sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Etienne de La Boétie e o «Discurso da Servidão Voluntária»



 Conferência de Anne-Marie Cocula:

Etienne de La Boétie e o Destino do «Discurso da Servidão Voluntária»

                           

                          https://www.youtube.com/watch?v=SIfsaH74N_I&t=584s

--------

Ver também, 

Um vídeo de «Le Précepteur»:


LA BOÉTIE - «A Servidão Voluntária»:

https://www.youtube.com/watch?v=YPW7rDmnH6g&t=39s


-------

Dois vídeos de Michel Onfray :

- O discurso da Servidão Voluntária -1 & 2

Contra-história da Filosofia, vol. 4-2

https://www.youtube.com/watch?v=fZA6EW82imA

https://www.youtube.com/watch?v=UQCzckJNNeY

------

Ainda de Michel Onfray:

La Boétie e Hannah Arendt : O pensamento pós-nazi

(Contra-história da filosofia 23.2)

https://www.youtube.com/watch?v=JIWZzm4dBFI

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

CIDADÃOS PELA LIBERDADE DE PALAVRA

          VEJA NO CANAL ALTERNATIVO do BIT-CHUTE, NO LINK ABAIXO



                https://www.bitchute.com/video/S8xwFZ0swtI/

 Patrick Wood conversa com James Corbett, sobre uma organização não-governamental, não orientada para o lucro, para combater os ataques à liberdade de palavra, «free speech», que está sob ameaça: 

Citizens for Free Speech

Com 26 mil membros, a «CFFS» procura activar as pessoas ao nível local e ensiná-las a comunicar melhor as suas ideias e combater as ameaças às liberdades fundamentais que se verificam e que temos de enfrentar neste contexto de crise manufacturada.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

A GRANDE CONJURA CRIMINOSA DA «POLÍTICA ZERO CARBONO»


Autor: F. William Engdahl*


O  globalista Fórum Económico Mundial de Davos tem proclamado a necessidade de alcançar um objectivo mundial de  “zero carbono, líquido” cerca de 2050. Isto para muitos soa como distante no futuro e tem sido largamente ignorado. Porém, as transformações em curso, da Alemanha aos EUA, assim como inúmeras outras economias, estão a marcar o cenário da criação do que - nos anos 70 - era designado como a Nova Ordem Económica Internacional.
Na realidade, trata-se do modelo para um corporativismo global,  tecnocrático e totalitário, o qual promoverá um enorme desemprego, desindustrialização e colapso económico, intencionalmente. Tenhamos em conta algo do pano de fundo.
 Klaus Schwab do Fórum Económico Mundial (WEF), tem estado a promover o seu tema favorito, o Grande Reiniciar (Great Reset) da economia mundial. A chave para o que os globalistas entendem por isso, é compreender o que eles querem dizer pela política de Zero Carbono Líquido em 2050.
A UE está no pelotão da frente, com um audacioso plano para se tornar o primeiro continente «neutral em carbono» em 2050 e em reduzir as suas emissões de CO2 por, pelo menos 55%, em 2030.
Num artigo do seu blog de Agosto de 2020, o auto-proclamado czar das vacinações globais,  Bill Gates, escrevia sobre a crise climática futura:

Por muito horrível que a pandemia seja, a mudança climática será bem pior… O relativo declínio em emissões neste ano torna uma coisa clara: Não chegaremos ao objectivo de zero emissões simplesmente – ou mesmo, principalmente – por voar e conduzir menos.

Com um monopólio virtual, tanto na media corporativa, como na media social, o «lobby» do Aquecimento Global tem conseguido levar grande parte  do mundo a assumir que o melhor para a humanidade é eliminar os hidrocarbonetos, incluindo o petróleo, gás natural, carvão e – mesmo - a energia «livre de carbono» electricidade nuclear em 2050, para haver esperança de evitar um aumento médio da temperatura mundial de 1,5 a 2 graus centígrados. Há apenas um problema com isto. É que se trata de uma diabólica capa  para uma agenda mais vasta.

