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quarta-feira, 28 de maio de 2025

A FÍSICA DAS BOLHAS ESPECULATIVAS

 Desde já quero afirmar que há zero hipóteses da bolha do crédito não rebentar. A hipótese de ser desinflada suavemente, sem haver grandes cataclismos nos mercados e na economia mundial, é apenas um sonho que poderá servir para tranquilizar pessoas especuladoras e gananciosas, daquelas que costumam embarcar na narrativa mais fantasista, mas que satisfaz o seu insaciável  apetite por mais e mais lucro.

Então, qual é a física (e não a metafísica!) das bolhas especulativas?

- As bolhas não têm um substrato real, ou seja, são expansões de preços, de capitalizações bolsistas ou valorações nos mercados, que não têm por base um verdadeiro acréscimo de valor da coisa especulada. Quer sejam ações, títulos do tesouro, túlipas, quadros de artistas «na moda», objetos de coleção, ou outro veículo qualquer, quais são os fatores psicológicos* subjacentes? 


1º - A perceção de que um ativo está continua e persistentemente subindo de preço. Temos os exemplos das ações cotadas no NASDAQ, das cotações do Bitcoin e outras criptomoedas, etc.

2º - A perceção de que, devido à enorme procura de um certo item, este se torna mais e mais raro no mercado, quer isto seja verdade, quer não. Temos os exemplos do ouro e dos metais preciosos. No longo prazo, realmente, vai havendo menor quantidade de metal precioso, extraído das minas, ou por descobrir. Mas nos semi-condutores ou «chips» é diferente. Neste caso, há estrangulamentos causados por sanções e guerra comercial, mas ao nível da produção dos mesmos não há diminuição, apenas roturas nas cadeias de abastecimento.

3º - A perceção de que um pequeno investimento pode fazer a fortuna de qualquer um. Esta ilusão é muito difundida no público que se deixa seduzir pelas criptomoedas. Em geral, a procura  de ações já claramente sobrecotadas, o «panic buying», é motivada pelo receio de que «todos vão beneficiar e ficar mais ricos. Se eu perder a oportunidade, irei ficar para trás». 

4º - A perceção de que «desta vez será diferente». Claro que os episódios especulativos são únicos num certo aspecto, as circunstâncias particulares nunca se repetem. 

Porém, as diferentes fases do ciclo estão sempre presentes: 

1- A "descoberta". 2- a "subida exponencial". 3 - as "oscilações no topo". 4 - a "descida brusca e inesperada" atribuída ao acontecimento X,Y ou Z. 5 - o "ressaltar do ativo" dando oportunidade a novos investidores entrarem. 6- A descida fatal, acentuada e prolongada . Todos querem vender, mas só poderão fazê-lo com grandes perdas. 7- O «ressalto do gato morto», uma transitória inversão da trajetória descendente que faz com que alguns acreditem que ainda poderá haver uma "subida espectacular". 8 - O cancelar do sonho; quando o "mirífico veículo para enriquecer toda a gente" se torna  odiado e desprezado por todos.


No caso da expansão mundial do crédito (= da dívida) estamos na fase em que muitos investidores já estão com receio, já muitos desconfiam das manobras dos bancos centrais, mas em que poucos têm a lucidez de analizar o fenómeno no seu conjunto e compreender a natureza desta enorme bolha. Com efeito, a bolha do crédito impulsiona todas as outras (a bolha do imobiliário, a bolha das bolsas de valores, etc.) e perpetua-se devido a um erro de avaliação dos indivíduos e mesmo das nações. 

Um indivíduo fica iludido (num contexto de inflação) quando pensa: «tenho hoje mais notas de banco, do que na semana passada, portanto sou mais rico». 

Uma nação também é vítima da expansão sem limites do crédito, através de falsificação do cálculo do PIB. Este, em todos os países,  é manipulado: Minorizam sempre o grau de inflação para que o PIB, mecanicamente, apareça como positivo, quando na realidade, está em contração.

Porém, há quem jogue o seu jogo de enganar as massas, para daí tirar maior proveito próprio. Os bancos centrais e os governos estão mais avançados e mantêm o público na maior ignorância possível. Estão a forjar novos e implacáveis meios de nos escravizar,  mais ainda do que já estamos: Os famosos CBDC estão aí, tecnicamente prontos para funcionar, apenas esperando que a oligarquia mundial escolha o momento mais favorável para os Bancos Centrais, coordenadamente, lançarem as ditas divisas digitais. Ficam no vago, quanto aos detalhes técnicos, pois estes poderiam assustar (e com razão, aliás) o povo. Teremos a «surpresa» de ficarmos completamente dependentes, transparentes, e sujeitos aos governantes... A definição mesma da escravidão. Mas, sempre com a «garantia» dos governos, de que é para o bem dos cidadãos e, sobretudo que «será fácil» e que não terá grandes diferenças (dizem eles!) em relação ao dinheiro digital que já existe hoje.

A guerra também preenche o seu papel. 

Para submeter a cidadania a um novo regime de controlo absoluto das nossas finanças pessoais, através dos CBDCs, não há nada melhor que uma «situação excecional» para servir de alibi.

Qual o pretexto de que os governos se servem para suprimir as liberdades mais elementares e os direitos «inalienáveis» dos cidadãos? Quando há um estado de guerra, todas as liberdades e garantias são suspensas, por simples decreto governamental. O cidadão desaparece, o que conta é o sacrifício coletivo pela pátria... Os intervalos entre guerras são geralmente superiores a 50 anos, pelo que as pessoas da geração que viveu isso,  ou já morreram, ou têm a memória demasiado debilitada pela velhice; as jovens gerações não sabem nada dos sofrimentos dos seus avós e o que lhes «ensinam» na escola, são narrativas moralistas e que passam sob silêncio o papel dos grandes industriais e financeiros.

