domingo, 2 de abril de 2017

SERIAMENTE, O REINO DO DÓLAR ESTÁ A CHEGAR AO FIM





Quando Nixon decretou unilateralmente que o dólar deixava de ser convertível em ouro (a cotação fixa da onça de ouro era de 35 dólares), fez ruir o sistema de Bretton Woods, em que as diversas nações tinham as suas divisas indexadas ao dólar, porque este era convertível em ouro e, portanto, todas as divisas indirectamente também estavam ligadas ao padrão-ouro.
O sistema de câmbios flutuantes, que se seguiu, foi factor de variação especulativa das diversas moedas, inclusive do dólar, acrescentando incerteza a algo – a economia- que, por natureza,  já era incerto.
Mas o dólar continuou a reinar, como moeda de reserva, devido ao acordo firmado entre Kissinger e o rei Saudita, em como os preços e pagamentos de «crude» saudita seriam feitos exclusivamente em dólares, sendo garantido – em contrapartida- um apoio incondicional ao regime, o qual, lembremos era o mais obscurantista e despótico dentro dos países árabes. Todos os potentados produtores de petróleo tinham, na prática, que seguir o acordo EUA-Saudita,  moldando até hoje a política de todas as nações exportadoras de petróleo, com a excepção da URSS/Rússia. 
Os que tentaram sair desse exclusivismo do dólar, pagaram com sua vida (Saddam Hussein, Muamar Khadafi) e seus países foram devastados, suas populações massacradas, a guerra civil fustigando o que restava deles. Menos sucesso tiveram com a Síria e o Irão, embora os EUA tenham tentado; não desistiram ainda de desestabilizar e suprimir estes regimes.
O estado do mundo não podia ser mais caótico do que hoje em dia, com um império ferido de morte, mas ainda suficientemente poderoso para desencadear guerras mortíferas ou  para desestabilizar as fronteiras de seus adversários (Ucrânia, sujeita um golpe fascista em Fev. de 2014 e Sul da China, palco de provocações da US Navy junto a territórios insulares contestados pelos filipinos e pelos vietnamitas).
Neste contexto, concretizou-se a aceleração de um noivado entre os gigantes  Rússia e China, em que ambos tinham interesse estratégico, complementaridade económica e fronteiras comuns vastíssimas.
Agora, temos conhecimento de que os respectivos Estados irão transaccionar sem o recurso ao dólar, usando «trade note», ou seja, notas comerciais convertíveis em ouro. Por exemplo, um carregamento de petróleo e um carregamento de bens electrónicos são trocados: a diferença entre os dois será saldada em Yuan, sendo que se usará uma nota de crédito comercial convertível em ouro. Assim, o Estado Russo, por exemplo, poderá cambiar em ouro uma certa quantia de «trade note» no Mercado de Ouro de Xangai. 
A partir deste momento, o dólar deixa de entrar na equação. Os russos e chineses argumentam com as vantagens de evitar as flutuações de câmbios, o que é verdade, se pensarmos que o rublo tem sido sujeito a ataques especulativos e tem enfraquecido notoriamente face ao dólar. 
Mas além deste aspecto, existe o facto de os EUA se arrojarem o papel de árbitros e juízes em quaisquer transacções efectuadas usando a sua moeda. Usando sofismas, o sistema judiciário americano penalizou com biliões bancos de países terceiros que tinham – em perfeita legalidade – negociado com o Irão, não nos EUA, mas dentro das fronteiras e jurisdições dos seus próprios países. Ou seja, os EUA impunham as sanções ao Irão, que eles próprios decretaram, como pretexto para vergar à sua vontade política outras entidades (bancos…) de países terceiros, sob ameaça de multa ou de deixar de poder efectuar qualquer actividade nos EUA. 
Na perspectiva dos russos, esta fuga a transaccionar em dólares, tornou-se portanto um desígnio estratégico, não por vontade deliberada de afundamento do dólar como moeda comercial ou de reserva, mas como meio de escapar ao regime de sanções, cada vez mais abrangente e que os americanos continuam a impor aos seus parceiros europeus, usando todas a chantagens possíveis.
Sem este regime de pressão constante, desde a guerra a quente, até às sanções e pressões de chantagem/boicote, os EUA não teriam conseguido manter até hoje a hegemonia do dólar, quer como moeda de reserva, quer como principal divisa das trocas comerciais.
Porém, o reino do dólar está a chegar ao fim: a Arábia Saudita está a aumentar o intercâmbio comercial e de grandes obras com a China, que é – actualmente - o seu principal cliente comprador de petróleo. Não tarda muito que o Reino saudita aceite as notas comerciais denominadas em Yuan e convertíveis em ouro, tanto mais que eles foram espoliados pelos americanos do ouro que estava à custódia de bancos suíços, UBS e Credit Suisse, nomeadamente, os tais que foram sujeitos a multas pesadas.
O dólar não tem nada a garanti-lo, a não ser a força bruta, militar, do maior império que consegue ter a maioria dos gastos mundiais em defesa, com armamento e com as mais de 800 bases militares espalhadas pelo mundo. 

