A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
Mostrar mensagens com a etiqueta Europa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Europa. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O EXACERBAR DA UNI-POLARIDADE

 


Na media dominante no meu país (Portugal), como na media dominante na Europa, é vulgar verem-se notícias e análises que tomam como facto auto-evidente que os EUA sejam os nossos «aliados». Esta visão das coisas pode muito bem ser devida, em parte, ao facto de muitas pessoas nesses meios estarem sob influência ou mesmo sob pagamento das agências que levam a cabo a guerra ideológica do Tio Sam. Mas, mais além disso, a própria sociedade está muito condicionada, por anos e decénios de propaganda da guerra-fria: para muitos, «vêm aí os russos» é equivalente ao «vêm aí os comunistas».

O complexo de falsidades que se tece nos discursos, mesmo nos auto-designados anti-sistema, leva a que alguns factos fundamentais sejam constantemente ignorados. Ora, são estes os que têm relevância maior, quando se fala de política internacional, de relações entre Estados. Vou, de seguida, tentar esclarecer um pouco as questões.

1- A «Aliança Atlântica», embora formalmente seja uma estrutura supra-nacional, cujos membros são Estados soberanos e com igual assento nos seus órgãos políticos, tal não acontece no domínio militar. Tem sido sempre, sem interrupção, um general dos EUA o chefe das forças da NATO na Europa, com poder para tomar um vasto número de decisões, a partir do momento que exista, ou que «decretem» que existe, perigo para a segurança de algum aliado ou da aliança no seu todo. 

A NATO, tinha, segundo os seus fundadores, a função de defesa contra um inimigo do Leste, que eles viam como ameaçador, com poderio militar suficiente para invadir o Ocidente do continente europeu. Pelo menos, esta era a sua retórica, a sua justificação para erguer, logo a seguir à IIª Guerra Mundial, esta aliança claramente dirigida contra a URSS e o bloco de Leste. Mas, a URSS desfez-se, o Pacto de Varsóvia desapareceu, as forças políticas que estão no poder em todos os países do ex-bloco soviético, ou são francamente neo-liberais ou mesmo não o sendo, não exibem qualquer veleidade agressiva contra os países da Europa ocidental, membros da NATO. 

É evidente que a razão de ser da NATO desapareceu e que os que estão nos postos de comando (civis incluídos) tentam desesperadamente encontrar razões para fazer prolongar a sua existência. Porém a NATO - neste contexto- tornou-se uma espécie de «polícia mundial», muito para além da zona geográfica do seu suposto âmbito. Além disso, o complexo militar-industrial (principalmente americano) tem sido beneficiário da compra - cada vez mais abundante - de armamento e equipamento sofisticado, proveniente dos EUA. Em relação aos armamentos, ultrapassam os piores tempos da «guerra -fria», os volumes produzidos e vendidos (aos Estados), as somas gastas (e lucros das empresas de armamento), a quantidade de laboratórios de investigação e mão-de-obra altamente especializada, etc.    

São em número superior a 800, as bases militares dos EUA no estrangeiro, em todos os continentes,  sem contar com as instalações de forças aliadas, mas que podem em qualquer momento ser usadas pelas tropas dos EUA. Isto significa que a hegemonia dos EUA, ao nível mundial se afirma sobretudo pela ameaça, chantagem surda ou declarada, de uso da força contra países que não se submetem, mas mesmo contra países ditos aliados que não aceitam submeter-se na íntegra às directrizes de Washington.

2- A política dos governos dos EUA, com a conivência de alguns governos aliados, tem um cunho anti-liberal, na sua essência: É anti mercado livre, anti livre concorrência. 

Igualmente, é anti-direitos humanos, pois apenas os invoca (com ou sem razão) quando lhe convém diabolizar um governo estrangeiro, uma nação, se esta não se submete. Mas, os governos que se submetem ao poderio imperial americano podem exercer as piores violações dos direitos humanos, sem que os dirigentes dos EUA e das ditas «democracias ocidentais» levantem um dedo: em África, Médio Oriente, América Latina, Ásia, por todo o lado onde ocorram atentados aos direitos humanos, violenta opressão, supressão de opositores, se os criminosos estiverem «no campo ocidental» (ou seja, regimes submissos ao Ocidente), não terão qualquer problema.

