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sábado, 6 de julho de 2019

«A NOVA ESCRAVIDÃO DA CLASSE TRABALHADORA» - ENTREVISTA COM PAUL CRAIG ROBERTS



"The reason Noam Chomsky and I can speak freely is because we don’t want anything from the establishment. We are not depended on them. If we were, we would be shut down. So, you have a situation in the West where there is hardly anybody who can afford to speak freely."


(A razão porque Noam Chomsky e eu próprio podemos falar livremente é porque não queremos nada do 'establishment'. Não estamos na sua dependência. Se fossemos dependentes deles, seriamos calados. Portanto, temos uma situação no Ocidente onde quase ninguém pode permitir-se falar livremente.)



Sobre o Prof. Paul Craig Roberts  e seu pensamento:

Entrevistas de P. C. Roberts a Hanne Nabintu Herland: 


segunda-feira, 12 de março de 2018

TERCEIRO-MUNDIALIZAÇÃO DE PORTUGAL


A natureza e origem dos postos de trabalho perdidos e criados num país, dá uma medida MAIS exacta do que se está a passar, muito mais do que o simples cômputo dos números totais de emprego e desemprego.

No caso português, vem-se notando uma transformação qualitativa do emprego: o emprego permanente, com garantias de permanência no posto de trabalho, com perspectiva de uma carreira dentro da empresa tornou-se uma quase miragem para a grande maioria dos jovens que alcançam a idade de entrada no mercado de trabalho. 

As jovens gerações são empurradas a emigrar (veja-se as declarações cínicas de Passos Coelho, não há muito tempo atrás: já antes de tais declarações, a realidade era mesmo de incentivar a emigração dos jovens!). Temos hoje em dia uma das maiores diásporas científicas no mundo se a medirmos na proporção da pequenez numérica da nossa população autóctone. 

A juventude que aqui permanece e procura emprego, apenas consegue trabalho precário, mal remunerado, sem garantias de estabilidade, sem perspectivas de melhoria. 
Este modelo de super-exploração da mão-de-obra assalariada convinha às mil maravilhas ao patronato português tradicional, acanhado e mesquinho, modelo esse que serviu para trabalho pouco especializado, que não implicava maior qualificação que os nove anos do ensino obrigatório. Esta situação manteve-se, mas a qualificação dos jovens portugueses foi aumentando rapidamente e agora estão mesmo acima da média dos vários países «desenvolvidos», em termos de diplomas e de qualificações. 

O modelo mais comum, pelo menos para os jovens, é o de contrato de trabalho ultra-precário é até ilegal, pois as empresas atribuem perto de 100% dos postos de trabalho ao emprego precário, a contratos a prazo, sendo apenas aceitável pela lei que uma empresa recrute trabalhadores a termo certo, quando a natureza do trabalho é temporária ou quando têm de fazer face a um acréscimo temporário do trabalho. É ilegal, mas o patronato está tranquilo porque a inspecção do trabalho fará «vista grossa» ou só se irá mover se ela própria for sujeita a «pressões superiores». Está a este nível o estado de corrupção das estruturas de fiscalização do trabalho e da economia em geral.  

Se tal precarização «cientificamente» delineada, foi aconselhada aos governantes por ilustres doutores da treta (spin doctors) do FMI, Banco Mundial, etc. e  seus «epígonos» nacionais, não se tratou - com certeza - de um conselho desinteressado. 
É que os grandes grupos económicos, sobretudo no sector terciário, têm interesse muito concreto em recrutar uma mão-de-obra dócil, maravilhada por trabalhar ao nível de um gigante como a «Google» ou um grande banco entre os dez maiores ao nível mundial. Por mais pomposos que sejam os títulos de postos de trabalho para os quais os nossos brilhantes jovens forem recrutados, o facto é que estarão muito em baixo na hierarquia, sem grande hipótese de fazerem carreira. No fundo, são empregados de «call-center», com maior ou menor prestígio associado a seu posto, mas sem real futuro. Tal já ocorre há muitos anos com os call-centers e outros centros deslocalizados em países do Terceiro Mundo (Índia, Paquistão, etc,etc) onde, por uma pequena fracção do ordenado de um empregado da «metrópole», os empregados resolvem quase tudo aos clientes, eles também deslocalizados, que poderão estar telefonando de Nova Iorque, Tóquio, Istambul, Estocolmo ou Lisboa.

Que continua o regabofe da utilização dos nossos jovens mais brilhantes para quadros subalternos das grandes multinacionais, de vários sectores dos serviços, a começar pela grande banca internacional, das redes sociais, da informática, mas também de estruturas mundializadas do turismo, não há a menor dúvida. 

O que é confrangedor é que as pessoas dêem como crédito positivo a este governo, o facto de Portugal ter um índice de atractividade dos negócios essencialmente pelos baixos salários, pela mão-de-obra qualificada que se oferece para trabalhar em competição directa à mão-de-obra dos outros países da «periferia», ou seja: somos, na prática, mais um país do Terceiro-Mundo, explorável e dominável a preceito, apenas com a «distinção» de estar situado a Europa, com assento na NATO e na União Europeia. «Estamos na EU» mas sem qualquer preocupação de equidade, justiça, respeito pela lei (laboral), consideração por quem trabalha... 
Costumo dizer que, nas últimas décadas, Portugal é o paraíso para o patronato mais perverso, mais predador... Aqui, ele pode desenvolver seus negócios de mui dúbia legalidade,  na maior das impunidades.

