O que os bem informados não se apercebem, é que, em contraste com a «Guerra Fria Nº1», os poderes usam os avanços da tecnologia e da I.A. para fabricar uma falsa realidade, uma informação «cientificamente» manipulada. Isso, é uma situação inteiramente nova.
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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

MISSIVA Nº1 À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA



À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA.


05 de Novembro de 2021

(no calendário deste planeta) 


Neste comunicado, irei dar-vos conta de algumas peculiaridades do planeta Terra, onde tenho estagiado, assim como sobre os seus habitantes. 

Irei começar por esclarecer sua organização social e económica, a que chamam de «capitalismo» ou «sociedade de mercado livre». 

Estou apenas nas etapas preliminares do meu estudo; noutras missivas, irei aprofundar e desenvolver melhor os pontos aqui abordados.

                                       -----------#----------


1) O capitalismo e seus críticos


Há essencialmente dois tipos de críticos do capitalismo: 

A) Os que o detestam visceralmente, mas não compreendem como é que funciona: Pelo que a sua análise se fica por mostrar como o capitalismo é «horrível», «injusto», «cruel», «desumano», etc. Estes, não compreendem, que até uma criança sabe isso intuitivamente, que não são precisos calhamaços cheios de sábias elucubrações e eruditas citações.

B) O outro tipo de crítico, é formado por personagens completamente diferentes, no seu temperamento. São pessoas que examinam o capitalismo como um médico examinaria o seu paciente no hospital. Eles «tomam o pulso, medem a tensão, auscultam» e fazem todas as análises necessárias para detetar a «doença essencial» de que enferma o capitalismo. Eles consideram que o capitalismo está doente, muito doente, mas que tem de ser salvo, custe o que custar. Para estes, não existe realmente horizonte para além do capitalismoTêm, portanto, todo um arsenal de remédios. Cada um inclina-se mais para uma ou outra terapêutica.


2) Os agentes do capitalismo

Ora, os que estão numa ou noutra posição crítica (A ou B), estão muito longe da realidade. Mais próximos estão os que «têm as mãos na massa», literalmente. Estes, que eu designarei por C, são agentes diretos do capitalismo, banqueiros, especuladores, comerciantes, capitães de indústria. Todos estes não ligam demasiado a teorias. Estão muito mais interessados em «fazer dinheiro». 

Tendo eu descido de um planeta longínquo, a bordo de uma nave intergaláctica, sondei os três grupos. Mas dei preferência ao terceiro (C). Porque, para quem vem da galáxia Tau, ou Andrómeda, ou outra, estes humanos têm um sistema muito curioso, muito estranho, na verdade. Ele serve para fazerem guerras, espalhar miséria, mas também erguer obras de arquitetura notáveis, desenvolver as artes e as ciências. Até - por vezes - com ele melhoram a condição dos que estão em baixo, na escala hierárquica.

Sem dúvida, eu tenho dedicado mais tempo junto do terceiro grupo, a aprender o que é o capitalismo. Interessa-me a verdade, a realidade, a coisa em si. Não as teorias retorcidas, ou «brilhantes», mas que passam completamente ao lado dos problemas. 

Estou interessado em aprender com os capitães de indústria, os banqueiros, os especuladores. Estes, estão constantemente a navegar dentro do sistema. Aproveitam-se dos grandes ou pequenos movimentos de matéria e de energia, a que chamam «capital», para aumentar o seu património, para possuir múltiplas vezes mais que os pobres, que trabalham para eles, direta ou indiretamente.

Como visitante doutra galáxia, já percebi que o que chamam economia está sempre a alternar momentos de euforia e outros de depressão (em inglês: «boom and bust»). Estes ciclos repetem-se, arrastando todas as atividades, não apenas do domínio financeiro, também produção industrial, agrícola, comércio, etc. 

Verifiquei que usam uma espécie de objetos em papel (antigamente - há mais de 300 anos - eram objetos metálicos, sobretudo ou apenas), pelos quais têm uma veneração especial, «o dinheiro»: 

Este, em vez de ser somente um meio de troca e contabilidade, é-lhe dado um estatuto próprio de «valor». É pensamento mágico! Estão convencidos que tais pedaços de papel têm «valor intrínseco» ou, mesmo, que só eles têm valor! Pode dizer-se que se trata de «culto do dinheiro». Sim, muitos transformaram-se em adoradores desses objetos curiosos, mesmo quando passam o dia a olhar para o écran dum computador ou telemóvel, com números, signos, gráficos, tabelas, esquemas. Supostamente, é para rastrearem o  dinheiro, ou seus equivalentes digitalizados. 

Porém, a quantidade de dinheiro não é constante. Não está correlacionada com o trabalho, contrariamente ao que defendia um senhor barbudo (que se chamava Marx). Esses papéis são postos a circular, fisicamente ou virtualmente, pelos bancos centrais dos diversos países. 

Os bancos centrais são «autónomos», ou seja não dependem - pelo menos no chamado «Ocidente» - do governo, não estão sujeitos a aceitar as diretivas dos políticos. Os que dirigem os bancos centrais podem aumentar ou reduzir a «massa monetária» (a quantidade de dinheiro existente) e até manipularem para aumentar ou diminuir a quantidade do dinheiro circulante. Eles criam dinheiro a partir de nada. 

Mas não são os únicos. Com eles, os bancos ditos «comerciais», fazem empréstimos com dinheiro que eles próprios criaram a partir de nada, a chamada prerrogativa de reserva fracionada, como eles dizem. 

As pessoas, instruídas na «religião do dinheiro» apressam-se a  pedir empréstimos para as suas necessidades vitais ou para os seus extras, tornando-se assim escravas das dívidas contraídas. «Se tudo se passar bem», estarão livres dentro de 30 ou mais anos, depois de terem contraído o empréstimo, numa altura em que já não têm vitalidade, estão demasiado esgotadas. Elas perdem boa parte da vida para «ganhar dinheiro», para pagar as dívidas! 

É assim que este estranho mundo vive. 

Mais lógica tem o mundo das formigas no formigueiro, ou das térmitas na termiteira. Ao menos, tais insetos sociais estão perfeitamente adaptados às suas condições climáticas e outras, ao seu ambiente particular. A seleção natural operou maravilhas: Estas sociedades, de milhões de indivíduos, comportam-se dum modo aparentemente «racional», ao olhar do observador atento. 

Enfim, o modelo das sociedades humanas é como se um bando de símios tentasse imitar uma espécie de insetos sociais (Hymenoptera). Tentariam construir os edifícios e adotar um modo de vida semelhante,  porém sem razoabilidade, sem o bom-senso natural - fruto de milhões e milhões de gerações - que lhes permitisse uma inserção harmoniosa no ecossistema. 

Por hoje, não poderei adiantar muito mais, neste relatório. Preciso ainda de sondar muitos dados e de fazer muitos registos.  

Venho pedir, aos meus irmãos/irmãs da confederação intergaláctica, ajuda! 