Como dizia Napoleão, «o dinheiro é o nervo da guerra». Os mais belicosos dirigentes, nos países da UE, pretendem reforçar os arsenais com empréstimos forçados, sem mandato dos respectivos povos, uma autêntica extorção dos cidadãos pelos Estados. Centenas de triliões de dólares serão gastos em armamentos. Estes triliões acabam sempre por ser cobrados, pelos impostos, às presentes e futuras gerações. Mas, nunca vão buscar esse dinheiro à fortunas das oligarquias, causadoras destas catástrofes. Porém, sabemos que elas as provocaram,  as amplificaram e delas beneficiaram. É normal:  São elas que traçaram o cenário; não se pode esperar que o façam de modo a que seja a sua própria classe a perder!

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*Nota: trata-se de aspectos psicológicos nos indivíduos e nas massas e suas repercussões no preço de mercado de um ativo.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Algumas coisas SOBRE OS BRICS E O OURO

TRÊS COISAS QUE TEM DE SABER SOBRE OS BRICS


Ninguém está a revelar a verdade, no que toca ao que possui em ouro nos respectivos bancos centrais.
A introdução do ouro no sistema monetário poderá ser enquanto contrapartida de uma obrigação de longa duração (fala-se de 50 anos até maturidade). Portanto, uma obrigação com uma garantia de estabilidade conferida pelo ouro.
Entre muitos elementos informativos que Andy Schectman nos fornece, ele tem uma opinião muito semelhante à minha sobre a ameaça de Trump aos países que deixem cair o dólar nas suas trocas. A ameaça de 100% de «tarifas alfandegárias» é realmente uma pseudo chantagem, um bluff de póker! 
Porquê?
- Porque a subida de tarifas neste grau seria o equivalente duma subida brutal dos impostos nos EUA. Iria matar a economia dos EUA num instante!
E muito mais poderá aprender ao ouvir esta entrevista com Andy Schectman.

Relacionado:


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O LANÇAMENTO DA DIVISA DOS BRICS PODE ESTAR PERTO

 



O BIS cancelou a sua participação na construção de m-BRIDGE após 4 anos a participar na construção desta plataforma, com parceiros dos BRICS e candidatos a membros dos BRICS.

Por outro lado, a França já  avançou uma proposta de integração  nos BRICS. Quanto à Itália e Alemanha, querem manter boas relações comerciais com a China e tudo farão para isso!

As ameaças de Trump somente aceleram o processo da desdolarização. A política de sanções e tarifas alfandegárias para punir os países que não se submetam vai sair-lhe pela culatra: Vai apenas confirmar que os EUA já não são parceiros comerciais estáveis e credíveis.


RELACIONADO:

FIM DA HEGEMONIA DO DÓLAR: CONSEQUÊNCIAS PARA A ECONOMIA GLOBAL (com o Dr W. Powell )

CIMEIRA DE KAZAN: MUDANÇA DE MARÉ NAS DIVISAS FIAT (Alasdair Mcleod)





terça-feira, 17 de setembro de 2024

FIM DA HEGEMONIA DO DÓLAR: CONSEQUÊNCIAS PARA A ECONOMIA GLOBAL (com o Dr W. Powell )





É fascinante o modo como este Professor universitário descreve a natureza do dinheiro, as suas funções, assim como a realidade com que os países dos BRICS se deparam.

Devemos ver que o movimento de abandono do dólar foi motivado pelo regime de sanções e pela utilização do SWIFT e dos grandes bancos americanos como "armas", participando na guerra económica levada cabo pelos EUA e seus aliados. Nem a Rússia, nem a China, deliberadamente, abandonaram o dólar como moeda de reserva internacional. Eles foram realmente forçados pelas circunstâncias.
Mas, de facto, a China tendo-se tornado a maior potência industrial do planeta (29% do valor acrescentado industrial e 35% da produção ao nível mundial), já não precisa dos dólares: A China, com seu enorme volume de exportações para diversos países do Mundo, pode «reciclar» as divisas recebidas em pagamento por estes mesmos países, comprando diretamente o que ela precisa.  Já não necessita trocar por dólares os yuan ou outras divisas recebidas, para fazer essas compras.

Vejam/oiçam o Prof. universitário australiano. As suas explicações permitem-nos compreender o sentido das mudanças aceleradas que se estão a observar nas relações monetárias, financeiras e económicas.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

LYNETTE ZANG: «NÃO VAI HAVER ATERRAGEM SUAVE, ELES PRECISAM DUMA CRISE»

 


A entrevistadora de Lynette é Michelle Makory de Kitco NEWS. 

Lynette diz que os donos do sistema financeiro global precisam de uma crise para fazerem passar a transição para os CBDC (divisas digitais emitidas pelos bancos centrais).

Lynette está em posição de compreender as jogadas que estão a levar o Mundo para o caos. Eles precisam desse caos. Precisam também de fabricar falsas esperanças no público, para este se agarrar a «salva-vidas» irrisórios. Segundo ela, existe um «documento branco» publicado em 1996 pela NSA, onde são delineadas as características do futuro sistema monetário. Quem ler este documento, diz Lynette, verá que existem muitas coincidências com as cripto-divisas e com um mundo sem dinheiro físico (dinheiro-papel).

Faz notar que o artigo que lançou o Bitcoin, surgiu apenas meses depois do grande crash de 2008. Nessa altura, interessava fazer crer que a salvação eram símbolos imateriais, supostamente independentes de poderes políticos e bancários. Não lhes interessava, obviamente, que as pessoas se refugiassem no ouro e na prata, com a posse direta dos seus compradores; esta seria a melhor maneira de preservar o valor dos ativos.  

Lynette está convencida de que o momento em que foi lançado o Bitcoin não foi por acaso, mas antes «um Cavalo de Tróia», para o grande público aceitar o desaparecimento do dinheiro material, ficando apenas com o dinheiro digital. Este, afinal é muito controlável pelos bancos centrais e pelo poder político. Além disso, tem muitas vantagens, para os que controlam o jogo: O CBDC é programável, como o descreveu o diretor do BIS há uns cinco anos atrás. 

Não seria necessário ilegalizar a posse do Bitcoin ou doutras cripto-divisas. Bastaria limitar sua utilização às transações estritamente particulares.  Assim, os detentores de Bitcoin, etc. ficavam com cripto-divisas que já pouco valeriam, face às divisas digitais emitidas pelos bancos centrais. 

