terça-feira, 2 de agosto de 2022

REFLEXÕES ESTIVAIS



Escrevo, impulsionado pelo louco sentimento - louco, porque sei que não responde a expectativa racional - de que as minhas meditações encontrão algum eco nos leitores, que eu estimo, embora não os conheça pessoalmente, salvo raras exceções.
Pois, o que me apetece escrever no calor deste Verão perto do mar, é que realmente não encontro motivos para serenamente usufruir da calma estival, para aproveitar o remanso à sombra, na sesta depois do almoço, ou para passear ao fim da tarde nas falésias com a minha cadela.
Não, realmente, estou demasiado inquieto, indisposto mesmo, com as notícias que vejo, oiço e leio.

- O braço-de-ferro entre os EUA e a China, a propósito de Taiwan continua. É inacreditável mas verdade, os EUA provocarem a China para algo que pode degenerar em guerra global, portanto com perigo de se tornar nuclear? Não será isto uma prova da loucura e desorientação estratégica dos dirigentes, dos verdadeiros, os que mexem os cordelinhos discretamente, em Washington?
- A guerra na Ucrânia está muito acesa e nenhuma perspetiva concreta de paz se apresenta, de momento. Continuam a morrer soldados e civis dos dois lados, sem qualquer razão, apenas adensando a tragédia.
- Os governos europeus foram lançados na aventura de sanções suicidárias contra a Rússia, a qual não tem de mexer um dedo, apenas deixar as coisas correr o seu curso, para a Europa ficar sem os recursos energéticos necessários à população e à indústria, sem fertilizantes para sua agricultura, sem matérias-primas e bens industriais, que eram fornecidos pela Rússia, muitas vezes a preços vantajosos porque envolviam contratos de longo prazo.
- A «resposta» europeia à situação de catástrofe, no plano militar e humanitário, ainda é mais irresponsável, tendo eles e os americanos incentivado esta situação, espicaçado os russos a encetarem esta campanha militar. Ainda por cima, encorajam o lado ucraniano a não procurar uma saída negociada, a bater-se com armamentos sofisticados por eles oferecidos, mas inadequados ao terreno e sem que as tropas estivessem treinadas para os utilizar.
- Eu não culpo inteiramente os poderes da Ucrânia; eles não têm alternativa, senão obedecer às ordens dos americanos, dos europeus, ou de serem sujeitos a «suicídio», ou «acidente trágico», ou golpe derrubando o poder atual, a favor de outro, mais dócil para os verdadeiros patrões.
No plano dos media, verifico que estão demasiado subservientes, que as pessoas são mantidas numa bolha de desinformação, sendo ocultadas todas as notícias que possam pôr em dúvida a narrativa oficial dos Estados ocidentais, pelo contrário, inundando o espaço informativo com as campanhas mais sujas e falsas que jamais vi, contra o outro lado, que não é apenas Putin, mas todo o governo russo, e também o povo. A adesão do povo russo (com ou sem razão) às decisões dos seus líderes nunca foi tão elevada.
Enquanto Putin é pintado com as cores de ditador cruel e sanguinário, o que verifico é que os «pacifistas» do ocidente agitam histericamente bandeiras ucranianas, não tendo vergonha de apoiar explicita e com pleno conhecimento de causa, um governo dominado por nazis, banderistas, que instauraram uma espécie de culto nacional a Stepan Bandera, figura desprezível de traidor, criminoso de guerra, colaborador das SS nazis, nos massacres de judeus, polacos, ucranianos antifascistas.
- Sabendo-se perfeitamente qual o substrato ideológico do governo resultante do golpe de «Euro-Maidan» de 2014, ele teve apoios, de toda a ordem, dos países da NATO: Durante 8 anos, treinaram as forças armadas ucranianas (incluindo os batalhões de forças «especiais» Azov e outros) para estas atingirem o nível de forças operacionais de um membro da NATO. Sabia-se que a população etnicamente russa do Don estava a ser flagelada por incursões e bombardeamentos constantes, das forças regulares e dos batalhões «especiais», durante os oito anos em que nominalmente existiram os «Acordos de Minsk».
- Os acordos de Minsk, firmados entre os representantes do governo ucraniano e das forças das repúblicas separatistas, apenas incluíam a Rússia, a Alemanha e a França, como garantes do seu cumprimento. Nestes oito anos, os ocidentais nada fizeram para estimular o seu cumprimento. Essa inação dos ocidentais permitiu (convidou) as violações frequentes dos acordos, do lado do governo ucraniano.
- A 20 de Fevereiro, quando a Rússia reconheceu formalmente as duas repúblicas separatistas, estava em preparação uma operação massiva de ataque e invasão das Repúblicas de Lugansk e Donetsk: se os russos não se tivessem interposto entre a força de 75 mil homens (os que tinham melhor treino e equipamento) e as referidas repúblicas, teria sido um banho de sangue.
- É realmente muito sujo o jogo de todos os que, de forma vesga, nada fazem para prevenir uma situação de genocídio, mas depois vêm carpir lágrimas de crocodilo, perante a invasão russa.
