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quarta-feira, 28 de maio de 2025

A FÍSICA DAS BOLHAS ESPECULATIVAS

 Desde já quero afirmar que há zero hipóteses da bolha do crédito não rebentar. A hipótese de ser desinflada suavemente, sem haver grandes cataclismos nos mercados e na economia mundial, é apenas um sonho que poderá servir para tranquilizar pessoas especuladoras e gananciosas, daquelas que costumam embarcar na narrativa mais fantasista, mas que satisfaz o seu insaciável  apetite por mais e mais lucro.

Então, qual é a física (e não a metafísica!) das bolhas especulativas?

- As bolhas não têm um substrato real, ou seja, são expansões de preços, de capitalizações bolsistas ou valorações nos mercados, que não têm por base um verdadeiro acréscimo de valor da coisa especulada. Quer sejam ações, títulos do tesouro, túlipas, quadros de artistas «na moda», objetos de coleção, ou outro veículo qualquer, quais são os fatores psicológicos* subjacentes? 


1º - A perceção de que um ativo está continua e persistentemente subindo de preço. Temos os exemplos das ações cotadas no NASDAQ, das cotações do Bitcoin e outras criptomoedas, etc.

2º - A perceção de que, devido à enorme procura de um certo item, este se torna mais e mais raro no mercado, quer isto seja verdade, quer não. Temos os exemplos do ouro e dos metais preciosos. No longo prazo, realmente, vai havendo menor quantidade de metal precioso, extraído das minas, ou por descobrir. Mas nos semi-condutores ou «chips» é diferente. Neste caso, há estrangulamentos causados por sanções e guerra comercial, mas ao nível da produção dos mesmos não há diminuição, apenas roturas nas cadeias de abastecimento.

3º - A perceção de que um pequeno investimento pode fazer a fortuna de qualquer um. Esta ilusão é muito difundida no público que se deixa seduzir pelas criptomoedas. Em geral, a procura  de ações já claramente sobrecotadas, o «panic buying», é motivada pelo receio de que «todos vão beneficiar e ficar mais ricos. Se eu perder a oportunidade, irei ficar para trás». 

4º - A perceção de que «desta vez será diferente». Claro que os episódios especulativos são únicos num certo aspecto, as circunstâncias particulares nunca se repetem. 

Porém, as diferentes fases do ciclo estão sempre presentes: 

1- A "descoberta". 2- a "subida exponencial". 3 - as "oscilações no topo". 4 - a "descida brusca e inesperada" atribuída ao acontecimento X,Y ou Z. 5 - o "ressaltar do ativo" dando oportunidade a novos investidores entrarem. 6- A descida fatal, acentuada e prolongada . Todos querem vender, mas só poderão fazê-lo com grandes perdas. 7- O «ressalto do gato morto», uma transitória inversão da trajetória descendente que faz com que alguns acreditem que ainda poderá haver uma "subida espectacular". 8 - O cancelar do sonho; quando o "mirífico veículo para enriquecer toda a gente" se torna  odiado e desprezado por todos.


No caso da expansão mundial do crédito (= da dívida) estamos na fase em que muitos investidores já estão com receio, já muitos desconfiam das manobras dos bancos centrais, mas em que poucos têm a lucidez de analizar o fenómeno no seu conjunto e compreender a natureza desta enorme bolha. Com efeito, a bolha do crédito impulsiona todas as outras (a bolha do imobiliário, a bolha das bolsas de valores, etc.) e perpetua-se devido a um erro de avaliação dos indivíduos e mesmo das nações. 

Um indivíduo fica iludido (num contexto de inflação) quando pensa: «tenho hoje mais notas de banco, do que na semana passada, portanto sou mais rico». 

Uma nação também é vítima da expansão sem limites do crédito, através de falsificação do cálculo do PIB. Este, em todos os países,  é manipulado: Minorizam sempre o grau de inflação para que o PIB, mecanicamente, apareça como positivo, quando na realidade, está em contração.

Porém, há quem jogue o seu jogo de enganar as massas, para daí tirar maior proveito próprio. Os bancos centrais e os governos estão mais avançados e mantêm o público na maior ignorância possível. Estão a forjar novos e implacáveis meios de nos escravizar,  mais ainda do que já estamos: Os famosos CBDC estão aí, tecnicamente prontos para funcionar, apenas esperando que a oligarquia mundial escolha o momento mais favorável para os Bancos Centrais, coordenadamente, lançarem as ditas divisas digitais. Ficam no vago, quanto aos detalhes técnicos, pois estes poderiam assustar (e com razão, aliás) o povo. Teremos a «surpresa» de ficarmos completamente dependentes, transparentes, e sujeitos aos governantes... A definição mesma da escravidão. Mas, sempre com a «garantia» dos governos, de que é para o bem dos cidadãos e, sobretudo que «será fácil» e que não terá grandes diferenças (dizem eles!) em relação ao dinheiro digital que já existe hoje.