O Império não tem tido sucesso militar/político nos últimos tempos: 
- Tem sido um longo fiasco, o seu envolvimento contra os taliban no Afeganistão, há 16 anos sob tutela da NATO, porém sem qualquer solução política. 
- No Iraque, o governo deste país inclina-se cada vez mais para o lado do Irão. 
- No Iémen, a guerra suja por procuração  - levada a cabo pela força aérea saudita contra o povo, mas com apoio dos EUA - tem sido um fracasso. 
- Não se pode falar de vitória em relação à Líbia, em que a coligação «ocidental» destruiu um país, mas onde não existe solução política devido à interferência constante dos «ocidentais». 
- O envolvimento dos EUA, Sauditas, Quatar, Turquia e outros, na criação e propulsão do «Estado Islâmico», que desestabilizou o Iraque e a Síria, está agora mais que evidente para todo o mundo. 

Nada do que se tem passado nos últimos dois decénios, no Médio Oriente, significa uma vitória material ou, sequer, moral dos EUA e seus súbditos.

Como não têm infraestruturas em bom estado, indústrias transformadoras, nem algo de realmente interessante para exportar além de filmes de Hollywood e armamento, terão necessariamente de chegar a um ponto de ruptura, pois não poderão continuar sempre a emitir dívida e inundar os mercados financeiros com essa dívida, como se ela valesse qualquer coisa. 
Os chineses e outros dizem, com razão, que os americanos lhes compram equipamentos, matérias-primas, toda a gama de produtos industriais, pagando com uma moeda de «Jogo Monopoly».

Não há dúvida que existem certos factos demasiado pesados para serem omitidos.
Vai tornar-se mais e mais óbvio que os EUA estão completamente falidos, que a sua dívida é impagável e que os juros da mesma não podem senão subir, causando a falência de algo tão importante como o seu sistema de pensões. O conhecimento da falência de vários fundos de pensões, de sistemas de fornecimento de água, do péssimo e inoperante sistema de saúde mais caro do mundo, são hoje tão evidentes, que nem os mais ardentes defensores do sistema o contestam, limitam-se a omitir os factos. Mas os que têm preocupação em chegar a um retrato verdadeiro da situação, apenas têm de «juntar os pontos entre si».
Este império é um edifício que parece sumptuoso e poderoso à distância, mas que está cheio de rachas e de pequenas avarias, que se vão tornando mais graves, porque a reparação não é possível ou mesmo que fosse possível, implicaria reduzir privilégios dos «0.1%».

