Quando Nixon decretou unilateralmente que o dólar deixava de ser convertível em ouro (a cotação fixa da onça de ouro era de 35 dólares), fez ruir o sistema de Bretton Woods, em que as diversas nações tinham as suas divisas indexadas ao dólar, porque este era convertível em ouro e, portanto, todas as divisas indirectamente também estavam ligadas ao padrão-ouro.
O sistema de câmbios flutuantes,
que se seguiu, foi factor de variação especulativa das diversas moedas,
inclusive do dólar, acrescentando incerteza a algo – a economia- que, por
natureza, já era incerto.
Mas o dólar continuou a
reinar, como moeda de reserva, devido ao acordo firmado entre Kissinger e o rei
Saudita, em como os preços e pagamentos de «crude» saudita seriam feitos
exclusivamente em dólares, sendo garantido – em contrapartida- um apoio
incondicional ao regime, o qual, lembremos era o mais obscurantista e despótico
dentro dos países árabes. Todos os potentados produtores de petróleo tinham, na
prática, que seguir o acordo EUA-Saudita,
moldando até hoje a política de todas as nações exportadoras de petróleo, com a excepção da URSS/Rússia.
Os que tentaram sair desse exclusivismo do
dólar, pagaram com sua vida (Saddam Hussein, Muamar Khadafi) e seus países foram
devastados, suas populações massacradas, a guerra civil fustigando o que restava deles. Menos sucesso tiveram com a Síria e o Irão, embora os EUA
tenham tentado; não desistiram ainda de desestabilizar e suprimir estes
regimes.
O estado do mundo não
podia ser mais caótico do que hoje em dia, com um império ferido de morte, mas
ainda suficientemente poderoso para desencadear guerras mortíferas ou para desestabilizar as fronteiras de seus
adversários (Ucrânia, sujeita um golpe fascista em Fev. de 2014 e Sul da China,
palco de provocações da US Navy junto a territórios insulares contestados pelos
filipinos e pelos vietnamitas).
Neste contexto, concretizou-se a aceleração de um noivado entre os gigantes Rússia e China, em que ambos tinham interesse
estratégico, complementaridade económica e fronteiras comuns
vastíssimas.
Agora, temos
conhecimento de que os respectivos Estados irão transaccionar sem o recurso ao
dólar, usando «trade note», ou seja, notas comerciais convertíveis em ouro. Por
exemplo, um carregamento de petróleo e um carregamento de bens electrónicos são
trocados: a diferença entre os dois será saldada em Yuan, sendo que se usará
uma nota de crédito comercial convertível em ouro. Assim, o Estado Russo, por
exemplo, poderá cambiar em ouro uma certa quantia de «trade note» no
Mercado de Ouro de Xangai.
A partir deste momento, o dólar deixa de entrar na equação. Os russos e chineses argumentam com as vantagens de evitar as flutuações de câmbios, o que é verdade, se pensarmos que o rublo tem sido sujeito a ataques especulativos e tem enfraquecido notoriamente face ao dólar.
Mas além deste aspecto, existe o facto de os EUA se arrojarem o papel de árbitros e juízes em quaisquer transacções efectuadas usando a sua moeda. Usando sofismas, o sistema judiciário americano penalizou com biliões bancos de países terceiros que tinham – em perfeita legalidade – negociado com o Irão, não nos EUA, mas dentro das fronteiras e jurisdições dos seus próprios países. Ou seja, os EUA impunham as sanções ao Irão, que eles próprios decretaram, como pretexto para vergar à sua vontade política outras entidades (bancos…) de países terceiros, sob ameaça de multa ou de deixar de poder efectuar qualquer actividade nos EUA.
Na perspectiva dos russos, esta fuga a transaccionar em dólares, tornou-se portanto um desígnio estratégico, não por vontade deliberada de afundamento do dólar como moeda comercial ou de reserva, mas como meio de escapar ao regime de sanções, cada vez mais abrangente e que os americanos continuam a impor aos seus parceiros europeus, usando todas a chantagens possíveis.
A partir deste momento, o dólar deixa de entrar na equação. Os russos e chineses argumentam com as vantagens de evitar as flutuações de câmbios, o que é verdade, se pensarmos que o rublo tem sido sujeito a ataques especulativos e tem enfraquecido notoriamente face ao dólar.
Mas além deste aspecto, existe o facto de os EUA se arrojarem o papel de árbitros e juízes em quaisquer transacções efectuadas usando a sua moeda. Usando sofismas, o sistema judiciário americano penalizou com biliões bancos de países terceiros que tinham – em perfeita legalidade – negociado com o Irão, não nos EUA, mas dentro das fronteiras e jurisdições dos seus próprios países. Ou seja, os EUA impunham as sanções ao Irão, que eles próprios decretaram, como pretexto para vergar à sua vontade política outras entidades (bancos…) de países terceiros, sob ameaça de multa ou de deixar de poder efectuar qualquer actividade nos EUA.
