Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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domingo, 12 de julho de 2020

UM PAÍS EM RUÍNA, À BEIRA-MAR PLANTADO...

                               São João do Estoril - Portugal

Quase todos os dias percorro a pé várias centenas de metros que separam minha casa do apeadeiro de S. Pedro do Estoril. 
No meu percurso, encontram-se três grandes propriedades em ruínas. São mansões, vastos espaços outrora ajardinados, que nada mais são hoje, do que espaços abandonados. 
Vivo nesta zona há mais de vinte anos, pelo que sei que há muitas décadas se perpetua o estado lamentável destas propriedades abandonadas. 
Quantas e quantas outras existem, na minha freguesia? No meu conselho? No meu distrito? No meu país? - Francamente, não sei! 
Mas tenho a certeza que a zona do Estoril, com grande proximidade à praia, à Av. Marginal, à estação de comboio e às zonas de comércio, sem dúvida, tem óptima localização. Mas os terrenos, com as tais ruínas, não estão à venda! 
Ou se estão, não constam em anúncios ou tabuletas indicando isso. Mesmo, quando outros prédios devolutos são postos à venda, são anunciados a preços de tal modo fora do razoável, que ninguém vai tentar comprá-los. Por outras palavras; são frequentes lotes de terreno ou imóveis, colocados formalmente no mercado, mas para os quais se pedem valores completamente fora dos parâmetros desse mesmo mercado. 
Portugal é um país muito lindo e muito belo. Também é muito apetecível para uma casta de parasitas, que vivem da especulação e se abrigam debaixo da manta larga da corrupção, do tráfico de influências, do favoritismo, como sabemos. Por exemplo, o livro «Corrupção» de Eduardo Dâmaso, ajuda-nos a perceber a extensão em Portugal do problema estrutural da corrupção, de que estou falando.
A especulação com terrenos e com imobiliário é um factor de severo atraso, mesmo dentro dos parâmetros mais estritos de uma economia de mercado, vulgo capitalismo! 
Nas sociedades capitalistas mais desenvolvidas não é permitido, dentro da malha urbana ou sub-urbana, mormente nas zonas ditas de «prestígio» social, que se eternizem ruínas monstruosas, inestéticas, perigosas em termos de segurança, até mesmo de saúde pública. 
Como é possível manter ou tolerar, décadas a fio, algo que não está a desempenhar um papel de utilidade como habitação, ou comércio, ou hotelaria, apenas desfeando uma zona, uma paisagem, um centro urbano, dando-lhe um aspecto de decadência. Poderia confundir-se certas zonas urbanas de Portugal como resultantes de guerra, como se tivessem sido bombardeadas!

As pessoas apenas se importam com a sua propriedade, com a sua vivenda, o seu jardim, o passeio em frente da porta ... tudo o resto, deixa-as indiferentes, ou não lhes ocorre que o entorno tenha incidência directa na sua qualidade de vida, no valor da sua propriedade. 
Esta indiferença patológica foi sempre um mistério para mim; tentei várias explicações:
- o atraso cultural, o facto de ser um povo excessivamente individualista, ou ainda um reflexo herdado dum longo regime fascista, em que as pessoas dissociavam a figura do Estado, a Coisa Pública, das suas próprias vidas... «O Estado são eles, nós temos a nossa vida e isso não nos diz respeito...» 
Uma certa tendência para a passividade, para o conformismo, ou mesmo fatalismo... Enfim, não posso explicar; é algo que está para além da minha compreensão. 
O que sei é que isto não existe noutras nações europeias ocidentais, com regimes - supostamente - idênticos, em termos de ordenamento jurídico geral. 
As forças políticas estão corrompidas e essa corrupção exprime-se pelo não exercício do poder, quando ele é requerido e necessário. Mas são capazes de exercê-lo, pelo contrário, de forma arbitrária e prepotente, impondo a sua vontade. Actuam como pequenos senhores feudais - pondo e dispondo - sem consideração pelos interesses dos munícipes, a não ser para aqueles que lhes subsidiam as campanhas eleitorais...
Parece incrível que as coisas se passem assim, mas um sintoma claro disso está bem à vista: basta ver os prédios, propriedades, edifícios que estão em ruína, no centro de cidades ou em zonas de grande interesse turístico, que, pela lógica capitalista, deveriam ser «postos a render».