Para a aceitação generalizada das CBDC, é preciso uma valente crise para as pessoas, em pânico, aceitarem converter tudo o que têm em cripto-divisas, centralmente emitidas. 

Estas cripto-divisas têm a possibilidade efetiva de transportar o registo de qualquer ativo ou objeto de valor (tokenization). Depois, esses «valores digitalizados» serão transportáveis no teu «porta-moedas digital»: O título de propriedade do teu apartamento, ou o valor da roupa que vestes, ou outra coisa qualquer. Podes transacioná-los, dá-los em fiança num empréstimo, etc.

Esta manobra pode ser descodificada em três etapas:

- problema (como passar ao novo sistema monetário sem afetar os privilégios da oligarquia?) ---> 

---> crise (como gerir o caos para a demolição controlada do sistema existente?)

----> solução (os bancos centrais emitem as divisas digitais, todas as pessoas terão o seu porta-moedas digital, com o seu dinheiro digital. Este seria usado para guardar ativos financeiros, ou certidões de bens materiais, como imobiliário, objetos de valor, etc.).


É assim que a classe oligárquica no poder, opera. Fazendo com que as pessoas se submetam às suas «soluções» as quais, em regra, só beneficiam realmente aquela mesma classe. 

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NB: Existe neste blog "Manuel Banet, ele próprio", muita informação sobre estes assuntos: 

Por exemplo...

crónica nº15 da IIIª Guerra Mundial, publicada a 31 de Julho de 2023  

DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DAS POUPANÇAS a 7 de Setembro de 2021

CRIPTOMANIA: INSUFLADA PELOS BANCOS CENTRAIS ? de 5 de Janeiro de 2018



domingo, 12 de maio de 2024

DIVISA DIGITAL DOS BRICS JÁ FOI ANUNCIADA; RESTA IMPLEMENTÁ-LA

 No domínio da guerra monetária, que se sobrepõe ou coalesce com a guerra financeira, de sanções económicas e de guerra híbrida, com focos de guerra aberta na Ucrânia e em Gaza, sobressai a crescente de-dolarização. 

Este processo carece de explicação para se compreender o significado de uma nova moeda, emitida e garantida pelos BRICS. Com efeito, a existência de uma divisa de um país (os EUA) como detentor da moeda de reserva mundial (o Dólar US) confere a este uma efetiva capacidade de tirar partido (abusivo) deste privilégio. No caso do dólar, o privilégio consistia em que todos os países, fossem eles ricos ou pobres, amigos ou não dos EUA, tinham de possuir em reserva dólares, pois as principais mercadorias, que se têm de negociar ao nível mundial, como combustíveis fósseis ou as matérias-primas estratégicas, são exclusivamente negociadas e transacionadas em dólares. Isto foi permitir que os EUA estivessem - décadas a fio - em défice, nas suas balanças comercial e do orçamento Federal, sem daí ocorrer uma catástrofe em termos de economia interna dos EUA e sem perder a possibilidade de efetuar toda a espécie de trocas comerciais internacionais. Esta situação simplesmente seria inacreditável, para um país - grande ou pequeno - que tivesse muitos anos seguidos de défice comercial e orçamental. Qualquer país, que não os EUA, iria entrar em colapso a breve prazo, pois os capitais internacionais, financeiros e outros, iriam  fugir de qualquer negócio com um país tecnicamente falido. É, porém, exatamente este o estado dos EUA, de bancarrota, com 34 triliões de dívida acumulada*, uma soma astronómica que nunca poderá ser paga no futuro. 

Ora, o dólar não apenas permitiu a situação constante de défice, ou seja, de dívida que se vai acumulando, perante credores internos ou exteriores à economia dos EUA, como foi utilizado pelo poder político como uma arma, como um instrumento de guerra, para efetuar sanções. Estas sanções são atos de guerra económica, sem qualquer legitimidade. Porém, como os EUA são ainda a potência dominante, podem impor a países terceiros que «cumpram com as sanções», ditadas por eles, americanos. Na ausência de cumprimento, eles podem provocar o estrangulamento económico, quando não uma guerra, contra esse país recalcitrante. Este estado de coisas impulsionou muitos países do Terceiro-Mundo a se aproximarem e a pedirem a adesão aos BRICS, pois nestes não existe exigência de conformidade com o poder mais forte, em termos do sistema económico ou político vigentes. Ou seja, um país, ao aderir aos BRICS, pode continuar a economia que tinha antes, o mesmo regime político, as mesmas instituições, sem que isso seja sujeito a interferência de outros membros, nomeadamente, dos mais fortes. 

Por outro lado, a criação de moeda que não seja pertença de nenhum país, como será a dos BRICS, terá como consequência que esta será sobretudo uma intermediária nas trocas, já não necessitando de complexas ponderações entre as divisas do país A e do país B, para determinada transação, ou mesmo, avaliações do valor direto das mercadorias, sendo trocadas sem intermediação de dinheiro, mas com ajustamentos efetuado em metais preciosos, para cobrir o diferencial entre as respetivas divisas desses países. Ambas as modalidades têm sido praticadas, com resultado satisfatório, por países que não desejam estar sujeitos à chantagem do dólar. Com efeito, a troca envolvendo dólares, vai implicar o escrutínio de um banco americano (nomeadamente dos bancos gigantes de Wall Street). Pode, por isso, o poder político dos EUA decretar sanções eficazes (até agora) contra um país (por exemplo, o Irão), pois as trocas, sendo feitas usando o dólar, passam por um processo de controlo e verificação duma empresa financeira americana, situada em solo americano e sob jurisdição americana. 

Agora, o tipo da divisa emitida pelos BRICS, ainda ninguém sabe qual será. Tem-se especulado que será um produto inteiramente digital, com as características de Divisa Digital Emitida por Banco(s) Central(ais); é muito provável que esta divisa seja adossada ao ouro,  a outros metais preciosos, a combustíveis,  e a outras matérias-primas.