Na realidade, não existe vantagem em países pequenos se encolherem à sombra ameaçadora do «Tio Sam» ou de outra super-potência. Terão futuro, somente se tomarem seus destinos nas suas mãos, emancipando-se duma tutela que apenas significa submissão.
Não significa isto mudar-se de «dono», ou seja passarmos a depender de Chineses e/ou Russos, por exemplo. 
Mas antes, que é possível um pequeno país singrar no Mundo globalizado, sem demasiadas dependências, equilibrando as influências, tratando de obter acordos mutuamente vantajosos com todos (estratégia «win, win»), preservando a sua independência nacional. Esta significa ter autonomia para decidir internamente todos os assuntos que dizem respeito ao nosso povo, tendo força suficiente para resistir a parcerias que implicassem uma vassalagem.



sexta-feira, 31 de março de 2017

O OCASO DO EURO

É atribuída a Hemingway a frase seguinte: perguntaram-lhe como se entrava em bancarrota, ao que ele respondeu... «Primeiro suavemente, depois bruscamente».
É, de facto, num momento destes que se encontra a totalidade da «União» Europeia e o Euro. 
A possibilidade de - nas próximas eleições em França e Itália - triunfarem partidos defensores da saída do Euro é muito mais elevada do que se possa julgar. A média, ao serviço dos poderes, tende a minimizar os sinais por demais visíveis de que a maioria de eleitores rejeita a continuação de seus respectivos países na zona Euro. Porém, em todos os países do Sul e na França, já existe uma maioria que tem uma visão negativa do Euro nas suas economias. 
Resultados eleitorais conferindo um mandato de saída do Euro, como será o caso na eventualidade de triunfar Marine Le Pen, ou o Movimento Cinco Estrelas em Itália, serão o equivalente de uma condenação à morte do Euro, na sua totalidade. 
A implosão do sistema da moeda única será inevitável e pode mesmo contribuir para graves conflitos entre países europeus. Com efeito, no sistema do Euro, têm-se acumulado desequilíbrios de pagamentos entre os bancos centrais dos países do Sul e o banco central alemão. 
Quando um português compra um Mercedes, por exemplo, esse valor vai ser creditado como activo, no banco central da Alemanha e como dívida pendente no banco central português. Se houver um regresso às moedas nacionais, o que acontece de imediato é que as dívidas comerciais são convertidas nas novas moedas. 
As dívidas que permanecem em Euros, que não são convertíveis, serão apenas as que resultam dos empréstimos feitos ao abrigo de legislação exterior e em contratos estabelecendo que a dívida terá de ser paga em Euros. Tal será o caso de obrigações soberanas emitidas pelos vários países, que são muitas vezes colocadas no mercado ao abrigo de legislação exterior à zona Euro, por exemplo, na praça de Londres.  
Se um país importante economicamente, como a França ou a Itália, com dívidas acumuladas em Euros, sair da zona Euro, o resultado será a crise imediata nos restantes países e, mesmo, ao nível mundial. O Euro é, ao nível global, a segunda moeda de reserva, a seguir ao dólar. Além disso, uma parte importante de comércio internacional é efectuada em Euros. 
