, a constelação de artes de Hollywood, seriam outra coisa: Sem dúvida, mais pobres.
Mancini corresponde - a meu ver - à definição implícita de triunfo do poeta ou do compositor: Parafraseando Charles Trenet, em «L'âme des Poètes», «Eles cantam suas melodias sem saber o nome do autor»...
- Quem não conhece o célebre tema da Pantera Cor-de-Rosa? 
- Quem não conhece a lindíssima canção «Moon River», cantada por uma infinidade de artistas? 
- Mas, quem sabia o nome do autor das duas composições, Henry Mancini?
Depois de "MOON RIVER" e "THE RETURN OF THE PINK PANTHER",  a minha terceira escolha "TOO LITTLE TIME" pode ser menos conhecida, mas é maravilhosa e continua a fazer parte do reportório de músicos de jazz. 


MOON RIVER

                    https://www.youtube.com/watch?v=nF5iKCMNTPs



 RETURN OF THE PINK PANTHER

                    https://www.youtube.com/watch?v=sEO0dgho9Z4


                                             TOO LITTLE TIME

                            https://www.youtube.com/watch?v=BslvmmaTEv0


                 


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* Tais como Ennio Morricone e Francis Lai

domingo, 1 de outubro de 2023

«BE HAPPY»



Be Happy by Klaus Schwab LYRICS Here's a little song I wrote You might want to hear it in your POD You own nothing And be happy Ain't got no cash, ain't go no car But 24 booster shots in your arm Own nothing Be happy You can't even buy shit in ze store Because of your low social credit score Own nothing Be happy You will own nothing And be happy Be happy and eat ze bugs