- Entendamo-nos: é uma tragédia, eu disse isso logo, e que esta invasão devia parar. Porém, esta decorre de uma situação muito delicada, em que Putin e o Estado russo tinham jurado defender os povos das duas repúblicas, seus irmãos russos. O restante povo russo (da Federação das Repúblicas da Rússia) nunca perdoaria, caso não fosse cumprida a promessa de proteção, perante a situação de genocídio lento (8 anos!) e a iminência duma Blizt Krieg, preparada por Kiev, às fronteiras dos dois territórios.
- Realmente, todos os intervenientes nos governos ocidentais têm as mãos manchadas do sangue ucraniano e russo, pois são cúmplices principais, através das suas políticas e através da NATO, no desencadear desta guerra, que não era uma fatalidade. Bastava, no Outono de 2021, as chancelarias ocidentais (incluindo a dos EUA) tomarem a sério os insistentes pedidos da diplomacia russa para conversações relativas à segurança europeia global.
- Mais ainda que os atos criminosos do governo ucraniano, ou que a revelação de que a Ucrânia se dispunha a rasgar o acordo internacional firmado, que garantia que ela nunca possuiria armas nucleares, foi o seguinte, o ato decisivo:
- O ato de negação de diálogo diplomático fez mudar a perspetiva de Moscovo, sendo certo que estavam demasiados fatores vitais em jogo para que Putin tomasse de modo ligeiro a recusa ocidental. Estou certo que os diplomatas russos explicaram aos ocidentais porque razão era vital, para a estabilidade e a convivência pacífica na Europa, que não houvesse alargamento da NATO à Ucrânia. De facto, o objetivo dos ocidentais era de acirrar o conflito, exercer pressão até o governo russo ser forçado a ceder. Mas ele não cedeu, nem podia fazê-lo, porque o que estava em causa era a Rússia, enquanto país independente, soberano, não transformado num amontoado de repúblicas autónomas, incapazes de resistir à investida neoliberal. Como todos sabemos, foi isto que tentaram fazer da Rússia, nos anos 90, no tempo de Yelstin.
- A cidadania - atualmente - está sujeita à completa dominação pela oligarquia. A oligarquia que nos governa, em Washington ou em quaisquer outras capitais Ocidentais, está totalmente identificada com a cabala de Davos.
- A pretexto de uma (falsa) transição ecológica, querem matar à fome três quartos da humanidade. Pode parecer exagero, mas infelizmente, isto pode ser corroborado por demasiados indícios:
- A autêntica guerra contra os agricultores, na Holanda, na Itália e em todos os sistemas agrícolas com elevado rendimento, que permitiam colmatar as falhas alimentares crónicas no Terceiro Mundo.
- O prolongar da guerra na Ucrânia e das sanções ocidentais contra produtos russos, nomeadamente agrícolas, incluindo a impossibilidade dos navios russos terem a sua carga segurada, devido à proibição dos ocidentais de que as companhias seguradoras dos navios aceitassem fazer tais seguros.
- Muito do que se passa, tem como efeito uma realmente terrível recessão ao nível mundial. Os países vão sofrer de fome, frio e escassez. Vai haver, numa escala ainda maior que no presente (veja-se o caso do Sri Lanka) insurreições, revoltas da fome.
- Os poderosos têm estado a reforçar as polícias de choque e os dispositivos para controlo das multidões. Em breve, o modelo de vigilância eletrónica generalizada, ensaiado com o COVID-19, vai funcionar de forma ainda mais massiva e mais coerciva.
- Vão chamar as «Alterações Climáticas» a torto e a direito, como justificação. Não apenas haverá políticas de austeridade (para os pobres), acompanhadas da perda das liberdades e garantias fundamentais. Irão aproveitar muitos vírus (como «monkeypox» ou varíola símia) que existem no estado endémico e que, esporadicamente, causam um surto local, como pretexto para medidas de ditadura vacinal, com um caráter mais ou menos permanente.
- Vai ser impossível viajar, em circunstâncias normais: Haverá uma polícia que decidirá se tal ou tal viagem, por tal ou tal pessoa, é ou não, «legítima» ou «segura». O turismo, uma das maiores fontes de receita de Portugal e dos países   mediterrânicos, vai colapsar.
- Mas, para o governo dos senhores, é tempo da «ralé» se convencer que tem de viver na maior  «simplicidade»; terá de renunciar ao automóvel e a muitas outras coisas - aquecimento, ar climatizado, alimentos não sintéticos, etc. - para que a «elite» e as forças armadas continuem a usar os seus «jets».

Tudo o que escrevi acima, está em fontes fidedignas, que tenho citado neste blog. A ignorância não é desculpa para as pessoas não se informarem. Só quem o fizer, pode ajuizar até que ponto o que enunciei acima, tem cabimento, ou não. As questões que levanto são de tal modo graves, que o simples facto de serem omitidas pelos media, ou tratadas de uma maneira parcial, facciosa, deveria despertar as pessoas, que ainda não estejam plenamente alertadas. As que estão plenamente conscientes destes perigos, devem fazer um esforço, junto de outras nas quais tenham confiança, para que algo comece a mudar.