- Os humanos não param com as suas atividades frenéticas. Devido à falta de juízo de dirigentes e à indiferença espantosa dos subordinados, estão a perturbar gravemente o equilíbrio do planeta em que habitam. 

- Não digo isto em vão: Já constatei que não lhes faltam poderosos instrumentos de destruição nos seus arsenais. Por outro lado, não têm bom-senso nem amor, ao lidarem com grupos e nações rivais. 


MB


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

O DECLÍNIO DO SISTEMA CAPITALISTA

Não deixa de ser sintomático que o país considerado como o maior defensor do capitalismo, da «economia de mercado»,  seja o que mais se afasta dos princípios tradicionais do liberalismo económico e onde se notam as disfunções mais óbvias, onde o mau funcionamento do sistema capitalista atinge extremos tais, que o próprio sistema é posto em risco

Veja e oiça o Prof. Richard Wolff apresentar uma série de exemplos sobre os EUA: 



PS: Richard Wolff diz algo muito interessante, no que respeita à decisão chinesa de fechar os seus portos, por ter verificado um aumento dos casos de COVID: 

Ele compara o número de novos casos -  111 num dia,  apenas, na China - com os casos do mesmo dia nos EUA, que foram 162 000. (Veja e ouça o que ele diz a partir do tempo seguinte de 22:11 até 25:11)

A minha conclusão é a seguinte: A China usou o aumento ínfimo das infeções como pretexto para fechar seus portos. Foi um aviso, face às campanhas raivosas no Ocidente: Se fizessem muito alarido, a China simplesmente fechava «a torneira», deixava de exportar inúmeros bens que produz e que o orgulhoso Ocidente precisa e já não produz: causaria uma enorme crise de escassez! 

Foi o que se passou, na verdade. Apenas um «tiro de aviso»: foi a resposta às agressões verbais e às novas sanções que os governos ocidentais, sob o comando dos EUA, queriam impor. 

Isto passou-se em Agosto. Logo em Setembro- Outubro começaram os problemas sérios de escassez, na Europa e nos EUA. 

Claro que a China nunca irá dizer outra coisa senão que está a tomar a sério a prevenção da pandemia de COVID!!!

 É uma civilização  com vários milénios. São mestres em lidar com assuntos de comércio, diplomacia e estratégia. Quando é que os «nossos» governos, arrogantes e estúpidos, aprenderão?

PS2: A seguinte notícia, recolhida em Zero Hedge, é a confirmação de que eu estava certo ao escrever os parágrafos acima.

domingo, 29 de agosto de 2021

RESILIÊNCIA E AUTONOMIA

 [Ensaio, por Manuel Banet]

 

Tenho escrito frequentemente sobre estes tópicos, ao longo de 5 anos de existência do blog. Estes conceitos têm sido abordados por mim, de várias maneiras e sob vários ângulos. Tem havido, da minha parte, uma reflexão constante, ela própria alimentada por leituras muito diversas, que me têm ajudado a ver os problemas com maior lucidez e espírito prático.
Neste escrito, gostaria de fazer uma síntese das minhas descobertas e reflexões, com o objetivo prático da construção da autonomia e resiliência pessoais e coletivas, ou seja, de resistir à onda de totalitarismo que o mundo tem vindo a sofrer, nestes tempos conturbados.
Os dois conceitos, autonomia e resiliência, estão relacionados, mas não são inteiramente sobreponíveis.

Entendo por autonomia, a capacidade de gerarmos os meios de vida indispensáveis, sem ter de recorrer a fonte exterior à nossa comunidade, ou podendo estar dependentes de fontes externas para certos produtos e matérias-primas, mas onde nenhuma destas fontes detenha um poder avassalador sobre a nossa vida. Implica mantermos uma real possibilidade de substituir a importação por produção autóctone.
Ao nível individual, a autonomia implica não estarmos na dependência de outrem para conduzir a nossa vida, embora tenhamos ricas e diversificadas relações com os outros. Uma interdependência social equilibrada e diversificada é condição de autonomia, ao nível do indivíduo, na sociedade.

Quanto à resiliência, esta traduz-se pela capacidade de autorregeneração, perante uma séria perturbação da nossa capacidade de viver, de desempenharmos as tarefas habituais das nossas vidas.
Em geral, esta capacidade de resiliência é tanto maior, quanto os sistemas tenham múltiplas iterações dos mecanismos vitais: Quando um dado controlo, uma dada regulação do sistema vital falha, intervém outra forma de controlar, de regular este mesmo sistema. Isto passa-se ao nível dos organismos, da fisiologia dos seres vivos. Também ocorre nos ecossistemas, embora seja menos frequente o uso do termo de resiliência, nestes. Mais frequentemente, fala-se de adaptabilidade, de flexibilidade...
Ao nível das sociedades humanas, a resiliência pode ser observada, também. Embora, tal como para os ecossistemas, seja menos frequente a utilização do termo. Por exemplo, quando sociedades afetadas por guerras ou catástrofes naturais, «renascem das suas cinzas», com grande vigor, diz-se que são resilientes. Estas sociedades, embora estabeleçam laços amistosos e comerciais com várias potências, elas têm a sabedoria de não se deixar transformar em neocolónia de nenhuma delas.
Quanto à resiliência ao nível individual, o termo tem sido mais aplicado quando alguém é vítima dum grave trauma, de ordem física e/ou psíquica, que supera, vencendo assim circunstâncias que poderiam implicar a morte ou, pelo menos, uma vida muito diminuída. Exemplos: os atletas para-olímpicos; pessoas que sofreram maus tratos na infância e conseguem superar estes traumas; pessoas sobreviventes duma catástrofe, ou duma guerra e que conseguem superar os traumas. Mas, podemos alargar o conceito, não envolvendo necessariamente trauma físico ou psíquico. Ele pode ser de ordem económica ou social. Note-se, porém, que um forte ataque à capacidade de subsistência do indivíduo é, quase sempre acompanhado, por perturbações físicas e psíquicas, por vezes severas.