3- A ingerência nos assuntos internos, das agências e mesmo de diplomatas em posto nos diversos países, está institucionalizada, como sendo o «comportamento normal» no caso dos EUA, incluindo em países ditos «amigos», aliados. Mas, se porventura os mesmos comportamentos forem atribuídos à Rússia ou à China (ou a outros, aliados destes), estes comportamentos são classificados como graves e perigosos. A ingerência dos EUA dá-se, em geral, através de ONGs subsidiadas por grandes multimilionários, como George Soros, ou por dinheiro público do próprio orçamento dos EUA, ou ainda pelo dinheiro «negro», resultante de operações «secretas» da CIA, como as relacionadas com tráfico de droga (em larga escala) como está profusamente documentado, nomeadamente, no Afeganistão, em vários países da América Central, no chamado «Triângulo Dourado», etc. 

4- Os EUA são o único país no mundo que invoca «uma extra-territorialidade» das suas leis. Consegue impor - unilateralmente -sanções e aterrorizar os governos  e empresas de países europeus, que queiram fazer negócio, comerciar com o Irão, com a Rússia, etc. Grandes bancos franceses e suíços foram multados nos EUA, por fazerem - fora dos EUA - negócios perfeitamente legais, segundo as leis internacionais e dos seus próprios países. 

5- A propaganda e a intimidação que exercem os EUA, mesmo em direcção aos seus mais fieis aliados  (incluindo Portugal, que, segundo entrevista do Embaixador dos EUA.... teria de «escolher» entre a China e eles próprios...), radica na sua doutrina de «superioridade moral», de «nação escolhida», de ser «a nação indispensável». Mas, pelos seus actos*, o governo dos EUA deve ser designado por «governo-pária». Pois este termo corresponde a uma potência que não reconhece as normas e o direito internacional, quando se trata da sua própria acção. Considera-se acima da lei internacional, recusando e ameaçando o Tribunal Penal Internacional de Haia, caso este avance com a instrução de processo contra os EUA, pelos seus crimes de guerra. 

Muito mais poderia referir. O que afirmo acima, tem muitas provas materiais a apoiar. São factos reconhecidos por políticos, jornalistas, juristas, em todo o mundo. Uma parte importante de tais personalidades, que inquiriram e denunciaram comportamentos dos dirigentes dos EUA, são cidadãos deste país. Estou  convencido que o povo dos EUA tem sido mantido numa redoma de propaganda e de narrativas falsas ou distorcidas. As pessoas, iludidas, pensam que o seu «patriotismo» se deve exprimir quando a sua nação é posta em causa. Mas aqui, não se trata da nação em si mesma, trata-se de dirigentes concretos, responsáveis materiais e morais por muitos crimes cometidos, pelas políticas de violência contra Estados e povos, que não eram nenhuma ameaça para os EUA.  


quarta-feira, 11 de março de 2020

O PÂNICO DO CORONAVÍRUS ATINGE UM PAROXISMO

                              Image result for Vittorio-Emanuele

                            (galeria Vittorio-Emanuele de Milão, completamente deserta)

É verdade que esta crise é devida a um perigo bem real. 
O coronavírus, contrariamente ao que certos irresponsáveis nos querem fazer crer, não tem uma taxa de mortalidade semelhante à gripe (0.2% nas nossas sociedades) mas muito maior, pelo menos, dez vezes mais: o coronavírus é mortal para 3.6% dos pacientes contaminados, na população chinesa. 
Mas, também é verdade que as «elites» querem aproveitar o medo do coronavírus, para fazerem passar - sem contestação - as suas medidas de reforço da mundialização.
Enganam-se os que pensam (ainda!) que a mundialização é um processo globalmente positivo para a humanidade. 
O facto é que a fragilidade das nossas sociedades fica completamente aparente com esta epidemia, com a ruptura de cadeias de produção internacionais que - desde há alguns decénios - sustentavam o nosso consumo e nosso modo de vida. 
O exemplo pior é o dos medicamentos, fabricados na China numa percentagem tal, que é impossível relocalizar a produção, no curto prazo, na Europa e América do Norte. 
É socialmente mais grave essa dependência em medicamentos, que a paragem de produção dos telefones móveis (celulares), ou dos automóveis das marcas  europeias e americanas, montados a partir de peças fabricadas em quatro continentes.