- Será que as pessoas só irão acordar, quando já for tarde demais? Um grande paradoxo da nossa época é que não é assim tão difícil saber quais os planos da oligarquia. Podemos ficar amplamente informados, se nos dermos ao trabalho de pesquisar, de consultar fontes e de as confrontar com os dados. Porém, o adormecimento é de tal ordem, que os privilegiados podem atuar com impunidade e arrogância... Até ver; pois revoluções despontam já, nos países do Terceiro Mundo.

domingo, 31 de julho de 2022

VIAGEM A TAIWAN DE NANCY PELOSI: O QUE ELA QUER FAZER ESQUECER



Muitas das informações abaixo foram recolhidas da obra «Red Handed», da autoria de Peter Schweizer 

(ver neste blog uma breve resenha dedicada à obra) 

Nos dias imediatos ao anúncio da viagem da «speaker» do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi (do Partido Democrata), foram muitos os media a sublinharem que ela participou em 1991, na praça Tien An Men em Pequim, na manifestação orquestrada por uma delegação do Congresso dos EUA e que pretendia ser uma homenagem aos que caíram nos trágicos incidentes. Apenas uma provocação, sem consequências para o povo chinês, apenas dificultando a renovação de laços comerciais entre os EUA e a RPC. Posteriormente, ela combateu a entrada de Pequim para a Organização Mundial do Comércio. Em 2005 tentou bloquear - no Congresso - a compra, por uma companhia de petróleos chinesa com forte intervenção governamental, da companhia americana Unocal. 

Mas, em pouco tempo, a sua posição passou de firme a moderada. Numa entrevista à revista «Politico», deu a indicação de que, embora não renunciando ao compromisso de democratização do regime chinês, "não estava disposta a criar novas fricções com os dirigentes chineses." Ela argumentava com a questão das alterações climáticas e de ser importante que as duas nações estivessem do mesmo lado. Dizia que se tratava de uma oportunidade a não perder. 

Mas, em paralelo, houve outros fatores - menos visíveis - que começaram a intervir. Nomeadamente, seu filho e seu marido iniciaram negócios com a China continental. O seu esposo, Paul, tornou-se membro da firma Matthews International Capital Management, firma com um papel pioneiro no mercado chinês. O seu dirigente, William Hambrecht, amigo de longa data dos Pelosi, foi quem lançou o primeiro fundo de investimento na China, em 1995.  Além de Paul estar no conselho de administração da Matthews International, os Pelosi possuíam uma grande fatia de capital investida no fundo. Os Pelosi possuíam uma participação entre 5 e 25 milhões de dólares, neste fundo. 

Outros negócios com a China também atraíram os Pelosi, um serviço de limousine, «Global Ambassador Concierge», que beneficiou de condições ótimas, durante os jogos olímpicos de 2008. No Congresso, Nancy Pelosi tinha sido -inicialmente - hostil a que Pequim organizasse os jogos. Mas, um ano depois de seu marido ter adquirido participação na firma Global Ambassador Concierge, ela inverteu sua posição; opôs-se ao boicote dos jogos olímpicos de Pequim.

Quanto ao filho, Paul Pelosi Jr., ele também fez negócios envolvendo investidores e clientes da China. Esteve e está envolvido com a Global Tech Industries Group, tendo efetuado viagens à China e Vietname «na busca de potenciais investidores, para tentar combinar encontros com as agências federais relevantes em Washington DC.» O filho dos Pelosi também participou na administração executiva doutra empresa, com planos ambiciosos na China, International Media Acquision Corp. 

Desde o início de 2020 e durante mais de um ano, a «speaker» bloqueou qualquer esforço do Congresso em investigar as origens do vírus COVID-19. Apesar de haver muitos indícios da possibilidade deste vírus ter saído de laboratórios em Wuhan, Nancy Pelosi ordenou aos democratas no Congresso que não cooperassem com quaisquer esforços para investigar o assunto.

Estes laços de negócios com a China, especificamente com empresas controladas pelo CCP, são muito comuns na Câmara dos Representantes e no Senado Americano. As relações de membros destacados do Partido Republicano não são menos comprometedoras que as do Partido Democrata. O porta-voz dos Republicanos no Senado, Mitch McConnell tem uma longa história de envolvimento em negócios com empresas controladas por Pequim. São tantas e tão comprometedoras as ligações de negócios pessoais de membros do Congresso, que tudo o que toca à política dos EUA relativa à China, deve ser analisado tendo em conta os interesses pessoais da oligarquia política de Washington. 

