segunda-feira, 23 de julho de 2018

Efeméride: VITÓRIA LIBERAL de 24 de Julho de 1833

A efeméride do 24 de Julho de 1833

As tropas liberais subiram pelo Alentejo acima até Lisboa, enquanto uma esquadra inglesa se aproximava da capital. O governo de D. Miguel, absolutista, estava completamente isolado da população, as suas tropas também mostravam falta de entusiasmo para enfrentarem os liberais.
O governo e o alto comando militar escolheu sair de Lisboa, levando as tropas que a guarneciam, permitindo assim que as tropas liberais entrassem na capital sem disparar um tiro. Foram entusiasticamente acolhidas pela população, a qual mais do que sentimentos pró-liberais estava sobretudo farta de ser humilhada pelos partidários de D. Miguel, que se queriam vingar sobre o povo, de ter havido uma revolução francesa e das ideias e formas de governo daí resultantes já não se coadunarem mais com a ideia de monarquia de inspiração divina. 
A entrada em Lisboa foi pacífica, mas a guerra civil que durou 4 anos, foi dura e deixou muitas marcas, quer na sociedade civil, quer na infraestrutura deste país.



                            

                     Duque da Terceira, comandante das forças de D. Pedro

domingo, 22 de julho de 2018

DIDERICH BUXTEHUDE E O «STYLUS FANTASTICUS»

                                             PRELÚDIO E FUGA EM FÁ# MENOR

A liberdade simulando o improviso é característica desta peça, composta de tal modo que variados temas são expostos em sucessivos momentos. Seria portanto mais exacto falar-se de um políptico musical, cada secção com sonoridades e discursos bem contrastantes. 

No Norte da Europa dos finais do séc. XVII princípios do séc. XVIII, Buxtehude é um grande mestre, mas não está só. Encontram-se perto dele grandes organistas e compositores, tais como Lübeck, N. Bruhns e outros, filiados na grande escola do holandês Sweelinck, que deixou uma profusão de discípulos, tanto nos Países Baixos, como na Alemanha do Norte.  
Na Península Ibérica (Manuel Rodrigues Coelho, Pedro Araújo, Francisco Corrêa de Axaúxo, Joan Cabanilles, etc), na mesma época, o Tento e a Fantasia desempenham o mesmo papel de peças brilhantes e cheias de contrastes. Na Itália (Frescobaldi, Pasquini etc), as peças com esse carácter, costumam designar-se por Fantasia ou Toccata. 
Note-se que existe muito em comum na escrita organística dessa época, porém podem claramente distinguir-se diversas escolas. A factura dos órgãos era completamente distinta nas várias zonas europeias: soavam diferentes, o órgão ibérico, o itálico, o francês, o da Alemanha do Sul ou ainda o da Europa do Norte (incluindo Holanda, Norte da Alemanha e países escandinavos). 
A composição para órgão, além da organaria, reflectia o gosto e temperamento da sociedade e a tradição musical de cada região.

sábado, 21 de julho de 2018

DMITRI ORLOV: «A 3ª GUERRA MUNDIAL, FINALMENTE ACABOU!»

Dmitri Orlov é um dos meus autores preferidos, pela acuidade das suas análises e pelo seu sentido do humor. Ele nasceu na Rússia soviética  e emigrou para os EUA com os pais, em criança. É um cidadão dos EUA, porém muito crítico do «establishment» do seu país. 
As suas raízes russas permitiram-lhe fazer uma avaliação objectiva do desmoronar do regime soviético, seguida por uma década de saque pelas multinacionais e pelos novos oligarcas e, por fim, o «golpe de rins» protagonizado pela ascensão de Vladimir Putin à presidência e ao retomar do controlo sobre a economia e as riquezas do país. 
A profundidade da análise sociológica e política de Orlov foi aplicada também aos EUA e ao «Ocidente», tendo ele chegado à conclusão de que - perante a catástrofe - os ocidentais estarão muito pior preparados, material e psicologicamente, que os russos da década de 90.

