terça-feira, 19 de setembro de 2023
MANOBRAS SOBRE COTAÇÃO DO OURO E CRISE DO IMOBILIÁRIO DE ESCRITÓRIOS [Pierre Jovanovic]
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
BARBARA STIEGLER: o neoliberalismo está na origem da deriva autoritária
domingo, 17 de setembro de 2023
JOHN HELMER: ANGLO-AMERICANOS REPETEM ERRO FATAL DE NAPOLEÃO*
Oiça o podcast (ver link em baixo) de «Gorilla Radio» (Chris Cook), com John Helmer e Dave Lindorf.
Compreenda as analogias e diferenças: O resultado é semelhante. É essencialmente o mesmo erro estratégico, apesar das diferenças de pormenor.
John Helmer é o mais antigo correspondente ocidental em Moscovo. Ele é o autor do blog «Dances With Bears»
(*) Comentário de Manuel Banet:
Alguns leitores poderão achar insólito o título, pois pensam que quando os autores se referem ao erro fatal de Napoleão, estão a evocar a invasão pelas tropas imperiais francesas, da Rússia em 1812. Sem dúvida, que esse foi um grande erro, mas «motivado» pelo fracasso do (grande) erro anterior, a saber, «o sistema continental». Tratava-se de um bloqueio ao comércio britânico que tinha de ser cumprido por todos os aliados e «neutros», obrigados a rejeitar a entrada nos portos dos navios de comércio britânicos, inviabilizando toda a espécie de comércio de bens manufaturados e matérias-primas, muitas vindas do ultramar (Ásia, América, África...). Este «diktat» de Napoleão sobre todas as potências europeias continentais, cedo se tornou um fracasso. O comércio continuou sob forma ilegal, com explosão do contrabando, especialmente, nas zonas costeiras mais propícias. Os russos, apesar de batidos repetidas vezes pelos exércitos imperiais e assinarem a «paz de Tilsit», na qual o Czar Alexandre I aceitava o «sistema continental», a verdade é que o volume de contrabando de mercadorias inglesas era imenso. Napoleão, vendo que tinha decretado algo impossível de fazer cumprir, tomou este «desrespeito» do bloqueio das mercadorias inglesas, como pretexto para a invasão da Rússia.
A analogia com os dias de hoje é que os anglo-americanos queriam forçar um banimento de toda a frota comercial russa, assim como um severo controlo e limitação nos preços do petróleo russo exportado, mas não conseguiram nada disso. Logo que as sanções foram decretadas, os russos desenvolveram novas rotas, por vias marítimas seguras, bordejando o mar Ártico, a Coreia do Norte e a China, de forma a escoarem e receberem toda a espécie de mercadorias, incluído as suas exportações de petróleo. De tal maneira a situação se tornou favorável, que os preços do petróleo têm subido muito acima do «teto» imposto pelas potências da OTAN, aos países amigos ou inimigos. Quem tem beneficiado muito são vários potentados petrolíferos do Golfo, os quais compram discretamente petróleo russo, com desconto, para o venderem depois, como se fosse deles e realizando um confortável lucro. Também a Índia tem beneficiado dos descontos, que lhe permitem sustentar a sua economia, tal como muitos outros países em desenvolvimento.
No caso presente, não existe uma guerra naval (ainda), nem houve um «Trafalgar», a vitória naval britânica que destruiu para sempre as ambições de domínio francês nos mares. Porém, os anglo-americanos falharam redondamente nas sanções e bloqueios que queriam impor, não só aos russos, como a quaisquer países que desejassem comerciar com eles. Dois anos depois, os resultados estão à vista: foi um imenso fiasco, que só desorganizou e debilitou os países da OTAN, subjugando inteiramente a UE à vontade imperialista americana.