Face a esta situação, Portugal, como pequeno país, não poderá fazer uma grande diferença, quer os seus dirigentes decidam - ou não - abandonar o Euro. Porém,  ao nível interno, seria muito mais inteligente terem as pessoas, as organizações, as empresas e o próprio governo, planos de contingência realistas para uma tal eventualidade. 
Estou convencido de que - independentemente do resultado das eleições francesas e italianas - a «União» Europeia se encaminha para um aprofundar das contradições e um afundamento.
 Durante quinze anos, aproximadamente, a Alemanha tem acumulado excedentes, graças a um Euro demasiado fraco, por comparação ao Marco Alemão, o que veio fazer com que, no Sul, as economias absorvessem uma enorme quantidade de produtos alemães. Por outras palavras, o valor do Euro tornou competitiva a economia alemã, face aos seus parceiros comerciais do Sul.
Por outro lado, devido a uma política de contenção salarial, acordada por governo, patronato e sindicatos alemães, em troca de um quase pleno emprego, os produtos do Sul - essencialmente alimentares e outros, de consumo individual - não conseguiram ser absorvidos pelo mercado alemão num volume que compensasse a importação, pelo Sul, de máquinas-ferramentas, automóveis e outros produtos da indústria alemã. 
O desequilíbrio das balanças de pagamentos, que se foi aprofundando com o tempo, gerou enormes tensões e levou ao sobre-endividamento dos países menos industrializados. 
Não é por «preguiça» ou «consumo sumptuário» que os povos grego, italiano, espanhol ou português foram ficando cada vez mais pobres. Foi em resultado duma política económica em que, por um lado as trocas eram em circuito fechado, cerca de 80% das trocas comerciais eram internas à zona Euro, por outro era impossível competir com os países do Terceiro Mundo, usando o instrumento tradicional da desvalorização da moeda, restando uma desvalorização severa - em todos estes países - do valor-trabalho. 
Obviamente, o mercado interno destes países ressentiu-se cada vez mais com as políticas austeritárias impostas, havendo um efeito de círculo vicioso: menos capacidade de compra da população ---> menos escoamento de produtos destinados ao mercado interno ----> falências e despedimentos nas indústrias ---> empobrecimento da população.
Por isso, Portugal não teve, não tem e não terá, qualquer vantagem em permanecer dentro do Euro. Porém, pior seria estarmos «distraídos», não percebendo que as circunstâncias mudaram. Deverá fazer-se um debate ,abrangendo todos os sectores nacionais, sobre o que se deve fazer. 
É evidente que a zona Euro já está em crise, pelo menos, desde o rebentar da crise da dívida da Grécia em 2010. 
Não saberei vaticinar durante quanto tempo, nem como, esta construção artificial irá perdurar. O fim do Euro, porém, poderá estar muito mais próximo do que se imagina. 

