terça-feira, 2 de maio de 2023

FRANCISCO GOYA «DOIS DE MAIO DE 1808»

 


INSURREIÇÃO EM MADRID CONTRA EXÉRCITO DE NAPOLEÃO

Goya realizou esta tela apenas em 1814 e não estava presente aquando dos acontecimentos de Madrid, de 2 e 3 de Maio de 1808. 
No entanto, a energia e veracidade da cena dão a impressão que o artista a presenciou. 
Goya (1746-1828) era um liberal. Não aceitava o poder absoluto, fosse ele dos Bourbon ou de Napoleão. As suas séries de gravuras «Os desastres da Guerra» mostram a brutalidade e crueldade de parte a parte, das tropas de ocupação e dos insurretos.
Os mamelucos formavam um pequeno contingente (uma ou duas companhias) da Guarda Imperial a cavalo, que Bonaparte tinha trazido para França quando deixou o Egipto. Eram sírios de religião cristã copta, pessoalmente ligados ao Imperador. 
Os insurretos deviam temê-los e detestá-los ainda mais que aos outros corpos do exército que ocupava Madrid.
O espaço é quase fechado, apenas se vê uma nesga de céu, o que corresponde às ruas estreitas do centro de Madrid. Porém, esta sensação de espaço fechado dá uma intensidade particular à cena. Note-se que os corpos dos humanos e cavalos ocupam praticamente a totalidade da tela.
Percebe-se a violência do combate de rua, com os guardas a cavalo, por um lado, armados com sabres e montando potentes cavalos e os populares, por outro. Estes, estavam apenas armados com uma espingarda ou facas, ou até de mãos nuas, para travar e derrubar os mamelucos.
 
Mameluco da Guarda Imperial 
em combate singular com dragão russo. 
A cor laranja avermelhada («garance») das calças do mameluco central que está a ser derrubado, corresponde à do uniforme em uso. No entanto, tem o efeito de focalizar a nossa atenção neste personagem. 
Por contraste, é em tons sombrios a roupa do popular erguendo o punhal que irá golpear o mameluco. É como se a mancha vermelha no quadro estivesse a anunciar o rio de sangue  jorrando dos guardas derrubados.
Emana deste quadro uma energia de tragédia: Tanto nos que assaltam a escolta, como nos guardas montados encurralados. Ambos estão a lutar pelas suas vidas, com desespero. 
Este quadro é um exemplo precoce de romantismo pictórico. Provavelmente, inspirou pintores mais tardios, como Eugène Delacroix (1798 - 1863) e outros, que compuseram quadros de batalhas com guerreiros orientais.

NB: Esta obra «reside» no museu do Prado. De momento, está a visitar-nos no Centro cultural de Cascais, com outros quadros e gravuras de Francisco Goya.

A UCRÂNIA E A CHINA TÊM IMPORTANTES LAÇOS COMERCIAIS



A propaganda ocidental, que tenta criar sua «realidade-paralela» no caos causado pela guerra, tem ocultado - intencionalmente - o papel e o volume das relações económicas entre a Ucrânia e a China.

Com efeito, ambos são parceiros comerciais de peso no âmbito das Novas Rotas da Seda (ou BRI em inglês): Existem projetos e/ou realizações em vários domínios, na agricultura (sementes oleaginosas, cereais), no equipamento e máquinas industriais, no néon (um gás importante no fabrico dos microprocessadores), entre outros. 

Pode-se conjeturar que  - desde há longa data - um dos objetivos estratégicos dos falcões da OTAN era o de inviabilizar a extensão da BRI aos países da Europa, em especial, os orientais (Polónia, Bulgária, Roménia, Ucrânia) e da Europa Central  (sobretudo, Alemanha).

A guerra -infelizmente - é o recurso dos imperialistas com pretensões hegemónicas, quando vêm que as suas presas (neste caso, a parte mais industrializada e mais rica em recursos da Europa) lhes está a escapar das garras. Compreende-se melhor porque tudo fizeram para acirrar a guerra em curso entre a Rússia e Ucrânia. É que antes de mais eles não encontraram outra maneira de contrariar que a China, com as Novas Rotas da Seda, viesse dar uma oportunidade aos europeus de se emanciparem do jugo neocolonial Yankee.

Junto aqui a ligação (clicar no título) para um artigo de Pepe Escobar, que dá detalhes que mais nenhum jornalista mainstream vos irá dar: «Qual É O Papel Que A China Está Realmente A Jogar Na Ucrânia»


Villa-Lobos: prelúdio nº1

 

                                                Thu Le * na guitarra clássica


Veja AQUI uma breve biografia seguida da análise das peças para guitarra, incluindo o prelúdio nº1.

O prelúdio em Mi menor é o primeiro dos 5 prelúdios escritos em 1940. Na primeira parte, predomina a nostalgia. Na segunda parte, em Mi maior, o ritmo torna-se mais animado. No final, o tema inicial regressa.

É uma peça muito conhecida, mas não deixa de ser um modelo de sobriedade. Revela a assimilação profunda, por Heitor Villa-Lobos, das heranças barroca e clássica, sem as imitar.