A crise que vivemos hoje é uma crise sistémica, portanto é tanto económica, como social ou moral. Todos os níveis operam e interagem uns sobre os outros. A gravidade deste momento não pode ser exagerada, ela tem sido devastadora para as sociedades, para as comunidades e para os indivíduos. Não é meu objetivo, neste escrito, detalhar como se chegou a este ponto. Eu, aliás, abordei esta questão em muitos outros escritos. Aqui, pretendo essencialmente chamar a atenção para as alternativas, de autonomia e resiliência, nos indivíduos e nos coletivos.
A nossa visão do sistema económico-político-social, não pode ser redutora, não pode simplesmente «ignorar» um fator, seja ele qual for. A ignorância pode falsear a nossa avaliação, no momento mais crítico.
Para concretizar o que quero dizer, imaginemos a analogia com a condução automóvel: O condutor de um automóvel, recebe a informação visual «pelo canto do olho», de que alguma coisa se está a mover. Ora, esta coisa pode ser algo inócuo, por exemplo, um pedaço de papel ou de plástico que se move pelo efeito do vento, mas pode ser algo muito perigoso também; imagine-se outro veículo, que se aproxima a grande velocidade. Porém, visualmente, no instante em que o condutor se apercebe desse objeto, representa algo muito minoritário, no campo de visão total. Mas, o cérebro do condutor tem de focalizar a atenção, durante um momento pelo menos, na imagem desse objeto em movimento. Só uns escassos milissegundos depois, o cérebro decide «vou fazer algo em relação a isto, ou não vou». O cérebro do condutor tem de decidir se esta visão periférica pode ser, ou não ser, um perigo. Há um mecanismo automático de análise do objeto e da própria situação, tudo a um nível subconsciente.
A resposta que adotamos, é resultante de várias componentes. Eu penso que podemos agrupar essas componentes em três níveis, sem simplificar excessivamente.
1) A nossa «visão», a discriminação do que compõe a cena, em si mesma (acuidade sensorial).
2) A nossa avaliação interior da mesma, em termos de sobrevivência, a perceção do perigo (instinto).
3) A resposta elaborada, fundamentada na experiência vivida prévia, baseada no conhecimento prático e teórico de situações análogas (raciocínio).
Note-se que, mesmo quando não respondemos a um dado estímulo, quando inibimos a resposta de forma semiconsciente ou consciente, estamos a decidir não responder. Isto é, portanto, algo diferente da ignorância real do acontecimento.
É possível treinarmos capacidades envolvidas nos três níveis acima citados:
A) Acuidade sensorial: por exemplo, a capacidade de discriminação auditiva aumenta com treino de audição de música clássica e sobretudo, com a prática de música, mesmo se apenas a um nível amador. Neste exemplo, não melhoramos fisicamente o nosso sentido da audição, melhoramos a nossa capacidade em discriminar mentalmente entre os sons, com maior subtileza do que na ausência de educação. Podemos aplicar o mesmo raciocínio aos restantes sentidos…
B) O instinto não é - por definição - algo que se possa adquirir/aprender. No entanto, é possível estarmos atentos aos sinais do corpo. Estes são de transmissão automática, em si mesmas. Frequentemente, desencadeiam respostas instintivas. Estas estão a querer comunicar-nos algo de vital. Devemos escutar os nossos instintos, o que não significa segui-los cegamente, como é óbvio. Ser-se «instintivo» não é sinónimo de rude ou primário; pelo contrário, pode ser uma característica de pessoas mais sensíveis aos outros, capazes de maior empatia.
C) O raciocínio é algo que não se desenvolve meramente na esfera da lógica, da matemática. No nosso intelecto jogam muitas outras forças, que nos levam a efetuar escolhas não totalmente racionais, mas que racionalizamos. A possibilidade de melhoramentos reside na compreensão destes mecanismos do intelecto. O «mago ilusionista» distrai-nos a atenção com algo, enquanto efetua a operação oculta, o «truque mágico». Uma parte de nós próprios é como esse «mago ilusionista», quando raciocinamos. Os nossos desejos, sobretudo os não conscientes, são determinantes nas nossas escolhas, mas não nos apercebemos. Sabermos isso, infelizmente não evitará que tal continue a acontecer. Mas, permite-nos evitar os escolhos da autoilusão. É importante estarmos conscientes para a tendência, muito comum, de acreditarmos ser verdade, aquilo que nós desejamos que seja.
Consoante a maneira como vemos o mundo, assim teremos maior ou menor poder de resposta aos desafios deste mundo. Esta resposta, será mais ou menos adequada, em termos de sobrevivência. Mas, para além do nosso desempenho como observadores e da compreensão global das situações, também é importante sabermos dar a resposta adequada. Podemos compreender teoricamente uma coisa e, no entanto, a resposta não se dar, ou dar-se de forma inapropriada, ou com atraso demasiado grande para ser eficaz.

Uma vez enunciadas estas considerações gerais e apriorísticas, quero agora me debruçar sobre as duas propriedades (resiliência a autonomia) no concreto.