Mas, prestem atenção ao que vem aí: não sabemos ao certo o que os «think-tanks» da mundialização estão cozinhando discretamente, em reuniões não publicitadas... mas podemos ter uma certeza; o que planearem será em proveito das oligarquias, dos multimilionários e bilionários. 

Tal como o 11 de Setembro de 2001 (que foi pretexto para o governo dos EUA lançar a sua «Guerra ao Terror», com guerras de agressão contra países frágeis, que não eram realmente a causa do terrorismo), também esta epidemia servirá de álibi para intensificar a guerra comercial e de sanções contra todos os que não aceitam a hegemonia USA
- A China, a Rússia, o Irão e outros, estarão sob pressão ainda maior e os países ocidentais estarão sob chantagem permanente, não podendo ter relações normais (diplomáticas e comerciais) com estes países unilateralmente sancionados pelos EUA ansiosos, ao perder a hegemonia no continente europeu e além dele. 

Oxalá me engane, mas devemos estar preparados para situações de arbitrária privação de liberdade, de controlo draconiano da informação e de perda completa de autonomia financeira, com a digitalização forçada e total do dinheiro.   

PS1: Brandon Smith escreve...«A finalidade disto é provocar o máximo de caos. 
Esta é a razão porque a media corporativa, a  Casa Branca, o CDC  e a OMS, têm sistematicamente minorado a ameaça de pandemia, até à semana passada. 
Por este motivo, as pessoas que se preparam para a situação de escassez são acusadas por eles de açambarcadoras»
PS2: o vídeo de Jeff Berwick (Dollar Vigilante), vem reforçar o que tenho afirmado neste blog: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=reHUDk0dTjg&feature=emb_logo
PS3: Charles Gave explica o «Krach»  https://www.youtube.com/watch?v=nc2vu4QfrZI

terça-feira, 3 de março de 2020

[Manlio Dinucci] TRINTA MIL SOLDADOS USA NA EUROPA, SEM MÁSCARA

                 
Manlio Dinucci

Os Estados Unidos subiram o alerta do Coronavírus para a Itália, do nível 3 (“evitar viagens não essenciais”), elevando-o para 4, para a Lombardia e Veneto (“não viajar”), o mesmo que para a China. A American Airlines e a Delta Air Lines suspenderam todos os voos entre Nova York e Milão. Os cidadãos USA que vão à Alemanha, Polónia e outros países europeus, no nível de alerta 2, devem “adoptar precauções acrescidas”.
Há, no entanto, uma categoria de cidadãos USA isentos dessas normas: os 20.000 soldados que começam a chegar dos Estados Unidos aos portos e aeroportos europeus para o exercício Defender Europe 20 (Defensor da Europa 20), o maior destacamento de tropas USA, na Europa, nos últimos 25 anos. Compreendendo os que já estão presentes, participarão em Abril e Maio, cerca de 30.000 soldados USA, apoiados por 7.000 dos 17 países membros e parceiros da NATO, entre os quais, a Itália.

                     

A primeira unidade blindada chegou do porto de Savannah, nos EUA, ao de Bremerhaven, na Alemanha. Em resumo, chegam dos USA a 6 portos europeus (na Bélgica, Holanda, Alemanha, Letónia, Estónia) 20.000 peças de equipamentos militares. Outras 13.000 peças são fornecidas pelos depósitos pré-posicionados pelo US Army Europe (Exército dos EUA, na Europa), principalmente na Alemanha, Holanda e Bélgica. Tais operações, informa o US Army Europe, “requerem a participação de dezenas de milhares de militares e civis de muitas nações”.
                    

Chega, ao mesmo tempo, dos USA a 7 aeroportos europeus, o grosso do contingente dos 20.000 soldados. Entre estes, 6.000 da Guarda Nacional, provenientes de 15 Estados: Arizona, Flórida, Montana, Nova York, Virgínia e outros. No início do exercício, em Abril – comunica o US Army Europe - os 30.000 soldados USA “espalhar-se-ão por toda a região europeia” para “proteger a Europa de qualquer ameaça potencial”, com clara referência à “ameaça russa”.