* Thu Le é vietnamita e mestra de guitarra clássica, com vasta carreira e muitas atuações no estrangeiro. 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

História de fantasmas [OBRAS DE MANUEL BANET]






 Acordei no País dos sonhos

Percorri léguas e léguas de caminhos esconsos 

Ou de amplas autoestradas

Para me encontrar frente a um espelho

Num palácio abandonado


Este espelho é a porta de entrada

Dos que permaneceram no limbo

Para o tal Reino, onde sonhar

Significa a Vida e viver

Só representa a necessidade

Contingente da jornada


O sócio desta sociedade

Ultra secreta não precisa

De senha ou sinal para

Reconhecer seus pares

Caminhando ou vogando

Por rios serenos entre sedas

Ondeantes ao vento


- Mas a morte, a morte que nos espera

E sempre nos alcança?

Onde pára ela?

- Ela caminha ao nosso lado

Sem receio. Nós sabemos

Que ela é Rainha

E não a repudiamos


Viver em sonho e caminhar

Por suas veredas é distinção

De poetas. Eles comunicam

Fraternamente a seus pares

As rotas que tomaram,

As paisagens por onde passaram,

As histórias que ouviram


Para eles, dizer a verdade não custa

As mentiras que possam dizer

Não o são para os outros irmãos 

Todos descodificam fórmulas

Ou sortilégios, são línguas

Correntes, banais


Se alguma vez acordam

Precisam logo de retomar

A onírica estrada, 

Seja por que meio for 

A realidade do real é-lhes fatal

Definham, acorrentados

 Às medíocres rotinas


São aves ou peixes

Embora aparentem pertencer

À espécie humana

Mergulham na profundeza

Dos mares, ou planam

Muitos metros acima do solo


Ou talvez sejam outra

Espécie em gestação

A que substituirá

Mulheres e homens

Comuns de hoje;

Não sabemos


No meio do ruído

Das multidões

Estão silenciosos

E quando poderosos

Pretendem prestar-lhes

Homenagem, erguem

Estátuas e monumentos

Mas não  leem sua poesia.





UCRÂNIA - DEMOGRAFIA


                                  Gonzalo Lira: «Trata-se da morte de uma nação»


07/05/2023: Gonzalo Lira foi hoje preso (pela segunda vez) pela polícia do regime ucraniano.

terça-feira, 25 de abril de 2023

A economia global entre Caríbidis e Cila

 



Os bancos centrais andaram durante muito tempo a jogar com a quantidade de dinheiro (aqui, entenda-se divisas fiat). Inicialmente, puderam iludir as pessoas, incluindo economistas sofisticados, de que se tratava de suprimir as oscilações periódicas da economia, dando aos mercados a quantidade de dinheiro que eles precisavam para não entrarem em deflação.
 Segundo a ortodoxia dos banqueiros centrais e dos governos ocidentais, a existência de um «pouco» de inflação era benéfica e saudável. Mas, esta inflação acontecia num contexto de atividade industrial muito deprimida, após a grande crise financeira de 2008.
 Depois, baixa ou alta, a inflação é trituradora dos rendimentos das pessoas, principalmente dos assalariados e pensionistas. O aumento do custo das coisas básicas e elementares era muito maior do que de coisas que se podem considerar «não essenciais». 
É o rochedo chamado «Cila», que representa a inflação. Os turbilhões na proximidade do rochedo, iam tornando a economia cada vez mais deprimida, sobretudo no que toca aos investimentos produtivos, por oposição aos especulativos. 
O resultado de se lançar «dinheiro fiat» (sob forma eletrónica, principalmente) para os mercados, acentuava os redemoinhos, perto de Cila. Não resolvia a questão de fundo: estimular a produção de bens e serviços e não as atividades especulativas (o casino das Bolsas).
Na tentativa de manter o «status quo» e de não prejudicar os ricos detentores de grandes empórios financeiros (Banca comercial, fundos de investimento...), vieram com a falaciosa teoria de que aqueles «criavam riqueza». Na verdade, ao apostarem na financeirização, desencaminham a riqueza. Os capitais investidos em especulação financeira não participam realmente em atividades produtivas da economia. 
Mas, depois de 2008, os banqueiros centrais e os governos, fingiam que acreditavam nesta teoria, para verter somas abismais aos banqueiros que tinham sofrido perdas. Estas perdas eram expectáveis, pois eles tinham jogado no «alavancar» dos fundos que geriam. 
O que aconteceu foi aquilo que qualquer pessoa com bom-senso poderia prever: Em vez de investirem, eles próprios, ou de emprestarem o dinheiro recebido para crédito à produção, foram aparcá-lo em contas na FED ou noutros bancos centrais, que forneciam à banca comercial juros muito pequenos, mas sem risco. Outra parte do dinheiro recebido pelos bancos, foi para jogar na bolsa (incluindo a auto-compra das ações).
Como era inevitável, a inflação monetária e o estímulo de atividades especulativas, fizeram aumentar a massa monetária, atingindo extremos tais, que os capitais disponíveis globalmente eram, pelo menos, 20 vezes o PIB mundial. Ao certo, não sabemos, porque uma parte importante desses capitais está investida em derivados,  instrumentos que não são registados nos balanços de instituições de crédito, mas que pesam na solvabilidade destas.
A subida dos juros de referência pela FED (seguido pelos outros bancos centrais ocidentais), implicava o aumento do custo do crédito e a diminuição correlativa do valor das reservas. Os bancos comerciais têm em reserva, principalmente, obrigações do tesouro do seu próprio país ou de outros (uma obrigação vale tanto mais quanto o seu juro for mais baixo). 
Os 4 bancos que faliram recentemente nos EUA, assim como o Crédit Suisse (um banco «sistémico»), não conseguiram corrigir a tempo o desequilíbrio causado pela perda do valor dos seus ativos em reserva. Caríbidis será o nome simbólico da enorme parede de pedra; o «rochedo» das taxas de juro crescentes e as consequências nefastas para as instituições bancárias, obrigadas - por lei - a ter parte das reservas em obrigações (bonds) do Tesouro. 