Começando pela autonomia:
- Como é que uma pessoa, uma família, um grupo, uma comunidade… podem conservar e aumentar seu grau de autonomia?
Penso que deve existir uma vontade consciente para isso acontecer. Os indivíduos devem estar conscientes e predispostos ao fazer determinadas escolhas. Logicamente, se alguém escolhesse por eles, estaria a contradizer o próprio princípio de autonomia. Mas, num plano menos trivial, as questões da motivação, da livre determinação, da convicção profunda que não deriva do exterior, parecem-me fundamentais. Todas as questões enunciadas na frase anterior relevam da educação, no sentido lato. A educação não é doutrinação, não é o inculcar de valores exteriores. Portanto, a autonomia é sinónimo de exercício da liberdade consciente, pelas pessoas, as famílias, as comunidades e todos os grupos, grandes ou pequenos, de seres humanos.
Esta autonomia vai de par com o debater, em coletivo, as questões que se colocam ao grupo, num modo respeitoso dos outros. Também isso se aprende. Nem sempre se vê tal comportamento. Algumas pessoas não se coíbem de manipular as restantes. Querer manipular os outros de forma disfarçada, é querer tomar o controlo, ou seja, exercer um poder sobre os outros. Isto é totalmente diferente do grupo exercer coletivamente o poder. O grupo que dá a si próprio regras de funcionamento, objetivos, um rumo estratégico, é um coletivo que atingiu a maturidade, no que respeita à autonomia, enquanto grupo. Ele saberá preservar a autonomia individual, reconhecendo e respeitando os direitos e necessidades de cada membro.
No século XIX, em particular, existiram inúmeras experiências de construção de sociedades baseadas na igualdade, na solidariedade e no respeito do indivíduo. Tais tentativas não foram em vão, embora, hoje em dia, haja tendência em apoucar esta rica experiência humana. Nós estamos numa época de involução social e não de progresso, neste domínio. De facto, temos estado a referir como surgiram as primeiras formas de socialismo efetivo, sobre a maneira como se exerceu e exerce.
O movimento cooperativo, sejam cooperativas de produção, de distribuição, agrícolas ou de produção artística, todas elas brotaram de um solo fértil em ideias e desejo de igualdade, equidade, solidariedade verdadeira. Por isso mesmo, as tendências autoritárias, difamaram tais experiências cooperativistas. A tática foi a de chamar «utópico» a este socialismo que foi, desde o início, o mais prático, o mais concreto, e cujos pioneiros eram operários. Isto é propriamente perverso. Mas as pessoas com verdadeiro desejo de autonomia têm muita vantagem em conhecer o socialismo genuinamente operário, as formas que este assumiu desde os alvores no século XIX e  sua evolução. Uma história e abordagem que os autoritários de toda a espécie preferem que seus seguidores ignorem.
É preciso ter uma perspetiva histórica. Além da compreensão aprofundada, ela também serve para mostrar que a realidade atual não pode ser pior que a dos pioneiros do século XIX, que construíram as primeiras cooperativas, os primeiros a associarem-se em sindicatos.
Estou convencido de que não há necessidade de se ir procurar uma fórmula nova, inédita, para abordar a questão de como se deve gerir, de modo democrático e igualitário, um grupo, uma cooperativa, uma associação. Não acredito que as transformações tecnológicas tenham o condão de modificar a natureza humana na sua essência. Podem, quanto muito, induzir determinados comportamentos e dificultar outros. Mas, justamente, o essencial é a escolha consciente dos indivíduos e esta escolha pode e deve ser feita em qualquer época histórica. Ela tem a ver com valores, com ética, não é tributária deste ou daquele grau de desenvolvimento das condições materiais numa dada sociedade. Isto tem de passar pela educação da autonomia. As «escolas de autonomia», de hoje como de ontem, podem tomar uma estrutura formal de sindicatos, de cooperativas ou de outras associações. Na medida em que sejam compostas por indivíduos imbuídos de um espírito de autonomia, o seu funcionamento tenderá a ser o reflexo coletivo dessa mentalidade.
A família, neste contexto, é a «cooperativa natural», por excelência. A tarefa de demolição da família, levada a cabo pelo capitalismo, desde os seus primórdios, tem muito a ver com a necessidade dele desarticular essa forma natural de resistência à normalização, à subjugação do indivíduo. O capitalismo ambiciona ver o indivíduo «livre»... de laços familiares. Mas o termo livre, aqui, não é no sentido habitual do termo, mas no sentido de «livre para ser explorado», para ser usado e abusado pelos donos do capital. A família foi, durante milénios, a «unidade económica básica», a «escola elementar de vida», para além da relação biológica.
As pessoas que não se coadunam com a mentalidade dominante, têm frequentemente dificuldades, pois muitas não possuem qualquer experiência prévia, ou demasiado escassa, de trabalho em coletivos. Um problema complexo que tais coletivos enfrentam é de conseguir abertura, sem diluição das características próprias. A abertura necessária para se crescer numericamente, pode originar a entrada de indivíduos com boa vontade, mas cuja educação está ainda longe do ideal de autonomia. O querer crescer a todo o custo, pode ter um efeito dissolvente na qualidade das relações e na autenticidade dos processos internos de um grupo. Mas, o inverso, ou seja, um funcionamento fechado, pode desencadear o aparecimento de práticas sectárias, mesmo quando a maioria não perfilha tal modo de funcionamento.
A forma de organização em rede, associando entre si estruturas, como cooperativas e outras coletividades, pode ter a sua oportunidade histórica, agora. No momento em que se dá o desmoronar da «economia de casino» e em que as pessoas irão sofrer tremendas dificuldades.
Se, nestas circunstâncias, as pessoas não aprendem ou reavivam seus conceitos de entreajuda, de autonomia e cooperação, então o seu futuro será, provavelmente, de escravatura. Penso que muitas pessoas já perceberam isto. Quanto mais se aprofundar a crise do capitalismo, mais a necessidade de autonomia se vai tornar patente. Nestas circunstâncias, a organização de estruturas do tipo cooperativo, em interação e em rede com outras, semelhantes, vai desenvolver-se. Não consigo imaginar de que modo subsistam durante muito tempo, as presentes formas predadoras de exploração dos humanos e do ambiente. Estas formas, o neoliberalismo, a financeirização da economia, levaram ao caos e à destruição humana e ambiental. Só podem desejar a continuação disso, os psicopatas do poder económico ou político.

Em relação à resiliência, no sentido individual ou social, penso que o fundamental é procurar encontrar os meios pelos quais esta resiliência se exprime e se traduz em comportamento, no momento adequado. Vejamos como:
Quando se faz uma pesquisa na Internet, deparamo-nos com artigos e vídeos em quantidade abundante, procurando «ajudar-nos» a encontrar as saídas para as situações encontradas, sobretudo que envolvem aspetos da vida afetiva, mas também do foro profissional. Não digo que estejam todos a procurar atrair o cliente, para o convencer a frequentar um «curso», disto ou daquilo. Mas, geralmente, as suas propostas e soluções são parecidas, variando apenas os ingredientes, mantendo-se o essencial, que é «Sigam o que eu digo e serão felizes». Por mais que digam, não estão a proporcionar outra coisa, senão uma dependência, uma ilusão.
Mas, uma pessoa que esteja realmente desperta, consciente da necessidade de uma autonomia e resiliente, vai procurar outro tipo de ajuda. Vai tomar consciência de que suas dificuldades, ou problemas radicam num ataque geral contra o indivíduo, pelas forças trituradoras do capitalismo. A saída para a dificuldade ou problema passa, portanto, por se associar com pessoas confiáveis, que nutram os mesmos ou semelhantes sentimentos e pontos de vista, incluindo a recusa de utilizar meios violentos. Se as pessoas começarem a dar confiança umas às outras, e nenhuma às corporações e aos Estados, em breve serão construídas redes eficazes de solidariedade e entreajuda, não hipotecadas a interesses corporativos, nem às burocracias estatais.

Tentam impor-nos agora uma ditadura mundial, servindo-se de governos nacionais e de instâncias globalistas internacionais (OMS, ONU, FMI, OMC, etc.) Se o chamado «Great Reset» for bem sucedido, isso significa que a oligarquia mundial triunfou. Ela já detém, atualmente, a maioria dos bens financeiros e uma fatia substancial dos bens tangíveis – propriedade imobiliária, industrial, terras de cultivo, etc. Eles utilizam o pânico artificialmente criado pela média, em torno de uma infeção viral, bastante inócua em si mesma, mas transformada em "grande perigo do vírus mortífero". Isto permite que o grande capital, com toda a tranquilidade, se desfaça de ativos financeiros hipervalorizados que ainda detém e os transforme em ativos «sólidos» (não-financeiros). Entretanto, as pessoas que se deixaram iludir pela «bolha de tudo» e investiram em ações ou outros papéis (capital fictício) loucamente inflacionados, ficarão sem nada. Os multimilionários já estão agora múltiplas vezes mais ricos, beneficiários da crise artificial do COVID e vão ficar ainda mais.

