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segunda-feira, 12 de maio de 2025

O SUICÍDIO DA UNIÃO EUROPEIA


Agora é mais claro do que nunca: A Comissão Europeia de Bruxelas, assim como a maioria dos governos nacionais dos países que compõem a União Europeia, formam um conluio de burocratas. Quer sejam eleitos pelos respetivos povos, quer não, consideram-se «titulares» dos cargos, do mesmo modo como os aristocratas, no passado, consideravam que seus títulos e os privilégios que lhe estavam associados lhes eram devidos. Ou, talvez como os aparachiks soviéticos e dos restantes países dos Pacto de Varsóvia se consideravam elite, interpretando a vontade do proletariado, exercendo - em seu nome - uma gestão da coisa pública de tal modo aberrante, que os regimes foram para o colapso.

Pois a União Europeia deve ser vista sob o mesmo prisma. É uma oligarquia de políticos, homens e mulheres de negócios e de burocratas. Esta reduzida casta dirigente não é muito diferente da nobreza parasitária, ou da mais recente casta, conhecida por «nomenklatura».

No quotidiano ou nas grandes questões, são sempre eles que decidem: Seja na Comissão de Bruxelas, nos Conselhos de Ministros Europeus, ou no Parlamento Europeu. Quase nunca existe um input claro e direto da cidadania europeia, a qual é arredada dos mecanismos de debate e de decisão. Nos raríssimos casos em que há apelo à decisão popular, caso dos referendos, veja-se o que fizeram com os votos desfavoráveis e maioritáros de várias nações (Dinamarca, Irlanda, Holanda, França...), aquando dos referendos sobre Maastrich e sobre a Constituição Europeia.

A tomada de posição desta casta, perante o trágico conflito na Ucrânia, tem-se pautado por um belicismo exacerbado, extremista, contra a Rússia. Porém, o que tem feito a casta não foi nada para favorecer os ucranianos, visto que tudo tem feito para prolongar a guerra, onde milhões de russos e ucranianos morreram e continuam a morrer. Quando Boris Johnson, a mando de Biden, foi dissuadir Zelensky de ratificar o acordo com a Rússia em Março-Abril de 2022 em Istambul, a generalidade dos eurocratas aplaudiu, entusiasta.

A pose belicista dos dirigentes contrasta com a postura mais cautelosa das populações: Há uma insatisfação profunda e crescente, com a forma como a UE e suas figuras principais se têm comportado.

Sabemos que existe uma raiva patológica anti-Rússia, avivada por setores dos países ex-membros do Pacto de Varsóvia. Mas nestes  como noutros países-membros da UE, tem havido um condicionamento massivo, originado nos círculos dirigentes da OTAN, dirigido às próprias populações. «Se criticas os governos da UE é porque és putinista». Esta exclusão e agressão ideológica de uma parte da cidadania, porque ela não partilha o ponto de vista dominante, é já em si mesma, um sintoma claro de deriva autoritária. Mas as coisas não ficaram por aqui.

A deriva autoritária passou de condicionamento psicológico a instrumentalização do sistema financeiro europeu e, mesmo, das poupanças dos cidadãos. O ECB foi instrumentalizado, claramente, para apressar a transição para o euro digital (CBDC). A decisão do ECB foi coordenada com o anúncio recente de Van Der Leyen, segundo o qual a UE irá criar um «fundo para o rearmamento», utilizando as poupanças de milhões de pessoas, em maioria, reformadas que se vêem assim forçadas a subsidiar o complexo militar industrial europeu com as suas poupanças. Não haverá  escapatória: impossível  esconder as notas de euros "debaixo do colchão", visto que já não haverá euros em papel, somente euros digitais e programáveis.

Se um livro descrevesse a UE no seu estado atual, há uns vinte anos atrás e fosse apresentado como obra de futurologia eu diria, se a tivesse lido nessa altura, que a obra tinha imaginação, mas - enquanto previsão sociológica e política - era um bocado inverosímil.

É preciso, de vez, abandonar a ideia de que as elites estão no poder para nos servir, para concretizar aquilo que nós pensamos ser justo e positivo. Para mim, estas elites são duplamente criminosas, pois desbaratam o capital acumulado, não apenas no sentido próprio, mas também no sentido simbólico.

Ou pior ainda; quem vê as aberrações, os crimes e as conivências monstruosas de tais «democratas» europeus, pode confundir a essência da democracia com este triste espetáculo. Muito perigoso, pois só pessoas cultas e bem informadas, conseguem fazer a destrinça entre a prática democrática autêntica e o autoritarismo travestido de «democracia», que nos oferecem.

As derivas autoritárias proporcionam o desencanto com a democracia e têm sido o esteio para fascismos, tanto do passado como do presente. As lideranças da UE desbaratam o nosso futuro. Só seremos povos livres e soberanos neste espaço europeu, quando soubermos fazer o que seja preciso, para acabar de vez com esta UE falhada, tão falhada como a URSS.