Origens do ‘Aquecimento Global’


Muitos esqueceram a tese inicial, avançada para justificar a mudança radical nas nossas fontes de energia. Não se tratava de «mudança climática». O clima da Terra está em constante mudança, correlacionando esta com as erupções de energia solar, ou ciclos de manchas solares, que afectam o clima terrestre.
Por volta da viragem do milénio, o  aquecimento provocado pelo Sol deixou de ser evidente; Al Gore e outros mudaram a narrativa num passe de magia verbal para «Alterações Climáticas», em vez de «Aquecimento Global». Agora, a narrativa destinada a causar medo, tornou-se tão absurda que qualquer evento climático insólito é tratado como «crise climática». Cada furacão, ou tempestade de inverno, é apresentado como prova de que os Deuses do Clima estão a punir os humanos, pecadores, por estes emitirem CO2.
Mas espere. A razão verdadeira da transição para fontes alternativas de energia, tais como solar ou eólica e o abandono de fontes de energia carbonadas, é a afirmação de que o CO2, de algum modo, sobe para a atmosfera e ali forma um lençol que, supostamente, aquece a Terra por baixo – o Aquecimento Global. As emissões de gases de estufa, de acordo com a Agência para Protecção Ambiental (EUA), vêm sobretudo do CO2. Daí o enfoque nas «pegadas de carbono». 
Aquilo que quase nunca é dito é que o CO2 não pode ascender pela atmosfera acima, a partir do escape dos carros ou de fábricas usando carvão, ou de outras fontes originadas pelos humanos.  O Dióxido de Carbono não é carbono, ou fuligem. É um gás invisível, inodoro, essencial para a fotossíntese e para todas as formas de vida na Terra,  nós incluídos. O CO2 tem um peso molecular de cerca de 44, enquanto o ar (sobretudo oxigénio e azoto) tem um peso molecular de apenas 29. 
A gravidade específica do CO2 é cerca de 1,5 vezes a do ar. Isto sugere que os gases de escape dos veículos, ou das centrais térmicas a carvão não irão subir pela atmosfera, a 12 milhas ou mais acima do solo terrestre, formando o temido efeito de estufa.

Maurice Strong

Para se avaliar qual a acção criminal que se está desenvolvendo em torno de Gates, Schwab e os demais defensores de uma economia mundial «sustentável», devemos recuar a 1968 quando David Rockefeller e amigos criaram o movimento em torno da ideia de que o consumo humano e o crescimento populacional eram o problema maior. Rockefeller, cuja fortuna estava baseada no petróleo, criou o Clube de Roma, neo-malthusiano, na villa dele em Bellagio, Itália. O seu primeiro projecto foi o de financiar um estudo no MIT, chamado Limites do Crescimento, em  1972.
Um organizador chave do programa de Rockefeller de «Crescimento Zero» no início dos anos 1970 foi o seu amigo de longa data, um canadiano dos petróleos, chamado Maurice Strong, também membro do Clube de Roma. Em 1971, Strong foi nomeado subsecretário das Nações Unidas e Secretário geral da conferência do Dia da Terra de 1972 em Stockolm. Ele também era membro da direcção da Fundação Rockefeller.
Maurice Strong foi o principal propagador da teoria, sem fundamento científico, de que as emissões de veículos de transporte, de centrais a carvão e da agricultura, eram causadoras dum dramático e acelerado aumento da temperatura global, que ameaça a civilização; o dito Aquecimento Global. Foi o inventor do termo elástico «crescimento sustentável».
Na qualidade de presidente da Conferência da ONU do Dia da Terra de 1972, Strong promoveu a redução populacional e o abaixamento dos níveis de vida em todo o mundo para «salvar o ambiente». Eis o que - alguns anos depois - Strong afirmou:

Não será a única esperança para o planeta que as civilizações industriais colapsem? Não será nossa responsabilidade fazer com que isso aconteça?

Esta é a agenda, hoje conhecida como Grande Reiniciação (Great Reset) ou Agenda da ONU 2030. Strong foi mais além, criando o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU [Inter-governmental Panel on Climate Change (IPCC)], um corpo político que adianta afirmações, não provadas, de que a produção de CO2 de origem humana esteja a levar o mundo para uma catástrofe ecológica irreversível.
O Dr Alexander King, co-fundador do Clube de Roma, admitiu a fraude essencial da agenda ambiental deste clube, anos depois, no seu livro The First Global Revolution (A Primeira Revolução Global). Citando:

«Em busca de um novo inimigo que nos unisse, avançámos com a ideia de que a poluição, a ameaça do aquecimento global, a escassez de água, as fomes e coisas do género seriam adequadas para tal fim … Todos esses perigos são causados por intervenção humana e apenas através de uma mudança de comportamento poderão ser evitadas. O verdadeiro inimigo é a própria humanidade.»
 