A reviravolta de Nancy Pelosi (ao fazer uma viagem provocatória a Taiwan) explica-se como de alguém que pretende fazer esquecer junto do eleitor e dos colegas de partido que a sua posição anterior era a favor da cooperação com a China. Apesar de toda a barragem mediática, alguns jornalistas de investigação e autores como Peter Schweizer, dão conhecimento ao público daquilo que não pode deixar, no mínimo, de ser considerado conflitos de interesse clamorosos, de personagens da alta hierarquia nos EUA. 

Agora, pretende estar «na vanguarda» da provocação envolvendo uma viagem a Taiwan que tem como único propósito enervar os dirigentes da China continental, sobre um assunto muito sensível no que toca à política de «um só país, dois sistemas». Embora Pelosi não seja membro da Administração, visto que preside a um órgão legislativo e não executivo, é evidente que esta manobra contou com o pleno acordo da Casa Branca. Os chineses não se estão a equivocar, quando pretendem que esta é uma visita «de Estado», logo uma ingerência descarada dos EUA pois - nominalmente - Taiwan é território da China. 

Seja qual for o desfecho desta situação, ela vai acrescentar tensão internacional, num cenário já muito tenso, sendo certo que a China não vai «encolher os ombros», mas vai fazer sentir que não está disposta a sofrer mais humilhações. 

Exatamente o contrário do que os chineses continentais, os taiwaneses e todos os restantes povos poderiam desejar.  A atitude responsável seria de os líderes dos EUA trabalharem para fazer baixar as tensões entre potências nucleares, em vez de constantemente  insuflar o ódio e discórdia, encorajando situações de tensão que se traduzem em conflito, potencialmente em conflito nuclear.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

[NO PAÍS DOS SONHOS] «Dança dos Cavaleiros» de Prokofiev


 

Este é um sonho que preferia não ter. Preferia um vazio, um manto branco, ocultando todas as imagens terríveis que passam diante dos meus olhos fechados. 

Estas imagens, não as podemos ocultar, porque são o cinema interior que o nosso cérebro produz. De tal maneira nos implica, que ficamos exaustos, esgotados, trementes e gélidos, mas nada podemos fazer. 

Nada nos pode afastar daquela caminhada rítmica, compassada, obsessiva, dos Montagus e Capuletos. Vejo que se dispõem numa dança hierática, macabra, pois já se sabe que não haverá quartel; será que irei presenciar o desencadear do ódio hereditário, da «vendetta», entre as duas casas aristocráticas? 

Não, a música é essa mesma, da Suite de Prokofiev, porém o contexto é outro. É bem mais real, mais assustador, por isso mesmo. Aqui, neste sonho, não estamos no teatro, estamos numa rua qualquer duma cidade banal, no Século XXI. 

A civilização ruiu, só restam bandos de assassinos desapiedados, que ditam a sua lei. Não há lugar para o amor, ou para qualquer sentimento humano. Em breve, será a matança. Os olhos, de ambos os lados, estão injetados de sangue. Se não estás num dos campos, então, és inimigo a abater; este é o cálculo feito por qualquer um dos lados. 

Na vida do sonho, como na vida real, não me alinharei jamais com um dos campos de bandidos que se digladiam, para impor a sua lei às gentes. As pessoas comuns são como as presas das aves de rapina: Movem-se, sem saber que, dentro de instantes, vão ser atacadas, feridas, liquidadas e devoradas.

Esta dança obsessiva tem a altivez brutal da fatalidade que avança. Tem o peso inexorável do destino em cada nota. Depois de acordar, interpretei este sonho como premonitório da nova era trágica em que estamos a entrar; como em 1940, o ano da estreia da obra-prima de Prokofiev.




quinta-feira, 28 de julho de 2022

QUEM TEME A PAZ?

Portugal é um país cristão ou, pelo menos, com fortes raízes e cultura cristãs. É muito fácil criticar o cristianismo. Há quem tenha dito (Nietzsche) que é a religião dos fracos, dos escravos, mas não no sentido emancipatório, antes no sentido de justificação da desigualdade, da opressão, etc. Outros pensam que muito daquilo que se fez em nome da Cruz, ao longo da História, é tão horrível que, na sua essência, o cristianismo deve ser portador de ódio e não de amor, não se pode aceitar que «a religião do amor» nada tenha que ver com desmandos e crueldades exercidas pelos que se designam como seus fiéis seguidores. 

Enfim, a paz de espírito, a renúncia a meios violentos de afirmar uma determinada verdade, não é exclusivo do cristianismo, mas antes é vulgar nas outras grandes religiões. Por exemplo, no budismo, é muito explícita a condenação da violência, porém houve samurais budistas, houve perseguições cruéis dos convertidos ao cristianismo por budistas, houve «monges-soldados». O islamismo proíbe que as pessoas sejam convertidas à força, à religião do Alcorão.  Porém, nas épocas de expansão do Islão, a conquista militar desembocava numa conversão forçada das populações. As populações conquistadas e não-convertidas, estavam sujeitas a um imposto específico, por continuarem a exercer sua religião tradicional e sujeitas também, com frequência, a serem transformadas em escravas. 

