Ao decidir escrever esta crónica, na continuidade dos temas das anteriores, deparo-me com uma dificuldade maior: Embora esteja a escrever apenas um trimestre depois da última crónica (a parte VI foi escrita em finais de Março de 2020), é um pouco como se fosse 20 anos depois, tão densa e dramática a actualidade tem sido. Ela tem sido isso, para além da crise sanitária, largamente exagerada e convenientemente prolongada, quer pelos media, quer pelas políticas de «lockdown».
Não irei alongar-me sobre o assunto que tenho debatido extensivamente nas páginas deste blog.
Vou antes chamar a atenção para o facto de que esta crise é uma crise sistémica: Estamos perante algo que nunca experimentámos nas nossas vidas, a não ser que tenhamos nascido antes de 1929. Mesmo assim, praticamente não sobrevive ninguém que fosse adulto nesse momento. De qualquer maneira, a crise de 1929 deixou marcas tão profundas em todas as esferas, que não poderíamos imaginar o mundo de hoje, sem as convulsões que foram desencadeadas a partir dessa data.
Será quase impossível imaginar um mundo sem as consequências da Grande Depressão de 1929-1933: Um mundo onde não tivesse havido a ascensão ao poder de Hitler, ou a IIª Guerra Mundial, ou a concentração do capital financeiro, ou a criação do chamado Welfare State, ou... ou ...ou...
Não sou, nem quero ser um «profeta», mas pelo que já se vê agora, ou pelas consequências muito próximas e lógicas das situações criadas, há algo absolutamente essencial, que descrevo abaixo, não mencionado pelos analistas, ou por miopia, ou por estratégia.
O sistema económico, financeiro e monetário está em completa desarticulação. Os bancos centrais e os governos não conseguem ter «mão» nesta situação. Tradicionalmente, a «impressão monetária» servia para causar uma ilusão de maior riqueza e este optimismo ilusório era considerado suficiente para «dar uma chicotada» na economia, impulsionando o consumo e o crédito, fazendo arrancar um novo ciclo. A impressão monetária atingiu píncaros absolutamente inéditos, mas a economia mundial simplesmente não é estimulada. Isto não deveria surpreender ninguém, pois a destruição catastrófica de emprego e empresas causada pelos «lockdown» um pouco por todo o mundo, nos dois meses anteriores, deitaram por terra qualquer hipótese da máquina produtiva se activar, em consequência de um «estímulo» monetário. O próprio FMI está a apontar para números de PIB dos países desenvolvidos, da ordem de 10 pontos negativos (uma contracção de 10% do PIB da eurolândia) para o corrente ano.
A crise - que está nas primeiras etapas - inicia-se com um período de deflação. Dentro de algum tempo, dá-se o agravamento do desemprego, a espiral descendente, com falências em série. Para evitar este cenário, governos e bancos centrais vão accionar as únicas políticas que sabem aplicar, nestes casos: impressão monetária.
Segundo a teoria prevalecente, designada «neokeynesianismo», em situação de recessão ou depressão, deve-se fornecer dinheiro fresco, vindo dos bancos centrais para os bancos comerciais, que fluirá destes para empresas e para o crédito ao consumidor. Este ficará estimulado a consumir e espera-se assim que passe a depressão económica.
Vão «estimular» com políticas monetárias cada vez mais arrojadas, mas isso não terá qualquer efeito real: é como se dessem injecções de adrenalina num corpo em estado comatoso:
- Primeiro, farão injecções de dinheiro nos bancos, com esperança de uma expansão do crédito e reactivação da subida nas bolsas.
- Depois, vendo que este processo não traz nenhum estímulo real, irão fazer uma política muito menos convencional, de compra directa das obrigações de empresas e das acções cotadas em bolsa. Irão a imitar o trajecto tomado pelo Bank of Japan desde há décadas, sem outro resultado, senão uma profunda estagnação/depressão.
- Em desespero, vão fazer injecções directamente aos consumidores, através do «rendimento básico universal». Isto significa que qualquer pessoa, simplesmente por existir, independentemente de ter ou não trabalho, rendimentos, etc... vai receber uma soma - por exemplo 600 euros mensais - como «complemento» ou «sustentáculo vital». Este dinheiro, espera-se, vai ser utilizado para consumo, não vai ser aforrado, visto que os juros são negativos, em termos reais.
A hipótese do «rendimento de base universal» ser utilizado para aumento do consumo das famílias parece sensata, à primeira vista.
Mas tem um grave e evidente inconveniente: a multiplicação de dinheiro, sem contrapartida em bens consumíveis.
Havendo muito mais dinheiro para o mesmo número de produtos, o preço destes vai aumentar. Na situação presente, também poderá haver uma contracção da oferta, por menor produção, causada pelas falências em série e pela ruptura das cadeias de abastecimento.
O que se prepara é um ciclo de hiperinflação. A oligarquia deseja causar o colapso completo, mas controlado por ela, para poder impor a sua nova ordem. Esta, incluirá o reforço das organizações transnacionais, do globalismo, o controlo absoluto da emissão de moeda a nível mundial (provavelmente sob os auspícios do FMI) e reforço dos mercados também fortemente centralizados, globalizados.
Perante este cenário, já se verifica que bancos comerciais e os mais afortunados (o 0.01%) estão a acumular ouro. Actores importantes, como o banco de investimento Goldman Sachs e vários «Hedge Funds» (fundos de investimento) estão abertamente a aconselhar seus clientes a comprar ouro.
No futuro, haverá uma transição para um novo sistema monetário, cujos contornos não estão ainda visíveis, mas a oligarquia globalista tem a firme intenção de manter e reforçar o seu controlo sobre a emissão e circulação da moeda. Com certeza, o ouro terá um papel a desempenhar nessa nova arquitectura monetária mundial, resta saber qual será, exactamente. É também provável que lancem uma «moeda digital», mas não será descentralizada e fora do controlo estatal, como é o caso, hoje em dia, com o bitcoin e congéneres.
Como tenho escrito repetidas vezes, a única maneira das pessoas comuns evitarem que o que se avizinha, as afecte de modo particularmente cruel, é estarem bem informadas e construírem uma maior autonomia, face a um eventual agravamento da situação.
Os dirigentes políticos e económicos e a media convencional estão a ocultar um risco enorme, muito mais grave que uma eventual «segunda onda» do coronavírus : a hiperinflação, que é a destruição violenta de património, dos meios de vida, das vidas mesmo, comparável à devastação de uma guerra.