sábado, 16 de setembro de 2023
CÉUS DE OUTONO [OBRAS DE MANUEL BANET]
Quando o frio e as primeiras chuvas
Esvaziam os locais de veraneio
Quando os matizes de cinzento
Se desfraldam nos céus
É nessa ocasião que passeio
A minha melancolia
Contando as gaivotas
Que na praia se aquecem
Os céus sempre mutáveis
Exibem o portentoso fresco
Que nenhuma mão humana
Pode representar com pincéis
E cores numa imensa tela
Quando o Sol se põe
Iluminam-se breves os flocos
D' algodão das nuvens,
Espetáculo grandiloquente
Onde os azuis e os roxos,
Os rosa e os laranja
Se casam em apoteose
Serena e lânguida
Em breve, o pano de veludo
polvilhado de luzes
Recobre o oceano e as falésias
Cenário dum novo drama
E a noite entra em cena
sexta-feira, 15 de setembro de 2023
REPÚBLICA DOS POETAS Nº8: SEBASTIÃO DA GAMA
Sua originalidade faz dele, a meu ver, o poeta eternamente jovem, eternamente atual. É um fervoroso católico, mas sua religião é (também) a do amor à sua esposa e à sua terra, Arrábida.
É o que mais transparece da leitura da sua obra poética, que - em grande parte - foi publicada postumamente.
Assinale-se o facto de também ter sido um apaixonado professor de Português; os seus escritos pedagógicos têm valor próprio, são reflexões do transmissor da paixão pela literatura e pela poesia, às jovens gerações.
Morreu cedo (Vila Nogueira de Azeitão, 10 de abril de 1924 — Lisboa, 7 de fevereiro de 1952), de tuberculose. Porém, para sempre, o poeta vive nas palavras vibrantes e radiosas de vida nos seus poemas. E sua palavra soa através das paisagens maravilhosas da Serra da Arrábida, que ele soube amar e dar a conhecer.
Ver: SEBASTIÃO DA GAMA, O POETA DA ARRÁBIDA: documentário da RTP
O agoiro do bufo, nos penhascos,...
foi o sinal da Paz.
O Silêncio baixou do Céu,
mesclou as cores todas o negrume,
o folhado calou o seu perfume,
e a Serra adormeceu.
Depois, apenas uma linha escura
e a nódoa branca de uma fonte antiga :
a fazer-me sedento, de a ouvir,
a água, num murmúrio de cantiga,
ajuda a Serra a dormir.
O murmúrio é a alma de um Poeta que se finou
e anda agora à procura, pela Serra,
da verdade dos sonhos que na Terra,
nunca alcançou.
E outros murmúrios de água escuto, mais além :
os Poetas embalam sua Mãe,
que um dia os embalou .
Na noite calma,
a poesia da Serra adormecida
vem recolher-se em mim.
E o combate magnífico da Cor,
que eu vi de dia :
e o casamento do cheiro a maresia
com o perfume agreste do alecrim ;
e os gritos mudos das rochas sequiosas que o Sol castiga
--passam a dar-se em mim .
E todo eu me alevanto e todo eu ardo.
Chego a julgar a Arrábida por Mãe,
quando não serei mais que seu bastardo.
A minha alma sente-se beijada
pela poalha da hora do Sol-pôr ;
sente-se a vida das seivas e a alegria
que faz cantar as aves na quebrada ;
e a solidão augusta que me fala
pela mata cerrada,
aonde o ar no peito se me cala,
descem da Serra e concentrou-se em mim.
E eu pressinto que a Noite, nesse instante,
se vai ajoelhar ...
.....................................................................
Ai não te cales , água murmurante !
Ai não te cales , voz do Poeta errante !
-- se não a Serra pode despertar .
....#.....
Pelo sonho é que vamos
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
Anya Parampil: TÁTICAS DE MUDANÇA DOS REGIMES, PELOS EUA
Uma importante descrição no popular programa «MOATS» de George Galloway:
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
WOKISMO - ALGUMAS REFLEXÕES
Um vídeo de «Le Précepteur»
Tenho refletido bastante sobre este fenómeno de wokismo, embora isso não se tenha traduzido em escritos de minha autoria.