Veja o vídeo abaixo, com o excelente diálogo entre Yanis Varoufakis e Glenn Diesen: New Economic World Order & Europe's Suicide

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Foi necessário um enorme apagão - que afetou sobretudo os dois países ibéricos - para se saber a enorme leviandade dos decisores da política energética da UE, castigando os cidadãos, as empresas e portanto, afetando o desenvolvimento de todos os países da Rede Elétrica da UE. O lobi "da energia renovável " e o apagão ibérico

quarta-feira, 23 de abril de 2025

O colapso do dólar não é uma hipótese; é um processo em curso


Oiça e veja esta conferência por Taylor Kenney:



Num contexto mais geral da guerra comercial e do papel do dólar na arquitetura do sistema monetário global, uma conversa entre Varoufakis e Jeffrey Sachs:


Veja e oiça este vídeo com Andy Schctman

https://youtu.be/KBJN5Ik0eO8?si=_UG0ymbZIJKNUpw2

domingo, 14 de novembro de 2021

BRINCANDO COM O FOGO, ou como se liberta o génio mau da inflação

 É da natureza dos bancos centrais, em especial da FED, estarem sempre numa posição inadequada, contra-cíclica, em relação à economia. Por exemplo, agora estão com um atraso de muitos meses a tentar a viragem na política de «dinheiro fácil» através de «tapering», que é a desaceleração da impressão monetária, mas não a supressão da mesma. Esta impressão monetária não resolve nenhum problema real, verdadeiro da economia. Com efeito, o aumento da massa monetária total, ou em circulação, vai estimular a perceção dos intervenientes nos mercados, de que há maior riqueza, maior disponibilidade para gastar. Mas não se produziram mais bens nem serviços, não houve acréscimo de autêntica riqueza. É um mecanismo essencialmente psicológico, como, aliás, são de base psicológica muitas das movimentações que ocorrem nas economias. 

A razão pela qual os bancos centrais, em especial os «ocidentais», fazem sistemáticos erros de avaliação da situação económica mundial, é que funcionam com modelos lineares. Baseiam-se nestes modelos e numa visão teórica neokeynesiana. Assim projetam eles as tendências e baseiam o fundamental das suas decisões. O problema com isto, é que tais projeções não colam com a realidade. Se a economia fosse uma verdadeira ciência (não é!), estaria sempre a reavaliar a validade de seus modelos, de suas projeções, incluindo os fundamentos e pressupostos sobre os quais se construíram tais modelos e projeções. 

A realidade é outra: A FED e todos os bancos centrais ocidentais, que lhes seguem as passadas, vão dar sempre prioridade aos conceitos teóricos, sobre a realidade dos factos no terreno. Em todas as crises, especialmente as mais graves,  pode-se notar esse desfasamento. Isso significa que os bancos centrais, em vez de criarem condições para o retorno à normalidade, suas intervenções têm o efeito oposto, o de aumentar a amplitude dos ciclos económicos. 

A recente afirmação de Jerome Powell, de que o surto de inflação era transitório e que, portanto, não haveria nada de fundamental a mudar no rumo decidido pela FED, ilustra claramente a inadequação da política da FED, a qual só pode ter por base uma inadequada visão da realidade, ela própria devida a modelos não apropriados, baseados em teorias parciais, ou defeituosas no fundamental. 

Veja como Mohamed El Erian, numa curta entrevista AQUI, destrói a narrativa emanada da FED e do seu presidente, ao dizer que esta crise foi logo caracterizada por inflação devida a escassez da oferta. Referia as disrupções dos mercados de matérias-primas, bens acabados e, mesmo, de mão-de-obra, resultantes da crise estrutural e de conjuntura - os lockdown a pretexto do COVID - que a exacerbou. Os elementos que El Erian refere estavam patentes, não eram elementos ocultos que somente podiam ser detetados após muitos meses. 

Porém, o que a FED e outros bancos centrais fizeram, com a sua impressão monetária levada ao extremo, foi exacerbar o problema, criando um efeito inflacionário do lado da procura, além e por cima do existente, devido à escassez na oferta. 

A inundação de liquidez nos mercados não veio salvar coisa nenhuma na economia produtiva. Veio apenas insuflar ainda mais as já muito grandes bolhas nas bolsas e em todos os ativos. 

Além disso, houve um súbito aumento de dinheiro disponível, na economia do dia-a-dia, com o dinheiro distribuído às pessoas para compensar as paragens de trabalho forçadas («helicopter-money»). Foi uma medida tornada necessária pelos lockdown, mas os lockdown não eram necessários! 


Assim se destapou a lâmpada de Aladino e deixou-se o génio malévolo da inflação surgir e crescer, com o risco de tudo devorar na onda hiperinflacionária.

A conclusão a que chego é que os bancos centrais são estruturas de poder que se têm pautado por uma política claramente favorável aos muito ricos, os multibilionários, embora tenham o discurso de cuidar da economia para o bem do maior número. 

Isto não pode surpreender alguém convicto da natureza depredadora, parasitária do capitalismo de hoje, com as enormes disparidades de riqueza, logo de poder. 

O diálogo AQUI entre Slavoj Zizek e Yanis Varoufakis demonstra-o: Não há capitalismo, no sentido clássico. Há um domínio dos muito poderosos donos de plataformas (Facebook, Amazon, Google, etc.) que possuem literalmente o campo todo, o chamado «mercado». Este deixou de ser propriamente um mercado, no sentido clássico do termo. Por isso, Varoufakis utiliza a expressão «tecno-feudalismo», outros usam outras expressões, mas vem a dar no mesmo: A realidade é que estamos numa nova era, onde nada é favorável aos pequenos capitalistas e aos trabalhadores, onde tudo está nas mãos de corporações gigantes, monopólios ou oligopólios, que tudo controlam.