A razão disto permaneceu obscura para mim, até que comecei a investigar mais a fundo.
- Muitas vezes, quando perguntava a alguém, recebia a explicação do «desentendimento entre herdeiros», como causa para tal ou tal palacete ou vivenda estar - há décadas - em ruína e ninguém comprar e reconstruir, ou fazer algo de novo nesse espaço. 
Isso são explicações que surgem como forma de não explicar nada. Não digo que pontualmente, não possa haver casos em que esteja - de facto - envolvida uma herança. Mas, uma propriedade mal gerida ou abandonada é-o na mesma, quer o título de propriedade esteja nas mãos de um só ou de vários!
- Não! Os verdadeiros motivos são outros:
Os municípios e o Estado têm o poder de expropriar qualquer bem ou propriedade, por utilidade pública. Neste conceito (nada revolucionário, amplamente usado no tempo de Salazar!), as propriedades abandonadas, em ruína, são obviamente expropriáveis porque são um prejuízo e um risco, a vários títulos: é frequente haver incêndios nestes locais, que se propagam; são insalubres, fonte de contaminações de bactérias, vírus e parasitas; muitas vezes, são usadas como «caixotes de lixo». Os vizinhos dessas ruínas estão a ser obviamente prejudicados de múltiplas maneiras.

- Quem lucra com este abandono? 
Em termos de oferta e procura, se houver uma diminuição do espaço disponível, se houver menos edifícios ou zonas edificáveis no mercado, as que estão, efectivamente, à venda vão aumentar de preço ou este irá manter-se alto, devido ao efeito de escassez artificial daí decorrente. Este efeito, será tanto mais acentuado, quanto a zona for mais cobiçada, como é o caso de zonas turísticas, ou de «prestígio».
Os bancos concederam empréstimos que, numa parte grande, consistem hoje em «malparados», ou «incobráveis»: estes empréstimos, feitos em períodos de expansão do crédito, foram muitas vezes garantidos com propriedades sobre-valorizadas. Este fenómeno é corrente, devido à corrupção existente dentro das próprias instituições bancárias. 
Se um imóvel, dado como garantia, fica nas mãos de uma instituição bancária, esta pode tentar vendê-lo. Mas os bancos - em si mesmos - não estão vocacionados para «negócios imobiliários». Então, criam ou têm participações em fundos imobiliários, com múltiplas propriedades. Destas, algumas estão à venda, outras apenas mantidas «em stock». Servem como reserva de valor, o que permite à entidade financeira fazer especulação. Note-se, estamos a falar de entidades financeiras. Os activos (imobiliários) detidos em carteira, permitem-lhes alavancar, ou seja, pedir emprestado somas equivalentes a várias vezes o valor que dão como garantia. Tais negócios são habituais, no sector bancário e no imobiliário empresarial. Assim funciona grande parte dos negócios, neste país.
Finalmente, os proprietários de terrenos, vivendas, andares ou prédios,  podem - aqui, nesta terra - tratar esse capital como se fosse uma «relíquia de família», um «objecto pessoal», uma forma de «investimento passivo»: sobretudo, porque não existe qualquer penalização - na prática - se uma propriedade for deixada ao abandono. As leis, elas  existem, mas não se aplicam ou, quando se aplicam, é numa dose mínima, que não se pode coadunar com a boa gestão urbana. 
É um complexo de causas que tem a ver com o atavismo do povo, por um lado e, por outro, com a cobardia e venalidade de agentes das Autarquias e do Estado. Isto envolve muita gente; há uma espécie de «conspiração do silêncio». Não querem ser eles a tomar a medida «desagradável» de expropriar, mesmo que a boa gestão dos espaços urbanos o imponha. 
Neste cantinho da Europa, as pessoas - em vez de se indignarem com o estado em que ficaram os centros das cidades e outras zonas mais prestigiadas, em vez de atribuir isso à corrupção reinante, à incompetência, ao compadrio, à criminalidade de colarinho branco -  aceitam facilmente este estado de coisas. 