King admitiu que a «ameaça do aquecimento global» era apenas um estratagema para justificar um ataque sobre a «própria humanidade». Este ataque está agora a desenrolar-se sob os nomes de Grande Reiniciação (Great Reset) e de Zero Carbono Líquido (Net Zero Carbon).


                         Merkel e os painéis
                         
O desastre da Energia Alternativa

Em 2011, agindo sob conselho de Joachim Schnellnhuber, do Instituto de Potsdam de Investigação sobre o Impacto do Clima, Angela Merkel e o governo alemão impuseram o banimento total da electricidade produzida por energia nuclear a partir de 2022, como parte da estratégia governamental de 2001, designada por Energiewende ou Mudança Energética, para se basear na energia solar, eólica e noutras energias «renováveis». O objectivo era fazer da Alemanha o primeiro país industrializado «carbono neutro.»
A estratégia tem sido uma catástrofe económica. Partiu de uma das redes de electricidade mais estáveis e de mais baixo custo ao nível mundial, para hoje ser o sistema gerador de energia eléctrica mais caro do mundo.  De acordo com a Associação de Indústria de Energia Alemã, no mais tardar em 2023, quando a última central de energia nuclear fechar, a Alemanha irá enfrentar falhas de energia. 
Em simultâneo, o carvão, a maior fonte de energia eléctrica, será progressivamente reduzida para se atingir o Zero Carbono Líquido. As indústrias que têm uso intensivo de energia, como as do aço, do vidro, química, do papel e do cimento, estão a enfrentar custos crescentes e perspectiva-se o seu encerramento ou transposição para o exterior (offshoring), com perda de milhões de postos de trabalho. A Energia eólica ou solar hoje, custa uns 7 a 9 vezes mais  que o gás.
A Alemanha tem pouco sol, comparada com países tropicais, portanto o vento tem sido a principal fonte de para energia verde. Há um investimento enorme em cimento e alumínio, necessários para instalações de energia solar ou eólica. Isto implica energia barata – energia a partir de gás ou carvão- para o produzir. O custo torna-se proibitivo, mesmo sem a adição de «taxas carbono».
A Alemanha já possui cerca de 30 mil turbinas eólicas, mais do que em qualquer outra parte da UE. As turbinas gigantes causam sérios danos de saúde, pelo ruído ou por infra-sons, nos residentes das proximidades, causando também acidentes com as aves. Calcula-se que, em 2025, 25% das eólicas alemãs vão precisar de ser substituídas e isto é um problema colossal. As companhias estão a ser processadas, à medida que os cidadãos se vão apercebendo dos malefícios. Para alcançar os objectivos em 2030, o  Deutsche Bank recentemente admitiu que o Estado teria de criar uma “ditadura ecológica.”
Neste tempo, na Alemanha, há uma corrida para acabar com veículos a gasolina e gasóleo em 2035, a favor dos e-veículos (veículos eléctricos), o que destrói a maior e mais rentável indústria alemã, o sector automóvel, com perda de milhões de empregos. Os veículos com baterias de Lítio têm uma «pegada carbono» maior,  quando somados os efeitos da mineração do Lítio e a produção de todas as partes incluídas, à dos veículos a diesel.
E a quantidade de aumento de electricidade necessária para uma Alemanha com zero carbono em 2050 seria bem mais que hoje, visto que milhões de carregadores de baterias precisarão de electricidade da rede. Agora, a Alemanha e a UE começaram a impor “taxas carbono”, alegadamente para financiar a transição para zero carbono. As taxas irão apenas tornar a energia eléctrica ainda mais cara, o que garantirá um colapso mais rápido da indústria alemã. 

