[quadro de Claude Monet, «La Falaise d'Edretat»]
terça-feira, 13 de março de 2018
segunda-feira, 12 de março de 2018
[Obras de MANUEL BANET] SE, ALGUM DIA, LHE ESCREVESSE UM POEMA DE AMOR
Se, algum dia, lhe escrevesse um poema de amor
Ah, ela nunca saberia, nunca por nunca lho diria
Dentro de mim o guardaria, sem jamais lho mostrar!
Bem melhor que ela nem suspeite estes devaneios
De palavras. São falsos brilhantes. Não merece seu peito
Tal dúbio enfeite; ou, por vezes, num punhal embainhado
Seu resplandecente olhar jamais cairá sobre versos
De Romeu de opereta, falsos como todos os
Que dizem o que não se diz, o que não se pode...
Morram as palavras nas masmorras cranianas!
Sem qualquer piedade eu as imolo todas
As queimo diante do severo ou divertido juízo
Este sem-sentido da vontade inebriada
Estonteada que me compele a escrever
Em segredo a dor antiga no peito calada
Nunca deixarei que sonoros bramidos fendam
O ar em seu redor, violentando a natural harmonia
- No silêncio vivem seus nobres pensamentos
Com sinceridade e por querer jamais darei
Nome ou sinal: ela corre invisível pelas ruas;
Em meus braços carinhosos se vem acolher
Não, este tosco escrevinhar apenas confessa
A impossibilidade de dizê-lo, o amor
A futilidade das palavras e a nossa vaidade
TERCEIRO-MUNDIALIZAÇÃO DE PORTUGAL
A natureza e origem dos postos de trabalho perdidos e criados num país, dá uma medida MAIS exacta do que se está a passar, muito mais do que o simples cômputo dos números totais de emprego e desemprego.
No caso português, vem-se notando uma transformação qualitativa do emprego: o emprego permanente, com garantias de permanência no posto de trabalho, com perspectiva de uma carreira dentro da empresa tornou-se uma quase miragem para a grande maioria dos jovens que alcançam a idade de entrada no mercado de trabalho.
As jovens gerações são empurradas a emigrar (veja-se as declarações cínicas de Passos Coelho, não há muito tempo atrás: já antes de tais declarações, a realidade era mesmo de incentivar a emigração dos jovens!). Temos hoje em dia uma das maiores diásporas científicas no mundo se a medirmos na proporção da pequenez numérica da nossa população autóctone.
A juventude que aqui permanece e procura emprego, apenas consegue trabalho precário, mal remunerado, sem garantias de estabilidade, sem perspectivas de melhoria.
Este modelo de super-exploração da mão-de-obra assalariada convinha às mil maravilhas ao patronato português tradicional, acanhado e mesquinho, modelo esse que serviu para trabalho pouco especializado, que não implicava maior qualificação que os nove anos do ensino obrigatório. Esta situação manteve-se, mas a qualificação dos jovens portugueses foi aumentando rapidamente e agora estão mesmo acima da média dos vários países «desenvolvidos», em termos de diplomas e de qualificações.
O modelo mais comum, pelo menos para os jovens, é o de contrato de trabalho ultra-precário é até ilegal, pois as empresas atribuem perto de 100% dos postos de trabalho ao emprego precário, a contratos a prazo, sendo apenas aceitável pela lei que uma empresa recrute trabalhadores a termo certo, quando a natureza do trabalho é temporária ou quando têm de fazer face a um acréscimo temporário do trabalho. É ilegal, mas o patronato está tranquilo porque a inspecção do trabalho fará «vista grossa» ou só se irá mover se ela própria for sujeita a «pressões superiores». Está a este nível o estado de corrupção das estruturas de fiscalização do trabalho e da economia em geral.
Se tal precarização «cientificamente» delineada, foi aconselhada aos governantes por ilustres doutores da treta (spin doctors) do FMI, Banco Mundial, etc. e seus «epígonos» nacionais, não se tratou - com certeza - de um conselho desinteressado.