                


Nesta peça humorística, Dmitri Orlov explica o absurdo de uma máquina de guerra, a NATO, que não tem objecto verdadeiro contra o qual se confrontar. Se não existe em face um bloco desejoso e capaz de confrontá-la, a sua «razão de ser» não é mais que se auto-perpetuar e acabará por se auto-destruir, por devorar os recursos escassos das suas economias. 
O argumento parece puxado ao absurdo, mas não é, na verdade. Sabemos que um motivo poderoso da derrocada da URSS foi, na década anterior à sua dissolução, além do Afeganistão, o demasiado grande esforço soviético para tentar acompanhar os progressos tecnológicos da «Guerra das Estrelas» lançada por Reagan. A URSS, em consequência, começou a ter múltiplos problemas, devido ao investimento demasiado escasso noutros sectores da economia. 

Hoje em dia, o contraste com o império soviético em decadência não poderia ser maior, estando a Rússia capaz de enfrentar as sanções, uma forma de guerra económica, com tranquilidade. Mais, estas vêm proporcionando-lhe o impulso benéfico para potenciar sectores até então estagnados, nomeadamente a agricultura e para aumentar a sua independência dos circuitos financeiros ocidentais, diversificando para fora do dólar como moeda de reserva. Ao mesmo tempo, estabeleceu uma superioridade tecnológica no armamento face à NATO, demonstrada na sua intervenção na Síria. 
Muitos países do Médio Oriente tornaram-se clientes do armamento sofisticado russo, por exemplo os mísseis SS-300, encomendados pela Arábia Saudita e pela Turquia...

Acredito que as contradições internas entre aliados da NATO, como sejam os interesses industriais alemães, franceses e outros irão acabar esta absurda «Guerra Fria bis» com a Rússia. Nos EUA, a «sede do Império», a política de Trump tem sido de retirada para dentro de fronteiras, tanto no aspecto militar, retirada dos cenários onde estivaram envolvidos nas duas décadas do presente século, como no aspecto económico, com a denúncia ou afundamento dos tratados globalistas (TPP, TTIP, NAFTA), e uma ameaça de saída da OMC...
É bem possível que a conjugação destas dinâmicas  leve ao fim da NATO. 


quinta-feira, 19 de julho de 2018

GUERRAS COMERCIAIS, PODE NÃO SER BONITO... MAS TEM UMA LÓGICA!

Sim; com efeito, um país como os EUA, que nos habituou a ser (ou a apresentar-se como) o campeão do livre-comércio, está agora envolvido numa guerra comercial declarada, seja em relação ao gigante chinês, seja em relação ao seu parceiro estratégico, a UE. 
As tarifas têm um efeito inibidor quer das importações, quer das  exportações, porque as referidas tarifas sendo impostas unilateralmente, recebem no geral uma resposta simétrica. Os produtos americanos exportados para a China, são poucos e pouco diferenciados, mas no caso da soja (os EUA são o segundo fornecedor da China, a seguir ao Brasil) as tarifas - por sua vez impostas pelas autoridades  chinesas - já se fazem sentir.
No caso da UE, já estão preparadas medidas, caso sejam colocadas tarifas sobre os seus automóveis, exportados para os EUA, ou outros bens. 
Nenhuma componente do comércio mundial fica incólume face a esta guerra tarifária imposta pela administração Trump. Mas, o que é que isto significa, quer no curto prazo, quer no médio e longo? 
No curto prazo, é evidente que a população dos EUA vai pagar mais caro uma boa parte dos produtos, visto que consome muitos produtos oriundos dos mercados chinês e europeu. 
A inflação irá acelerar, sem que isso signifique maior capacidade aquisitiva das  pessoas; as estatísticas não deixam dúvidas de que os salários estagnaram. 
Nos países europeus, haverá muitas dificuldades naqueles sectores em que parte significativa da produção é exportada para os EUA. O desemprego pode crescer de novo, sem que tenha sido reabsorvido totalmente, após a crise europeia da dívida de 2011-2012. 
No médio prazo, haverá uma reorientação dos mercados. 
A China irá tentar obter cada vez mais produtos fora a esfera dos EUA e do dólar. Irá basear, ainda mais, a sua economia em acordos bilaterais, com múltiplos outros países, evitando usar o dólar. Por exemplo, as compras de petróleo à Rússia, usando o Yuan ou Rublo, o mesmo se passando em relação ao petróleo do Irão. 
Estas trocas serão modelo para outras, em que se vai generalizar, como pagamento, a nota de crédito em Yuan.
Quanto ao efeito na economia americana, sem dúvida que se assiste a uma repatriação de capitais, vindos um pouco de todo o lado, com relocalização de grandes corporações, nos EUA. 
Mas a estrutura produtiva não se improvisa e os conselheiros de Trump, com certeza sabem que a reindustrialização vai durar anos ou mesmo decénios a reverter ao nível de auto-suficiência industrial que os EUA possuíram no período das décadas de 1940-1970. 