A expressão proverbial, recorrendo à mitologia grega, diz que alguém (ou instituição) «vai de Caríbidis para Cila», para exprimir que ambas as alternativas vão desembocar no naufrágio, ou no desastre total. É, portanto, fútil e perigoso nos mantermos dentro dos parâmetros dos que querem ir de Caríbidis para Cila, ou vice-versa.

A «solução» dos banqueiros e dos oligarcas é a de causarem o máximo de perturbação na economia, na economia produtiva, para as pessoas - desesperadas -se renderem à «hidra de sete cabeças» ou outros monstros, que são as «moedas digitais emitidas por bancos centrais» (CBDC)
A solução para a gente comum, os não beneficiários do casino da finança globalista, é completamente diferente: Passa por uma reforma do sistema monetário mundial, onde não exista uma moeda de reserva enquanto tal, mas onde as moedas nacionais sejam usadas nas trocas. Os diferenciais, serão saldados em ouro ou noutro metal precioso (Prata, Paládio, Platina). 
Assim sendo, não haverá nação, por mais poderosa que seja, que possa impor-se às outras, como têm feito os EUA. O seu domínio em todas as transações em dólares, deu-lhes a possibilidade de confiscarem importantes somas e imporem sanções TOTALMENTE ILEGAIS. São atos de pirataria financeira, que têm afetado negativamente as relações comerciais entre países. Aliás, esta é uma das principais causas de haver muitos países, aliados dos EUA, a quererem entrar para os «BRICS».

BRECHT - WEILL Ópera "Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny"

Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny (“A ascensão e queda da cidade de Mahagonny”) é uma performance musical de Bertolt Brecht e Kurt Weill , que se tornou uma ópera em três atos. Foi criado em 9 de março de 1930 em Leipzig .

Mahagonny Songspiel , criada em 1927 em Baden-Baden, nasceu da colaboração entre Bertolt Brecht e Kurt Weill . O show de seis músicas (incluindo a famosa Alabama Song ) teve 25 minutos de duração. Eles o tomaram e desenvolveram três anos depois, em 1930, sob o título Grandeur et décadence de la ville de Mahagonny ; esta ópera foi, desde a sua criação, proibida na Alemanha.

Ele narra o nascimento, clímax e queda de Mahagonny, uma cidade imaginária fundada por três criminosos na América. É uma cidade-armadilha destinada a recolher o dinheiro dos garimpeiros da região. Prostitutas, álcool e diversão atraem buscadores cansados ​​que vêm gastar seu ouro. Um dia, um lenhador do Alasca descobre que algo está faltando. Ele deseja remover o sinal de "Defesa de ..." com "é seu direito". Esse lema faz da cidade um lugar de devassidão. Quando este lenhador se encontra sem um tostão, a justiça, encarnada pelos criminosos fundadores da cidade, o condena à cadeira elétrica . A cidade vai cair no caos.

Brecht não nega o prazer do espectador, mas Mahagonny é acima de tudo uma ópera épica e inovadora, onde o centro de gravidade tradicional é deslocado. Os processos do teatro épico são aplicados aqui à ópera e, da mesma forma, a música se combina com o texto para se posicionar. Brecht, portanto, questiona as formas tradicionais da ópera clássica. Com Mahagonny , ele afirma a necessidade da função ideológica da ópera, que abra a discussão e o questionamento social. Esta peça é na verdade uma metáfora gigantesca para o capitalismo. Mostra como se impõe facilmente e como pode se autodestruir.


                                           



Ópera em três atos sobre libretto de Bertolt Brecht. Estreia: Leipzig, Neues Theater, 9 de Maio 1930. 
Jane Henschel (Leocadia), Donald Kaasch (Fatty), Willard White (Trinity Moses), Measha Brueggergosman (Jenny), Michael Konig (Jim), John Easterlin (Sparbüchsen Billy), Otto Katzameier (Jacob Schmidt / Tobby Higgins), Steven Humes (Alaska Wolf Joe) 
Maestro Pablo Heras-Casado 
La Fura dels Baus Madrid, 2010