Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
As estações de serviço estão a ficar sem gasolina, após 4 semanas de greves e de paralisação das refinarias. Além das operações das refinadoras, as greves também impediram as importações de LNG (liquid natural gas) pois os terminais de importação foram encerrados.
Comentário:
A força e tenacidade dos protestos operários, mostra que a «França de baixo» tem um «raz-le-bol», uma saturação, de aturar a elite corrupta que governa o país, em exclusivo no interesse dos grandes grupos, desprezando não apenas os sentimentos, como as próprias leis, que são a base da República.
As paralisações têm como resultado prático a impossibilidade de vários milhões de franceses irem para férias de Páscoa. Como estão fartos do governo, isto não significa que ficarão maioritariamente contra os grevistas, mas que se vão zangar ainda mais contra Macron e o seu governo.
Este tem reprimido as manifestações e tem inserido elementos provocadores (polícias disfarçados) para «justificar» a repressão. Mas, esta tática não resulta, porque os franceses já têm muita experiência, não se deixam enganar.
A media tem o seu papel de servente do poder, ao apresentar sob o pior aspeto e deformando a realidade, o que se está a passar.
Esta explosão de raiva não foi preparada nem por partidos, nem por sindicatos e deve ter também surpreendido o governo. Mas, os «de baixo» têm vivido nos últimos anos uma constante descida do seu nível de vida. A subida da idade da reforma é, na realidade, a «gota que fez transbordar o vaso».
A condição social de uma grande parte da população e o empobrecimento que afecta sobretudo os mais jovens, junto com as desigualdades crescentes, as privatizações de serviços públicos e acima de tudo, a extrema dificuldade para os não-ricos em encontrarem alojamento decente. Vejam:
Há meses que se desenrola uma revolta popular, protagonizada sobretudo por jovens, a propósito da tentativa de fazer passar uma lei, pela Assembleia Legislativa local, que permitiria a extradição de criminosos em fuga presentes no território de Hong-Kong para o território em que o crime foi cometido.
Esta iniciativa legislativa partiu da governadora de Hong-Kong Carry Lam, a qual tomou como pretexto o caso de um criminoso comum, acusado de homicídio em Taiwan, que se refugiara em Hong-Kong. Segundo a legislação corrente, o poder judicial de Hong-Kong não tem autoridade para julgar o caso. Daí, a proposta de lei de extradição. Note-se que as autoridades de Taiwan vieram afirmar que a hipotética extradição do criminoso para Taiwan nem sequer se poderia concretizar, visto não existir reconhecimento do governo de Taiwan por parte das autoridades de Hong-Kong e vice-versa.
Os manifestantes viram na manobra o desejo das autoridades de Hong-Kong em tornar possível a extradição para a China continental de criminosos, mas também de dissidentes políticos do regime da República Popular da China, que se tenham refugiado em Hong-Kong.
Recordemos que o território beneficia de estatuto especial ao nível Legislativo e de Governo, com instituições estabelecidas antes da passagem deste território para soberania chinesa em 1997. Este estatuto só estará caducado em 2049, quando ocorrer o completar do período de transição, ou devolução, de Hong-Kong à China.
No início, o movimento massivo conseguiu que o governo de Hong-Kong suspendesse o processo legislativo em curso para aprovação da polémica lei. Porém, os protestos continuaram porque eles pensam que o poder político apenas quer recuar um passo, mas mantendo em «banho Maria» a referida legislação sobre extradição. Além disso, os manifestantes consideram que o governo de Hong-Kong é uma marionete de Pequim.
No Domingo passado, os manifestantes invadiram o aeroporto de Hong-Kong, causando uma interrupção dos voos, que se repercutiu até Segunda-Feira (12 de Agosto). O motivo desta invasão foi protestar contra a lesão grave no rosto e num olho, de uma manifestante, por um polícia de choque que usou bala de borracha a uma pequena distância. A irmã da vítima diz que ela não fez nada, apenas se inclinou para olhar, numa paragem de autocarro.
O poder político em Hong-Kong tem estado paralisado face à onda de protestos, por vezes muito violentos, usando tácticas de guerrilha urbana, com cocktails molotov, além de pedras e outros objectos lançados por manifestantes com cara tapada, que se deslocam rapidamente e investem de surpresa contra símbolos do poder, incluindo comissariados de polícia.
O South China Morning Post, que se publica em Hong-Kong, um dos mais prestigiados quotidianos de língua inglesa da região, tem dado um pormenorizado relato dos acontecimentos. Num editorial, a redacção considera que o governo de Hong-Kong tem de compreender que precisa de tomar decisões políticas, que a acção policial, por si só, não será capaz de resolver o problema.
Provavelmente, existem influências dos EUA e países ocidentais insuflando estes protestos, mas o facto é que a problemática que os desencadeou e a forma desastrada como a crise tem sido gerida pelo poder político de Hong-Kong são aspectos absolutamente locais e não importados.
Pequim está em apuros porque está sob pressão económica, devido à guerra comercial com os EUA, tendo sido forçado diminuir o valor do Yuan para defender as exportações.