O excerto abaixo é apenas uma ilustração pontual do que descrevi acima:

Retirado do Diário de Notícias de 12-03-2018:


Além da redução da rede de balcões e do número de trabalhadores, os bancos estão agora também a apostar na contratação de serviços de outsourcing. "Em 2017 agravou-se a tendência de os bancos substituírem trabalhadores qualificados, de meia-idade, por trabalho em outsourcing, frágil, desregulamentado, barato e não suscetível de criar relações para o futuro", denuncia Paulo Marcos.
O cenário da banca só não é mais negro porque muitas instituições estrangeiras estão a recrutar pessoal. BNP Paribas, Natixis, BAI, BAE e Bankinter são alguns exemplos. "Portugal é um país muito atrativo para os bancos estrangeiros instalarem centros de competência", afirma Paulo Marcos. O Natixis tem um centro de excelência de tecnologias da informação no Porto e vai contratar mais 300 trabalhadores até ao fim de 2019, além dos 300 que já recrutou. O BNP Paribas emprega já 5000 trabalhadores em Portugal. Razão? Boas qualificações e salários baixos.




terça-feira, 29 de agosto de 2017

EXPLORAÇÃO ACRESCIDA E AUSÊNCIA DE SINDICATOS COMBATIVOS


Notícias deste tipo são quotidianas e basta olhar à roda, perguntar a familiares ou amigos, para constatar que estas notícias, longe de serem alarmistas reflectem aquilo em que se transformou o mercado de trabalho.

Os sindicatos estão ausentes dos locais de trabalho; as direcções estão fechadas nos seus gabinetes ou a fazer tudo menos aquilo para que foram eleitas. Sim, não falham uma «manif» da CGTP, se forem convocadas... mas fazerem o trabalho quotidiano e ingrato... 

A ausência de sindicalismo sério e de classe torna as situações narradas impossíveis de defesa do ponto de vista dos explorados. Os patrões têm em Portugal um paraíso porque o «sindicalismo» se confunde com a militância política, que NÃO É. 

A anexação e subordinação dos sindicatos por partidos (sobretudo de «esquerda») tem as consequências que se podem observar. Ninguém da «sacro-santa» esquerda quer dar o braço a torcer e reconhecer isto: os sindicatos são órgãos da classe trabalhadora toda. Cativá-los para lutas políticas e desmobilizá-los das lutas laborais é uma traição muito grave. 


Só quando a nova geração tiver varrido práticas enquistadas nos sindicatos; só quando houver um grau de consciência de classe que lhes proíba fazer como seus antecessores, poderão as coisas mudar no campo sindical e laboral.


sexta-feira, 14 de julho de 2017

A ESCRAVIDÃO* DE QUE NÃO SE FALA

 *[ A condição de escravo não implica que a exploração seja violenta, brutal, penosa, mas apenas que o trabalho não é remunerado, é uma obrigação do trabalhador, mas não do seu patrão. Este pode decidir dispensar o escravo quando quiser, pois não existe qualquer tipo de contrato.]

TRABALHO GRATUITO DE MESTRANDOS E DOUTORANDOS, PARA VANTAGEM DOS «MANDARINS» NA UNIVERSIDADE


Muitos estudantes de mestrado e de doutoramento são «obrigados na prática» a darem aulas gratuitas e mesmo a classificar trabalhos de alunos de licenciatura (ambas atividades que envolvem evidentes responsabilidades profissionais). 

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Existe legislação suficiente para caracterizar como criminosas estas práticas, aliás perfeitamente documentáveis. No entanto, nem os agentes do poder, nem mesmo o «contrapoder» dos sindicatos intervém. Porquê?
A cumplicidade ou conivência generalizada com um crime, a complacência com ele, torna-o ainda mais grave e hediondo. 
É um comportamento criminoso perfeitamente consciente o uso abusivo do trabalho gratuito de estudantes. O mais notório caso é o de atividades docentes, para as quais se exige legalmente qualificação e reconhecimento específico. 
Sem darem um combate eficaz a estas práticas, sem as exporem, de tal forma que os atuais beneficiários delas tenham vergonha e se inibam de continuar, não é credível que políticos declarem «que querem combater injustiças, trabalho precário», etc. 
Combata-se já a exploração e o trabalho escravo e precário de milhares de estudantes na universidade.



Algumas pessoas dizem - e outras repetem - que «é o sistema» ou ainda que «instalou-se uma cultura»: isso são apenas desculpas lançadas pelos beneficiários do trabalho gratuito, eles próprios. 

O facto de serem docentes universitários, não significa que tenham escrúpulos. Há pessoas que, quando atingem um certo estatuto, julgam que podem fazer praticamente o que quiserem e não ser incomodadas. 
Julgam-se acima da lei; é exatamente um sistema feudal. 

Mas num Estado de Direito isto é crime. Isto chama-se sobre-exploração / trabalho escravo / chantagem / assédio.

Em Portugal, não consegui obter reportagens sobre o assunto, o que não significa de modo nenhum que seja menos grave ou generalizado do que noutros sítios. Aqui, abaixo, deixo uma selecção de artigos que mostram várias facetas do problema.


Condição de escravo moderno:



Em Espanha, já a própria universidade reconhece em parte o problema:

Exploração miserável na Austrália:

Em França, estão organizados para combater este flagelo:

Em Portugal...nada! Se alguém, entretanto, souber de alguma notícia relativa ao assunto, peço me informe!