terça-feira, 28 de março de 2017

ALBINONI - CONCERTO Nº2 PARA OBOÉ, OP. 9


                                       

Solista Han de Vries
 Orquestra: «Alma Musica Amsterdam»


É uma enorme injustiça, que o nome de Albinoni esteja exclusivamente associado ao famoso (mas apócrifo) «Adagio». Para estimular o conhecimento sobre este excelente músico do barroco da Veneza no incío do séc. XVIII, eis aqui o concerto para oboé e cordas em Ré menor, digno de maior celebridade. 
Tal como Alessandro Marcello, Albinoni foi dos primeiros compositores a escrever e editar em vida concertos tendo o oboé como instrumento solista. 
Foi um caso bastante ímpar, o deste músico, criativo, prolixo, mas que nunca procurou obter um posto numa capela principesca ou da Igreja. Tinha meios para se manter independente e optou por compor música sem recurso a patronos.

segunda-feira, 27 de março de 2017

UM CONTO PARA MEDITAR


«Fui convidado no outro dia para jantar em casa de um amigo de longa data da minha família, possuidor de uma fortuna considerável, embora não tenha a vaidade de se vangloriar da mesma, tendo por isso ele e sua família conservado, em sucessivas gerações, os bens e rendimentos acumulados, aumentando paulatinamente o capital, mau grado as crises, as guerras e outras ocorrências na esfera política e económica.
A certa altura, na conversa após o excelente jantar, falou-se da preservação do valor das poupanças, do facto de se estar constantemente dependente de um sistema bancário que nos impõe taxas ridiculamente baixas de depósito a prazo. Com efeito, a remuneração do capital neste contexto desaparece, pois a maior parte das pessoas não arrisca o seu dinheiro no «casino» da bolsa de valores e os poucos que o fazem, ficam quase sempre depenados.
Neste contexto, argumentava eu: "que resta à pessoa da classe média, senão gastar o seu dinheiro, em bens e serviços que lhe dão um suplemento de prazer, conforto, etc. enquanto esse mesmo dinheiro conserva algum poder de compra?" Para reforçar o meu argumento, lembrava episódios de hiperinflação, muito mais frequentes na História do século XX do que a maior parte das pessoas julgam saber. "Além do mais", dizia, "temos diante dos olhos o triste exemplo da Venezuela: um país com tanta riqueza (nº 1 em reservas de petróleo a nível mundial!), com sua economia completamente destruída". Outros, em roda da mesa, avançaram com as suas próprias visões e experiências relativas a este assunto.
O nosso anfitrião – depois de ouvir todos os seus convivas - replicou, dando como exemplo o caso da sua família. 
Nesta, por tradição e gestão criteriosa, os bens herdados eram transmitidos à geração seguinte, ou algo equivalente a estes mesmos bens, em rendimento e valor. A este património acumulado de anteriores gerações, acrescentava-se o excedente acumulado na geração presente.
Como regra empírica, tinha-se adoptado uma distribuição de activos diversificada,  que se pode resumir em três grandes categorias: bens financeiros (acções, obrigações, depósitos bancários, participações em fundos); bens fundiários e imobiliários (terras, imóveis) e bens móveis (ouro, prata, jóias, arte).
Cada categoria desempenhava a sua função: os bens podiam articuladamente proporcionar um rendimento suficiente para manter o nível de bem-estar, mesmo em tempos conturbados, pois - quando determinado item baixava de valor, ou tinha rendimento menor - havia outros que, pelo contrário, aumentavam. 
Assim, a gestão de património resumia-se a dosear a proporção atribuída a cada categoria e, dentro desta, a compreender a dinâmica dos mercados respectivos. 
Para o nosso anfitrião, ser sábio - em termos económicos e financeiros - equivalia a compreender a dinâmica dos vários mercados (monetário, de acções, de obrigações, de matérias-primas, de metais preciosos, do imobiliário, etc).
Face a esta exposição franca do «segredo» desta família abastada, um dos convivas perguntou-lhe então qual a distribuição de bens que tinham adoptado, no presente.
- O nosso anfitrião respondeu: «Nós decidimos, face às grandes incertezas nos mercados financeiros, converter grande parte dos activos em património não financeiro, exceptuando certas acções e obrigações de empresas sólidas, com capacidade de gerar rendimento, mesmo em contexto de crise. Tudo o resto foi convertido em bens não financeiros: imobiliário, propriedade agrícola, metais preciosos (ouro e prata) e antiguidades e arte, cotadas nos mercados internacionais.
Se o nosso prognóstico de crise vindoura se revelar incorrecto e se - após uma ligeira contracção da economia mundial - se voltar a um novo ciclo de expansão, teremos perdido algumas oportunidades de investimento, mas não teremos perdido nada de substancial, em termos de património global. 
Porém, caso os vaticínios de numerosos economistas - de várias tendências e escolas de pensamento - sejam correctos e estivermos à beira de um período de grandes convulsões económicas, com as consequentes repercussões na esfera política e social, então a mudança operada em bom tempo pela gestão familiar terá toda a sua razão de ser e será evidente a sua sensatez. Num contexto em que muitas fortunas ficam reduzidas a quase nada, os poucos que conseguem manter o seu património - somente esses - poderão prosperar, assim que for ultrapassado o tempo de crise.»


Esta história é inventada, mas o seu conteúdo reflecte exactamente o que têm feito as famílias de «riqueza antiga».