Neste contexto actual de «pré-campanha» autárquica, não apelo ao voto, seja em quem for. Apelo - sim - a que os cidadãos se unam em associações de vizinhos, examinem os casos concretos de propriedades abandonadas, que existem em todos os municípios deste país, os tornem visíveis, publiquem, falem deles e exijam que os candidatos se pronunciem. O poder autárquico, seja ele qual for, deve actuar - dentro da lei - para restituir ao espaço urbano sua função e dignidade. 
Com efeito, deixar que se mantenham vivendas, palácios, prédios, terrenos ao abandono, não é «respeitar o direito sagrado à propriedade privada»; é permitir que se faça uso abusivo de um bem privado, mas que não deixa de ter uma componente social
Se somos proprietários de um andar, um prédio, uma moradia, etc., isso não acontece no meio dum deserto! Somos donos dessa propriedade num centro urbano ou rural, numa freguesia... Mas, as infraestruturas, os acessos, os serviços, a valorização dessa mesma propriedade, são resultantes de toda uma série de bens e serviços da colectividade
Os vizinhos têm o poder de accionar os tribunais, quando os proprietários ou a autarquia deixam ao abandono propriedades, visto que isso está a afectar directamente a sua qualidade de vida.  
Se esta causa fosse para a frente, haveria mais trabalho, sendo possível restituir a utilidade social das propriedades, mediante reconstrução ou restauro, para serem transformadas em habitação, hotelaria, comércio, ou edifícios culturais; em qualquer dos casos, iriam gerar riqueza na comunidade em que se inserem. 
Se houvesse esta mudança na percepção do público em geral, o próprio poder político central teria de responder. Não poderia deixar ficar as coisas como estão.
Enquanto o despertar não ocorrer, vai-se perpetuando o grotesco e triste espectáculo no país: 
                  um país em ruína, à beira-mar plantado... 

PS 1: Uma amiga minha enviou-me e decidi incluir a reportagem de Graça Henriques neste artigo, porque vem ilustrar ao pormenor tudo aquilo que eu referia no meu artigo, «Um País Em Ruína À Beira Mar Plantado»»: 


   

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

ESTRANHO, TUDO PARECE FUNCIONAR COMO SE NADA FOSSE...


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...E, no entanto, as coisas não poderiam ser mais dramáticas. 
Poderia ser um erro de perspectiva da minha parte. Mas não, isso não se verifica, pois encontro fortes correlações e confirmações dos meus receios em notícias o mais pragmáticas, objectivas que se possam imaginar.

A pandemia do Covid-19 está a começar a espalhar-se por muitos sítios, diferentes da China. O vírus não encontra dificuldades de maior para se difundir, pois a sua própria biologia favorece a disseminação através de portadores assintomáticos. 
Num mundo globalizado, é impossível determinar - à partida - quem é ou não portador do vírus, a não ser que seja sujeito a quarentena. 
Isto significa que as trocas humanas e mesmo de mercadorias estão condenadas, no curto prazo, a sofrer uma quase paralisia. Este vírus é o factor desencadeante duma recessão, que já estava em marcha, basta ver os números de vendas a retalho na Europa e nos EUA em Dezembro passado, portanto antes da epidemia se ter declarado. 

Mas, muitas pessoas, influenciadas pela media, estão apenas centradas nos resultados das bolsas, que já não têm nada que ver com as realidades económicas. Elas estão em estado de denegação
Neste estado, as pessoas insistem em ler as informações como se tudo fosse dentro da normalidade, não reconhecendo a realidade, ou seja, que entrámos num período de profunda recessão mundial, do qual não se vê a saída, de momento. 

As situações de ruptura de abastecimento vão se sucedendo, vai se agravando o colapso, mas isto tudo é mascarado pela barragem mediática, que não ajuda a esclarecer as questões, antes aprofunda a confusão de todos os agentes económicos, ao dar uma nota de trivialidade, de banalidade mesmo, ao que se está a passar. 

Portanto, enquanto as pessoas não encararem os desafios desta pandemia com objectividade, as questões vão continuar a ser eludidas. Muitas, irão sofrer perdas drásticas nos seus activos. 
A oligarquia estará, como de costume, bem precavida, tendo  começado (até mesmo, antes desta pandemia) a acumular bens não financeiros, imobiliários, metais preciosos, obras de arte... consciente de que as condições estão substancialmente mudadas.
A grande maioria, iludida pelos valores altíssimos dos mercados de acções e de obrigações, continuará, até demasiado tarde, a apostar no crescimento nominal destes activos, não percebendo que isso já não tem correspondência com o mundo da economia real, tangível.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

HONG-KONG, O OUTRO LADO DO CENÁRIO

A condição social de uma grande parte da população e o empobrecimento que afecta sobretudo os mais jovens, junto com as desigualdades crescentes, as privatizações de serviços públicos e acima de tudo, a extrema dificuldade para os não-ricos em encontrarem alojamento decente. Vejam:




segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

2019 - SERÁ «O ANO EM QUE TUDO SE DESMORONOU»?

