Mostrar mensagens com a etiqueta União Europeia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta União Europeia. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 15 de abril de 2020

[Manlio Dinucci] TRUMP ORDENA A «ASSISTÊNCIA» À ITÁLIA

RETIRADO DE:
                  

ITALIANO PORTUGUÊS

O Primeiro Ministro Conte anunciou aos italianos, em directo na televisão, em 10 de Abril, que a Itália não assinou nenhum compromisso com o MES (1), o fundo europeu “salva-Estados”, e que o seu Governo discutirá apenas "um MES não condicionado”, ou seja, que não imponha condições que sejam prejudiciais aos interesses nacionais e à soberania do país. Posição correcta.
No entanto, o Primeiro Ministro não anunciou aos italianos que, em 10 de Abril, o Presidente Trump emitiu, a pedido do governo Conte, um “Memorando sobre a Prestação de Assistência ao Covid-19 à República Italiana” (2) que contém, de facto, fortes restrições para o nosso país.
Trump anuncia que “o Governo da Itália solicitou a assistência dos Estados Unidos”. Assim, com base na autoridade que lhe foi conferida pela Constituição e pelas leis, “ordena o seguinte” para ajudar “um dos nossos aliados mais antigos e mais próximos”.
As ordens, emitidas aos Secretários dos Departamentos e às Agências dos Estados Unidos, estabelecem dois tipos de intervenção:
Ø A primeira, de natureza médica, para ajudar a Itália a combater o Covid-19, “demonstrando ao mesmo tempo a liderança dos Estados Unidos diante das campanhas de desinformação da China e da Rússia”. Ao Secretário da Defesa, o Presidente ordena que disponibilize, para assistência, “os mais de 30.000 militares e funcionários dos EUA, em Itália” com as suas “estruturas”.
Ø A segunda e mais consistente intervenção consiste em “apoiar a recuperação da economia italiana”, que corre o risco de acabar “numa profunda recessão”. O Presidente Trump ordena aos Secretários do Tesouro e do Comércio, ao Presidente do Banco de Exportação e Importação, ao Administrador da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, ao Director da Corporação Internacional Americana de Finanças para o Desenvolvimento (agência governamental que financia projectos de desenvolvimento privados) para usarem as suas ferramentas, a fim de “apoiar as empresas italianas”.
Ainda não se sabe quais ferramentas serão usadas pelos Estados Unidos para “apoiar a recuperação da economia italiana”, nem quais serão as condições concedidas para a “ajuda”. Mas o plano de Washington é claro:
Ø explorar a crise e as fracturas na União Europeia para reforçar a influência USA em Itália, enfraquecendo, ao mesmo tempo, as relações da Itália com a China e com a Rússia.
Confirma-o, a autoridade com que foi lançado o plano de “Assistência à República Italiana”:
Ø uma série de ordens presidenciais dadas não apenas aos Secretários dos Departamentos acima mencionados, mas ao Secretário de Estado (3) e ao Assistente do Presidente para Assuntos de Segurança Nacional. (4
Um dos objetivos do plano certamente enquadra-se no que o New York Times define como “uma corrida armamentista global para obter uma vacina contra o coronavírus, que está a desenvolver-se entre os Estados Unidos, China e Europa”. (5) Os primeiros que forem capazes de produzir a vacina - escreve o NYT – “podem ter a oportunidade não só de favorecer a sua população, mas de ter vantagem ao enfrentar as repercussões económicas e geoestratégicas da crise”.
A companhia farmacêutica americana Johnson & Johnson (6) anunciou, em 30 de Março, que havia seleccionado uma possível vacina contra o Covid-19, na qual trabalha desde Janeiro, em conjunto com o Departamento da Saúde, com um investimento conjunto de mais de um bilião de dólares. A empresa anuncia que, após os ensaios clínicos programados para Setembro, a produção de vacinas poderá começar nos primeiros meses de 2021 em “tempos substancialmente mais acelerados do que o normal”, atingindo rapidamente a capacidade de produção de mais de um bilião de doses.
O plano de “assistência” à Itália, ordenado pelo Presidente Trump, também poderá incluir o fornecimento da vacina que, provavelmente, será usada (talvez tornando-a obrigatória) sem se preocupar com os tempos de teste e produção “substancialmente mais acelerados do que o normal”, nem o custo económico e político dessa generosa “assistência”.