A melhor resposta às ofensivas do grande capital, aliado com os Estados, parece-me ser dupla:
1ª O desmascaramento das suas manobras, de um modo claro, não demagógico, de forma a convencer o maior número possível sobre a sua realidade. Podemos chamar a isto «Operação O Rei Vai Nu». Quanto mais pessoas perceberem, mais estarão do nosso lado, mais se recusarão a fazer «o frete» ao grande capital, mais espalharão o saber sobre a conjura REAL, desmascarando os que querem calar toda e qualquer resistência, com a etiqueta de «teoria da conspiração». Com efeito, para uma trapaça resultar, o trapaceiro tem de convencer suas vítimas de que está tudo bem, de que seguindo este caminho estarão em segurança, etc. Desmascarar os trapaceiros é desarmá-los, é impedi-los de continuarem o seu jogo.
2º Construirmos a nossa vida, sem recorrer a essas grandes corporações.
Por exemplo, a criação de bancos cooperativos. Eles existem em vários países. Na Alemanha, por exemplo, captam uma fração significativa das poupanças (1).
Outra vertente, é a existência de unidades, familiares ou de maior dimensão, de agricultura biológica. Desenvolveu-se um mercado que, não apenas fornece produtos de qualidade certificada aos consumidores, mas também que está fora da agroindústria. Esta, continua a utilizar produtos fitossanitários cancerígenos, adubos que desequilibram os solos e os tornam cada vez menos aptos à agricultura e recorrem às sementes de plantas geneticamente modificadas, sujeitas a patente, redutoras da biodiversidade e escravizadoras dos agricultores (2).
As alternativas não são do agrado dos gigantescos poderes tecnológicos e financeiros, mas são perfeitamente viáveis e desejáveis. São de aqui e de agora; não são utopias. Talvez, isso seja um dos fatores mais decisivos, embora subestimado por alguns.
Curiosamente, o poder oligárquico toma isso muito a sério, porque sabe o potencial perigo que representa o que seja descentralizado e não submetido aos seus monopólios. Com efeito, quando se pensa bem nisso, na agressividade das ofensivas deles, em todos os domínios, parece mais uma desesperada «fuga para a frente». Eles sabem bem que não têm nada a oferecer de positivo às pessoas. Mas, precisam dar uma ilusão de serem «ecológicos», inovadores, apoiantes de soluções «verdes», e também indispensáveis filantropos, apostados em combater epidemias e erradicar a fome…

Como construir uma estratégia coletiva resiliente?
Nas segunda metade do século XVI, um filósofo, Étienne de la Boétie, escalpelizou a relação dos súbditos com os poderosos, de modo tão rigoroso que seu folheto «De La Servitude Volontaire» continua sendo uma referência essencial em filosofia política. Ele apresenta o argumento de que a servidão dos súbditos é voluntária, no sentido em que estes não são realmente obrigados a fazer a maior parte do que fazem, a sujeitarem-se abjetamente ao poder. Mas, com isso, estão a reforçar grandemente o poder que os oprime, os esmaga e lhes extrai o rendimento do seu trabalho.
As coisas não mudaram, na essência. Nós esquecemo-nos - em inúmeras ocasiões - que, ao escolher um determinado produto e não outro, estamos a dar força a entidades que detestamos, enquanto ao não consumirmos determinado bem ou serviço, que no entanto, é feito pelos nossos aliados naturais, estamos a negar-lhes apoio (3).
Multiplicando aqueles pequenos gestos, a população dos consumidores dispõe de um poder que, muitas vezes, ignora. Acaso as grandes empresas gastariam quotidianamente milhões com a publicidade, se não fosse essencial persuadirem os consumidores?
Somos coniventes, até mesmo quando nos deixamos iludir. Tome-se como exemplo as campanhas ditas de solidariedade social, organizadas por certas ONGs, com a conivência dos Estados: As percentagens das doações para ajudar populações pobres, ou pessoas sofrendo de doença incurável, ou para apoio à alfabetização de crianças, etc., e que vão efetivamente parar às pessoas em causa, são - muitas vezes - ridículas (da ordem duns 10 ou 20 %, apenas) enquanto o restante fica para aquelas ONGs, com muita capacidade mediática, que fazem sua publicidade de forma a desencadear compaixão nas pessoas comuns.
A redução da democracia ao voto, é um dos truques mais óbvios de todos os poderes estatistas. Mas nós sabemos que «votar» não é sinónimo de «participar», por mais que eles nos queiram convencer disso. Os poderes que nos governam querem que «nos mobilizemos para votar». Votemos, pois, de todas as maneiras:
- Votemos com a carteira, comprando o máximo de coisas e serviços exteriores aos grandes circuitos, aos grandes poluidores, aos exploradores do trabalho das crianças e dos baixos salários no Terceiro Mundo.
- Votemos com os pés, desertando os grandes espaços dos hipermercados e centros comerciais, preferindo o comércio de proximidade.
- Desertemos espetáculos alienantes e uniformizadores; votemos, fazendo desporto, jogging, camping, etc., e sem usar acessórios poluentes, não-biodegradáveis, o que não diminui em nada – pelo contrário – a qualidade do exercício físico e do contacto com a natureza…
- Votemos com os neurónios, desligando-nos da TV, das redes sociais e dos jogos vídeo: Todos eles servem para nos «agarrar», como uma droga (sim, de facto, têm um efeito aditivo…).
- Votemos de corpo presente, afirmando a nossa vontade, nas ruas e nas praças, onde as pessoas se manifestam e reúnem por objetivos confluentes.
- Votemos com a nossa participação ativa em associações: de vizinhança, ambientais, políticas, ou outras, dentro das quais estejamos dispostos a colaborar.
- Sejamos resilientes, sejamos ativos/ativas, esta é a mensagem, em resumo. Quanto a votar em tal ou tal partido, em tal ou tal candidato, podes fazê-lo se achares útil, mas que isso não seja alibi para não fazeres mais nada.

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(1) Desempenham também um importante papel, mobilizando capital para investimento, em pequenas e médias empresas, normalmente na região onde estão implantados.

(2) Portugal, com solos muito menos contaminados que os dos países do centro e norte da Europa está em boa posição para desenvolver projetos rentáveis de agricultura biológica. Uma boa oportunidade para exportação de produtos de elevada qualidade.

(3) Pequenos comerciantes e consumidores têm interesses convergentes. Uma educação para o consumo responsável, não deve ser apenas virada para critérios ecológicos, mas também para contrariar práticas monopolistas na distribuição.



 

[Gostava de receber o vosso feedback sobre o conteúdo deste ensaio. A discussão está aberta a quem quiser nela participar. Pode fazê-lo nos comentários abaixo deste artigo, qualquer que seja a sua opinião, mas de forma respeitadora dos outros, sem insultar ou menosprezar. Obrigado!]

quinta-feira, 22 de julho de 2021

OCIDENTE EM DESAGREGAÇÃO SOCIAL, POLÍTICA, CULTURAL

    

                                                Gravura representando a execução de Luís XVI

É compreensível alguém pensar que a estrutura (a produção, a economia, etc.) não é o que determina a História. Exatamente o contrário do que Marx e os marxistas defendiam. O que nos aparece hoje, diante dos olhos, é que os aspetos sociais e culturais têm uma grande relevância, são mesmo decisivos nas batalhas políticas do presente.
Da conjunção de imagens, sentimentos e emoções, se têm feito as campanhas eleitorais e os movimentos reivindicativos. A política é (sempre foi) uma guerra civil sublimada - no melhor dos casos - ou mesmo uma guerra civil, «tout court».