                         


Não estou a fazer retórica quando escrevo este título. Com efeito, o Outono/ Inverno de 2018 já anunciava a cor e o tom do ano que aí vem e que ainda está muito jovem.
Os sinais críticos de uma crise bolsista já se fizeram sentir em um sem número de ocasiões entre Setembro do ano anterior e o Ano Novo deste ano. A grande queda de Wall Street e em particular dos títulos que constituíam uma espécie de «montra» do mercado bolsista (os famosos «FANG») mostrou ser muito mais do que uma correcção. Mostrou que se tratava de uma inversão de tendência. Com a maior parte dos títulos cotados muitas vezes acima do valor real das empresas respectivas não admira que seja uma queda longa e dolorosa para seus detentores.
Os bancos não ficaram melhor; veja-se o caso do Deutsche Bank um banco sistémico, o maior banco do espaço europeu, cuja saúde é considerada periclitante, dado o enorme peso dos derivados na sua carteira, assim como a série de processos - da sua intervenção no falseamento dos mercados dos metais preciosos e do LIBOR - cujas multas cumuladas atingem um montante total muito alto. 
As pensões de reforma, sobretudo nos países onde estas são privadas, estão sob perigo eminente de entrar em colapso. Estes fundos de pensões apostaram em títulos especulativos, para fazerem face à enorme e prolongada baixa dos juros, consequência da política de ajuda aos bancos, efectuada por governos e bancos centrais ocidentais, ao longo de todo o período pós-2008.
A «normalização» em curso, com a subida das taxas directoras do banco central americano (a FED) e a não renovação da compra de activos (muitos deles «tóxicos») do BCE aos bancos comerciais da zona euro, já tem consequências visíveis na retracção dos mercados, quer bolsista (e que apenas agora começou...), quer obrigacionista (a queda das obrigações de alto rendimento). 
Também se observa o esvaziamento das bolhas no sector imobiliário, a começar pelos valores mais altos, como Vancouver e Toronto (Canadá), Los Angeles e Nova Iorque (EUA) ou ainda Londres e Paris. 
A situação só é risonha no sector dos mercados de metais preciosos, com espectaculares recuperações dos preços do ouro e da prata, assim como da platina, sobretudo em divisas como a Libra esterlina, o Dólar australiano, embora também em Euros e Dólares. Isto não nos surpreende, pois o ouro é um valor-refúgio, quando todos os activos baseados em dívida (incluindo o «cash») já não inspiram confiança.
Quanto ao cidadão comum, está claro que o «tiro de partida» foi dado pelos «coletes amarelos» em França, mas com o agravamento da crise, haverá muitas mais e talvez piores explosões de descontentamento dos governados face às suas elites. 
Os que sofrem, por vezes, não compreendem como foram espoliados, mas compreendem bem por quem o foram: pela aristocracia que se pavoneia no maior luxo, usando os recursos fornecidos pelo dinheiro público, pelos contribuintes, por todos nós. 

                          The EU bubble is doomed to burst in 2019, financial analyst warns

A situação da economia hoje é reflexo duma década em que o valor do dinheiro foi sistematicamente sabotado, deixando os pobres, os que dependem de pensões para sobreviver, os que têm salários de miséria, numa situação dramática. Com efeito, para esconder a situação e para poderem pagar cada vez menos, aparentando desembolsarem o mesmo, os governos foram maquilhando os números da inflação, ao mesmo tempo que abraçavam o «Quantitative Easing» ou seja, da impressão de quantidades abismais de dinheiro electrónico, no intuito de salvar os bancos. Para os que governam no «Ocidente», a primeira prioridade são eles, os bancos... 
Agora fala-se cada vez mais de «reset», ou seja, de uma reestruturação ao mais alto nível, o que pode muito bem acontecer na próxima década, pois aquilo que se perfila no futuro mais próximo é uma crise mundial caracterizada por hiperinflação, após um breve mas violento episódio deflacionário, de falências em cadeia. Quando ficar claro que o valor do dinheiro em papel foi completamente destruído (por eles, a finança e os governos), irão tentar construir um novo sistema monetário e financeiro. Não me parece que tenham grandes hipóteses de ter muito sucesso. 