A questão da convertibilidade direta em ouro, como existiu no passado, não se irá colocar, creio: Não me parece que os BRICS queiram fazer do ouro (novamente) a garantia de valor das trocas, mesmo que usando uma divisa em papel ou eletrónica, enquanto forma cómoda de substituir o ouro. 

Mas, o que é certo, é que esta nova divisa internacional irá satisfazer uma necessidade ao nível das grandes trocas entre os Estados ou entre organizações públicas ou privadas. Com efeito, as trocas usando o dólar como moeda de reserva estão sujeitas a imprevistos, tanto no domínio geopolítico, como económico: Quando um país faz um acordo em dólares num contrato de longo prazo e a sua divisa nacional se desvaloriza de maneira significativa, em relação ao mesmo dólar, esse contrato pode tornar-se muito desfavorável para este mesmo país. 

Agora, a estabilidade de longo prazo conferida pela nova moeda dos BRICS, irá com certeza minimizar as hipóteses de tal acontecer. Note-se que a flutuação de divisas, duma em relação às outras, não corresponde necessariamente a um melhor desempenho económico do país A, em relação ao país B: Pode muito bem haver contextos que provoquem a descida acentuada de uma divisa, como fatores económicos ou políticos, ou outras circunstâncias no contexto mundial, que escapam largamente ao controlo dos países em causa. 

A existência da nova divisa internacional, embora não assumindo oficialmente o papel de moeda de reserva, irá permitir maior estabilidade nos preços, nos contratos e nas trocas internacionais. Isto, em si mesmo, vai ser muito importante para o desenvolvimento global. Vai haver condições para que as trocas sejam mais favoráveis para os países pobres, que têm como quase único meio de obter divisas a exportação de matérias-primas. 

Não se pode deixar de falar do destino do dólar, neste contexto: O dólar será, provavelmente, mantido como divisa dos EUA e, nesta base, será utilizado e trocado de acordo com as necessidades do mercado: Como os EUA não vão deixar de ter uma dimensão considerável no domínio industrial, comercial e da inovação, não será de espantar que o dólar continue a ser usado numa fatia das trocas financeiras e comerciais internacionais. O que vai ser diferente, é que deixará de haver exclusividade: Já não haverá qualquer «obrigatoriedade» em comprar no mercado internacional, em dólares (a países, que não sejam os EUA) os combustíveis ou  os cereais, etc. 

A libra foi, durante cerca de século e meio (do início do século XIX, a meados do século XX), a moeda de reserva e comercial. Foi destronada pelo dólar, mas continuou a ter um papel nas trocas internacionais. 

A nova divisa dos BRICS não será a «panaceia», mas terá a virtude de permitir que as trocas se efetuem de modo mais equilibrado, que não haja nenhum país capaz de impor sua «lei», só pelo facto de ser emissor da moeda com o papel de reserva mundial. Também haverá maior dinamismo no comércio. Em particular, irá desaparecer a flutuação excessiva entre divisas, eliminando assim um risco que pode inviabilizar um negócio que se pensava ser rentável.


                              O conteúdo do vídeo acima, de Lena Petrova, é muito esclarecedor. 
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PS1: No vídeo seguinte, duas opções de criação de uma divisa dos BRICS são detalhadas:
https://www.youtube.com/watch?v=PF65jyA6qXc

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*A propriedade dessa dívida é a 80% propriedade do fundo de investimento da segurança social e outras entidades coletivas dos EUA.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O SÉCULO DE OURO, LITERALMENTE

 A de-dolarização* vai continuar ao longo do ano de 2024. Ela atinge agora um marco histórico. As reservas de ouro detidas pelos bancos centrais relativamente a Obrigações do Tesouro dos EUA, alcançaram a marca dos 50% pela primeira vez.

Gráfico nº1: Valor das reservas oficiais (Bancos Centrais) em ouro relativamente às Obrigações do Tesouro denominadas em dólares


Sendo a China a segunda maior detentora de dívida americana, sob forma de Obrigações do Tesouro dos EUA, a mudança na composição de suas reservas em ouro e em ativos denominados em dólares é muito significativa. Note-se que os valores oficiais em toneladas de ouro, contabilizadas no Banco Central Chinês (o PBC), são considerados por muitos observadores muito abaixo da realidade, pois existem grandes quantidades de ouro nas mãos do Estado, que não estão incluídas na contabilidade do referido banco central. 

Gráfico nº2:  China - o valor dos ativos em ouro em relação aos ativos de Obrigações do Tesouro dos EUA


A acumulação de ouro pelos BRICS, comparada com os ativos em ouro dos EUA e da União Europeia, vai aumentando, sem nenhum sinal de abrandamento. Alguns pensam que esta acumulação de ouro indica que será lançada no futuro próximo uma moeda comum, sustentada pelo ouro. Mas, outros observadores pensam que os BRICS, em vez de adotarem uma moeda comum, diretamente ancorada ao ouro, vão continuar as trocas em divisas nacionais respetivas, servindo o ouro como parâmetro de ajustamento nas trocas bilaterais. De qualquer maneira, o ouro nos BRICS  já desempenha um papel relevante no sistema monetário em construção.

Gráfico nº3: Ativos em ouro nos bancos centrais dos BRICS, em proporção com os ativos em ouro dos bancos centrais dos EUA e da União Europeia.

De uma forma ou de outra, o ouro está a ser reintroduzido no sistema monetário mundial. Os BRICS não são os únicos: o Banco de Compensações Internacionais estabeleceu, há vários anos, que o ouro iria ser considerado  como «Tier 1», em todo o sistema bancário (bancos centrais e comerciais). Isto significa que os Estados, as empresas e as pessoas podem usar o ouro como colateral, da mesma forma como usavam as obrigações soberanas.