                     

O General Tod Wolters - que comanda as forças USA, na Europa e, ao mesmo tempo, as forças da NATO como Comandante Supremo Aliado na Europa - assegura que “a União Europeia, a NATO e o Comando Europeu dos Estados Unidos trabalharam em conjunto para melhorar as infraestruturas”. Isto permitirá que os comboios militares se movam rapidamente, ao longo de 4.000 km de rotas de trânsito. Dezenas de milhares de soldados atravessarão as fronteiras para realizar exercícios em dez países. Na Polónia chegarão a 12 áreas de treino, 16.000 soldados USA com cerca de 2.500 veículos. Os pára-quedistas USA da 173ª Brigada, estacionados em Veneto e os italianos da Brigada Folgore, estacionados na Toscana, irão à Letónia para um exercício conjunto de lançamento de bombas.
O Defender Europe 20 está a ser efectuado para “aumentar a capacidade de instalar rapidamente uma grande força de combate dos Estados Unidos na Europa”. Portanto, desenvolvem-se com horários e procedimentos que tornam praticamente impossível sujeitar dezenas de milhares de soldados às regras de saúde do Coronavírus e impedir que, durante os períodos de descanso, entrem em contacto com os habitantes. Além do mais, o US Army Europe Rock Band realizará uma série de concertos gratuitos na Alemanha, Polónia e Lituânia, que atrairão um grande público. As 30.000 tropas USA que “se espalharão pela região europeia” estão, de facto, isentas das normas preventivas sobre o Coronavírus que se aplicam aos civis. Basta a garantia dada pelo US Army Europe de que “estamos a monitorar o Coronavírus” e que as “nossas forças estão de boa saúde”.

                   

Ao mesmo tempo, é ignorado o impacto ambiental de um exercício militar de tal envergadura. Participarão tanques USA Abrams, pesando 70 toneladas e com armadura de urânio empobrecido, que consomem 400 litros de combustível por 100 km, produzindo forte inquinamento para obter a potência máxima.
Em tal situação, o que fazem as autoridades nacionais e as da União Europeia, o que faz a Organização Mundial da Saúde? Além de tapar a boca e o nariz, colocam a máscara sobre os olhos.

il manifesto, 03 de Março de 2020

----------------













DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Webpage: NO WAR NO NATO


sábado, 28 de setembro de 2019

REFLEXÃO: NEO-COLONIALISMO NO SÉCULO XXI

                        Mobutu Sese Seko and Richard Nixon in Washington DC in October 1973
Imagem: Mobutu Sese Seko encontra-se com Richard Nixon em Washington, em 1973 

Quando nos debruçamos sobre a História mundial do século XX e nos deparamos com a época das independências das colónias, que os vários poderes imperialistas europeus possuíam e cuja exploração permitiu grande parte do excedente para a construção da sociedade da abundância na Europa, devemos analisar como esses colonialismos (Britânico, Francês, Português, Belga...) se transmutaram em sociedades neo-coloniais, em que a estrutura da economia, baseada na extracção e exportação de matérias-primas, se manteve, quase sempre na posse dos mesmos poderosos grupos industriais. Mesmo nos casos em que houve nacionalizações, a estrutura dos mercados era tal, que as produções dos países ex-coloniais eram fundamentalmente para um mercado mundial, controlado pelos mesmos poderes da era colonial. 
Por outro lado, as instâncias políticas presentes nos mais diversos países, embora fossem de aparente cariz anti-colonial, eram muitas vezes complacentes com a continuação do estado de coisas anterior, a troco de situação de privilégio para si próprias. 
Isto podia ir até ao ponto de países ex-colonizadores irem defender militarmente os governantes (em geral, ditatoriais) contra todas as ameaças «terroristas» que eles tivessem de enfrentar. 
No presente século, as situações neo-coloniais, em África, Médio-Oriente, Ásia do Sul e América Central e do Sul, não evoluíram globalmente para uma maior autonomia, capacidade de desenvolvimento baseado nos próprios recursos, construção de Estados e modos de governar próprios. 
O «Ocidente» continua impiedosamente a esmagar as populações, sob as ditaduras locais:
 - As matérias-primas continuam a ser arrancadas a baixo custo, para depois serem colocadas nos mercados mundiais com lucros colossais, essencialmente fora do controlo das entidades nacionais dos países de onde provieram. 
- As fábricas, com as condições de trabalho mais duras e os salários mais irrisórios, continuam situadas nos mesmos pontos do globo, permitindo que multinacionais obtenham lucros por essa exploração impiedosa, essencial para os seus modelos de negócio, quer se trate de confecções, micro-electrónica, agricultura de exportação, ou até, de serviços como «tele-marketing»- deslocalizados da Europa e América do Norte. 
- Os exércitos da NATO, com ou sem cobertura das Nações Unidas, auto-instituem-se como «polícia mundial», mesmo que as pessoas que vivem nos países «policiados» (Afeganistão, vários países africanos) não tenham pedido esse «policiamento», nem o desejem e gostariam de ver pelas costas esses exércitos internacionais, que vêm manter «a ordem» isto é, um governo corrupto e submisso aos poderes globais, quer na forma de Estados, quer dos grandes grupos corporativos que os controlam (as indústrias do petróleo, a grande finança, as indústrias de armamentos, etc.).