A infeliz Venezuela está aí para nos indicar o que acontece a um país que entra pelo caminho da hiperinflação. Não existem receitas milagre para sair da espiral hiperinflacionária, mesmo para um país com as maiores reservas de petróleo conhecidas...
O que será de um país de economia frágil, completamente dependente de tecnologias estrangeiras, importador líquido de bens alimentares (embora pudesse ser um exportador) e que se tem deixado seduzir por uma economia especulativa (imobiliário...) e por um turismo de moda efémera?  Todos sabemos, com certeza, o nome e as coordenadas geográficas do mesmo....





sábado, 15 de dezembro de 2018

OS QUE ESTÃO POR DENTRO JÁ SE PREPARAM PARA A CRISE

No imobiliário, tal como noutros mercados, há quem esteja discretamente a desfazer-se de activos, demasiado arriscados... 
Como para cada venda há um comprador, interessa saber quem são os compradores? 
- Estes são, em grande maioria, os actores institucionais... Ou seja, o grande público afinal, indirectamente, que pôs suas economias nos fundos de pensões, etc. e nem suspeita do que andam a fazer com o seu dinheiro. 
São pessoas pobres e da classe média, que contam com o dinheiro de suas pensões e de instrumentos de poupança. Esse dinheiro simplesmente não vai existir quando for mais necessário. São eles que vão levar pela medida grande, quando vier a crise. 

Todos os grandes actores sabem que a crise está aí, mas não vos dirão isso, nem mostrarão qualquer preocupação em público. 
Porém, os seus actos falam mais alto: eles estão a precaver-se, ao venderem os activos mais arriscados, a comprar metais preciosos e outros activos não financeiros sub-cotados.

                          

Os que embarcaram na bolha especulativa das cripto-moedas estão encerrados numa espiral descendente. Muitos, desde 2017, acumularam perdas da ordem de 80%. 
                         

A inflação (a hiper-inflação, no fim) é a «saída» para os Estados e as empresas sobre-endividados. É a ruína para as pessoas pobres e da classe média.

QUANDO OUVIR A EXPRESSÃO «THE GREAT RESET», PENSE QUE SE TRATA DA MAIOR TRANSFERÊNCIA DE RIQUEZA EM TODA A HISTÓRIA, DOS MAIS POBRES EM DIRECÇÃO AOS MAIS RICOS.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

BOLHAS IMOBILIÁRIAS - FENÓMENO MUNDIAL

Em todo o mundo «desenvolvido», de Vancouver a Paris, passando por muitos outros grandes centros, os custos em termos reais dos apartamentos têm subido em flecha, fenómeno que não é explicável por um único factor, mas sim por um conjunto de factores complexos (1).

                     

- Os capitais que vêm adquirir o imobiliário nas diversas metrópoles não são «autóctones»: são de investidores internacionais que obtiveram grandes lucros nas bolsas ao nível mundial e querem segurar esses lucros, eventualmente potenciando-os com aluguer dos apartamentos a preços também especulativos.

- A descida a quase zero (na prática) das taxas directoras dos bancos centrais, tornou muito apetecível - a certos investidores - pedir dinheiro emprestado aos bancos, a juro muito baixo. 
Os grandes investidores têm beneficiado de juros muito favoráveis, pois podem usar o imobiliário (entre outros activos) como colateral dos empréstimos. 
As famílias ficam arredadas dos mercados da compra, principalmente porque não conseguem atingir o «score» exigido pelos bancos para emprestar uma determinada quantia.  O efeito é que as pessoas «normais», ou são lançadas para periferias cada vez mais distantes, ou são obrigadas a habitar em apartamentos arrendados, por valores igualmente inflacionados, mas não têm outra solução.

- A gentrificação está associada ao fenómeno de esvaziamento das zonas centrais das grandes metrópoles de comércios e serviços, que antes eram aí comuns. O resultado, é que existe desertificação humana, restando apenas pessoas envelhecidas, muitas vezes vivendo em condições  deploráveis. Os jovens e as famílias com filhos em idade escolar desertam estes bairros mais centrais. Os serviços e infraestruturas sofrem uma descida de qualidade. Embora haja cada vez mais restaurantes, ou lojas especialmente vocacionadas para vender aos turistas, nota-se a ausência de muitos serviços essenciais para o quotidiano dos habitantes permanentes.
   