(Gráficos copiados do site seguinte  

https://kingworldnews.com/eric-pomboy-what-is-happening-in-the-gold-market-is-stunning/   )

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* NB: A de-dolarização é sobretudo uma recusa em deter ou em comprar dívida do tesouro dos EUA («treasuries»). Quando um banco central vende «Treasuries», não importa por que motivo, está a adquirir dólares em troca dessas treasuries. Assim, a procura de dólares no mercado mundial das divisas aumenta pontualmente. Mas, como os EUA estão falidos, o que acontece direta ou indiretamente, é a emissão de mais dólares, para cobrir essa operação de resgate de treasuries. Ao fazê-lo, o banco central americano (a FED) está diluindo o valor do dólar. Por outro lado, ser possuidor de dólares, equivale a  ser sujeito a sanções e chantagens pelo governo dos EUA. Estas, apenas se podem efetivar através da manipulação do dólar e das contas denominadas em dólares, possuídas por entidades estrangeiras. Quem não esteja disposto a isso, mesmo sendo aliado dos EUA, vai evitar converter os seus excedentes em Treasuries e vai preferir algo que não possa ser instrumentalizado contra o próprio detentor: é o caso de barras de ouro. 

domingo, 17 de dezembro de 2023

THE GREAT TAKING; A GRANDE TOMADA - Documentário de David Webb

Uma importante revelação sobre como funcionam realmente os sistemas bancário e financeiro, envolvendo as nossas poupanças, as pensões, as contas bancárias, etc. Em caso de falência sistémica, nada disto restará. Provavelmente, grande parte dos bens imobiliários e outros, também serão submetidos a transferência, sem proteção efetiva aos atuais proprietários. Muitas pessoas, mesmo que não estivessem em dívida, de repente ficam sem nada.

 Estudem este vídeo e o livro, pois dão informação que nos podem ajudar a desenhar estratégias* pessoais e familiares, para preservar o essencial, aquando do próximo grande colapso, que já está em marcha.



 David Webb desmascara o sistema que os banqueiros centrais instalaram para se apropriarem de todos os bens, da gente toda.
O documentário é acompanhado por um livro com o mesmo título: The Great Taking

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(*) A tempestade que se aproxima será completamente inédita, em termos de experiência humana. Os que se mantêm na ignorância serão varridos, quer sejam «ricos» ou «pobres». O que vai ser decisivo é ter acesso a fontes primárias de abastecimento (morar no campo, em zona agrícola) e ter uma rede de verdadeira solidariedade (sobretudo a família). As lutas políticas serão cada vez mais agudas e podem conduzir vários países à guerra civil. A fome e o medo levarão pessoas a cometer atos hediondos. A brutalidade da repressão ao serviço dos poderosos não conhecerá qualquer limitação da lei ou do respeito humano. Quem está na ilusão, não pensará abrigar-se: depois, já será demasiado tarde.

(**) Pode ativar as legendas automáticas em inglês para melhor compreensão.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A CORRIDA AO OURO AINDA AGORA COMEÇOU

 


Seria difícil alguém contradizer Lena Petrova. Ela fundamenta rigorosamente cada afirmação que faz. Independentemente do «recado publicitário» no fim do vídeo,  são apresentados vários indicadores por Lena Petrova. O sentido destes indicadores é perfeitamente claro. 

A corrida ao ouro é impulsionada por bancos centrais, sem dúvida a China e outros países do oriente, ou ligados aos BRICS, mas também do campo ocidental, como é o caso da Polónia. 

Os bancos centrais compram ouro em quantidades tais, que o ouro minerado, anualmente, não chega: Isto significa que o ouro guardado em cofres, está a ser descarregado no mercado por uns e adquirido por outros. Penso que os primeiros são -sobretudo- os bancos comerciais do Ocidente. Estes têm de fazer face à subida rápida dos juros das obrigações e de cobrir suas perdas em apostas feitas nos mercados de derivados. Estes mercados são dos mais opacos em toda a finança, pois suas operações executam-se, geralmente, sem serem incluídas nos balanços das entidades bancárias. 

As grandes fortunas privadas e os "hedge funds", estão - pelo contrário - a imitar os bancos centrais orientais. Não se pode querer sinal mais claro de estarmos próximo dum ponto de inflexão no sistema monetário internacional. 

O que me parece mais provável, é os bancos centrais ocidentais «levarem ao tapete» suas respetivas divisas e tentarem, depois ou em paralelo, o «passe de mágica», da introdução das divisas digitais emitidas pelos bancos centrais (CBDC). 

Isto não vai resolver nada: Quanto muito, vai dar a ilusão ao público não-esclarecido, de que se entrou num novo paradigma. Na realidade, estão a camuflar as dívidas incorridas pelos Estados e outras entidades. O incumprimento destas dívidas e diversas obrigações irá sobretudo impactar os pobres e as classes médias. A classe financeira e os Estados entrarão em incumprimento, mas farão o jogo de apagar ou baralhar as pistas. 

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PS1 (15/12/2023): Dentro de pouco tempo, vamos ver a FED anunciar a inversão da política de subida das taxas de juro - ou seja - de restrição do crédito. Irá iniciar novo ciclo de expansão monetária, ou «Quantitative Easing»: A retoma da impressão monetária irá aumentar a pressão inflacionista. 

Em ambos os casos (restrição ou expansão do crédito), a economia real irá sofrer, com terríveis consequências para todos nós (ver AQUI , ou AQUI , entre vários outros artigos publicados).

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

DINHEIRO DEPOSITADO NO BANCO DEIXOU DE SER TEU

AQUELE QUE TE AVISA, TEU AMIGO É.

Lynette Zang põe as coisas a claro e com provas. Ainda estás a tempo de saber a verdade e de tomar as medidas que se impõem para tua salvaguarda.

Uma temporada de «bail in»* não está fora dos possíveis, tanto mais que os juros sobre as obrigações sofreram uma subida demasiado brusca, para a qual nem os bancos, nem as empresas estavam preparados. Não esqueçamos que uma política de juros ultrabaixos foi implementada durante longos anos, tornando possível uma acumulação recorde de dívida, em especial, das empresas. Estas dívidas têm de ser amortizadas e os juros das mesmas têm de ser pagos, tendo eles atingido um nível muito superior ao calculado inicialmente. Uma onda de falências é inevitável pois, simultaneamente, é patente a contração do consumo e da economia produtiva.  