É que os grandes grupos económicos, sobretudo no sector terciário, têm interesse muito concreto em recrutar uma mão-de-obra dócil, maravilhada por trabalhar ao nível de um gigante como a «Google» ou um grande banco entre os dez maiores ao nível mundial. Por mais pomposos que sejam os títulos de postos de trabalho para os quais os nossos brilhantes jovens forem recrutados, o facto é que estarão muito em baixo na hierarquia, sem grande hipótese de fazerem carreira. No fundo, são empregados de «call-center», com maior ou menor prestígio associado a seu posto, mas sem real futuro. Tal já ocorre há muitos anos com os call-centers e outros centros deslocalizados em países do Terceiro Mundo (Índia, Paquistão, etc,etc) onde, por uma pequena fracção do ordenado de um empregado da «metrópole», os empregados resolvem quase tudo aos clientes, eles também deslocalizados, que poderão estar telefonando de Nova Iorque, Tóquio, Istambul, Estocolmo ou Lisboa.
Que continua o regabofe da utilização dos nossos jovens mais brilhantes para quadros subalternos das grandes multinacionais, de vários sectores dos serviços, a começar pela grande banca internacional, das redes sociais, da informática, mas também de estruturas mundializadas do turismo, não há a menor dúvida.
O que é confrangedor é que as pessoas dêem como crédito positivo a este governo, o facto de Portugal ter um índice de atractividade dos negócios essencialmente pelos baixos salários, pela mão-de-obra qualificada que se oferece para trabalhar em competição directa à mão-de-obra dos outros países da «periferia», ou seja: somos, na prática, mais um país do Terceiro-Mundo, explorável e dominável a preceito, apenas com a «distinção» de estar situado a Europa, com assento na NATO e na União Europeia. «Estamos na EU» mas sem qualquer preocupação de equidade, justiça, respeito pela lei (laboral), consideração por quem trabalha...
Costumo dizer que, nas últimas décadas, Portugal é o paraíso para o patronato mais perverso, mais predador... Aqui, ele pode desenvolver seus negócios de mui dúbia legalidade, na maior das impunidades.
O excerto abaixo é apenas uma ilustração pontual do que descrevi acima:
Retirado do Diário
de Notícias de 12-03-2018:
Além da redução da
rede de balcões e do número de trabalhadores, os bancos estão agora também a
apostar na contratação de serviços de outsourcing. "Em 2017 agravou-se a
tendência de os bancos substituírem trabalhadores qualificados, de meia-idade,
por trabalho em outsourcing, frágil, desregulamentado, barato e não suscetível
de criar relações para o futuro", denuncia Paulo Marcos.
O cenário da banca
só não é mais negro porque muitas instituições estrangeiras estão a recrutar
pessoal. BNP Paribas, Natixis, BAI, BAE e Bankinter são alguns exemplos.
"Portugal é um país muito atrativo para os bancos estrangeiros instalarem
centros de competência", afirma Paulo Marcos. O Natixis tem um centro de
excelência de tecnologias da informação no Porto e vai contratar mais 300
trabalhadores até ao fim de 2019, além dos 300 que já recrutou. O BNP Paribas
emprega já 5000 trabalhadores em Portugal. Razão? Boas qualificações e salários
baixos.
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sábado, 10 de março de 2018
ENTREVISTA EXCLUSIVA DE PUTIN A MEGYN KELLY DA NBC
Não é meu costume reproduzir um vídeo tão longo, porém julgo que é importante fazê-lo porque a media ocidental não está interessada em que as pessoas oiçam e vejam na íntegra este documento.
Qualquer que seja a visão de quem vê isto, terá a entrevista inteira, não momentos seleccionados, podendo assim fazer uma opinião mais informada.
Os assuntos discutidos são muito importantes em geral, para a questão da guerra e da paz e, em particular, devido às novas revelações russas sobre armas estratégicas.
Qualquer que seja a visão de quem vê isto, terá a entrevista inteira, não momentos seleccionados, podendo assim fazer uma opinião mais informada.
Os assuntos discutidos são muito importantes em geral, para a questão da guerra e da paz e, em particular, devido às novas revelações russas sobre armas estratégicas.
sexta-feira, 9 de março de 2018
A ÚLTIMA FRONTEIRA DA GUERRA FRIA
https://www.youtube.com/watch?v=KrAwyzZwcMc
Desde a brutal e inconclusiva guerra da Coreia, os dois regimes - a Coreia do Norte e Coreia do Sul - viviam numa situação de tréguas instável.