A verdadeira paz é interior. Não é privilégio de alguma religião, ou corrente ateísta. A paz de espírito significa que nós somos guiados pela nossa própria ética. Ela pode decorrer da adesão a uma religião, ou ideologia não-religiosa. Porém, na sua essência, esta ética dedica-se a viabilizar um mundo menos mau: Um mundo onde as forças do mal não se podem servir de e manipular os sentimentos das pessoas, por forma a chegarem aos seus fins desprezíveis, que se resumem, essencialmente, ao poder. 

Assim, a distinção essencial, não é étnica, religiosa, ou outra, senão que se está a favor - ou não - da distribuição o mais ampla e o mais igualitária possível do poder. Por outras palavras, pretende-se evitar a concentração do poder - quaisquer que sejam as razões invocadas para o fazer - ou se acha que há legitimidade para impor essa (falsa) solução de concentração do poder, para se «fazer reinar» a paz. No segundo caso, está-se a mascarar (perante os outros e si próprio) o desejo de poder, de domínio sobre os outros. 

O domínio sobre si próprio, a transformação pacífica, por dentro, de pessoas realmente imbuídas de pacifismo, é difícil de realizar, na prática. Mas, em teoria é muito simples de enunciar, de uma simplicidade que uma criança de tenra idade pode perceber: «Não trates os outros do modo como não queres que te tratem a ti» ou, formulado pela positiva, «Trata os outros do modo como gostas de ser tratado».

Não acredito que existam «genes da agressividade», nem que a agressividade contra um grupo, uma nação, uma fação seja ela qual for, esteja baseada em algo profundo, instintivo. Acredito que é devido à educação e ao entorno social, que são criadas as condições da intolerância, de se considerar que existem «raças» ou etnias com méritos diferentes, ou que a «competição e a superioridade dos vencedores» sejam as legítimas causas da desigualdade.

Os que não participam diretamente numa guerra estão sujeitos,  porém, à guerra psicológica, a serem forçados, coagidos física e psicologicamente, a «se arrumarem» num ou noutro lado. Alguém pacifista - no genuíno sentido da palavra - não deseja a continuação da guerra, deseja que haja cessar-fogo, para se encetarem conversações de paz, para que os povos sejam poupados a mais mortes, destruições e desgraças. 

Porque acontece isto? Ou seja, por que razão uma boa parte das pessoas, não envolvidas nas operações militares, se sentem «justificadas» em opinar que a guerra deva continuar até um dos lados («o nosso») ter esmagado o outro? Elas sentem-se justificadas (?) a decretar a continuação da morte, ferimentos, traumas, em pessoas desconhecidas, de um e do outro lado, completamente inocentes das causas e peripécias que levaram ao estado de guerra. 

Na realidade, os poderosos são os causadores e beneficiários deste estado de supressão do que há de realmente humano no ser humano. Esta supressão tem de ser prévia ao estado de guerra, para ser possível «ativá-la» e «potenciá-la» quando este estado de guerra se inicia. Os tambores da guerra começam a troar muito antes das primeiras batalhas. 

Quem realmente tem uma profunda convicção religiosa, seja em que religião for, ou tem um sentido ético profundo, sendo ateu ou agnóstico, não pode deixar de fazer tudo para que a política militarista, belicista,  deixe de se apoderar de nós, da nossa sociedade. Temos de começar por nós mesmos, mas também com os familiares, amigos, colegas... É sempre a propósito falar-se de paz, é sempre adequado propor soluções com vista à resolução dos conflitos. É da responsabilidade de cada um fazer com que a opinião pública se transforme, que exija aos dirigentes políticos soluções pacíficas imediatas aos conflitos bélicos.

    


terça-feira, 26 de julho de 2022

J. S. Bach: Allemande da Suite francesa Nº 4 em Mi bemol maior

As duas versões, para cravo (Richard Egarr) e para piano (Murray Perahia), da Allemande da Suite francesa nº4, aqui apresentadas são a meu ver de igual excelência, pela sua adequação da interpretação ao instrumento e pela sua sobriedade. 

Uma «Suite» é uma sucessão de danças estilizadas, com a mesma tonalidade, reunidas numa determinada sequência. A Allemande costumava ser a primeira peça - além da peça introdutória, o prelúdio ou toccata -  duma suite para o cravo ou o alaúde. Nesta Allemande sobressai o estilo «brisé» ou «quebrado», que foi importado do reportório do alaúde, para os instrumentos de tecla com corda. Neste estilo, os acordes decompostos desenham a melodia. Os acordes que compõem a tessitura harmónica da peça sucedem-se e, por vezes, existem curtas passagens de junção. Este estilo era típico dos prelúdios, mas também era usado noutras formas, como é o caso desta Allemande. 