.......................
* bail in: O «resgate interno»(= bail in) dá-se quando os depositantes veem parte dos seus depósitos tomados, para colmatar as perdas e dívidas incorridas pelos bancos.  Foi a situação que ocorreu em Chipre, em 2013. 

sábado, 21 de outubro de 2023

O DÓLAR PODERÁ SOBREVIVER; MAS O SISTEMA QUE O SUSTENTA ESTÁ CONDENADO


As pessoas estão condicionadas a pensar em termos de divisas-fiat*. Pensam que o dólar «sobe», em relação a outras divisas. Não compreendem que há uma descida geral do valor das divisas.

Porém, esta é que seria a maneira correta de avaliar e compreender a inflação. Se o preço de mercadorias sobe, isso significa que aumentam as unidades monetárias para comprar as mesmas quantidades desses bens. Portanto, cada unidade monetária - sejam dólares, euros, libras, etc. - perdeu parte do seu valor, perdeu capacidade aquisitiva.

A quantidade de dólares em circulação, no mundo inteiro, é enorme: Muitos deles, são criados fora do sistema americano: São resultantes de empréstimos em dólares, efetuados nos mercados internacionais, entre terceiros, não-americanos. Em todo o mundo, os bancos, quer os comerciais, quer os centrais, têm reservas de dólares-cash. Uma parte desses dólares, está sob forma de obrigações do tesouro dos EUA, as «Treasuries». Estas, recebem um pequeno juro; o que é melhor do que ficarem grandes somas de dólares à ordem, sem qualquer juro.

Nos últimos tempos, a de-dolarização manifesta-se por um excedente de venda de «Treasuries» sobre a sua compra, nos mercados internacionais. Este desfazer das obrigações do tesouro dos EUA pode ter causas diversas: Pode um país precisar de cobrir os seus défices comerciais, usando dólares em reserva. Pode precisar de pagar juros de dívidas contraídas em dólares, ou fazer pagamentos a diversas entidades. A não aquisição - pelos particulares ou por Estados terceiros - das Treasuries postas à venda no mercado internacional, obriga a que o Tesouro americano ou o Banco Central (a Fed) as adquiram. É um facto que - devido ao estatuto de divisa de reserva mundial - os EUA podem fabricar novos dólares (sob forma digital, muito maioritariamente) para cobrir as despesas enormes do orçamento americano e também comprar Treasuries e pagar o juro das mesmas.

Porém, este jogo não poderá continuar indefinidamente. Ele é limitado, pelo menos, por dois fatores: A confiança dos compradores/detentores de dólares e de Treasuries, por um lado; por outro, chega um ponto em que são necessárias somas incomportáveis do Orçamento Federal para pagar os juros das Treasuries e a própria dívida. Não há real opção da Fed deixar de comprar Treasuries. Ela faz isso para sustentar o seu valor que, no caso contrário, desceria a pique, enquanto os juros correspondentes subiriam às nuvens.

O dólar perdeu cerca de 97% do seu valor, desde que a Reserva Federal foi criada, em 1913. Outras divisas perderam ainda mais, algumas deixaram de existir; muitas vezes, seu valor foi completamente tragado por inflação galopante. O dólar é apenas uma divisa que conserva ainda algum valor, mas somente em termos relativos às outras divisas. Estas, têm um comportamento ainda pior que o dólar.

Os défices monstros dos EUA, em termos comerciais e do orçamento de Estado, desencadeiam produções astronómicas de dólares. Ultimamente, foi atribuída a soma de cem biliões de dólares (40 biliões de $ para Israel e 60 biliões de $ para a Ucrânia ), em excesso dos 33 triliões da dívida pública dos EUA. Até agora, os dirigentes dos EUA têm acumulado dívida de forma totalmente impune. Porém, estas políticas de hiper endividamento irão brevemente tornar-se hiper inflacionárias: É que as pessoas, os Estados e as empresas deixam de ter confiança na divisa dólar e, por extensão, nos veículos financeiros denominados em dólares.

O ouro e a prata atingiram, esta semana, novos máximos e, provavelmente, irão subir muito mais. Mas, quando pensamos assim, estamos a pensar no preço dos metais preciosos em termos de divisas. Na verdade, os metais não "sobem" nem "descem", não pesam mais, nem menos, não mudam de estado da matéria, nem de propriedades físicas. Deveríamos - pelo contrário! - cotar as divisas em termos de ouro, ou de prata. Um grama de ouro custa 63,7 € hoje; o mesmo grama, há 5 anos, custava 39,8 € . Na verdade, não foi o ouro que subiu, foi o euro (ou qualquer outra divisa) que desceu, que perdeu capacidade aquisitiva. Os metais preciosos são apenas um indicador, entre outros, da perda de valor das divisas fiat.

Um sistema assim, não pode continuar por muito mais tempo. A taxa verdadeira de inflação é muito mais alta que as percentagens divulgadas nos media e nas estatísticas oficiais.

É nestas ocasiões, que costumam surgir as guerras. As guerras têm sempre causas económicas (embora também tenham outras, claro). Uma das situações económicas mais comuns, é os dirigentes estarem a braços com uma grande crise e não saberem o que fazer, para ocultar sua responsabilidade nela. Então, lançam os seus países para a guerra, o que «soluciona» as dificuldades, desviando a atenção do povo para a(s) ameaça(s) externa(s). Muita gente não vê que a miséria do seu país resulta das políticas do governo.

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*Divisas-fiat são divisas que só estão sustentadas pela crença do público na palavra das autoridades, do governo.