Manlio Dinucci
il manifesto, 14 de Abril de 2020

------------------------------

terça-feira, 3 de março de 2020

[Manlio Dinucci] TRINTA MIL SOLDADOS USA NA EUROPA, SEM MÁSCARA

                 
Manlio Dinucci

Os Estados Unidos subiram o alerta do Coronavírus para a Itália, do nível 3 (“evitar viagens não essenciais”), elevando-o para 4, para a Lombardia e Veneto (“não viajar”), o mesmo que para a China. A American Airlines e a Delta Air Lines suspenderam todos os voos entre Nova York e Milão. Os cidadãos USA que vão à Alemanha, Polónia e outros países europeus, no nível de alerta 2, devem “adoptar precauções acrescidas”.
Há, no entanto, uma categoria de cidadãos USA isentos dessas normas: os 20.000 soldados que começam a chegar dos Estados Unidos aos portos e aeroportos europeus para o exercício Defender Europe 20 (Defensor da Europa 20), o maior destacamento de tropas USA, na Europa, nos últimos 25 anos. Compreendendo os que já estão presentes, participarão em Abril e Maio, cerca de 30.000 soldados USA, apoiados por 7.000 dos 17 países membros e parceiros da NATO, entre os quais, a Itália.

                     

A primeira unidade blindada chegou do porto de Savannah, nos EUA, ao de Bremerhaven, na Alemanha. Em resumo, chegam dos USA a 6 portos europeus (na Bélgica, Holanda, Alemanha, Letónia, Estónia) 20.000 peças de equipamentos militares. Outras 13.000 peças são fornecidas pelos depósitos pré-posicionados pelo US Army Europe (Exército dos EUA, na Europa), principalmente na Alemanha, Holanda e Bélgica. Tais operações, informa o US Army Europe, “requerem a participação de dezenas de milhares de militares e civis de muitas nações”.
                    

Chega, ao mesmo tempo, dos USA a 7 aeroportos europeus, o grosso do contingente dos 20.000 soldados. Entre estes, 6.000 da Guarda Nacional, provenientes de 15 Estados: Arizona, Flórida, Montana, Nova York, Virgínia e outros. No início do exercício, em Abril – comunica o US Army Europe - os 30.000 soldados USA “espalhar-se-ão por toda a região europeia” para “proteger a Europa de qualquer ameaça potencial”, com clara referência à “ameaça russa”.

                     

O General Tod Wolters - que comanda as forças USA, na Europa e, ao mesmo tempo, as forças da NATO como Comandante Supremo Aliado na Europa - assegura que “a União Europeia, a NATO e o Comando Europeu dos Estados Unidos trabalharam em conjunto para melhorar as infraestruturas”. Isto permitirá que os comboios militares se movam rapidamente, ao longo de 4.000 km de rotas de trânsito. Dezenas de milhares de soldados atravessarão as fronteiras para realizar exercícios em dez países. Na Polónia chegarão a 12 áreas de treino, 16.000 soldados USA com cerca de 2.500 veículos. Os pára-quedistas USA da 173ª Brigada, estacionados em Veneto e os italianos da Brigada Folgore, estacionados na Toscana, irão à Letónia para um exercício conjunto de lançamento de bombas.
O Defender Europe 20 está a ser efectuado para “aumentar a capacidade de instalar rapidamente uma grande força de combate dos Estados Unidos na Europa”. Portanto, desenvolvem-se com horários e procedimentos que tornam praticamente impossível sujeitar dezenas de milhares de soldados às regras de saúde do Coronavírus e impedir que, durante os períodos de descanso, entrem em contacto com os habitantes. Além do mais, o US Army Europe Rock Band realizará uma série de concertos gratuitos na Alemanha, Polónia e Lituânia, que atrairão um grande público. As 30.000 tropas USA que “se espalharão pela região europeia” estão, de facto, isentas das normas preventivas sobre o Coronavírus que se aplicam aos civis. Basta a garantia dada pelo US Army Europe de que “estamos a monitorar o Coronavírus” e que as “nossas forças estão de boa saúde”.