Tenho veiculado alguns pontos de vista críticos do wokismo, sobretudo na perspetiva da política dita de classe. Isto é, os desenvolvimentos políticos associados ao wokismo não se limitam ao fenómeno de moda intelectual ou sociológica, mas penetram profundamente nos modos de fazer política, sobretudo nas classes desapossadas, oprimidas, sejam quais forem as suas identidades.
Creio que há uma tendência que acaba por ser prejudicial nalgumas pessoas que adotam o ponto de vista de luta de classes (que também é o meu): É a tendência de ver na luta de todas as «frentes» - do feminismo, antirracismo, contra a homofobia, etc. -como conduzindo sempre a fracionar, dividir e isolar os membros de várias componentes das classes oprimidas. Esta visão é míope, pois a condição de opressão é evidentemente múltipla, é multidimensional; uma pessoa não é «somente» explorada economicamente, é também discriminada socialmente. Servem como fatores de discriminação: a «raça» (na realidade, a etnia), a orientação sexual, a exclusão duma educação elitista, etc.
A miopia nas pessoas que adotam a visão «woke», por seu turno, é a de excluírem qualquer aproximação, ou tentativa de convergência, com o que se chamava «o proletariado», pois o pensamento woke, frequentemente, prioriza a questão identitária sobre a questão da exploração económica. Na realidade, ao fazê-lo, inverte os termos da questão. Os operários estão dentro duma cultura diferente, estão imersos na sua cultura operária, com lados positivos e com preconceitos que se mantiveram no meio social a que pertencem.
No fundo, trata-se de combater a opressão numa frente ampla, reconhecendo que ela tem sempre uma forte componente económica, mas que não é apenas essa a sua natureza. Tipicamente, uma opressão reveste-se sempre de discriminação violenta, para as suas vítimas. Para resistirem, estas devem encontrar toda a gama de alianças de forma a lutar contra os inimigos de classe, muito mais fortes. Estes, são dotados de muito mais do que de capital: têm a seu favor a capacidade de influenciar maciçamente as mentalidades, de nos manipular: Fazem-no, pondo os explorados a lutar uns contra os outros, os espoliados a designarem como inimigos outros espoliados.
Os oprimidos só podem vencer, quer em lutas parciais, quer nas suas metas de longo prazo, unindo-se. Isto implica aceitar a natural heterogeneidade, aos níveis social, cultural, identitário e ideológico. Tal princípio estratégico decorre, não apenas do desequilíbrio de armas (no sentido literal e metafórico), mas também porque a luta -para ser bem sucedida e não ser desviada - precisa de refletir a nova mentalidade, o novo modelo de sociedade. O trabalho de educação (e auto educação) nas fileiras dos excluídos do poder, tem de ser permanente. Um ponto fulcral, é aprender a ajuizar se tal ou tal iniciativa, campanha, etc., tem como resultante unir os oprimidos entre si, ou de os dividir ainda mais. Não chega proclamar ritualisticamente que se «deseja a unidade»; é uma daquelas coisas nas quais só se acredita vendo o comportamento quotidiano em coerência com tal proclamação. Caso contrário - independentemente da ideologia afixada - está-se, inconscientemente, a favorecer a exploração.
Os da classe dominante são uma ínfima minoria, face ao número dos espoliados, oprimidos, marginalizados. Eles conseguem manter seu domínio, graças ao controlo sobre as mentes dos oprimidos, não apenas dos corpos: por isso, eles investem tanto na media de massas, que propaga as ideias e atitudes que eles querem que nós adotemos: isso permite a continuidade da sua dominação.
A nossa resposta tem de passar, entre outras coisas, pelo desmascarar, junto dos da nossa classe, das técnicas e meios subtis utilizados para nos desorientar, nos alienar das lutas e alianças, que deveriam ser as nossas.