É portanto muito importante, fundamental mesmo, para o capitalismo globalizado de hoje, a manutenção deste conjunto de relações neo-coloniais. Sem ele, certamente, o bem-estar material das populações da Europa e da América do Norte, não teria o mesmo nível. Sobretudo, os lucros das grandes corporações não poderiam ser tão elevados. 
É precisamente este o ângulo que é «omitido» em todas as análises sobre a One Belt One Road (OBOR) da China, que tenho lido na media ocidental corporativa. 
Se o aparato ideológico do «Ocidente» se atira contra a iniciativa de «One Belt One Road», que a China lançou há cerca de 6 anos, é porque ela está sendo - no geral - bem sucedida, com adesão de muitos países (mais de 60), com estatuto de «desenvolvidos» ou de «em desenvolvimento», nos quatro continentes. 
Em desespero, o Império dos EUA tem feito soar os tambores da guerra, quer contra a China, quer contra a Rússia, multiplicado as sanções económicas, os boicotes, as ameaças, não apenas a estes dois gigantes, mas também a outros, seus aliados ou apenas seus parceiros comerciais. 
Nisto, podemos ver o desespero dum animal ferido de morte, que tenta - em vão - virar o sentido da História. Eles, dirigentes e ideólogos do globalismo sabem, melhor que ninguém, que não há futuro para um monopólio mundial do poder, uma hegemonia duma só potência sobre todas as outras. Mas pensam, erroneamente, poder atrasar a vinda desse momento, em que a Terra será de novo um planeta com muitos e diversos conjuntos de nações, com alianças diversas e com múltiplos laços de comércio, com interesses variados partilhados, sem que nenhum esteja em posição de ditar ao mundo inteiro a «sua verdade de nação excepcional». 

Nada poderá atrasar uma força irresistível e que vem do fundo de nós todos, de cada pessoa individual e dos grupos humanos, dos povos, das civilizações mundializadas. Pois trata-se de uma profunda aspiração a maior autonomia, à auto-determinação das nossas vidas, ao desenvolvimento das nossas economias, das nossas culturas, numa grande diversidade, com entendimento fundamental e com respeito mútuo entre todos. 
Só nesse momento, quando houver uma real igualdade de acesso das pessoas à educação, à cultura e uma igualdade de acesso dos países às trocas, ao comércio internacional, no respeito e interesse mútuo, poderemos dizer que ultrapassámos - enquanto Humanidade - a era colonial e seu prolongamento, o neo-colonialismo.

domingo, 9 de junho de 2019

O «SONHO AMERICANO» ESTÁ MORTO...

Quem o diz e demonstra claramente é Michael Snyder  num artigo impressionante, em que descreve a outrora vibrante e orgulhosa L.A. (Hollywood está na vizinhança).