A guerra também preenche o seu papel. 

Para submeter a cidadania a um novo regime de controlo absoluto das nossas finanças pessoais, através dos CBDCs, não há nada melhor que uma «situação excecional» para servir de alibi.

Qual o pretexto de que os governos se servem para suprimir as liberdades mais elementares e os direitos «inalienáveis» dos cidadãos? Quando há um estado de guerra, todas as liberdades e garantias são suspensas, por simples decreto governamental. O cidadão desaparece, o que conta é o sacrifício coletivo pela pátria... Os intervalos entre guerras são geralmente superiores a 50 anos, pelo que as pessoas da geração que viveu isso,  ou já morreram, ou têm a memória demasiado debilitada pela velhice; as jovens gerações não sabem nada dos sofrimentos dos seus avós e o que lhes «ensinam» na escola, são narrativas moralistas e que passam sob silêncio o papel dos grandes industriais e financeiros.

Como dizia Napoleão, «o dinheiro é o nervo da guerra». Os mais belicosos dirigentes, nos países da UE, pretendem reforçar os arsenais com empréstimos forçados, sem mandato dos respectivos povos, uma autêntica extorção dos cidadãos pelos Estados. Centenas de triliões de dólares serão gastos em armamentos. Estes triliões acabam sempre por ser cobrados, pelos impostos, às presentes e futuras gerações. Mas, nunca vão buscar esse dinheiro à fortunas das oligarquias, causadoras destas catástrofes. Porém, sabemos que elas as provocaram,  as amplificaram e delas beneficiaram. É normal:  São elas que traçaram o cenário; não se pode esperar que o façam de modo a que seja a sua própria classe a perder!

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*Nota: trata-se de aspectos psicológicos nos indivíduos e nas massas e suas repercussões no preço de mercado de um ativo.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

CONTAS PÚBLICAS NOS EUA - A CATÁSTROFE APROXIMA-SE

Comento algumas tabelas e gráficos, abaixo, que ilustram o artigo de Egon Von Greyerz

A tabela abaixo faz o historial dos balanços entre as colectas de impostos e os défices federais, desde 1981. Note-se o comportamento exponencial dos défices, enquanto as receitas têm um crescimento linear modesto, no melhor dos casos. 

                 

A dívida federal vai-se acumulando de maneira insustentável. Tenha-se em conta o facto de que a dívida tem sido colmatada com empréstimos obrigacionistas, as «treasuries», sendo que estas obrigações soberanas recebem juros, os quais são inscritos no orçamento federal. Em pouco tempo, o montante dos juros será superior às receitas dos impostos. 


Von Greyerz vê como provável que a dívida atinja o valor de 40 triliões de dólares, em 2025. 

Costuma-se apontar as mazelas europeias, mas a imposição dos programas de austeridade da União Europeia e a política do Banco Central Europeu estão a anular os défices, estão a conseguir controlar as contas públicas (apesar da Grécia, de Espanha, de Itália) 
... Por contraste, o défice dos EUA vai-se acentuando, sendo notória, no gráfico seguinte, a divergência entre os EUA e a UE.

                                                                      








Claro, existe o Deutsche Bank, um banco privado alemão, com uma internacionalização tal que faz dele o maior banco europeu e um dos maiores bancos mundiais: tudo indica que, ao mínimo abanão no sistema, o DB irá dar um grande trambolhão. 
Abaixo, a evolução do valor das acções do DB, em sobreposição com  a evolução do Lehman.


Não existe nenhum pedaço «saudável» na economia de casino ocidental... O colapso do DB será ressentido em todo o mundo como o de um «novo Lehman Brothers», com efeitos em todo o sistema financeiro mundial.                      

É impossível fazer o «bail in» ou «bail out» («resgate interno» ou «resgate externo») de um monstro deste tamanho. Tem activos com dimensão equivalente a 50% do PIB alemão e uma carteira de derivados de 14 vezes o mesmo PIB!


terça-feira, 14 de março de 2017

SESSÃO DE MOVIMENTO SOLUÇÕES PARA A PAZ (11-03-2017)

A sessão, organizada pelos activistas do Movimento «Soluções para a Paz» nas instalações da «Fábrica de Alternativas» de Algés, no Sábado 11 de Março, contou com a presença de um público pouco numeroso, mas interessado.