A Coreia
do Norte evoluiu para um curioso regime totalitário de carácter
autárcico, uma «monarquia vermelha», com uma sucessão hereditária de líderes
carismáticos, até ao actual líder, Kim Jong Un.
A Coreia do Sul
viveu intensa repressão anti-comunista e anti-trabalhadores, tendo-se libertado
dos aspectos mais odiosos da repressão através de um levantamento popular, nos
anos oitenta. Mas o regime foi sempre oficialmente anti-comunista, totalmente
alinhado com os EUA, os quais tinham neste período - pelo menos, até há bem
pouco tempo - ditado qual deveria ser a atitude da Coreia do Sul, sua aliada
nominalmente, mas na verdade sua colónia. Os sessenta mil militares
estacionados permanentemente em diversas bases, dispunham de armamento
sofisticado de defesa e de ataque. Sabe-se que passaram por estas bases ogivas
nucleares americanas, sem que estes dessem conta aos políticos e militares do
regime do Sul.
Para a estratégia
dos EUA, a Coreia do Sul tem constituído uma peça-chave do seu
dispositivo. Com efeito, a existência daquele outro Estado arque-inimigo - a
Coreia do Norte- tem sido muito conveniente, como pretexto para manter forças
importantes em estado operacional permanente desde há vários decénios, não
apenas na Coreia do Sul, como também no Japão. Graças a este pretexto, os EUA
dispõem de meios de exercer chantagem militar sobre a China, ou Rússia, visto
poderem também alcançar com seus mísseis, o extremo oriente russo.
Depois do fim
oficial da «guerra fria» em 1991, com a dissolução da URSS e o desfazer-se do
Pacto de Varsóvia, o regime Norte-Coreano, arcaico e super-repressivo foi
mantido, não por milagre, mas porque todos os vizinhos encontravam aí algo a
ganhar.
A Coreia do Sul
tinha um inimigo cuja ameaça tornava indispensável que o «Tio Sam» ajudasse e
protegesse a «frágil democracia» do Sul, dos «constantes intentos subversivos»
dos «comunistas» do Norte.
Os Chineses,
possuíam um aliado incómodo, mas apreciavam a existência de um «tampão» entre
as suas fronteiras e os dispositivos militares dos EUA, em bases permanentes e
dotadas de todo o arsenal bélico, para atingir o território da R.P. da
China.
Os russos, tinham
os mesmos motivos que os Chineses, em relação ao papel da Coreia do Norte como
«Estado tampão».
Os japoneses
também tinham vantagem, pois assim conseguiam manter a protecção dos EUA. Além
disso viam com bons olhos que a Coreia do Sul, seu concorrente
industrial, continuasse a braços com este problema, obrigada a
desviar somas colossais dos recursos do Estado coreano para a defesa, incluindo
a manutenção dum exército em pé de guerra permanente, para enfrentar uma
hipotética invasão, ou qualquer provocação vinda do «irmão inimigo» do
Norte.
A abertura da
Coreia do Sul à R.P. da China, os laços de comércio (70% do Comércio
Sul-coreano é actualmente com a R. P. da China) e as políticas de boa
vizinhança, além da existência de um grande cansaço da população em geral e
mesmo de parte da oligarquia sul-coreana, perante este estado de guerra
suspenso «sem fim à vista», levou a que, no início do novo milénio, a liderança
de um presidente da «esquerda moderada» levasse a cabo a «Sunshine Policy» de
abertura à Coreia do Norte: através de pequenos passos, do levantamento de
certas restrições, da implantação de uma zona industrial na Coreia do Norte,
onde as empresas do Sul poderiam investir, aproveitando baixos salários e boas
condições de funcionamento garantidas pelo regime do Norte, etc. Esta política
foi posta em causa - embora não completamente - pelos governos conservadores
que lhe sucederam.
Apenas com este
novo presidente, Moon, as coisas se modificaram. Desta vez, os Jogos
Olímpicos de Inverno foram ocasião para uma grande operação de
«degelo» e de diplomacia desportiva, como todo o Mundo pode testemunhar. Os
contactos prosseguem actualmente.
As duas Coreias
finalmente dialogam entre elas, sem pedirem autorização a nenhum dos
«protectores». A presidência dos EUA, apesar de uma série de afirmações
deselegantes e provocatórias do seu vice-presidente, durante os jogos Olímpicos
de Inverno, viu-se na obrigação de apoiar o novo rumo das relações, segundo o
conhecido ditado «se não os podes derrotar, junta-te a eles».