- A pressão da indústria turística é demasiado forte: os governos, cujo principal objectivo é agradar ao eleitorado para serem reeleitos no termo seguinte,  preferem deixar correr, a intervir com medidas reguladoras e refreadoras, porque o turismo tem um efeito de alavanca nas economias. 
Infelizmente, o turismo, se não for muito bem enquadrado e integrado harmoniosamente com as restantes actividades económicas, tem um aspecto depredador. 
Além disso, como é um fenómeno sujeito a ciclos e modas: quando determinado destino deixa de estar na moda, os hotéis ficam vazios, dá-se uma rápida involução dos preços do imobiliário e uma descida dos negócios directamente relacionados com o turismo, como a restauração. É previsível que - em situação de crise mundial - os centros turísticos mais populares sofram as maiores perdas, pois o retraimento do turismo de massa será instantâneo e numa maior proporção. 

- A ausência de políticas viradas para uma distribuição harmoniosa das populações, com uma diversificação geográfica das diversas indústrias, com apoio significativo - em infraestruturas e também em crédito bonificado para a implantação de novas unidades agrícolas - tem levado à desertificação do interior, das zonas rurais, das pequenas aglomerações regionais. 

Todos os casos apontados devem-se, ou são agravados, pela gula de poder dos políticos, que acenam com «soluções» miraculosas, mas não promovem políticas de longo fôlego, de um desenvolvimento regional e de uma verdadeira planificação territorial.
 A sua agenda é serem eleitos ou reeleitos, o que faz com que as obras ou investimentos têm de ser visíveis e/ou dar resultados palpáveis no intervalo de tempo até à próxima eleição, ou seja, num período de dois a cinco anos. 
Com uma agenda assim, a planificação de longo prazo - projectando investimentos cujos frutos serão visíveis somente numa ou mais décadas - está completamente posta de lado.

                     
Tabela acima: Número de anos que um trabalhador especializado tem de trabalhar para comprar um andar de 60 m2, perto do centro de uma cidade.

Muitas outras razões e factores complexos se poderiam trazer para a discussão sobre as causas destes desequilíbrios. 
Ao nível mundial, assusta ver-se que a maioria da população vive nas grandes cidades. Isto é agravado pelo facto de que os que restam no campo para fazer agricultura, não proporcionam muitas vezes os excedentes agrícolas, capazes de abastecer os mercados urbanos. 
Os bens alimentares vêm de cada vez mais longe, de países em desenvolvimento, cujas populações são sobre-exploradas e onde muitas vezes não existe qualquer preocupação ecológica nas culturas (uso maciço de insecticidas, por exemplo).  

terça-feira, 3 de julho de 2018

ENTRÁMOS NA SILLY SEASON...

                                                                        


O mesmo é dizer «estação pateta», naquela estação onde nada acontece, nada de relevante, pelo menos, podendo portanto encher-se os noticiários com ainda maior quantidade de futilidades, pois «não há nada verdadeiramente a contar».
Mas, será mesmo assim? Não estaremos em vias de sofrer as consequências de um colapso, que fará o que ocorreu em 2008, parecer como «um passeio no parque»?
Pela minha parte, fujo como o «diabo da cruz» de cair nas profecias dos profetas da desgraça. Mas nada do que vejo neste cenário inspira confiança na economia em geral, na europeia em particular.
  
Segundo as teorias dos ciclos económicos, a viragem para uma depressão, para uma mercado em declínio já deveria se ter dado, pois estamos a cerca de 10 anos da grande depressão de 2008, mas o facto é que as estatísticas não contam a verdade, nem em relação ao emprego, nem em relação à inflação... No concreto, verifica-se um desemprego altíssimo, com particular incidência na juventude dos países mais fracos dentro do euro, que são os do Sul. 

Quanto ao plano financeiro e à grande banca, verifica-se que o ECB já anunciou a redução de compra de activos (o que não significa que liberte das suas folhas de balanço da enorme carga de activos tóxicos que detém) e, embora mantenha a taxa de referência próxima de zero, os juros vão subir como, aliás, já começaram a fazê-lo. 

Os efeitos da guerra comercial instaurada por Trump vão começar a fazer-se sentir, numa dialéctica onde ninguém ganha e todos perdem.

O montante de derivados dos grandes bancos como o Deutsche Bank (só o DB possui em derivados um múltiplo, 7 a 9 vezes, do PIB alemão!), leva a que a sua insolvência seja um facto. Só a percepção da mesma, pelo grande público, está dependente de um cisne preto que virá, mais cedo ou mais tarde. 

A queda dos mercados accionistas tem sido contrariada, mas já começou e nada a poderá impedir, daqui para a frente. 

A outra grande bolha, a do imobiliário, também está a explodir em países anglo-saxónicos, como Austrália, Canadá e também EUA e Reino Unido, o que contagiará, quase de imediato, o continente europeu. 