Os meios de comunicação económicos (jornais, revistas, televisões…) não revelam o quadro geral, antes dão uma ideia parcelar e geralmente «rósea» do panorama económico. Não informam nem esclarecem o público sobre a extrema alavancagem do crédito, das operações arriscadas com «credit default swaps», com a sobre-cotação das acções em bolsa por auto-compra das mesmas pelas próprias empresas, o sobre-endividamento das economias aos níveis familiar, empresarial e estatal.
A acumulação da dívida pública, em muitos Estados, a começar pelos EUA e a maioria da Europa Ocidental, tornou-se um problema insolúvel na ordem vigente.
Estas dívidas são potencialmente detonadoras de uma crise sistémica com dimensão inédita. Basta pensar no efeito «bola de neve» que terá uma crise da dívida, num país médio ou grande, nos mercados monetários e financeiros.
Porém, os políticos fazem como se estas dívidas pudessem ser «roladas» indefinidamente, o que é obviamente impossível. A única razão porque eles – políticos e a média – mantêm tal ficção, é porque são directos beneficiários deste estado de coisas.

Os pobres irão ficar na miséria, os remediados irão ficar mais pobres e os muito ricos continuarão com o nível de riqueza que já usufruíam ou aumentarão ainda mais os seus patrimónios.

sexta-feira, 24 de março de 2017

PERCEBER O TERRORISMO, PARA O COMBATER

       

Relativamente ao atentado de dia 22 de Março em Londres, ver os videos de «We Are Change»  e de David Icke

A OPINIÃO PÚBLICA ANDA A SER ENGANADA PELOS PRÓPRIOS GOVERNOS HÁ DEMASIADO TEMPO.

O que se passa na realidade é que a opinião pública ocidental é condicionada por ataques de falsa bandeira. Os atacantes são invariavelmente classificados (a posteriori) como terroristas que estavam sob vigilância dos serviços secretos, das polícias, etc. Invariavelmente, a sua vigilância é atenuada ou eliminada nas vésperas dos atentados. O que significa isto? Significa que as polícias tinham ordem dos poderes políticos, governamentais, de o fazerem... para quê? Para que os atentados se efetuem! Para quê? para tornarem cada vez mais aceitáveis as medidas de «excepção» que já se tornaram norma. A vigilância em massa constante de todos os cidadãos. A nulidade das garantias de defesa. A aceitação de crimes de Estado, sob pretexto de «suspeita» de terrorismo. A tortura generalizada. A perseguição por «delito» de opinião. Finalmente, a histeria contra uma etnia, uma «raça», uma religião, exatamente como os nazis fizeram em relação aos judeus como forma de arregimentarem camadas populares e de aterrorizarem os «judeo-bolcheviques», etc. Acordem!


Em termos gerais, acima deixei as minhas interrogações pessoais à consideração dos leitores, esperando que se interroguem também sobre as narrativas que lhe são apresentadas pela média e as incongruências quando esta analisa os factos e os modos como são relatados. 

Isso também se aplica em relação ao terrorismo de Estado, ou seja, operações de guerra «convencionais»

quinta-feira, 23 de março de 2017

RUPTURA E QUEDA DA UNIÃO EUROPEIA

Foi há cerca de nove anos atrás que as pessoas começaram a acordar para a realidade da EU pós tratado de Lisboa e pós moeda única. 

Quando se começou a perceber a enorme dívida acumulada pelo Estado grego, tendo nenhum mecanismo seguro de reembolso, começou-se a perceber que o sobre endividamento dos Estados tinha sido o resultado negativo da introdução do euro, em países que tinham aderido à União Europeia, mas que careciam de uma estrutura financeira e fiscal sólida, permitindo garantir os empréstimos dos respectivos Estados. 
Foi então que surgiu o acrónimo não muito simpático de PIGS (Portugal, Ireland, Greece, Spain) para designar estes mesmos países, que tinham uma estrutura deficitária crónica da sua balança de pagamentos precisando de recorrer a crédito sob forma de obrigações soberanas, para colmatar o défice. 

Ora, os governos destes países tinham, desde o euro, uma maior facilidade de obterem crédito e a juro mais baixo, permitindo assim fazerem obras faraónicas (exemplo, os estádios do Euro 2004 em Portugal), desbaratar o dinheiro em submarinos e outros «brinquedos» de guerra (Portugal e Grécia), criar e manter enormes bolhas do imobiliário (Espanha, sobretudo, embora também os restantes PIGS), etc.