                 
Há lixo por todo o lado. No meio dele, pragas de ratos banqueteiam-se. Crescem as «cidades de tendas», por todo o lado. Não se pode andar no centro de L.A. ou de outras cidades sem ver pedintes ou sem-abrigo, a cada esquina. A epidemia de opióides tem feito uma devastação que já nem a media mainstream tenta ocultar. 
Mas a sociedade, em geral, apesar dos sinais evidentes de decadência, está em denegação
Isto, apesar da descida nítida dos índices, tais como cotações de materiais industriais - o cobre, o zinco e a madeira para construção - que não podem ser facilmente manipulados. Tudo o resto, que pode ser manipulado, tem estado a sê-lo: desde os índices bolsistas, à taxa de inflação e de desemprego. Mas, nem será necessário procurar números indicadores da economia. Pois, tudo que o se vê - fora das zonas de condomínios de luxo - tem a aparência duma descida rápida para níveis do Terceiro ou Quarto Mundos
A degradação de todos os aspectos da vida urbana não é exclusiva de Los Angeles, como Michael Snyder indica: o mesmo se constata em San Francisco, Portland, Seattle, Denver, Minneapolis, Chicago, Detroit, St. Louis, Memphis, Cleveland, Baltimore, Philadelphia e noutras cidades, de menor dimensão. 
Estas situações ocorrem, note-se, quando a crise ainda não rebentou, embora esteja iminente e com todos os ingredientes para que seja duma gravidade e profundidade extremas.

               

Através deste artigo, podemos ver até que ponto nos querem impingir uma imagem falseada da América e da sua economia, quotidianamente, através da media mainstream, do lado de cá do Atlântico. Isto não é nada inocente: trata-se de manter a ilusão de que as coisas estão a compor-se, de que a «economia está a crescer», de que as sinetas de alarme que disparam por todo o lado são somente «alarmismos» orquestrados por «teóricos da conspiração», etc, etc...
Os EUA irão fazer tudo para transferir o grosso da crise vindoura para o dorso das economias europeias. Não esqueçamos que foi através dos hedge funds americanos que se gerou a crise das obrigações soberanas europeias em 2010-2011, da qual resultaram o agravamento dramático das economias dos «PIIGS» e as políticas de austeridade.
 Também se torna cada vez mais verosímil que inventem um pretexto para desencadear mais uma guerra. É provável que a próxima aventura militar dos EUA seja com o Irão ou, talvez, noutro ponto do globo. 
Nesta fase, o imperialismo dos EUA apenas consegue obter destruição e pilhagens nestas guerras assimétricas (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria...). Mas, é isso mesmo que procura, de facto. As únicas indústrias florescentes nos EUA, são as de fabrico de armas e doutro equipamento bélico. 
No plano político internacional, os EUA contam com a força bruta militar para intimidar os países, cada vez em maior número, rebeldes à sua ordem mundial e para forçar as potências europeias, numa vassalagem, também ela, cada vez mais problemática.

Se Michael Snyder se preocupa legitimamente com o estado de denegação em que se encontra uma boa parte das pessoas, que as impede de tomar medidas de precaução, financeiras e outras, na aproximação de uma grande crise ... então que dizer do público da Europa? 
Este, está completamente anestesiado, incapaz de ver as questões para além do imediato e, mesmo estas, apenas sob o prisma criminosamente distorcido da media corporativa. 
Pessoalmente, estou convencido de que a grande crise em preparação irá trazer muito maior sofrimento ao continente europeu, pelo menos, nas suas etapas iniciais, do que à América. 
As precauções apontadas por Snyder ao público americano são totalmente apropriadas e mais urgentes ainda, para o público europeu.