Porém, nós estamos em pleno numa transição, que eu não saberei caracterizar rigorosamente e que, penso, não será teorizável senão daqui a muitos anos, pois é preciso ter havido um pleno desenvolvimento das tendências que despontam, para se compreender o sentido das transformações em curso.

De facto, a «estrutura» relevante são as relações de poder, seja em termos de propriedade, ou de se possuir armas e as rédeas do aparelho de Estado, ou os meios de comunicação social, que conferem o poder de influenciar milhões de pessoas.

As pessoas estão habituadas a pensar a evolução social, política, como um «progresso». Mas, de facto, não existe um progresso linear, contínuo. Nada será mais enganador, pois as civilizações são como organismos vivos: Nascem, crescem e morrem.

Vários pensam que a civilização do Ocidente, que durou muitos séculos, está realmente nos últimos estertores, antes de sair de cena. Mas, se ela começou em torno dos polos organizadores da cristandade e das monarquias, teve o seu apogeu no capitalismo, que arrastou consigo a violenta e durável modificação das condições materiais e portanto, também sociais.

Este apogeu já passou, as possibilidades de expansão do capitalismo esgotaram-se há décadas. As novas zonas de florescimento do capitalismo (China, Sudeste asiático, e outras) não têm muito para onde se expandir. Ora, o capitalismo é um sistema que precisa de crescer sempre: um PIB que não cresce, é equivalente ao definhamento da economia, em termos capitalistas.

A alternativa do socialismo real não existe, no presente, pois os sistemas que se declaram como tal, na realidade, são sistemas de capitalismo de Estado, ou de economia mista Estado/empresariado.

Porém, a possibilidade dum verdadeiro socialismo está aberta. Seria - a meu ver - baseada, não apenas na socialização dos meios de produção, como também no seu controlo, na possibilidade de autonomia verdadeira das unidades de produção; um sistema de autogestão, ou cooperativismo generalizado.

 Pode-se dizer que houve algumas tentativas históricas e que existem alguns focos localizados, no presente. Em ambos os casos, correspondem a formas imperfeitas do paradigma de socialismo, autogestionário e cooperativo. Mas, ao nível de um continente, ou dum conjunto grande de países, tal sistema está por concretizar.

Creio que o mais esperançoso, para alguém que deseje ver o despontar de maior justiça distributiva e de igualdade de oportunidades, é o facto das condições tecnocientíficas existirem. O desenvolvimento atual da técnica e da ciência, permite ir ao encontro de quase todos os problemas práticos, de forma satisfatória. Não seria o paraíso, mas haveria o suficiente, ou mesmo um pouco mais, para todos viverem decentemente, nesta Terra. Não haveria dificuldade intransponível em manter um tal sistema, ecologicamente sustentável e socialmente justo. A única questão decisiva é a do poder, da assimetria na distribuição do poder.

Na realidade, estamos a caminhar para um «neo-feudalismo» à escala global, o que nunca se verificou no passado. Mesmo os monarcas e nobres mais poderosos no passado, tinham um território limitado, onde exerciam o poder. Tinham rivais às fronteiras dos seus reinos, ou condados, etc.

Hoje em dia, os empórios mundializados têm, nominalmente, um país-sede, mas estão presentes em quase todas as nações. As principais empresas tecnológicas e as maiores empresas industriais repartem entre si o espaço planetário, influem sobre os Estados, mesmo sobre os maiores e mais poderosos. Têm uma abrangência tal, que é praticamente impossível que alguma média empresa do respetivo sector, cresça e ponha em causa os monopólios, ou oligopólios entronizados.

Já não estamos num universo de capitalismo clássico, de concorrência, de mercados. Nem estamos numa configuração política onde as leis seriam realmente feitas por entidades políticas, emanadas dos respetivos povos. Já não o são! São os lobbis - que exprimem diversos interesses industriais- que têm o papel decisivo.

Os novos «barões, marqueses, condes e duques» dominam os diversos sectores: a finança, as empresas tecnológicas, as empresas de armamento, as farmacêuticas, as do agro-negócio, etc. Mas, esta nova oligarquia tem muito mais poder que os senhores feudais do passado. Com efeito, no feudalismo antigo, o rei podia destituir, ou mesmo destruir, um nobre que tivesse demasiadas ambições. Hoje, é o contrário: Os governos estão à mercê dos consórcios de banqueiros e industriais, que podem decidir se tal ou tal governante, se tal ou tal partido, devem manter-se no governo, ou não. Vassalos são, afinal, aqueles que, nominalmente, estão nos cargos cimeiros dos Estados.

A cidadania desiludida já não vota; não se trata dum desinteresse pela coisa pública, mas antes desespero, por ver o efeito nulo da expressão da sua vontade, em termos práticos.

A espiral descendente civilizacional já não é novidade, já mostra os seus efeitos desde há decénios, nos países convencionalmente designados por «democracias liberais». Nestas, a participação na vida pública reduz-se cada vez mais, quer em quantidade, quer em qualidade.

Na verdade, tudo tem sido feito para arredar a discussão dos problemas e das propostas de sua resolução, no espaço público. Nem sequer no período eleitoral as questões verdadeiramente importantes são debatidas. São agitadas ideias e reivindicações demagógicas: Estas são esquecidas, assim que a eleição passou e se forma novo governo.

Para nós, os períodos eleitorais são um mero teatro, em que temos um papel passivo de espectadores. O voto não é ativo, é apenas uma forma simbólica e ambígua de se afirmar algo mas, muitas vezes, com plena consciência da futilidade do gesto. Não é por acaso que, além da abstenção, têm crescido os votos brancos e nulos, ou os votos em partidos e candidatos fora do «establishment», ou percebidos como tais.

No plano cultural, as pessoas estão cada vez mais dissociadas da cultura verdadeira. A chamada cultura de massas é uma espécie de comércio do entretenimento: não traz nenhum talento, nenhuma originalidade, nenhuma inovação estética, em 90% dos casos.

A escola não transmite saberes, mas sim aprendizagem da submissão, do controlo social, da interiorização da hierarquia. A meritocracia, antes, era considerada decisiva por muitos, para subida na escala social. Mas, agora está posta em causa. É desprezada, enquanto é promovida a «identidade» (movimento «woke»), que se torna o fator determinante da carreira, a começar pelo acesso à universidade e a terminar pelos postos de gestão das empresas. Várias empresas reservam quotas dos quadros dirigentes para pessoas «de cor», para mulheres, para LGBT... Isto significa que, até mesmo o mérito visto sob o prisma estreito da capacidade para gerar lucro, se tornou secundário.

Multiplicam-se os sinais de decadência, tanto nos costumes da população em geral, como nos detentores de cargos políticos. O público, anestesiado, apenas encolhe os ombros, perante a revelação do último escândalo, por maior e mais nefasto que seja.