Tudo isto vai
evoluir; de uma forma ou de outra, nada ficará como dantes.
O destino que o
regime Norte Coreano tiver, oxalá dependa apenas e somente da vontade dos seus
cidadãos. Não acredito que, face a uma maior abertura ao mundo, havendo uma
garantia de não-ingerência, o status quo permaneça intacto por muito
tempo.
Ocorreram outras
transições de regimes totalitários, «vermelhos» ou não: nada garante porém que,
no caso da Coreia do Norte, se caminhe para um maior respeito pelos direitos
humanos, pelos direitos de participação política na sua plenitude. Mas não
há dúvida que, no interior do próprio regime, se irão fazer ouvir vozes
clamando por mudança.
A minha natureza,
essencialmente optimista, em relação à espécie humana, faz-me crer
profundamente que os povos, quando deixam de estar sujeitos ao medo, encontram
naturalmente o caminho próprio para a felicidade.
A felicidade deles
também é a nossa, pois significa - não meramente em termos simbólicos -
que a página da «guerra fria», esse longo período de grave ameaça para a Paz
mundial, estará definitivamente virada.
quinta-feira, 8 de março de 2018
EUROPA JUNKIE DAS INJECÇÕES DE LIQUIDEZ DO BCE
Com a redução para metade das compras mensais do BCE de 60, para 30 biliões em activos dos bancos e obrigações soberanas, os mercados do velho continente já estão a sofrer. O suposto estímulo não estimulou senão uma dependência, como um junkie, que depende da sua injecção quotidiana de heroína monetária, para continuar a fingir que está activo e que existe um mercado, que existem instituições financeiras solventes, que existem estados não falidos, para não falarmos da dívida sempre crescente de grande número de empresas, especialmente as empresas familiares, sobre as quais repousa 60 a 80 % do emprego e da produção nos países da Eurolândia.
Os analistas já prevêem, com razão, o arrefecimento da economia, para níveis equivalentes a uma estagnação. Teremos um novo ciclo de «estagflação» ou seja estagnação económica, com inflação, supostamente baixa, mas somente por manipulação dos índices pelas agências governamentais. O episódio anterior de estagflação foi nos finais dos anos setenta e princípios dos anos oitenta. Foi uma altura muito dura para as classes trabalhadoras de todos os países europeus. Foi também a altura em que as pressões, económicas, políticas, sociais começaram a fazer romper o «dique» dos países do Leste, do Pacto de Varsóvia.
Hoje em dia, a China é quem irá beneficiar da fragilidade da economia europeia. Está a implantar as suas plataformas de troca de Yuan por moedas ocidentais, quer na City de Londres, quer no Luxemburgo, em Frankfurt ou ainda Zurique.
Vai chegar um momento, não tarda muito, em que o «consenso» vai virar, será então muito melhor possuir algo sólido, algo que não seja um «activo financeiro», nem uma conta bancária, ou o mínimo possível... pois o grande «reset» está aí, à vista, é preciso ser míope para não o ver chegar.
Os poderes (incluindo os orientais) estão em conluio para que esse tal reset tenha um mínimo de sobressaltos, de modo que apenas os pobres, ou as classes médias, sofram o embate principal.
Os sistemas de previdência, os fundos das pensões de reformas, etc. tudo isso (o nosso capital acumulado, não esqueçamos) vai servir como combustível para a grande fornalha.
Os Estados e outros «grandes devedores» sairão «magicamente» solventes de todos estes episódios, enquanto o comum dos mortais irá ficar ainda mais dependente do «Welfare State», com a falsa benesse do «rendimento incondicional».
Mas, talvez as coisas não se passem exactamente a contento dos oligarcas!
quarta-feira, 7 de março de 2018
SOLITUDE - CHANTAL CHAMBERLAND & SARAH VAUGHAN
Um standard do jazz de autoria de Duke Ellington
In my solitude
You haunt me
Of days gone by
In my solitude
With memories
That never die
I sit in my chair
I'm filled with despair
There's no one could be so sad
With gloom everywhere
I sit and I stare
I know that I'll soon go mad
In my solitude
I'm praying
Dear Lord above
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