Despovoamento

De acordo com os que promovem a agenda de Zero Carbono, é isso mesmo que eles desejam: a desindustrialização das economias mais avançadas, uma estratégia calculada para décadas, tal como Maurice Strong dissera, para provocar o colapso das civilizações industrializadas. 
Fazerem voltar atrás a actual economia mundial, para uma utopia reaccionária de madeira-combustível e moinhos-de-vento, em que as falhas de electricidade se tornam norma, como é agora o caso na Califórnia, é parte essencial da transformação do «Great Reset» e o «Condensado Global para a Sustentabilidade» da Agenda 2030 da ONU  [Agenda 2030: UN Global Compact for Sustainability].
O conselheiro de Merkel para o clima, Joachim Schnellnhuber, apresentou em 2015 a agenda verde radical do Papa Francisco, a carta encíclica, «Laudato Si» , aquando da nomeação pelo mesmo, para a Academia de Ciência Pontíficia. Ele deu conselhos à UE na sua agenda verde. Numa entrevista de 2015, Schnellnhuber declarou que a «ciência» tinha agora determinado que a capacidade de máxima para uma população humana «sustentável», era de menos seis milhares de milhões de pessoas:

De modo muito cínico, é um triunfo para a ciência porque, por fim, conseguimos estabilizar algo – nomeadamente as estimativas para a capacidade de sustentação do planeta, nomeadamente abaixo de 1 milhar de milhões de pessoas.

Para fazer isso, o mundo industrializado tem de ser desmantelado. Christiana Figueres, Contribuidora para a Agenda do Fórum Económico  e ex-secretária executiva para a Convenção Sobre Mudança Climática da ONU, revelou o verdadeiro âmbito da agenda climática da ONU, durante uma conferência de imprensa em Bruxelas, em que dizia: 
 “Pela primeira vez, na história humana, estamos a atribuir a nós próprios a tarefa de mudar intencionalmente o modelo de desenvolvimento económico que vigora desde a Revolução Industrial.
As afirmações de Figueres de 2015 têm agora um eco, com o Presidente francês Macron, em Janeiro de 2021, no Fórum Económico Mundial, «Agenda de Davos», em que afirmou que “nas presentes circunstâncias, o modelo capitalista e uma economia aberta já não são possíveis.” Macron, ex- empregado do banco Rothschild, dizia que “a única via para nós sairmos desta epidemia é criar uma economia mais centrada na eliminação do fosso entre ricos e pobres.” Merkel, Macron, Gates, Schwab e amigos irão fazer isso, baixando os níveis de bem-estar da Alemanha e dos países da OCDE, até aos níveis da Etiópia ou do Sudão. Esta é a sua distopia de «zero carbono». Limitação severa das viagens de avião, de automóvel, do movimento das pessoas, fecho as indústrias «poluentes», tudo para reduzir o CO2. Curioso, como a pandemia de coronavírus serve para implementar o «Great Reset» e a Agenda 2030 da ONU de «Zero Carbono Líquido» [UN Agenda 2030 Net Zero Carbon].

-----------------
*F. William Engdahl é consultor de risco estratégico e docente, diplomado de política da universidade de Princeton e é um autor de livros «best-sellers» sobre petróleo e geopolítica, escrevendo em exclusivo para o magazine “New Eastern Outlook”  onde este artigo foi originalmente publicado. 
Ele é investigador do «Centre for Research on Globalization» 
_____
PS1: Foto do deserto, que mostra como tem havido nas temperaturas uma «subida» (do lado negativo do termómetro!):

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

AUTONOMIA EM CONTEXTO DE CRISE SISTÉMICA

 Porque não aproveitar o contexto de crise, para fazer mudanças radicais no nosso próprio estilo de vida? Serão apenas multimilionários, os capazes de tirar partido das oportunidades que inegavelmente surgem, como agora, aquando duma crise sistémica?

Não pretendo aqui insinuar que se deva fazer isto ou aquilo. Não quero dar a ideia de que preconizo algo como uma ruptura na vida particular do/a leitor/a. Primeiro, porque - em muitos casos - desconheço completamente o/a leitor/a; segundo, mesmo que conheça, a minha ética coíbe-me de ser juiz ou conselheiro da vida alheia. 

Eu apenas olho em torno e vejo como certas pessoas mudaram suas vidas, com imenso benefício para a sua saúde e também, nalguns casos, melhorando o seu bem-estar material.  