A designação de suites «francesas» é posterior à morte de Bach. Na realidade,  há bem pouco de «francês» para as diferenciar: Nas 6 suites «francesas», a segunda dança da suite é - em 4 casos - uma «Courante» portanto do tipo francês, sendo, nos outros 2 casos, do tipo «Corrente» ou italiano. Quando Bach escreveu estas suites (cerca de 1722), a estilização destas danças estava bem estabelecida, tendo evoluído do Renascimento e Barroco inicial, até uma codificação universal, no Século XVIII. 
Não será tanto pelas características da Allemande, Courante, Sarabande e Gigue, as peças «obrigatórias» da Suite, que se poderá diferenciar o gosto francês, italiano, ou alemão. Penso que a diferenciação «nacional» mais perceptível será antes ao nível das outras peças, cuja presença não era «obrigatória» (ex.: Bourrée, Menuet, Gavotte, Rigaudon, Laure, etc.) . 

Esta Allemande  utiliza elementos muito simples. Acho que tem uma sensibilidade «feminina», sem ser «efeminada». Consigo imaginar  Anna-Magdalena Bach a interpretar a Suite em Mi bemol maior. A obra está presente no livro manuscrito, dedicado à sua caríssima e amantíssima esposa, por Johann Sebastian. 




                




 

domingo, 24 de julho de 2022

«Infocracia» de Byung-Chul Han, uma filosofia política para o nosso tempo




 Byung-Chul Han é um filósofo e autor de grande importância para compreensão do nosso tempo. Ele sabe dissecar a sociedade contemporânea, marcada pelo totalitarismo da informação, à diferença de totalitarismos passados, que se mantinham impondo um discurso único, total, com a violência necessária, aos quais os corpos tinham de se submeter fisicamente. No totalitarismo contemporâneo, também caracterizado nos seus aspetos psico-sociais, o indivíduo submete-se «voluntariamente», coloca-se - ele próprio - debaixo do olhar dos dispositivos de vigilância e de recolha de dados («data» em inglês, retomando o termo latino). O capitalismo da informação não está preocupado com a produtividade material do trabalhador. A sua «mina de ouro» são os «big data», que são constantemente  «minerados» extraindo-os de biliões de dispositivos (smartphones, computadores, câmaras de vigilância, etc.). Com estes dados, ajusta os incentivos, as pequenas recompensas, as pequenas doses de droga quotidiana aos adictos. Estas dependências são calibradas para a manutenção do status quo. 
Nesta sociedade o controlo das mentes e pulsões inviabiliza quaisquer rasgos revolucionários das massas. A infocracia torna possível que os indivíduos «não possuam nada e sejam felizes» segundo a fórmula de Klaus Schwab do Fórum Económico de Davos. Quanto aos da oligarquia, têm a garantia de continuidade do seu domínio político, económico e social, sem precisarem de recorrer à repressão dos corpos e ao grau de violência física das ditaduras do século passado.  

Creio que este ensaio «Infocracia», muito mais rico em conteúdo do que eu poderia explicar nesta breve nota, marca uma viragem no pensamento radical (no sentido de ir às raízes das questões). Trata-se de perceber como os mecanismos de domínio são capazes de cooptar as vontades dos súbditos, fazendo destes escravos mas convencidos de terem um máximo de liberdade. 
No capitalismo da informação, a alienação da pessoa, trabalhador/consumidor/ usuário das redes sociais, atinge um novo patamar, embora o desenho geral da sociedade se mantenha, na essência, o mesmo: uma pequena «elite» que manobra para manter o domínio sobre uma massa destituída, de poder, de lucidez e, por fim, da sua humanidade.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

O QUE MOVE O MUNDO?

            Salvador Dali (1931): SEIS APARIÇÕES DE LENINE SOBRE UM PIANO

 O que move o mundo, as sociedades? Existe algum princípio gerador da evolução das sociedades? Existe(m) força(s) determinante(s) da História?

Aqui, neste breve ensaio, apenas poderei aflorar as questões acima enunciadas.

Durante muito tempo, as pessoas estiveram convencidas que as ideias é que moviam o mundo. Que eram as ideias que impulsionavam o «progresso». A própria ideia de «progresso», surgiu assim e foi-se afirmando uma corrente progressista, ou seja, que via o tal progresso como inevitável e - sobretudo - como algo de positivo para os destinos coletivos da humanidade. 

Esta ideia, que se foi afirmando durante o período chamado das «Luzes», teve como principais propagandistas pessoas pertencentes à burguesia, a classe em ascensão nessa época (séc. XVIII e XIX). Os intelectuais, que não estivessem ao serviço do aparelho da Igreja, os «batalhões» de intelectuais laicos, eram recrutados entre os filhos de pessoas abastadas, que podiam dar uma educação «liberal» à sua descendência. As filhas, continuavam discriminadas e tinham, em geral, uma preparação para serem «boas donas de casa, esposas e mães». 

Este grupo de intelectuais oriundos da burguesia adquiriu rapidamente o controlo das instituições públicas, decisivas na época  e que ainda o são: as instituições científicas, as universidades, o ensino médio e superior; a magistratura, incluindo advogados, juízes, procuradores e notários; as burocracias estatais, a administração nos ministérios, não só postos de nomeação governamental, como de «carreira» (hoje, designados como fazendo parte do «Estado profundo») e as elites militares, especialmente, nos postos que implicavam saber técnico, tais como Artilharia e Engenharia militar.