                   

Ao mesmo tempo, é ignorado o impacto ambiental de um exercício militar de tal envergadura. Participarão tanques USA Abrams, pesando 70 toneladas e com armadura de urânio empobrecido, que consomem 400 litros de combustível por 100 km, produzindo forte inquinamento para obter a potência máxima.
Em tal situação, o que fazem as autoridades nacionais e as da União Europeia, o que faz a Organização Mundial da Saúde? Além de tapar a boca e o nariz, colocam a máscara sobre os olhos.

il manifesto, 03 de Março de 2020

----------------













DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Webpage: NO WAR NO NATO


terça-feira, 5 de novembro de 2019

MANLIO DINUCCI: «04-11, ver Nápoles e depois morrer»

                         
RETIRADO DE:
 https://nowarnonato.blogspot.com/2019/11/pt-manlio-dinucci-arte-da-guerra-4-de.html

Nápoles, e não Roma, foi ontem, o centro do Dia das Forças Armadas. No Lungomare Caracciolo, desfilaram 5 batalhões. Mas o ponto alto foi a área de exposições das várias Forças, que atraiu durante cinco dias, para a Piazza del Plebiscito, sobretudo, jovens e crianças. Eles puderam embarcar a bordo de um caça, conduzir um helicóptero com um simulador de voo, admirar um drone Predator, entrar num tanque, treinar com instrutores militares, para depois ir ao porto visitar um navio de assalto anfíbio e duas fragatas de mísseis. Uma grande «Feira da guerra» criada com um propósito específico: o recrutamento.
70% dos jovens que desejam alistar-se, vivem no sul, especialmente na Campânia e na Sicília, onde o desemprego juvenil é de 53,6%, em comparação com uma média da União Europeia de 15,2%. O único que lhes oferece uma ocupação “segura” é o exército. No entanto, após as selecções, o número de recrutas é menor do que o necessário.
As Forças Armadas precisam de mais pessoal, pois estão envolvidas em 35 operações em 22 países, desde a Europa Oriental aos Balcãs, desde África ao Médio Oriente e à Ásia. São as “missões de paz” efectuadas, sobretudo, lá, onde a NATO sob o comando USA fomentou, com a participação activa da Itália, as guerras que demoliram Estados inteiros e desestabilizaram regiões completas.
Para manter as forças e os armamentos adequados - como os F-35 italianos enviados pela NATO para a Islândia, mostrados pela Rai em 4 de Novembro - são gastos na Itália, com dinheiro público, cerca de 25 biliões de euros por um ano. Em 2018, a despesa militar italiana aumentou do 13º para 11º lugar no mundo, mas os USA e a NATO pressionam para um aumento adicional, em função, sobretudo, da escalada contra a Rússia.
Em Junho passado, o governo do Conte I “desbloqueou” 7,2 biliões de euros para adicionar à despesa militar. Em Outubro passado, no encontro do Primeiro Ministro com o Secretário Geral da NATO, o governo do Conte II garantiu um compromisso de aumentar a despesa militar em cerca de 7 biliões de euros a partir de 2020 (La Stampa, 11 de Outubro de 2019). Assim, está a passar-se de uma despesa militar de cerca de 70 milhões de euros por dia para cerca de 87 milhões de euros por dia. Dinheiro público subtraído aos investimentos produtivos fundamentais, especialmente em regiões como a Campânia, para reduzir o desemprego a partir do desemprego juvenil.
Bem diferentes são os “investimentos” feitos em Nápoles. Ela adquiriu um papel crescente como sede de alguns dos mais importantes comandos USA/NATO.
- Em Nápoles-Capodichino, existe a sede das Forças Navais USA, na Europa, sob as ordens de um almirante americano que comanda, ao mesmo tempo, as Forças Navais dos EUA para a África e a Força Conjunta Aliada (JFC Nápoles), com sede em Lago Patria ( Nápoles).
- A cada dois anos, a JFC Nápoles assume o comando da Força de Resposta NATO, uma força conjunta para operações militares na "área de responsabilidade" do Comandante Supremo Aliado na Europa, que é sempre um general USA, e “para além dessa área”.
- No quartel general de Lago Patria, está em função desde 2017, o Hub da Direcção Estratégica para o Sul, um centro de inteligência/serviços secretos, ou seja, de espionagem, concentrado sobre o Médio Oriente e sobre África.
- Do comando de Nápoles depende a Sexta Frota, com base em Gaeta, que - informa a Vice Almirante USA, Lisa Franchetti - opera “do Polo Norte ao Polo Sul”.
Esta é a função de Nápoles no âmbito da NATO, definida pelo Presidente Mattarella, na mensagem de 4 de Novembro: "Uma aliança para a qual escolhemos livremente contribuir para a tutela da paz no contexto internacional, para a salvaguarda dos mais fracos e oprimidos e dos direitos humanos”.