Os efeitos no tecido social das ideologias hedonistas, consumistas e materialistas mesquinhas, são dissolventes e também desencadeiam a fragmentação no mesmo tecido. Observa-se - cada vez mais - o isolamento das pessoas, o seu fechamento em círculos pequenos.

Estes são sinais de decadência, semelhantes aos que se verificaram em certas ocasiões da História, como antes do colapso do império romano, ou nas vésperas da revolução francesa.

Não me parece que estejamos na transição para um futuro com liberdade, com boas oportunidades de realização pessoal, com espaço para o espírito e para os valores culturais genuínos de cada povo.

Temo que seja mais provável a transição para um regime ditatorial mundializado, onde se misturem os traços autoritários, típicos de países ditos «comunistas», com a imagem duma «democracia liberal» totalmente esvaziada, isto é, sem liberdade e sem democracia.

Chame-se a isto neo-feudalismo ou tecno-fascismo, será um sistema onde a assimetria de poder - económico, político e social - estará extremada.

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terça-feira, 16 de março de 2021

PARADIGMA TECNOCRÁTICO VERSUS PARADIGMA BIOLÓGICO*

 Estamos a viver uma transformação -real e profunda- em todos os domínios. A começar pela nossa própria capacidade de subsistência. E, indo ao ponto de subverter as nossas imagens/representações do mundo, os nossos valores, a nossa maneira de nos relacionarmos com os outros e com a Natureza. 

Esta mudança tectónica, que eu venho observando, tem como característica a deslocação de muito do que nos era dado como adquirido: a convicção do poder da ciência para resolver nossos problemas, por exemplo... 
Mas, a um nível mais fundamental, modifica-se a nossa relação íntima com o mundo das coisas, dos objectos. Estou falando de objectos tecnológicos, como o telemóvel, por exemplo. De simples coisas úteis, de «escravos mecânico-electrónicos», ao serviço dos homens, tornaram-se objectos sem os quais «não podemos viver». 

Somos dependentes destes objectos tecnológicos, propriamente como um adito de drogas duras em relação à sua dose quotidiana de heroína, cocaína, ou outra substância. 
Não é necessário haver ingestão ou incorporação física no organismo, não é necessário haver uma substância que transita no nosso corpo e vai modificar os sinais ao nível das sinapses neuronais. O adito pode ser caracterizado como alguém que está necessitado de reforço constante de um estímulo, e este pode não ser químico: pense-se nos viciados do jogo; a sua «injecção» é de dopamina, que é gerada no próprio cérebro, estimulado pela excitação do jogo. Do mesmo modo, a dependência que se instalou, sorrateiramente, para a maior parte das pessoas, com a «necessidade» de estar permanentemente «conectado», vai induzir uma transformação social. Mas, note-se, que ela não é programada, nem planeada, pelos que dominam as redes de poder com perversa  inteligência: não, estes mecanismos são antes aproveitados a vários níveis, sobretudo para consolidar o poder. 
Para mim, não há dúvida que continuamos a viver numa sociedade sujeita a divisão em classes, em que uma classe, ou uma fracção ínfima da população, detém o comando e pode «viciar o jogo». Mas, também sei que os que estão por baixo, os desapossados, tendem a exagerar o poder dos que os governam; tendem a considerar que os poderosos são omnipotentes, quando estes mascaram sua ignorância através do teatro do poder, da representação, da narrativa ininterrupta, que inunda o espaço público... é isso que os torna poderosos, ao fim e ao cabo. 
- De que serviriam as armas dos seus exércitos, de suas polícias ... se os indivíduos que as accionam não se sentissem convencidos e obrigados a cumprir as ordens que vêm de cima? 
- De nada lhes serviria um aparato tecnológico de vigilância, se nós decidíssemos colectivamente, retomar os nossos relacionamentos a um nível pessoal, apenas utilizando a Internet como uma espécie de aperfeiçoamento das comunicações epistolares e para mais nada... nem «chat», nem vídeos, nem música...

Claro que isto não vai acontecer: é aí, precisamente, que reside o poder as «elites», elas sabem que estamos dependentes dessas «máquinas maravilhosas» e que o nosso universo de relações, o nosso ambiente, tanto humano, como material (mercadorias...), não se pode sustentar sem elas. 

Mas, este tipo de sociedade dominada pelo tecnológico, num grau até aí desconhecido, vai de par com a perda das liberdades tradicionais, tornou-se uma sociedade de vigilância permanente, de intrusão permanente, sem haver verdadeiro consentimento das pessoas, uma sociedade onde reina o medo, a suspeição do outro. 

Isto não teria de ser assim, obrigatoriamente; é-o, porque estamos numa sociedade hierarquizada, onde a «ordem» é tida como sinónimo de poder hierárquico. 
Porém, podia-se objectar que os ditadores dos séculos anteriores não tinham sequer estes instrumentos de controlo e vigilância: faziam - no entanto - reinar o terror entre os seus súbditos. Isto é verdade, mas temos de reconhecer que eles usavam os meios adequados, no seu tempo histórico, para impor a sua lei. 
A questão essencial era (e é) a da eficácia dos meios coercivos. Numa sociedade que vive no limiar da fome, por exemplo, a retirada dos meios alimentares equivale realmente a uma condenação à morte. 

A questão da cedência das nossas liberdades a troco da nossa «segurança» é dupla: 
- Primeiro, não é nada difícil ceder as liberdades, mas é extremamente difícil recuperá-las. Algo que significa uma luta de gerações: quem viveu ou vive sob ditadura, sabe que é assim.  
- Segundo, basta ver que a nossa «segurança» é sempre muito relativa; sobretudo, que a desestabilização do nosso pequeno mundo é - com grande frequência, senão sempre - originada pelas decisões das «altas esferas» do poder. 
Os poderosos não se importam - até lhes convém - que as pessoas comuns, «os súbditos», estejam num estado de constante insegurança e incerteza, pois sabem que o reflexo da imensa maioria é ir a correr procurar «salvação» junto dos governantes. 
Estes, muitas vezes, não têm senão um poder ilusório, «mágico», que se limita ao fabricar dum discurso, duma narrativa destinada a reforçá-los no poder.

Como esta sociedade de tecnologia totalitária é destrutiva do próprio tecido da sociedade, o paradigma natural/biológico terá de se afirmar. Irá notar-se primeiro nas margens e depois em sociedades inteiras, que escaparam ao pesadelo tecnológico. 
O paradigma biológico não deverá ser entendido como forma redutora, mas como inspiração para uma economia realmente baseada na optimização energética, na reciclagem, na gestão apropriada e prudente dos recursos... 
... E na transformação das relações estúpidas, de competição destrutiva, depredadora, em algo mais inteligente, como a cooperação e também a competição, mas esta entendida como emuladora.
Não é possível, nem razoável, propor algo detalhado, um plano, um programa, para tal sociedade. Podemos imaginar que esta se irá reger por regras, ou «leis», que se inspiram directamente na biologia.
Mas, estou convencido que os agrupamentos humanos, pequenos ou grandes, sejam pequenas comunidades ou nações inteiras, cedo verão a vantagem em adoptar tal paradigma novo, abandonando a presente adição a uma tecnologia destruidora e avassaladora dos humanos. 
Não existe tecnologia neutra, porque os modos de pensar as coisas, a sociedade, as relações entre seres humanos, etc. estão permanentemente condicionados por essa mesma tecnologia: A ideologia, que uma dada tecnologia necessariamente segrega, vai condicionar, de forma decisiva, o tecido social. 