terça-feira, 4 de junho de 2019

CRISE DO SISTEMA FINANCEIRO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Todos sabemos que o dinheiro, seja ele em que divisa for, vai perdendo valor com o tempo. Por valor, pode-se entender a capacidade aquisitiva. Assim, se um dólar US de 1913  valer 100, um dólar US de hoje vale apenas 4: houve uma desvalorização de 96%. Isto, em relação à moeda mais poderosa, em princípio, visto que tem sido a moeda mundial de reserva e a moeda preferida no comércio, durante o período que vai desde o fim da 2ª Guerra Mundial (os acordos de Bretton Woods), até ao presente.
Sabemos também que os bancos centrais, todos eles, sejam do ocidente ou oriente, sejam de países pobres ou ricos, imprimem (ou o equivalente digital disso...), tanto quanto achem que a economia dos seus respectivos países precisa. Mas, esta abundância de divisas, apenas tem como efeito, aumentar a inflação, que vai retirar poder de compra aos salários e pensões, assim como vai desvalorizar as poupanças em dinheiro, quer estejam no banco, quer «debaixo do colchão». 
Uma coisa que poucas pessoas sabem, é que os bancos comerciais são os principais criadores de dinheiro, nas diversas economias. Quando o banco empresta - por exemplo, para adquirir uma casa ou um carro - vai criar a soma correspondente a partir de nada: vai creditá-la na conta do cliente, que - a partir desse momento - tem a dívida e terá de pagar juros sobre ela... pelo menos, era assim no passado! Agora, os bancos estão a dar (literalmente) empréstimos a juro negativo, ou seja, estão a pagar para o cliente aceitar ficar devedor de uma soma! 
Por exemplo, isso passa-se com o banco dinamarquês Nordea que propõe empréstimos a MENOS 0.12% de juro, ou seja, o banco paga para o cliente ficar devedor. Se isto lhe parece uma coisa sem sentido, não será a única pessoa que assim pensa! 
               O estímulo ao gasto atinge um paroxismo nas sociedades ocidentais, todas elas, não apenas na Dinamarca... Pelo contrário, a poupança é fortemente desencorajada, pois os juros pagos pelos depósitos a prazo, são demasiado baixos, tendo como efeito que as pessoas sentem que mais vale «gastar agora», do que esperar dois anos, para obter um juro da ordem de 1%, ou menos. 
A loucura é tal que as empresas das mais deficitárias e que  não conseguem equilibrar os seus balanços, têm subidas espectaculares na bolsa de valores de Nova Iorque: Tesla, Netflix, Uber...
Os governos europeus, mesmo os que estão insolventes, conseguem obter empréstimos a taxas ridiculamente baixas, taxas claramente inferiores à inflação. E isso não ocorre apenas com nações europeias, pois a Argentina, por exemplo, consegue obter empréstimo a 100 anos (!) pagando quase nada. Sabemos que a Argentina entrou em bancarrota duas vezes, apenas nos últimos 30 anos!
Nada disto parece fazer sentido.
Porém, o sistema da dívida pressupõe que existem duas espécies de dinheiro:
A - O que é efectivamente fornecido por  entidades bancárias (sejam elas bancos centrais ou bancos comerciais) que têm a possibilidade de criar dinheiro a partir de nada.
B - O que resulta de actividades económicas, das remuneração de trabalho, de lucros das empresas, das transacções comerciais, de imobiliário, etc. 
Muito do dinheiro gerado pelo processo B está destinado a pagar (com juros, maiores ou menores) às entidades emprestadoras, as quais são normalmente bancos comerciais, ou entidades autorizadas a emitir empréstimos.
Ora, a existência do depósito fraccionário, que todos os bancos têm autorização para realizar, significa que as instituições bancárias têm o direito de fazer uma «alavancagem» de 1 para 10 (ou maior), com os nossos depósitos. Isto quer dizer que um banco tem o direito de fazer um total de empréstimos aos clientes dum valor X, desde que estejam depositados no banco 1/10 de X. Note-se que é do nosso dinheiro que se trata; aqui, não se trata do dinheiro do banco, que este possui como capital próprio. A operação que os bancos (todos) fazem, consiste em emprestar aquilo que NÃO TÊM: seria considerada crime passível de prisão, caso fosse feita por um particular.
Por outro lado, desde a época pós 2008, com o chamado «Quantitative Easing», os bancos obtiveram dinheiro gratuito disfarçado, fornecido pelos bancos centrais respectivos. Os pacotes de obrigações hipotecárias e outros papéis - sem valor  - de dívidas incobráveis, foram dados como aval, pelos bancos comerciais, aos bancos centrais. Ficaram estes com as dívidas, pelo seu valor nominal, não pelo seu valor de mercado, visto que este seria de zero. Estes activos têm contabilização positiva no balanço dos bancos comerciais; é assim que se apresentam com «solvência» e «solidez»! 
Os bancos são estimulados a emprestar este dinheiro «emprestado» a juro zero, mas que não precisam sequer, na prática, de devolver aos seus bancos centrais respectivos! Se não devolverem o empréstimo, o banco central apropria-se dos tais papeis sem valor, dados em garantia! 
Os bancos centrais, mesmo nominalmente independentes do Estado, acabam por repercutir as suas perdas nas contas dos Estados respectivos. 
Contabilisticamente, «está tudo certo», porém é tudo uma fraude total, com a conivência das direcções dos bancos centrais, dos governos e de todas as «entidades supervisoras ou controladoras» do mercado, que existam.
Sendo as coisas realmente assim, como as pessoas minimamente informadas sobre as políticas monetárias e financeiras o sabem, o resultado é que os clientes dos bancos estão a pagar com «dinheiro a sério», o seu dinheiro que resulta de actividade económica propriamente dita, empréstimos contraídos junto de entidades que criaram «dinheiro de fantasia», ou seja, houve uma criação monetária sem qualquer esteio, sem realidade económica tangível, «tendo ido extrair o dinheiro do éter...».