Não irei detalhar muito mais sobre a formação e evolução da intelectualidade dos últimos duzentos anos. Mas irei sublinhar que a quase totalidade da classe política, incluindo os  revolucionários, é oriunda dessa camada: São pessoas oriundas da burguesia com um nível de educação, que lhes confere um estatuto «superior». Um exemplo deste estatuto especial, consiste na situação dos médicos, não só hoje  - talvez hoje, a perder um pouco do seu brilho - como nos séculos XIX e XX. Eram (e são) pessoas respeitadas, veneradas como sacerdotes laicos da religião da «ciência». Esta «ciência» é somente a expressão da ideologia cientista ou mecanicista. Muitas pessoas procuram, por ambição própria ou induzidas pelos progenitores, uma carreira de prestígio, que lhes dê superioridade social (e económica), algo que se designa por «status». Além do aspeto económico, o aspeto de prestígio social está na base de muitas das «escolhas» de carreira, que não são «livres escolhas», porque as pessoas são empurradas para elas. 

Embora esta casta ou camada, a burguesia intelectual, não seja geralmente a detentora direta dos meios de produção (empresas), beneficia - ainda assim - duma parte do «bolo», visto que o excedente dos lucros desses meios de produção vem alimentar instituições onde esta intelectualidade floresce. Basta pensar-se nas  universidades privadas e nas doações por grandes patronos, as corporações gigantes e com muitos lucros, que fazem assim autopromoção com o seu «mecenato» cultural e científico, ao mesmo tempo que baixam o seu nível de impostos (aqueles aos quais não têm maneira de escapar). 

Será essa intelectualidade, com o seu brilhantismo e capacidade de persuasão, que nos quer convencer de que «são as ideias que fazem andar o mundo para a frente». Estão a defender o seu estatuto e a sua posição económica,  sem dúvida, mas não se apercebem disso, na maior parte. Estão convictos de que têm uma «missão». Aliás, quanto mais convictos forem disso, melhor irão desempenhar o papel que lhes foi atribuído. São como missionários e a sua religião é somente uma - apesar da diversidade aparente - a «religião do progressismo».


No entanto, com o crescimento das forças produtivas do capitalismo, outras visões se vieram opor a esta visão de idealismo ingénuo, de que as «ideias faziam avançar o mundo».

A difusão de teorias políticas e sociais no século XIX e XX, veio dar a prioridade às chamadas «forças materiais», em particular, ao capital e ao trabalho humano. Marx e o marxismo são creditados - inadequadamente, a meu ver - por tal mudança de perspetiva. Mas ao fetichismo das ideias, apenas se substituiu o fetichismo da mercadoria, do capital, do dinheiro. O chamado «Materialismo histórico» é uma ideologia inventada por Marx e por Engels, sobretudo para justificar a sua teoria política, de que a sociedade, fatalmente, iria transformar-se em socialista e, depois, em comunista. Com o fervor dos propagandistas, mas com grande deficiência ao nível filosófico, trataram de «justificar» as suas crenças, com uma visão global da História e da Sociedade que viesse «confirmar» a sua escolha por um determinado modelo de sociedade (a sociedade comunista autoritária). Marx era um discípulo de Hegel. Daí que tenha vertido a sua visão da História, da Sociedade e da própria Natureza, numa matriz de Dialética. Na época, meados do século XIX, a crença ou fé na ciência, mais propriamente num cientismo materialista, era muito difundida nas classes intelectuais onde também se difundiam propagandas revolucionárias e socialistas de vários matizes. Para «fundamentar» as suas crenças e dar-lhes uma aparência de «teoria científica», Marx e Engels foram buscar argumentos aos economistas clássicos (Adam Smith, David Ricardo, etc.), e também aos socialistas franceses (Proudhon, nomeadamente), assim como a muitos cientistas sociais e naturais, da época. Embora eles tivessem um grande poder de síntese, deve-se ter em conta que existem poucos conceitos e teorias, que se creditam como sendo «marxistas», que sejam realmente de Marx e Engels. Quanto muito, eles foram seus difusores; serviram-se de certos conceitos como os de «mais-valia», de «classes sociais» (ambos presentes nos economistas ingleses clássicos, tal como em Proudhon e noutros socialistas franceses), etc. Os marxistas que lhes sucederam, mostrando enorme ignorância ou má-fé (ou as duas coisas), limitaram-se a tomar como «palavra de Evangelho» tudo o que liam nos escritos de Marx e Engels, sem ter em conta que eles estiveram envolvidos em violentas polémicas com seus opositores, nomeadamente, com autores anarquistas e outros socialistas não-autoritários. Os que ergueram as primeiras cooperativas, os sindicalistas da primeira hora, os que fundaram comunas e as fizeram funcionar, todos eles foram apodados de «socialistas utópicos» por Marx. Porém, o comunismo autoritário que defendia tinha todas as características duma utopia! O socialismo prático dos operários que se auto-organizavam em cooperativas, formando associações sindicais e fazendo frente à exploração dos patrões, enfim todos os que estavam empenhados na luta de classes, nessa época, eram esses mesmos que Marx considerava utópicos! Hoje em dia, muitos marxistas que repetem as mesmas atoardas, estão a reproduzir falsos argumentos, usados com uma finalidade difamatória, por uma das partes em polémica. 