Assim, esta mudança de ambiente internacional irá causar uma contracção do PIB mundial, uma sensível redução das trocas comerciais, um congelamento do investimento estrangeiro. Nada disto afinal será favorável aos EUA, ou a seus aliados, no seu conjunto. 
Perante tal paradoxo aparente, existe uma explicação muito clara, mas poucas pessoas têm conseguido fazer a leitura correcta: Existe uma vontade, por parte de Trump, em deitar abaixo a economia dos próprios EUA. Pode parecer estranho que ele esteja apostado nisso, porém a lógica é a de criar uma situação em que o governo dos EUA tem de novo o controlo dos mecanismos económicos e financeiros, os quais têm estado demasiado nas mãos da FED, de Wall Street, assim como da OMC, FMI, e outras organizações globalistas. 
A lógica é contrária à globalização, que tem sido o «mantra» no Ocidente ao longo de praticamente meio-século. Trump e os que o apoiam, é nacionalista, tem mostrado isso em discursos e actos, de forma suficientemente explícita para não se guardar qualquer dúvida a tal respeito. 
Os sectores económicos que o apoiam têm interesses divergentes das grandes multinacionais. O seu ataque está a criar as condições da crise vindoura. Mas é precisamente o que eles querem e precisam: Uma crise, cujo desenrolar esteja basicamente sob seu controlo, uma «demolição controlada do edifício». 
Só assim poderão ter o controlo sobre o que virá depois.

Quem subestima Trump e seu governo, está a auto-iludir-se: quer na direita, quer na esquerda, as opiniões emitidas mostram que as pessoas não compreenderam a lógica subjacente.
O que acho mais estranho é que haja essa atitude de denegação, apesar de Trump e seus defensores mostrarem, desde o princípio, as suas intenções. Talvez as pessoas não tenham acreditado, pois estão habituadas a que, no mundo da política, os líderes não façam aquilo que prometeram? 
Creio que só assim se pode compreender o ódio de morte contra Trump e a corrente que representa por parte do establishment político e mediático, ou seja, os «guardiões» do status-quo. As guerras para provar uma fantasiosa «ingerência» russa nas eleições são o meio que esta oligarquia ameaçada tem tido para tentar travar a onda Trump. Mas creio que está a perder pé e não conseguirá o seu intento, que era obter o seu «impeachment».
As pessoas deviam acordar para a realidade e perceberem que a imagem de Trump, que lhes andam a vender, só contribui para obscurecer o seu entendimento do que determina verdadeiramente as estratégias da maior super-potência.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

O REALISMO NÃO-INGÉNUO

A relação das pessoas com o mundo, que estas percepcionam, é normalmente assumida como simples, não problemática. 
O realismo ingénuo consiste em tomarmos o resultado dos nossos sentidos como uma descrição bastante fiel da realidade.
Porém, a informação objectiva não existe, pois o que nós percepcionamos quando vemos, ouvimos, cheiramos, etc. é sempre um complexo de «inputs», a vários níveis: 
- o próprio objecto e as ondas luminosas, acústicas, de moléculas olfactivas, etc. que dele emanam; 
- a captação pelos respectivos sentidos e o modo como estes descodificam o sinal  e o  traduzem em linguagem neuronal; 
- por fim, a percepção cerebral e a elaboração de uma «imagem mental», a qual se vai necessariamente compatibilizar com as memórias armazenadas, ou seja, uma total reconstrução da informação contida no input nervoso.  