Penso que essas pessoas de que falo, não são susceptíveis de aparecer em destaque nos jornais e magazines. Algumas terão dado entrevistas, ou entreaberto a porta das suas vidas a jornalistas, mas - por norma - estão completamente fora da «grelha», fora da «rede». 

Encontram-se normalmente em pequenas comunidades, não muito maiores do que meia-dúzia de famílias. Têm um modo perfeitamente sensato de se comportar; cultivam a terra, produzem o que consomem, algum excedente serve-lhes para obter somas de dinheiro que precisam, para comprar o que não podem obter por eles próprios, ou que é não-rentável produzir.

As crianças dessas comunidades têm liberdade de fazer a descoberta da natureza, acompanhadas por seus pais. Não têm de frequentar uma escola normalizada e redutora da sua criatividade natural. Isso implica um programa estrito de ensino ao domicílio, os seus encarregados de educação desempenham o papel de professores. Assim foi, durante incontáveis gerações. Antes da existência da escola formal, como aprendeu o género humano? Com os pais, com a família alargada, com os vizinhos e com pessoas que pertenciam ao mesmo agrupamento.

A sua existência, tanto das crianças como dos adultos, não é monótona, nem incerta. Estão vocacionados para se comportarem como seres activos. Têm de providenciar ao máximo de necessidades da vida, não apenas à obtenção de alimentos; também à construção (ou restauro) de casas, construção ou reparação de veículos e ferramentas, confecção de roupa, etc. 

Não havendo recurso ao que se chama «comodidades», ou seja comércio - principalmente, as grandes superfícies-  vendendo quase tudo o que uma pessoa possa necessitar - também a sua vida está mais livre. Não dependem essencialmente do dinheiro para viver. 

A coesão de tal sistema passa, inicialmente, por uma tomada de consciência dos males que advêm da sociedade dita «desenvolvida», na qual os indivíduos são postos ao serviço da máquina económica, quer como escravos assalariados, quer como consumidores... o que é, aliás, a mesma coisa, pois a imensa maioria só poderá consumir, ou porque ganha salário, ou o ganhou no passado, sendo agora pensionista. 

Mas, depois dessa tomada de consciência do que se rejeita, tem de verificar-se uma tomada de consciência positiva, daquilo que se pode empreender para mudar uma situação que não nos satisfaz. 

A construção nasce de um projecto familiar ou de vários projectos familiares confluentes, obra de pessoas activas, capazes de grande eficiência em múltiplas tarefas, mas que sabem que a complementaridade das pessoas é um aspecto fundamental para o todo. Daí que ninguém esteja excluído, ou tenha um papel passivo. Logo a partir deste ponto, em tal grupo, que não ultrapassa umas poucas dezenas, as pessoas estão real, material, emocional e espiritualmente unidas. Este facto, em si mesmo, desencadeia uma sinergia, possibilitando a edificação realmente fora do sistema.

Nada obriga a que os membros da comunidade tenham os mesmos valores. Porque hão-de todos guiar-se por ideologia ou religião, comuns?

 - A única questão que se coloca a este nível, é o entendimento de que, cada pessoa e o grupo no seu todo, são solidários em relação a todas as decisões que se tomaram em conjunto. Estão no mesmo barco, se o sacudirem com intrigas, polémicas e ódios, o mais certo é o barco virar-se e naufragar... Mas, parece óbvio que as pessoas que levam a cabo esta caminhada, pelo menos as mais experientes, sabem como evitar conflitos, como debater as questões em assembleia, como construir relações baseadas na entreajuda, sem hierarquias. 

O investimento inicial incidirá sobre um terreno adequado para exploração agrícola; pode ter ou não construções. No caso de ter edifícios arruinados, a precisar de restauro, este pode ser levado a cabo quando o grupo esteja na transição da cidade para o espaço rural. 

Um bom terreno agrícola, longe dos grandes centros urbanos, pode ser adquirido por um preço módico. Um grupo que constitui o núcleo inicial da cooperativa ou sociedade, poderá repartir o custo do terreno em partes iguais. A contribuição em trabalho será de acordo com a capacidade de cada pessoa, que é parte do projecto. O trabalho encomendado a alguém ou empresa exteriores, naturalmente implica pagamento, o qual deverá ser repartido entre todos.  