PS1 (28/10/23): Jim Rickards faz uma avaliação interessante da situação da economia dos EUA e mundial. 

https://www.youtube.com/watch?v=WF0arRcGNrg

terça-feira, 19 de setembro de 2023

MANOBRAS SOBRE COTAÇÃO DO OURO E CRISE DO IMOBILIÁRIO DE ESCRITÓRIOS [Pierre Jovanovic]



 A media mainstream e o lixo internet- que costumam encher os ecrãs para satisfazer a procura dum público sempre ávido de noticiário económico e financeiro- são capazes de (quase) anular estas notícias. Felizmente, existem alguns jornalistas independentes e corajosos, como Pierre Jovanovic. Ele faz revistas de imprensa totalmente esclarecedoras e baseadas sobre os dados da imprensa mainstream, em grande parte. 
- Então qual é a vantagem delas? É que com estes resumos, ficas com uma panorâmica do que se passa. Isto não está bonito de se ver, logo os jornalistas e os «analistas» vendidos ao capital, fazem constantes piruetas verbais para nos convencer de que «as coisas, afinal, não estão assim tão mal como dizem!»
 No entanto, o BCE - e muitos outros bancos centrais - vão comprando ouro às toneladas, com a maior discrição. É sinal de que sabem muito bem que a inflação vai acelerar e muito: Eles não têm outra solução, senão acelerar a impressão monetária. Caso contrário, os Estados não poderiam dar a ilusão de serem solventes! 
Muitos outros tópicos são cobertos por esta revista de imprensa de Pierre Jovanovic. Não deixe escapar esta oportunidade de se informar do que está a acontecer, realmente!

domingo, 16 de julho de 2023

CRÓNICA ( Nº15) DA IIIª GUERRA MUNDIAL - FIM DE REINO DO DÓLAR

                             


Temos de aceitar uma vez por todas que, apesar da guerra na Ucrânia ser uma carnificina como não houve muitas, o cenário principal desta Terceira Guerra Mundial joga-se em planos muito diferentes do mero confronto militar. É um confronto total: Nada mais óbvio, a meu ver, que a luta de uns (BRICS e associados) para arrancarem a hegemonia do dólar, por um lado. Por outro, os EUA e seus aliados, a fazerem tudo para guardar essa hegemonia, incluindo - mas não exclusivamente - através da guerra «cinética» ou dita convencional, fazendo pairar a ameaça de guerra nuclear.

 (Ver minhas crónicas anteriores: Crónica Nº13 da IIIª GUERRA MUNDIAL)

Li alguns artigos (ver links em baixo) e tentei resumir, neste escrito, o que aprendi com eles.



Alasdair Macleod chama-nos a atenção para o anúncio - feito pela Rússia - de que estaria para breve uma nova divisa, da responsabilidade dos BRICS, que seria apoiada no ouro. Os media ocidentais, tentaram - como de costume - ignorar ou minimizar a importância deste passo, anunciado para ser oficializado dentro de tempo muito breve, na cimeira dos BRICS de Johannesburg. Os BRICS,  entretanto, vão-se alargando, a sua estrutura está a fazer a junção com outras instituições da globalização «alternativa», a Organização de Cooperação de Xangai e a União Económica Euroasiática. Trata-se - nada menos - da maioria da Ásia (incluindo países do Médio-Oriente), além de países de África e América Latina. Ao todo, serão uns 61 países (se a minha contagem está certa), a formarem este novo bloco, em torno do núcleo inicial dos BRICS.

A segunda peça, é de autoria de Marcel Salikhov, o diretor do Centro de Peritagem Económica da Escola Superior de Economia de Moscovo, inicialmente publicada no Valdai Discussion ClubEste documento lê-se como sendo uma planificação estratégica para acabar com a hegemonia do dólar. O autor di-lo, sem esconder os objetivos, com a segurança de alguém que sabe ter apoio e colaboração dum conjunto de especialistas monetários de vários países. Estes países constituíram a «Grande Aliança Informal»  que se alargou e consolidou, perante a constatação de que os EUA e seus vassalos não hesitavam em deitar pela borda fora as «regras internacionais», como as do FMI e do Sistema Monetário Mundial (Por ex.: O estatuto especial dos bancos centrais e dos seus ativos), ou a utilização de sanções unilaterais como meio de chantagem política sobre regimes não afetos aos senhores hegemónicos (Aliás, indo contra o espírito e a letra dos tratados da ONU e da OMC).  

Quem quiser, pode compreender -pela leitura do artigo - quais os passos propostos para a derrota do dólar enquanto instrumento bélico, usado para subjugar os Estados, exercendo sobre eles uma chantagem permanente, com o abuso do seu estatuto de «moeda de reserva».

Finalmente, o artigo do jornal on-line britânico Off-Guardian, por Riley Waggaman, correspondente em Moscovo. O rublo digital nasceu oficialmente, tendo a Duma (o parlamento russo) votado a lei na Terça-feira passada (a 11 de Julho de 2023). Note-se - de passagem - o silêncio, a falsa indiferença da media corporativa

O que me parece importante fazer sobressair é que este lançamento do rublo digital não é desgarrado, mas coordenado com o lançamento sob forma digital duma divisa própria dos BRICS. A China, por sua vez, já possui instrumentos técnicos para lançar o Yuan digital em grande escala. Já o fez, a nível experimental, em várias províncias.

Quem está imbuído de conceitos keynesianos, ou deles derivados, tem tendência a desprezar o papel monetário do ouro. Porém, agora, o ouro surge «em todo o seu esplendor». Qualquer país que queira aderir ao «novo clube», quer use um nome novo, ou o nome tradicional da sua divisa própria, precisa de ter um certo grau* de cobertura em ouro nas suas reservas bancárias. Isto tem  a sua lógica: Os países podem fazer comércio entre si usando moedas nacionais respetivas; mas, as trocas deverão ser periodicamente ajustadas pois, por coincidência somente, o valor das exportações dum país, cobriria exatamente o valor das importações do outro. 

[* Não se trata de convertibilidade automática em ouro, dum padrão-ouro como existiu no séc. XIX, até à Iª Guerra Mundial (1914-1918): Nessa época, as notas de banco eram literalmente certificados de ouro. O seu possuidor tinha direito de as trocar pela quantidade correspondente em ouro ao balcão dum banco comercial.]