              

Fica assim explicado o mecanismo pelo qual se caiu nesta situação de juros negativos ou juros de facto negativos, porque abaixo da taxa de inflação. Os bancos comerciais pedem de volta dinheiro que resulta do trabalho, tendo emprestado dinheiro contabilístico. Por outras palavras, pedem de volta dinheiro verdadeiro, tendo emprestado dinheiro fictício. Para isso, têm conivência plena dos governos e bancos centrais. 
Todos os bancos comerciais fazem, portanto, operações muito lucrativas e sem risco (para eles). 
Pelo contrário, praticamente todo o risco recai sobre o público, devedor aos bancos de créditos para aquisição de casa, de carro, para estudos, para consumo e sobre a sociedade em geral, que irá sofrer as consequências do colapso do sistema financeiro.
Mas a gula de capital não acaba aqui, pois vamos assistir à aceleração da inflação, sempre minimizada pelas estatísticas oficiais. As pessoas serão pressionadas a gastar mais, a endividarem-se mais, a desfazerem-se de suas parcas poupanças, porque o dinheiro vai perdendo valor, à medida que o tempo passa. 
Uma das indicações mais seguras disso, é a inversão das taxas de juro das obrigações do Tesouro dos EUA (por exemplo, obrigações a 10 anos, com juros inferiores para termo a 5, ou a 2 anos). Isto já ocorre agora e seu significado é o de que o próprio mercado está convencido de que uma crise está perto. 
Eu prefiro precaver-me duma tempestade, ou dum tsunami, antes que estejam em cima de mim. De nada servirá esperar até ao último minuto, pois já será demasiado tarde.
Não digam que não vos avisei: a única maneira de salvar o valor  dos activos financeiros, incluindo o dinheiro líquido, é retirar AGORA o máximo dinheiro possível dos bancos e de investimentos financeiros (acções, obrigações, fundos...) e aplicá-lo em bens como comida, água, sistemas de geração de electricidade... e outros bens de primeira necessidade. 
Pode-se armazenar alimentos, que podem ficar  comestíveis durante bastante tempo, se devidamente condicionados. Medicamentos, produtos de higiene e muitos outros bens ditos «consumíveis», podem ser mantidos por períodos longos (dentro do seu prazo de validade). Pode-se fazer uma gestão desses stocks, consumindo aqueles próximo do termo da sua validade, e adquirindo novas unidades para substituir as consumidas. 
Para enfrentar a fase de hiperinflação, convém ter moedas de ouro e de prata; podem ser extremamente úteis. 
Podemos ver que, nas situações de hiperinflação, como a Venezuela, as pessoas tomaram medidas para salvaguardar seu poder de compra: muitas delas compraram dólares no mercado negro. 
Porém, neste caso, se houver uma crise sistémica, não existirá divisa em papel que resista. Umas mais cedo, outras mais tarde, todas elas irão perder o seu valor, numa espiral hiperinflacionária global, até atingirem o seu valor intrínseco, de bocados de papel, ou seja, zero.



PS1 - Uma entrevista que ilustra claramente a situação:

PS2 - Paul Craig Roberts explica em pormenor por que razão a percepção que se tem da economia está falseada, intencionalmente: