A euforia apoderou-se da bolsa de Frankfurt, quando a economia alemã atravessa o segundo ano de recessão. Os investidores estão a jogar no momento político da (re) eleição de Trump. As taxas de juro das obrigações soberanas dos principais países ocidentais irão aumentar, desencadeando nova vaga de inflação. Estas euforias especulativas são sinal típico, antecendo grandes crises, como a de 1929, a do ano 2000 (bolha das dotcom) ou a de 2008 (bolha do crédito hipotecário).

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

REPÚBLICA DOS POETAS Nº8: SEBASTIÃO DA GAMA

Sua originalidade faz dele, a meu ver, o poeta eternamente jovem, eternamente atual. É um fervoroso católico, mas sua religião é (também) a do amor à sua esposa e à sua terra, Arrábida. 

É o que mais transparece da leitura da sua obra poética, que - em grande parte - foi publicada postumamente. 

Assinale-se o facto de também ter sido um apaixonado professor de Português; os seus escritos pedagógicos têm valor  próprio, são reflexões do transmissor da paixão pela literatura e pela poesia, às jovens gerações.  

Morreu cedo (Vila Nogueira de Azeitão10 de abril de 1924 — Lisboa7 de fevereiro de 1952)de tuberculose. Porém, para sempre, o poeta vive nas palavras vibrantes e radiosas de vida nos seus poemas. E sua palavra soa através das paisagens maravilhosas da Serra da Arrábida, que ele soube amar e dar a conhecer.

Ver:  SEBASTIÃO DA GAMA, O POETA DA ARRÁBIDA: documentário da RTP






SERRA-MÃE

O agoiro do bufo, nos penhascos,...
foi o sinal da Paz.
O Silêncio baixou do Céu,
mesclou as cores todas o negrume,
o folhado calou o seu perfume,
e a Serra adormeceu.

Depois, apenas uma linha escura
e a nódoa branca de uma fonte antiga :
a fazer-me sedento, de a ouvir,
a água, num murmúrio de cantiga,
ajuda a Serra a dormir.

O murmúrio é a alma de um Poeta que se finou
e anda agora à procura, pela Serra,
da verdade dos sonhos que na Terra,
nunca alcançou.

E outros murmúrios de água escuto, mais além :
os Poetas embalam sua Mãe,
que um dia os embalou .

Na noite calma,
a poesia da Serra adormecida
vem recolher-se em mim.
E o combate magnífico da Cor,
que eu vi de dia :
e o casamento do cheiro a maresia
com o perfume agreste do alecrim ;
e os gritos mudos das rochas sequiosas que o Sol castiga
--passam a dar-se em mim .

E todo eu me alevanto e todo eu ardo.
Chego a julgar a Arrábida por Mãe,
quando não serei mais que seu bastardo.

A minha alma sente-se beijada
pela poalha da hora do Sol-pôr ;
sente-se a vida das seivas e a alegria
que faz cantar as aves na quebrada ;
e a solidão augusta que me fala
pela mata cerrada,
aonde o ar no peito se me cala,
descem da Serra e concentrou-se em mim.

E eu pressinto que a Noite, nesse instante,
se vai ajoelhar ...

.....................................................................

Ai não te cales , água murmurante !
Ai não te cales , voz do Poeta errante !

-- se não a Serra pode despertar .

                                                 ....#.....



Pelo sonho é que vamos


Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.

 

1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Ver os artigos desta série, «REPÚBLICA DOS POETAS», que abrange a poesia escrita em português.
Número anterior: https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2023/08/republica-dos-poetas-n-7-luiz-vaz-de.html