O resultado de os membros, e da própria organização dos BRICS alargada, terem a sua divisa comum e as divisas digitais dos vários países (rublo, yuan, ...) com o «backing» do ouro, é que esvaziam as moedas digitais  que os países ocidentais pretendem lançar como versões digitais das divisas «fiat». Estas últimas, não são garantidas por nada, a não ser pela «confiança» nos bancos centrais e nos governos que as emitem!


ARTIGOS EM QUE ME BASEEI:

https://www.goldmoney.com/research/the-bell-tolls-for-fiat

https://www.informationclearinghouse.info/57678.htm

https://off-guardian.org/2023/07/15/the-digital-ruble-its-finally-here/


PS1 : Nomi Prins, em entrevista ao KWN, reforça os aspetos da mudança tectónica, referida no meu artigo acima. Veja e leia:

https://kingworldnews.com/nomi-prins-just-warned-what-is-about-to-be-announced-will-shock-the-world/



terça-feira, 25 de abril de 2023

A economia global entre Caríbidis e Cila

 



Os bancos centrais andaram durante muito tempo a jogar com a quantidade de dinheiro (aqui, entenda-se divisas fiat). Inicialmente, puderam iludir as pessoas, incluindo economistas sofisticados, de que se tratava de suprimir as oscilações periódicas da economia, dando aos mercados a quantidade de dinheiro que eles precisavam para não entrarem em deflação.
 Segundo a ortodoxia dos banqueiros centrais e dos governos ocidentais, a existência de um «pouco» de inflação era benéfica e saudável. Mas, esta inflação acontecia num contexto de atividade industrial muito deprimida, após a grande crise financeira de 2008.
 Depois, baixa ou alta, a inflação é trituradora dos rendimentos das pessoas, principalmente dos assalariados e pensionistas. O aumento do custo das coisas básicas e elementares era muito maior do que de coisas que se podem considerar «não essenciais». 
É o rochedo chamado «Cila», que representa a inflação. Os turbilhões na proximidade do rochedo, iam tornando a economia cada vez mais deprimida, sobretudo no que toca aos investimentos produtivos, por oposição aos especulativos. 
O resultado de se lançar «dinheiro fiat» (sob forma eletrónica, principalmente) para os mercados, acentuava os redemoinhos, perto de Cila. Não resolvia a questão de fundo: estimular a produção de bens e serviços e não as atividades especulativas (o casino das Bolsas).
Na tentativa de manter o «status quo» e de não prejudicar os ricos detentores de grandes empórios financeiros (Banca comercial, fundos de investimento...), vieram com a falaciosa teoria de que aqueles «criavam riqueza». Na verdade, ao apostarem na financeirização, desencaminham a riqueza. Os capitais investidos em especulação financeira não participam realmente em atividades produtivas da economia. 
Mas, depois de 2008, os banqueiros centrais e os governos, fingiam que acreditavam nesta teoria, para verter somas abismais aos banqueiros que tinham sofrido perdas. Estas perdas eram expectáveis, pois eles tinham jogado no «alavancar» dos fundos que geriam. 
O que aconteceu foi aquilo que qualquer pessoa com bom-senso poderia prever: Em vez de investirem, eles próprios, ou de emprestarem o dinheiro recebido para crédito à produção, foram aparcá-lo em contas na FED ou noutros bancos centrais, que forneciam à banca comercial juros muito pequenos, mas sem risco. Outra parte do dinheiro recebido pelos bancos, foi para jogar na bolsa (incluindo a auto-compra das ações).
Como era inevitável, a inflação monetária e o estímulo de atividades especulativas, fizeram aumentar a massa monetária, atingindo extremos tais, que os capitais disponíveis globalmente eram, pelo menos, 20 vezes o PIB mundial. Ao certo, não sabemos, porque uma parte importante desses capitais está investida em derivados,  instrumentos que não são registados nos balanços de instituições de crédito, mas que pesam na solvabilidade destas.
A subida dos juros de referência pela FED (seguido pelos outros bancos centrais ocidentais), implicava o aumento do custo do crédito e a diminuição correlativa do valor das reservas. Os bancos comerciais têm em reserva, principalmente, obrigações do tesouro do seu próprio país ou de outros (uma obrigação vale tanto mais quanto o seu juro for mais baixo). 
Os 4 bancos que faliram recentemente nos EUA, assim como o Crédit Suisse (um banco «sistémico»), não conseguiram corrigir a tempo o desequilíbrio causado pela perda do valor dos seus ativos em reserva. Caríbidis será o nome simbólico da enorme parede de pedra; o «rochedo» das taxas de juro crescentes e as consequências nefastas para as instituições bancárias, obrigadas - por lei - a ter parte das reservas em obrigações (bonds) do Tesouro. 

A expressão proverbial, recorrendo à mitologia grega, diz que alguém (ou instituição) «vai de Caríbidis para Cila», para exprimir que ambas as alternativas vão desembocar no naufrágio, ou no desastre total. É, portanto, fútil e perigoso nos mantermos dentro dos parâmetros dos que querem ir de Caríbidis para Cila, ou vice-versa.

A «solução» dos banqueiros e dos oligarcas é a de causarem o máximo de perturbação na economia, na economia produtiva, para as pessoas - desesperadas -se renderem à «hidra de sete cabeças» ou outros monstros, que são as «moedas digitais emitidas por bancos centrais» (CBDC)
A solução para a gente comum, os não beneficiários do casino da finança globalista, é completamente diferente: Passa por uma reforma do sistema monetário mundial, onde não exista uma moeda de reserva enquanto tal, mas onde as moedas nacionais sejam usadas nas trocas. Os diferenciais, serão saldados em ouro ou noutro metal precioso (Prata, Paládio, Platina). 
Assim sendo, não haverá nação, por mais poderosa que seja, que possa impor-se às outras, como têm feito os EUA. O seu domínio em todas as transações em dólares, deu-lhes a possibilidade de confiscarem importantes somas e imporem sanções TOTALMENTE ILEGAIS. São atos de pirataria financeira, que têm afetado negativamente as relações comerciais entre países. Aliás, esta é uma das principais causas de haver muitos países, aliados dos EUA, a quererem entrar para os «BRICS».