As pessoas «vulgares» não compreenderão o que eu escrevo; ou, pelo menos, irão tomar como literal o que é metafórico e vice-versa; irão tomar o particular pelo geral, ou o inverso... mas isso é assim, qualquer que seja a época, o substrato cultural.
Por isso, não me vou importar muito em explicar as coisas. Apenas direi que escrevo como penso, em vários planos diferentes, em simultâneo. Assim, uma pessoa capaz de compreender isso, será um convidado «com pernas suficientemente operacionais», para se deslocar do rés-do-chão para os andares e vice versa, descer até à cave e abrir todos os alçapões da memória, que surjam.
A humanidade não precisa de mais bens de consumo. Ela está literalmente a sufocar em bens de consumo. Vejam os mares contaminados por séculos devido a plásticos que se fraccionam mas não desaparecem; vejam os aterros com toda a «porcaria» que é produzida pela «civilização» do consumo, quer nas grandes cidades do «1º Mundo», quer nas do «3º Mundo».
Em paralelo com os aterros, mais e mais betão vai engolindo solos, muitos deles aráveis, quase todos de grande potencial, como os aluviais, presentes nas beiras dos rios, onde se situam quase todas as cidades.
Entretanto os arsenais aumentam, as pessoas dos países ditos em desenvolvimento são apanhadas em guerras cruéis, destituídas de outra causa, a não ser da ganância dos poderosos... mas revestidas de mil e um pretextos, desde a defesa da nação, da tribo, da cultura, dos direitos humanos, do espaço vital, do acesso aos recursos, etc.
Uma sociedade, nos países ditos desenvolvidos, super informada mas que se «esmera» em olhar para o lado, ou para «acreditar», sem espírito crítico, nas patranhas que a média dominada por interesses poderosos, lhos vende quotidianamente.
As sociedades e as pessoas estão, sem o saberem, cativas nos seus afectos, no seu intelecto e nas suas emoções, através da droga dos «smart phones» e de todo o lixo des-informativo que percorre as redes digitais, ditas sociais (na realidade, o mais anti-sociais que se possa imaginar).
Mas este alheamento torna as pessoas ao mesmo tempo insensíveis aos males que acontecem longe da sua esfera de «interesses e afectos» e hiper sensíveis a tudo o que lhe acontece a elas, aos seus próximos, ou mesmo a «causas» distantes de milhares de quilómetros, mas que decidem tomar como «suas». Tudo o resto, é-lhes indiferente.
O acesso universal a toda a espécie de informação apenas desencadeou ou potenciou uma resposta de enfado a tudo aquilo que a pessoa «civilizada» não considera «interessante», aquilo que não reforça as suas convicções (leia-se preconceitos).
O novo e o contraditório são tidos como o «intruso abusivo» inclusive por universitários, por intelectuais. Se há uma convicção deste tempo, é a de que cada um tem o legitimo direito a manter-se dentro de sua «esfera de conforto», de repudiar, ou descartar tudo o que venha desconstruir a sua narrativa pessoal, da sua bem pensante e pós-moderna vacuidade.
Abaixo, uma foto de uma «calçada de gigantes», fenómeno natural fotografado numa ilha ao sul da Coreia. Tem o valor simbólico, para mim, da Natureza nos proporcionar os meios pelos quais podemos aceder a outro patamar como indivíduos e como civilização.
Contra este estado de espírito, apenas uma religião cósmica, com a profunda consciência do dever para com os nossos semelhantes e para com a Natureza, poderá combater com sucesso. Não poderá usar as armas do «inimigo», a demagogia, o carisma dos líderes, etc. Deverá aceitar que o processo é longo e não terá atalhos possíveis. Será uma obra de paciência, de amor, de confiança no Todo Universal, de Tolerância e de Sabedoria.
Acredito que esse tempo virá, mas que será provavelmente depois de eu ter morrido. Porém, já vislumbro sinais disso, embora sejam ainda maiores os sinais das desgraças e tragédias que se abatem neste Planeta. Mas isso mesmo, pode ser um sinal de que se alcançou o ponto de viragem. Deus queira que assim seja, oxalá!