Na verdade, assistiu-se, desde então até agora, ao crescimento da «religião materialista», não firmada em qualquer ciência, mas na ideologia. O termo ideologia significa uma «teoria política que é avançada para facilitar a tomada de poder, ou fundamentar a manutenção desse poder». Portanto, é o contrário, em termos teóricos e práticos, da ciência propriamente. A dita ideologia, declarada repetidamente como «verdade científica», tem servido aos sequiosos de poder para exercerem esse poder sobre os proletários, sobre o povo em geral, para impor a sua «ditadura do proletariado». Qualquer pessoa que estude, em profundidade, o que Marx e sucessores entendem pela expressão «Ditadura do Proletariado» (como eu estudei), irá chegar à conclusão de que se trata da (auto)justificação da dominação da nova classe burocrática sobre a sociedade em geral. Na verdade, este conceito de «Ditadura do Proletariado» é a única originalidade do marxismo, enquanto teoria política. Tudo o resto - conceitos de socialismo, comunismo, luta de classes, proletariado, etc. - são conceitos, ou que Marx foi buscar aos teóricos da economia clássica (burgueses), ou que eram lugares-comuns do movimento socialista, operário, na sua época. É revoltante ver-se o grau de ignorância de muitos militantes comunistas e socialistas atuais, sobre os factos acima apontados. Estes factos são sobejamente conhecidos dos intelectuais dos vários partidos, mas eles omitem-nos, porque acham que são verdades «inconvenientes» para as massas.

A difusão do marxismo levou a que muitas pessoas, que pouco sabem de Marx e que nunca se consideraram marxistas, adotem (sem saberem) conceitos típicos de Marx e dos seus adeptos: Uma visão determinista, no campo social e da História, é marxista, faz parte do chamado «Materialismo Histórico». O facto de se considerar tal ou tal posição como «materialista» é, muitas vezes, fruto da ignorância sobre os conceitos de matéria e de energia da Física contemporânea. O ensaio «Materialismo e Empiriocriticismo» de Lenine, é um exemplo disso, quando discute a natureza da matéria e da energia. Ele utilizou argumentos de autoridade e citações de cientistas, mas fora de contexto. Dominique Lecourt escreveu um interessante estudo sobre essa obra. Na época posterior a Lenine, na URSS, a deriva do regime fez com que se erigisse uma «ciência proletária», em oposição à «ciência burguesa». Algo semelhante aconteceu na «Revolução Cultural» chinesa. Em ambos os casos - além duma selvagem perseguição, que custou a vida a cientistas íntegros - a ciência e a técnica  sofreram atrasos tais, que se reflectiram em desastres económicos, distanciando esses países em relação aos EUA e outros países ocidentais. Isto aconteceu tanto na URSS de Estaline, como na China Popular de Mao.

O fracasso do marxismo enquanto teoria coerente do Mundo e da evolução histórica, não significa que os erros do cientismo, do materialismo mecanicista, do determinismo, do «ideologismo», tenham sido varridos para sempre, da teoria, ou da prática políticas. Infelizmente, existe muita gente, que foi - duma forma ou doutra - influenciada pelos preconceitos e pelas distorções ideológicas acima referidos. Muito do que se passou na «crise do COVID» seria impossível sem a forte difusão do materialismo vulgar, ele próprio resultante duma versão caricatural do marxismo. 

Em termos gerais, o espírito crítico e o conhecimento real da Evolução Histórica, são «venenos mortais» para quaisquer ideologias totalitárias de «esquerda» ou de «direita». No nosso tempo, os conhecimentos relevantes, tanto em História, como em Ciências Sociais, aumentaram de tal maneira em número e complexidade, que a generalidade das pessoas não os pode facilmente assimilar. Isto facilita a tarefa aos autoritários de toda a espécie, pois fazem passar por «ciência», aquilo que é apenas a sua ideologia. Isto não acontece somente com marxistas, mas com muitas outras correntes, que florescem, principalmente, nos meios académicos. Não vejo outra solução para o problema, senão aumentar a difusão da educação para um espírito crítico. Caso contrário, arriscamo-nos a cair noutra ideologia intolerante, de sentido contrário à que queremos combater.

Num Mundo caótico, onde se desenvolvem forças de destruição que ameaçam a própria base da civilização contemporânea, também é muito necessário o BOM SENSO: Não emitir a torto e a direito teorias, nos domínios económico e social, apresentando-as como se fossem a «VERDADE». Deveria haver mais senso e espírito crítico, para não se aceitar argumentos, pelo facto de serem enunciados por «autoridades académicas ou científicas».