Na realidade, o povo desses países pensava ingenuamente que os dirigentes eram geniais pois faziam «prosperar» as respectivas economias, as pessoas já se viam aproximarem-se dos níveis de vida da Europa do Norte. Só que a Europa do Norte tinha os cordões da bolsa, emprestava com juros e queria que este dinheiro investido fosse rentabilizado. 

Portanto, nada de perdoar ou reestruturar os empréstimos. Somente, em economia, não existe défice crónico que não resulte de um superavit, crónico também, algures. Neste caso, a Alemanha e outros países do Norte da EU tinham um mercado cativo no Sul, um poço sem fundo para exportarem os seus produtos e faziam tudo para que os respectivos governos, «adictos» na compra desses bens de equipamento e consumo, continuassem a obter crédito. 

Numa economia ao nível das empresas, uma empresa que «ofereça» crédito aos seus clientes para estes comprarem os seus produtos, fá-lo com a convicção desses clientes terem capacidade de pagar; caso  saibam que efectivamente estão sobre-endividados e continuem a «dar» créditos a esses clientes, simplesmente estão a assumir, eles próprios, o risco de não pagamento por parte desses clientes. 
Se – efectivamente - alguns clientes não puderem pagar, os que lhes impingiram esses créditos são igualmente responsáveis por esse crédito malparado,  pois aplicaram de forma demasiado arriscada o capital. 

Claro que no caso de contas entre Estados a coisa é mais complexa, porém nada será fundamentalmente diferente, a não ser num ponto crucial. 
O cliente sobreendividado do exemplo anterior não tem meio de ir buscar o dinheiro em dívida a nenhum lado. Ele está condenado à bancarrota pessoal; mas o Estado sobreendividado está «protegido», porque tem o poder de pressionar os seus cidadãos a fornecerem mais dinheiro em impostos, tem o poder de efectuar «cortes», ou seja, de renegar parte das somas devidas nas pensões de reforma e salários dos seus funcionários públicos.

Assim, o Estado português tem feito «default» ou falta de pagamento,  não em relação aos detentores de dívida pública, detida por grandes empórios financeiros, grandes bancos internacionais, hedge funds (fundos especulativos), mas à sua própria população, não apenas desviando capitais de investimentos em infra-estruturas indispensáveis, como falhando nas suas obrigações estritas de pagar os salários contratualmente acordados e as pensões nas condições estabelecidas. 

Com efeito,  as pensões de reforma não são uma benesse, mas antes um salário diferido, um salário que o trabalhador foi acumulando à medida que passavam os anos e, embora retido pelo Estado, este já não tem legitimidade de o considerar seu e de dispor dele como se o fosse. A partir do momento em que o Estado ou a empresa pagou uma determinada quantia, mensalmente, ao trabalhador como contribuição para a segurança social, esse dinheiro reverte para um fundo, que não é nominalmente do Estado. 

A chamada recuperação das finanças portuguesas não foi nenhum milagre, nem um feito heróico do governo (deste ou dos outros) mas apenas resultou do «bail in» (resgate interno) continuado, feito sobre a imensa maioria, sobre assalariados (por roubo), pensionistas (por roubo),  cidadãos em geral (por não realização do investimento prometido e necessário).

Qualquer observador, daqui a um século, verá – estou certo - como incrível aquilo que se tem vindo a passar na EU, pois os países do Sul não têm, objectivamente, qualquer interesse em continuarem cativos, numa espécie de servidão neocolonial, dos países do Norte. 
Apenas uma classe política corrupta mantém este estado de coisas, porque ela tem pessoalmente a ganhar com os lugares muito bem pagos de que pode gozar nas diversas instâncias: parlamento europeu, comissão europeia, tribunal de Estrasburgo,  BCE de Frankfurt…  Deve estar muito segura da ignorância dos seus cidadãos para continuar a vender a ideia de que é «indispensável» continuarmos a pertencer à U.E.!