Não é necessário recorrer ao crédito (bancário), em muitos casos. É mesmo de o evitar, pois as mensalidades são difíceis de pagar em certos momentos, obrigando a manter uma entrada de dinheiro - normalmente, sob forma de trabalho assalariado - para cobrir a mensalidade devida ao banco. 

Não faz sentido uma quantificação rigorosa, mas a título de exemplo, dou esta indicação: Se 5 famílias tiverem adquirido um terreno, pelo valor de 100 mil euros, 20 mil euros para cada uma. A contribuição de cada parte poderá ser obtida por diversas modalidades: venda de propriedade pré-existente, poupanças, trabalho...

Eu sei que tal projecto é como um sonho para muitas pessoas. Mas, é realizável, aqui e agora. 

O Portugal do interior, abandonado durante dezenas de anos (senão séculos), ao contrário da estreita faixa «desenvolvida» do litoral, proporciona as vantagens de um ambiente pouco ou nada poluído, permitindo realizar agricultura biológica (logo, com elevado valor de mercado, nos circuitos comerciais), além de haver o povoamento das aldeias, onde tal comunidade terá necessariamente de se apoiar.

 Pois autonomia não significa «autarcia». Embora sejam frequentemente confundidas, são coisas totalmente diferentes:

- Na autonomia, uma pessoa ou grupo consegue tomar as decisões que norteiam a sua vida, consegue levar a cabo as tarefas necessárias para cumpri-las, consegue alcançar os fins que traçou.

- Na autarcia, há procura de auto-suficiência total, de não pedir nada a outrem, só contar com as produções próprias, em todos os aspectos da vida. A autarcia é impossível de se realizar, senão em escala muito grande e exigindo muitos sacrifícios das pessoas envolvidas na situação. Normalmente, é algo de países onde reina uma ditadura totalitária, ou em seitas que se apropriam das vidas das pessoas e as escravizam.

- O princípio da autonomia é transponível para a vida de cada um, seja em que circunstância for. É o indivíduo que assume a responsabilidade dos seus actos: por exemplo, tem cuidado em prevenir a doença, não precisando senão esporadicamente de cuidados médicos; ou que assume o controlo das suas finanças, pondo o dinheiro ao serviço do seu projecto de vida e não o inverso, ou seja, não fica amarrado a dívidas. É ser capaz de estar em sociedade, seja no emprego, seja noutro contexto, compreendendo como interagir com os outros, como desempenhar trabalho útil e fazer-se respeitar pelas suas qualidades, pela sua personalidade forte e confiável.

Pelo contrário, a autarcia será o projecto de alguém sem escrúpulos em explorar e dominar outros. Necessariamente, terá de haver outros. As vítimas que, devido a suas «vendas nos olhos», se deixam levar pelo(s) líder(es). Tipicamente, será o caso de uma seita. 

Uma vez compreendido o princípio da autonomia e a sua aplicação em toda a escala, desde o indivíduo à comunidade com variável dimensão, torna-se possível cooperar com outras pessoas que partilhem um desejo de vida liberta do ciclo infernal: perder a vida para ganhar dinheiro, e perdê-la novamente, gastando aquele dinheiro no consumoútil ou inútil.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

A GERAÇÃO DE MÚSICA ROCK E POP DOS ANOS SESSENTA

                           

Muitas pessoas, incluindo as que não conheceram «ao vivo», apreciam a música dos anos sessenta. É preciso ser-se musicalmente surdo ou não ter qualquer réstia de energia, para não se apreciar os «furacões» musicais que surgiram - no mundo anglo-saxónico, principalmente - nos anos sessenta.

Mas, estes momentos mágicos não surgiram do nada. O rock-and-roll surgiu nos EUA do boom, da época doirada em que a classe operária sentia que - mesmo que não tivesse o mundo a seus pés - tinha, pelo menos, um enorme potencial de prosperidade: acreditava que qualquer um podia alcançar um bem-estar real. Nestes anos houve realmente «um sonho americano».                                           https://www.youtube.com/watch?v=IRF6nmqcbxo

                       
Do lado de cá do Atlântico, os jovens tinham também aspirações de se emanciparem dum conjunto de constrangimentos sociais, incluindo na vida amorosa, que implicavam uma ruptura, não apenas com os costumes tradicionais ainda largamente vigentes, como também passava por terem uma forma de se exprimir por uma música que era só deles, que eles foram buscar, além-Atlântico à geração rock do imediato pós-guerra: Chuck Berry, Little Richard, Elvis Presley e muitos outros, foram copiados e plagiados pelos grupos (ainda obscuros) que se estreavam nos clubes. Alguns desses clubes proporcionaram a estreia ou rampa de lançamento de grupos celebérrimos. O Marquee Club de Londres (Rolling Stones) ou a Cavern de Liverpool (Beatles), são os mais conhecidos.