Os países emergentes estão já a sofrer pesadamente com a revalorização do dólar, havendo sinais inquietantes como a queda brutal das cotações das divisas do Brasil e Argentina, mas também noutros mercados emergentes. 

A inflação come a capacidade produtiva, pois esta depende do consumo, na imensa maioria dos países, tanto nos desenvolvidos, como nos «em desenvolvimento». Se o disparar da inflação é uma benesse, então por que razão a Venezuela ou o Zimbabué não estão numa óptima situação económica? - É esta ideia idiota que os banqueiros centrais de vários países, os governos, assim como a media lacaia, nos andam a tentar vender há uma data de anos. Os resultados são o contrário do que nos foi prometido. 
Mas, isso não admira, pois o motor das economias é o consumo e as pessoas simplesmente não dispõem da capacidade de consumir para além do essencial, com uma economia de inflação crescente e uma ausência de crescimento ou declínio do poder de compra dos salários. 

Não é a fina camada dos muito ricos e dos especuladores, que irá fazer a despesa extra capaz de retirar o comércio do marasmo. 
Apenas uma distribuição real de riqueza pelas famílias, poderia inverter a tendência. 

Não sei se a realidade é exactamente como a descreve  Lynnette Zang. Porém, parece-me que muito do que ela diz, na entrevista acima, será apenas uma questão de bom-senso. 

A maiora das pessoas não tem prestado atenção a estes sinais, por ela evidenciados. Mas, nesta silly season, estão a fermentar os ingredientes de uma vindoura crise outonal, como nós ainda não vimos, na nossa vida. 

quinta-feira, 1 de março de 2018

A CRIAÇÃO MONETÁRIA E A INFLAÇÃO

Muitas pessoas são mantidas na ignorância, em relação aos mecanismos que operam nas economias. Nomeadamente, para muitas pessoas, a inflação é um «mistério», do qual apenas experimentam os efeitos, sem realmente compreenderem a sua origem e a razão de ser. 

O aumento de preços ao consumidor é, afinal, equivalente a uma diminuição do poder de compra do salário ou pensão, ou quaisquer rendimentos monetários do indivíduo. 
Mas esse aumento não se verifica por obra  e graça de uma «força natural», uma tal «mão invisível» do mercado. 
Ele ocorre porque o sistema monetário está desenhado de tal modo que os poderes (dos Estados e do grande capital) podem a seu bel prazer manipular o volume de dinheiro em circulação, o dinheiro disponível. 
Veremos adiante como conseguem essa proeza. Mas, desde já, vamos esclarecer quais as vantagens deles, ao disporem e usarem abundantemente dessa capacidade de manipulação:
Imagine o leitor que tem de receber uma soma correspondente a um empréstimo que fez ao Estado (via obrigações do Tesouro ou outros instrumentos) ou a uma grande empresa. Isto é uma forma comum de poupança, investir-se em dívida pública ou privada, directa ou indirectamente, através de fundos. 
O juro é fixo: se tiver um juro abaixo da taxa de inflação real, por exemplo, juro de 3% ao ano, sendo que a inflação real é de 4%, na realidade está a perder 1% ao ano sobre essa suposta «poupança». 
A manipulação dos índices de inflação destina-se a ocultar este facto, a realidade da inflação, ou seja: existe uma perda do poder aquisitivo duma dada moeda, perdemos valor real somente por determos essa moeda. 
Um dado montante em dívida, que tem de ser integralmente paga ao fim de 5, 10 ou mais anos, o chamado «principal» irá valer, em termos reais , muito menos que o valor dessa mesma quantia no momento inicial: por exemplo, 1000 € em 2007 tinham uma capacidade de adquirir determinada quantidade de mercadorias, de bens ou serviços... o poder de compra dessa mesma quantia em 2017 é apenas de cerca de 60% de há dez anos atrás, compra-se menos 40% com esse dinheiro em 2017, relativamente ao que se poderia comprar dez anos antes, em 2007.

Os pensionistas perdem constantemente poder de compra, o ajustamento no montante das suas pensões vem sempre tarde e a más horas: o sistema de pensões (seja público ou privado) tira vantagem, obviamente, da existência de inflação. 
As contas do Estado, em geral, beneficiam com a inflação pois, no médio e longo prazo, as dívidas acabam por pesar muito menos e são mais facilmente liquidadas. 
Note-se que é uma devolução de «gato por lebre»... com efeito, se o Estado (ou a entidade privada) devolver dez anos depois os 1000 € que pediu emprestado, está a restituir apenas 600 €: o equivalente ao poder de compra de 600 €, em 2007!