O realismo não ingénuo admite portanto como evidente que a noção de que existe uma realidade exterior ao nosso ser, não obriga a que tenhamos de saber, através dos sentidos ou até de instrumentos (que afinal são extensões dos sentidos), qual é a natureza dos objectos que nos são dados a conhecer.
Por isso, a elaboração de um complexo de expectativas e desejos interfere sempre com a nossa percepção da realidade externa. Aqui, a chave do entendimento reside na noção de «percepção»: 
- o facto de que não seja uma simples transposição da realidade, mas antes uma elaboração mental, onde existe um input do exterior, mas onde predominam forma mental e  enquadramento subjectivo.
Todos nós tivemos experiências de miragens ou ilusões, assim como o equivalente ao nível dos sentidos auditivo, etc. Pois estas experiências correspondem a «imagens construídas» ou o equivalente, nos outros sentidos. Assim, sabemos em casos extremos, verificados, da não conformidade com o modelo mais habitual da realidade. Sabemos que os órgãos dos sentidos e os centros cerebrais que os controlam e elaboram sobre os mesmos, são capazes de construir «imagens» convincentes do real.  
No caso do sonho, também, somos tomados pelo convincente «realismo» daquilo que sonhamos, porque a elaboração das imagens passa-se no cérebro e não na retina ou nos impulsos nervosos que conduzem as mensagens ao cérebro. Caso contrário, só poderíamos sonhar «imagens» geradas e transmitidas, nesse momento, pelos órgãos dos sentidos respectivos.
A elaboração da realidade, cujos contornos possam ser apreendidos por várias pessoas ao mesmo tempo, não é coincidente. Isto mostra que não existe olhar «objectivo». 
Várias pessoas descrevem -com toda a sinceridade -  aquilo que vêem, ouvem, etc. e as descrições, normalmente, não são coincidentes, por vezes mesmo profundamente contraditórias entre si. A realidade não pode ser «matéria de consenso entre pares», entre testemunhas do mesmo fenómeno. 
O que origina as ondas (sejam electromagnéticas, sejam doutro tipo) existe, ou pode existir, como entidade independente do(s) observador(es). Porém, a interacção das ondas referidas com as «máquinas de captação do sinal» (sejam elas órgãos dos sentidos, sejam máquinas colocadas para detectar o referido sinal) não existe - obviamente - na ausência de detectores. 
A questão, debatida longamente durante séculos, se a realidade é ou não exterior ao observador, se persiste quando o observador não está, ou se manifesta na ausência de um ser que capte a informação emitida pelo objecto, parece-me obsoleta, num certo sentido. Parece-me permanecer como formulação defeituosa do modo como descrevemos o percurso da informação, desde os referidos objectos até à mente: 
Se a captação do sinal é que é - no final de contas - a «sensação», necessariamente ela supõe a presença do ser capaz de realizar tal captação. 
Afinal de contas, será impossível uma captação «objectiva», pois o sinal, mesmo quando captado por máquinas, não é mais do que uma tradução, seguida de interpretação. Haverá sempre perda de informação de um suporte (ou tipo de vibração), na passagem para outro. Além disso, no outro extremo existe sempre alguém, aquele que obtém e interpreta os dados registados pela máquina. 

A análise do problema leva-me a formular a hipótese que se pode referir como «Realismo Não-Ingénuo». Assumo que estejamos - afinal de contas - a teorizar, explicita ou implicitamente, o seguinte:
- Temos uma teoria sobre a emissão de energia dos corpos, sobre as ondas, de vária natureza, intensidade e comprimento que atravessam o espaço
- Temos uma teoria sobre a captação das mesmas ondas pelos órgãos dos sentidos, o mesmo é dizer descrição fisiológica dos órgãos e fenómenos da sensação.  
- Temos uma teoria sobre a maneira como o nosso cérebro,  o nosso «eu», constrói uma informação, partindo da impulsão do exterior, mas que não é só isso. Por outras palavras, não é o mero impulso nervoso que conduz o sinal da referida informação, vinda de fora, é muito mais que isso.

Nada mal! ... Se o leitor tiver estas referidas teorias bem arrumadas, ao efectuar a sua abordagem sobre os fenómenos da mente e da interacção desta com o «mundo», com «a realidade». São imensamente complexas e dinâmicas, as áreas da ciência cujos resultados participam na elaboração das referidas teorias.

Pessoalmente, prefiro dizer que não possuo teorias nenhumas sobre os referidos aspectos da questão. 
Quanto muito, vou captando algumas «dicas», aqui e ali, em artigos científicos, que eventualmente permitirão que especialistas elaborem teorias novas, ou melhorem as existentes. 
Fico contente, pois assim o meu pensamento é enriquecido por tais contributos.