O facto da cidadania ignorar ou recusar prestar atenção a estes factos, afinal muito simples na essência, tem a ver com a permanente lavagem ao cérebro dos cidadãos/eleitores. A média corporativa faz bem o seu trabalho de intoxicação quotidiana ao serviço dos poderosos. 
Poucas pessoas equacionam que parte substancial do rendimento é desviado para pagar uma dívida, em grande parte, ilegítima.
O que se passa agora com os países do Sul passou-se na África, nos anos 70 e 80 do século passado, com os empréstimos do FMI (na realidade, um conglomerado de grandes bancos é que emprestava, o FMI só «garantia» que os empréstimos fossem cobrados). Os países africanos governados, na sua maioria, por ditadores foram sendo endividados pelos respectivos governos e os capitais e juros foram arrancados às populações nas condições mais brutais, para enriquecer consórcios bancários e grandes empresas fornecedoras de bens e serviços (em grande parte da EU e dos EUA).

Mas tudo tem um fim e o da União Europeia está próximo: as forças centrífugas são demasiado fortes, devido aos egoísmos do Norte conjugados com a exaustão, o empobrecimento artificial e forçado do Sul. 
Toda a dívida que não pode ser paga, não será paga. Esta dívida pública dos países do Sul não tem qualquer tendência a diminuir mas a acumular-se, pois os Estados têm de emitir constantemente mais dívida (com juros relativamente altos) para pagar dívidas que vão vencendo.
O ponto de ruptura varia de país para país e também de acordo com as circunstâncias globais da economia da zona Euro e mundial. É, porém, inevitável. 

Entretanto, as populações do Norte estão em pânico com a vaga migratória, vinda de países que seus dirigentes contribuíram para mergulhar no caos (Líbia, Síria, Iémen…). As pessoas têm mais reflexos identitários agora e não aceitarão fazer sacrifícios pelos cidadãos dos Estados Europeus do Sul. 

Os governos da Alemanha e de outros países credores do Norte europeu, para se manterem no poder, têm de mostrar que seguem uma «linha dura», em relação ao pagamento de uma dívida impagável nas condições objectivas que vivem os países do Sul.  Eles sabem – melhor que ninguém- que assim é. 

Visto que não existe qualquer solidariedade dos países do Norte, não é apenas o destino dos países do Sul que está em causa, é a própria arquitectura da EU que está a ruir pela base.


quarta-feira, 22 de março de 2017

CERTIDÃO DE ÓBITO DA «UNIÃO» EUROPEIA

Tanta indignação na Internet sobre as declarações do presidente do eurogrupo! 

Eu penso que há males que vêm por bem, pois ele apenas vozeou aquilo que muitas pessoas pensam, na Holanda e noutros países do Norte europeu. 

A boa consciência dos que usufruem de bem-estar material, aliada à completa ausência de moral, ou até de uma lembrança disso, faz um certo número de pessoas pensar que os do Sul, se estão mal, é porque foram «preguiçosos», «irresponsáveis», etc. 
O atraso mental que revela esta falta de inteligência e de humanismo, este simplismo racista e xenófobo, contradiz a própria tradição cultural dos seus países, em larga medida. 
Os demagogos políticos precisam de se mostrar próximos do «sentir popular», mesmo quando isso (ou sobretudo isso ...) implica uma justificação das teses da extrema-direita.

Nada resta da «União» Europeia: Djisselbloem passou portanto (inadvertidamente) a certidão de óbito dessa fantasia neo-liberal, que já custou demasiado aos povos do Sul e que, na verdade, não favoreceu a população trabalhadora do Norte, mas apenas e somente as classes privilegiadas.