                            

                       https://www.youtube.com/watch?v=SfLa2tFAqa4

Os Rolling Stones foram buscar o próprio nome do grupo a um título de canção («Rollin' Stone») do célebre cantor de blues, Muddy Waters
Mas, os grupos tinham uma enorme «escola»: Actuavam - noite após noite - em clubes, onde jovens vinham dançar, conviver e ouvir música. Tornou-se imperioso para eles construírem um reportório, tendo que pegar nos sucessos rock de além-Atlântico, ou mesmo nos blues dos cantores negros, sobretudo do Sul dos EUA.  Estes foram inspiração para grupos como o de John Mayall e muitos outros, o que não deixa de ser paradoxal, visto que a música tradicional dos campos de algodão do Sul dos EUA estava ligada a um modo de vida marcado pela passada escravatura e pela situação de discriminação racial e marginalidade das comunidades negras. 

                          
De qualquer maneira, estes grupos dos anos sessenta e seus sucessores nos anos setenta, criaram algo que é muito particular, fundindo música de várias tradições, apropriando-se de êxitos alheios ou de músicas pouco conhecidas, para lhes darem um toque pessoal. 
Claro que também houve a exploração deste filão pelas marcas de discos, o que foi também perfeitamente adequado para a divulgação ampla desta música «jovem». 
Tenho recordação de ouvir o programa de rádio «Em Órbita», realizado por jovens que conseguiam fazer chegar aos nossos ouvidos as últimas produções dos nossos ídolos, muito antes destas estarem à venda nas lojas de discos portuguesas. Com efeito, nessa altura, por uma questão de estreiteza do mercado discográfico em Portugal, o número de lojas de discos que vendia música pop e rock era reduzido e havia poucos discos de importação directa dos EUA ou do Reino Unido.   

De qualquer modo, as transformações ocorridas na sociedade não podem ser compreendidas, sem se ter em conta a participação da cultura, em particular da música pop. 

Teve porém aspectos negativos, nas expressões musicais doutros países, nomeadamente, em França, Espanha, Itália, etc., onde cantores e grupos se puseram a cantar versões nas suas línguas nacionais, dos êxitos dos EUA e britânicos. Depois, alguns começaram a compor directamente em inglês, apesar de não terem verdadeiras raízes culturais anglo-saxónicas. Mas, a música era também um negócio.

Os anos que se seguiram, ainda tiveram alguma pujança e viram surgir algumas novas estrelas de música pop e rock. Diga-se que, muitas destas, começaram a ser conhecidas nos finais dos anos sessenta. A geração do festival de Woodstock (1969), foi uma espécie de florescimento de tudo o que tinha sido incubado ao longo da década. 

Depois, houve algo interessante, de um ponto de vista sociológico, o revivalismo dos anos 60. 

Este revivalismo começou logo a uma década ou duas de distância. Ou seja, houve um retomar dos êxitos e sobretudo das fórmulas de sucesso. Ainda aqui, o dinheiro soou mais forte. O sucesso, com retomas de êxitos dos grupos e artistas dos anos sessenta, estava razoavelmente garantido, pois havia sempre um público que vivera os tais anos e aderia ao que tinha sido tão significativo na sua adolescência.

Não digo que o veio de criatividade da música pop e rock se tenha esgotado, mas é sempre difícil ser-se original num contexto em que tudo o que se possa fazer remete, de uma forma ou de outra, para estilos caldeados 60 anos atrás: Como aguentar a confrontação com a primeira geração, com aquela frescura, espontaneidade, adesão entusiástica da juventude que (correcta ou incorrectamente) via na música o veículo para sua própria emancipação?