Para gerar artificialmente inflação, que beneficia os devedores - principalmente a grande banca, as grandes empresas, os Estados - dá-se uma criação monetária constante. 
A criação monetária pode ser efectuada pelos bancos centrais. Eles têm feito isso ultimamente em grande escala quando compram dívida, com dinheiro criado a partir de nada: é o que tem feito o BCE, nomeadamente, desde há vários anos, com uma compra mensal média de 60 biliões de euros em activos financeiros aos bancos dos vários países e obrigações dos Estados-membros. 
O dinheiro globalmente disponível no sistema vai aumentando, sem que exista correlativa e proporcional retirada de circulação dessa divisa. Cada unidade nesta moeda (neste caso, o euro) fica portanto com o seu valor diminuído, visto que existem mais euros em circulação, para comprar sensivelmente a mesma quantidade de bens ou serviços.
Mas a principal criação monetária, nas nossas sociedades, é efectuada quotidianamente pelos bancos comerciais: através dos empréstimos, eles criam dinheiro a partir de nada: Se tiver 100 € no banco e o mesmo banco emprestar 100€ a outro cliente, este irá ter a sua conta creditada com 100 €, que poderão ser utilizados. 
Devido ao empréstimo do banco, existirão agora 200 €, onde antes existiam apenas 100€. 
É esta a principal origem de inflação monetária. Os bancos detêm quase todo o controlo do crédito, tendo portanto capacidade de «aquecer» uma economia, facilitando o crédito, ou o contrário. 

O custo dos empréstimos, as taxas de juro são o instrumento mais utilizado para controlar a quantidade de dinheiro disponível. Os bancos centrais, os governos e a banca comercial detêm o controlo dessas taxas, para manterem em funcionamento o sistema, mas no sentido de os favorecer a eles
O cidadão comum está, muitas vezes, enredado em dívidas, em relação à casa, ao automóvel, a várias compras (cartões de crédito...). Tem muito pouca margem de segurança para «ficar à tona», caso falhe - num dado momento - a entrada de dinheiro, ou se for obrigado a fazer face a despesas não previstas.  
Desde 2008, sobretudo, a poupança é desestimulada, visto que as taxas de juro são negativas, em termos reais. Se a inflação verdadeira é de 6% , um depósito a prazo com juro de 4%, é negativo: - 2%
Com este mecanismo, as pessoas são empurradas para apostas arriscadas no casino da especulação, na bolsa de ações, ou noutros activos financeiros.  
Outras pessoas «jogam» no imobiliário, estimuladas pela bolha especulativa a investirem em casas ou apartamentos claramente sobre valorizados; quando vem uma crise, perdem imenso, 50% ou mais do valor investido, quando não perdem tudo, porque ficaram falidas.
A economia individual ou familiar tem de ser compreendida de modo diferente da economia global. É necessário poupar, sempre que possível, e fazê-lo a vários níveis. 
As famílias e indivíduos podem poupar, fazendo reserva de alimentos ou outros bens consumíveis: ao terem uma dispensa contendo mais do que o consumo imediato (por exemplo, reservas de alimentos que se podem guardar 2 a 6 meses...) estão a poupar, porque evitam pagar mais caro. Não devem recorrer ao crédito e, caso o tenham feito, ir diminuindo o montante em dívida, sempre que tenham oportunidade disso. 
Se têm algum excedente,  é mais seguro investir fora do sistema financeiro: por exemplo, em moedas ou barras de ouro ou prata, em bens imobiliários (casas e/ou terrenos), etc...estes funcionam como almofada de segurança, caso haja aceleração da inflação: os referidos investimentos têm, neste caso, um aumento que equilibra, ou mesmo ultrapassa, o efeito da inflação sobre salários e pensões.

As pessoas devem tentar aprender noções práticas de economia fora do convencional, da pseudo-ciência económica, que apenas está interessada em que as pessoas vivam na ilusão. Não se poderão defender, se estiverem na ignorância dos mecanismos básicos, aliás, muito menos complicados do que possam parecer à primeira vista.
Por ingenuidade e défice de informação, acabam por ter o comportamento que interessa aos detentores do grande capital. Sobretudo, não irão jamais questionar, apontando responsabilidades, pela degradação do poder de compra de suas poupanças, de seus salários e pensões...