Os dados coligidos pelo nosso companheiro João Pestana, que apresentou os temas para discussão, mostram como as guerras têm sido uma constante, em vários pontos do globo, desde o fim da II Guerra Mundial, até hoje. O número de mortes, feridos e deslocados é difícil de avaliar, pois as estatísticas oficiais ou não existem ou ocultam essa realidade. Depois, passou em revista alguns dados sobre o comércio de armamento, ao nível mundial, utilizando dados do SPIRI, que indicam os maiores vendedores e compradores.

Abordou-se em seguida o papel da NATO e a carga que representa no orçamento de cada país, mesmo em tempo de «paz». Referiu-se a exigência de aumentar as despesas militares em todos os países desta aliança militar, para que cada um tenha nível de despesa igual ou superior a 2% do seu PIB.

Um documento do Estado-Maior das Forças Armadas portuguesas, mostra as missões que estas cumpriram no ano passado. Além de missões de utilidade pública, como seja transporte de feridos e vigilância das praias, o grosso das missões foi em diversos teatros de guerra, sob bandeira da NATO, na maioria dos casos, desempenhando um papel subordinado, pois os contingentes portugueses são em geral da ordem das dezenas ou menos, portanto subordinados a comandos de outras nacionalidades, dentro da estrutura dessas missões.

Comparando os dados relativos a 2015 e 2016 para o orçamento da Defesa em Portugal, chegou-se à conclusão que ele se manteve aproximadamente constante (1,2 – 1,3 % do PIB), embora haja discrepâncias de cerca de 300 milhões de euros entre o que foi gasto e o orçamentado, não se sabendo como foi preenchido o «buraco».
Parecendo pouco, menos dos 2% reclamados pelo secretário-geral da NATO, no entanto, é 5 vezes o montante para a cultura. Também é superior ao atribuído à investigação, ao ensino superior, etc.

Falou-se do «Dia de Defesa Nacional» e das penas extraordinariamente duras para quem falte sem justificação a essas encenações de propaganda das FAs, da guerra e de lavagem da imagem da NATO junto da juventude. Foi ainda referido que não existe nenhuma informação  realmente acessível aos jovens sobre a existência do estatuto de «objector de consciência».

Relativamente ainda à objeção de consciência, reconheceu-se uma generalizada confusão entre a prestação de serviço militar obrigatório e não obrigatório, mas havendo sempre a possibilidade do governo decidir reinstalar o serviço militar obrigatório. Outra ambiguidade é a de prestação «com armas», «sem tocar em armas» e «civil». Hoje em dia, muitos servem na estrutura militar, sem armamento pessoal, mas contribuem com sua prestação para a máquina de guerra.

Durante a discussão, falou-se muito do papel da NATO em manter certos regimes, falsamente instalada nesses países a pretexto de «terrorismo». 

Falou-se do caso do Afeganistão, entre outros, onde tem estado presente um pequeno contingente das forças portuguesas.

No Afeganistão, a cultura de papoila para ópio, principal negócio dos senhores da guerra, tinha sido quase extinta no regime dos Taliban. Quando a «coligação internacional» invadiu o Afeganistão no Outono de 2011, trouxe os senhores da guerra, que reinstauraram o cultivo da papoila. Hoje, 80% da heroína vendida nas ruas do mundo inteiro é proveniente do Afeganistão; era rara a heroína dessa proveniência, nos anos imediatamente anteriores à invasão do Afeganistão pela NATO e associados.
Segundo vários autores, o negócio de tráfico de ópio é controlado pela CIA, que pode livremente distribuir grandes quantidades a partir de bases militares da NATO, na Turquia, na Alemanha e no Kosovo. O dinheiro que obtém vai servir para operações «negras» ou ocultas, aquelas que oficialmente «não existem» e portanto não suscetíveis de inquirição ou controlo pelo Congresso dos EUA.

Pediu-se uma maior participação no nosso Movimento, sabendo que o grau de ausência de informação - sobretudo da juventude - torna a tarefa dos militaristas mais fácil, conjugada com muita desinformação por parte da media corporativa.

O discurso do poder é invariavelmente  de que a  presença de tropas portuguesas tem uma justificação «humanitária», ou de que os nossos soldados estão em tal ou tal país a «combater o terrorismo» (Afeganistão, Mali, República Centro Africana, etc…). Estas afirmações - repetidas vezes sem conta e nunca contestadas ou sequer problematizadas - criam um falso consenso (falso, porque baseado na ignorância) na cidadania.

Consideramos necessário e possível criar-se um observatório sobre o papel das forças armadas portuguesas em Portugal e no mundo, como forma de documentar, de debater e estudar as questões de estratégia, não de um ponto de vista meramente militar, mas também de cidadania.