Na perspectiva dos russos, esta fuga a transaccionar em dólares, tornou-se portanto um desígnio estratégico, não por vontade deliberada de afundamento do dólar como moeda comercial ou de reserva, mas como meio de escapar ao regime de sanções, cada vez mais abrangente e que os americanos continuam a impor aos seus parceiros europeus, usando todas a chantagens possíveis.
Sem este regime de
pressão constante, desde a guerra a quente, até às sanções e pressões de
chantagem/boicote, os EUA não teriam conseguido manter até hoje a hegemonia do
dólar, quer como moeda de reserva, quer como principal divisa das trocas
comerciais.
Porém, o reino do dólar
está a chegar ao fim: a Arábia Saudita está a aumentar o intercâmbio comercial e de grandes obras com a China, que é – actualmente - o seu principal cliente comprador de
petróleo. Não tarda muito que o Reino saudita aceite as notas comerciais denominadas
em Yuan e convertíveis em ouro, tanto mais que eles foram espoliados pelos
americanos do ouro que estava à custódia de bancos suíços, UBS e Credit Suisse,
nomeadamente, os tais que foram sujeitos a multas pesadas.
O dólar não tem nada a
garanti-lo, a não ser a força bruta, militar, do maior império que consegue ter a maioria dos gastos mundiais em defesa, com armamento e com as mais de 800 bases militares espalhadas
pelo mundo.
O Império não tem tido
sucesso militar/político nos últimos tempos:
- Tem sido um longo fiasco, o seu
envolvimento contra os taliban no Afeganistão, há 16 anos sob tutela da
NATO, porém sem qualquer solução política.
- No Iraque, o governo deste país
inclina-se cada vez mais para o lado do Irão.
- No Iémen, a guerra suja por
procuração - levada a cabo pela força aérea saudita contra o povo, mas com apoio dos EUA - tem sido um fracasso.
- Não se
pode falar de vitória em relação à Líbia, em que a coligação «ocidental» destruiu um
país, mas onde não existe solução política devido à interferência constante dos
«ocidentais».
- O envolvimento dos EUA, Sauditas, Quatar, Turquia e outros, na criação e propulsão do «Estado Islâmico», que
desestabilizou o Iraque e a Síria, está agora mais que evidente para todo o
mundo.
Nada do que se tem passado nos últimos dois decénios, no Médio Oriente, significa uma vitória material ou, sequer, moral dos EUA e seus súbditos.
Como não têm infraestruturas em bom estado, indústrias transformadoras, nem algo de realmente
interessante para exportar além de filmes de Hollywood e armamento,
terão necessariamente de chegar a um ponto de ruptura, pois não poderão continuar sempre a emitir dívida e inundar os mercados financeiros com essa dívida,
como se ela valesse qualquer coisa.
Os chineses e outros dizem, com
razão, que os americanos lhes compram equipamentos, matérias-primas,
toda a gama de produtos industriais, pagando com uma moeda de «Jogo Monopoly».
Não há dúvida que existem certos factos demasiado pesados para serem omitidos.
Vai tornar-se mais
e mais óbvio que os EUA estão completamente falidos, que a sua dívida é
impagável e que os juros da mesma não podem senão subir, causando a falência de
algo tão importante como o seu sistema de pensões. O conhecimento da
falência de vários fundos de pensões, de sistemas de fornecimento de água, do péssimo e inoperante sistema
de saúde mais caro do mundo, são hoje tão evidentes, que nem os mais ardentes defensores do sistema o contestam, limitam-se a omitir
os factos. Mas os que têm preocupação em chegar a um retrato verdadeiro da
situação, apenas têm de «juntar os pontos entre si».
Este império é um edifício que parece sumptuoso e
poderoso à distância, mas que está cheio de rachas e de pequenas avarias, que se vão
tornando mais graves, porque a reparação não é possível ou
mesmo que fosse possível, implicaria reduzir privilégios dos
«0.1%».
Na realidade, não
existe vantagem em países pequenos se encolherem à sombra ameaçadora do «Tio
Sam» ou de outra super-potência. Terão futuro, somente se tomarem seus destinos nas suas mãos, emancipando-se duma tutela
que apenas significa submissão.
Não significa isto mudar-se
de «dono», ou seja passarmos a depender de Chineses e/ou Russos, por exemplo.
Mas antes, que é possível um pequeno país singrar no Mundo
globalizado, sem demasiadas dependências, equilibrando as influências, tratando
de obter acordos mutuamente vantajosos com todos (estratégia «win, win»),
preservando a sua independência nacional. Esta significa ter autonomia para decidir
internamente todos os assuntos que dizem respeito ao nosso povo, tendo força
suficiente para resistir a parcerias que implicassem uma vassalagem.