É o que temos diante dos olhos, neste momento. Acredito que o espectáculo não seja agradável para muitos, como não o é para mim!

(*) É importante distinguir entre Biologia e Biotecnologia. O paradigma que eu chamo biológico, é a antítese da grande indústria farmacêutica, do agro-negócio, da modificação genética designada por «vacinas anti-COVID», etc. 
Estas utilizações da biotecnologia, nas mãos dos globalistas, correspondem exactamente ao paradigma tecnocrático. 

domingo, 4 de outubro de 2020

Onde é que ocorre a maior criação de riqueza? Onde é que a sociedade está mais digitalizada?

 E se nos deixássemos de confiar na media, vendo o que é realmente a China, hoje: Um documentário feito há um ano (30 de Junho de 2019), por americanos. 

Segundo o multimilionário Jim Rogers, a Califórnia de hoje é mais «comunista» que a China!

                                          

O futuro é na China: se queres saber como será em muitos outros países, dentro de alguns anos, vê o documentário!

sexta-feira, 6 de março de 2020

[Roland Gori] A FÁBRICA DOS IMPOSTORES

O AUTOR ESCLARECE MUITAS QUESTÕES QUE TÊM ESTADO OCULTADAS (INTENCIONALMENTE). A SUA ANÁLISE RIGOROSA PERMITE-NOS COMPREENDER AS RELAÇÕES NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS 
(falado em francês, com legendas em inglês)

                                          https://www.youtube.com/watch?v=2FEtiA18lZU

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

[28-29 /02/2020] A MAIOR CRISE MONETÁRIA/SISTÉMICA DA HISTÓRIA

                     (As fotos abaixo são relativas à grande depressão dos anos 1929-33)

                                 Image result for 1929 depression

Sim, estamos perante o início de uma crise cujas dimensões são tais, que ninguém ou quase, se apercebe do abismo que se está a desenhar em frente «dos olhos financeiros» do mundo inteiro.
Explicação: perante a descida vertiginosa dos mercados de acções e obrigações, maiores do que as descidas da grande crise de 2007/2008 e das outras, de que o sistema guarda memória, qual será a reacção dos bancos centrais? Aposto, com toda a confiança, que estão agora (28-29 Fev. 2020) reunidos, sob a batuta do BIS (Bank of International Settlements) para decidir de uma coordenada política de impressão monetária, com vista a «salvar» a economia da catástrofe.
Evidentemente, não vão salvar nada, pois mesmo que os mercados por magia (falsa) subam vertiginosamente do mesmo modo que desceram, vão fazê-lo com dinheiro impresso e cedido pelos bancos centrais, «resgatando» assim a economia financeirizada em que temos vivido. 
Mas, muitos actores do mundo económico real vão receber os dólares, ou yens, ou euros, etc. suplementares, não com entusiasmo, mas com apreensão, pois todo e qualquer activo que detenham, vai sofrer diluição equivalente do valor. 

                                                      Image result for 1929 depression

O público em geral vai também ver a aceleração da inflação, inevitável numa situação de inundação dos mercados com divisas que não correspondem a nada, a nenhum valor/trabalho. Como noutras situações históricas conhecidas, desde a Alemanha da República de Weimar (1920-23), à Rússia de Ieltsin (finais dos anos 90), à Argentina (de 2000) ou ainda outros episódios de hiperinflação contemporâneos, como na Venezuela e Zimbabwe, o início parece ser uma inflação apenas um pouco mais intensa, depois haverá uma descida enorme dos salários reais e aí as pessoas começam a entrar em pânico, sendo depois questão de pouco tempo (meses) até o dinheiro deixar de ter qualquer valor.  
Escusado será dizer que as pessoas mais afectadas são as que ficam impossibilitadas de sobreviver neste contexto: em geral, os assalariados, os pensionistas, as pessoas de posses modestas, ficam na miséria. 
O sistema global não poderá continuar neste estado por muito tempo. Daí que as «elites» já tenham preparado um «reset» ou seja, uma forma de mudar o que tem de ser mudado para que tudo (o que é essencial) fique na mesma
É muito provável o lançamento dum sistema monetário baseado em cripto-moedas, mas com emissão estatal ou por bancos centrais. Esta «solução» não será uma verdadeira solução, porque o conteúdo do valor das criptomoedas ou moedas digitais será sempre sujeito a manobra dos governos e bancos centrais, tal como têm sido - até agora - as moedas em papel, as «divisas fiat», que apenas existem porque os Estados obrigam os cidadãos a fazerem todos os seus pagamentos nestas e só nestas divisas, para que as transacções sejam consideradas válidas, para todos os efeitos legais.

                                         Image result for 1929 depression

Ora, os Estados estão sempre a desvalorizar suas moedas para conseguirem fazer mais despesas, que não teriam hipótese de fazer, somente com dinheiro dos impostos. Mas fazem-nas, no entanto, devido ao seu endividamento, junto de entidades financeiras, como bancos, fundos especulativos, etc. (os compradores de dívidas estatais ditas «dívida soberana»). 
Uma grande parte do colapso a que começamos a assistir agora, deveu-se a essa arquitectura defeituosa do sistema monetário e do poder político, aproveitando e abusando dessa possibilidade  de endividamento, para se auto-perpetuar à custa do futuro dos seus próprios países e povos. 
Mas, como as populações respectivas não compreendem patavina do esquema de Ponzi que tem sido mantido mundialmente pelos governos e finança, eles têm continuado, ao longo de décadas, o seu comportamento criminoso, de forma continuada, descarada e impunemente.

Só haverá mudança real do sistema monetário se e quando o mesmo não permitir os golpes ou esquemas de Ponzi, que têm sido o apanágio destas castas financeira e governante. 
Quando o trabalhador tiver a garantia da conservação do valor do fruto do seu trabalho, qualquer que seja a unidade em que é pago, ao contrário de hoje, em que o poder de compra dos salários se deteriora mais ou menos rapidamente. 
Hoje em dia, o assalariado não consegue manter o seu poder de compra, simplesmente porque o dinheiro está «desenhado» para ir perdendo valor ao longo do tempo, mas isso ninguém (ou quase) lhe explica! 
Só uma transformação profunda, não violenta, que aborde as questões sem demagogia e no interesse da imensa maioria, poderá resolver as questões...