il manifesto, 5 de Novembro de 2019

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

QUAIS OS PAÍSES COM MAIOR (E MENOR) CONTRIBUIÇÃO PARA ORÇAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA?

Veja, no infográfico abaixo, as diversas contribuições para a UE.

Nota-se também que o nível de confiança - no conjunto da UE - sobre a própria UE, é muito baixo (somente 44% que confiam, para 46% que não confiam).

https://www.zerohedge.com/s3/files/inline-images/eu-budget-chart.png?itok=BnxHlSL7




domingo, 28 de julho de 2019

NEOCOLONIALISMO EUROPEU. UMA LANÇA EM ÁFRICA


                                  

ARTIGO DE OPINIÃO DE ANTÓNIO PEREIRA


Um considerável contingente militar europeu tem vindo a ser concentrado nos últimos anos no Mali. Este enorme país africano, sem saída para o mar, faz fronteira com sete países vizinhos e tem uma posição geoestratégica privilegiada no acesso ao deserto do Sahara, uma das principais rotas migratórias da África subsariana e possui também importantes jazidas de ouro e urânio. Ultimamente vieram a público notícias sobre as intenções da União Europeia de reforçar ainda mais, o seu já enorme contingente militar na região.

Os britânicos anunciaram pela voz da primeira-ministra Teresa May que vão reforçar e prolongar a sua missão no território com novos meios aéreos. Os britânicos têm apoiado, desde 2014, os franceses nas operações militares Barkhane e Aconit. A França, antiga potência colonial, mantêm desde esta altura cerca de 3000 militares estacionados em N’Djamena, a capital do vizinho Chade e importantes meios militares na sua principal base em Gao, no centro do Mali. Os alemães além de estarem presentes no Mali inauguraram recentemente uma base militar no Niger.
Aos enormes contingentes já presentes no terreno, vêm agora juntar-se ainda mais militares da Estónia, da Dinamarca, da Irlanda e até de Portugal

Aparentemente estas operações militares estão em preparação há já algum tempo. Importa recordar que a União Europeia tinha já anunciado em 2018 a intenção de gastar 10.5 milhões de euros em equipamento militar e armas nesta região, que se somam aos 50 milhões de euros anunciados em 2017.

É caso para perguntar: o que se esconde por detrás desta guerra, que se vai intensificar a curto prazo? Até porque para combater grupos terroristas não são necessários meios desta envergadura.  
  
António Pereira


segunda-feira, 27 de maio de 2019

PORQUE É QUE EU NÃO VOTEI NAS EUROPEIAS

                                                  JPEG - 15.3 ko

Não tenho nenhum preconceito em relação a votar ou não votar, em geral.
Porém, no caso das eleições para o «parlamento europeu» (com muitas aspas) eu tenho a absoluta convicção de que o único caminho certo é o boicote, é negar e denunciar a fraude em si mesma, da «democracia» europeia e, sobretudo, explicar isso às pessoas que me queiram ouvir, ler, sem ouvidos tapados e sem vendas nos olhos!

1º A União europeia só poderia ser a expressão legítima de democracia, se fosse concebida como uma confederação de Estados livres, eles próprios determinados interiormente por leis e instituições livremente escolhidas e sufragadas pelos povos respectivos.

2º A possibilidade de democracia está definitivamente arredada por força dos tratados europeus, nomeadamente o Tratado de Lisboa, os quais arredam qualquer veleidade de se transformar «por dentro»  as regras institucionais. É impossível na prática reformar a UE! 

3º Votar «como se» tal não fosse assim, é -na verdade- dar o aval ao projecto imperial, defensor do ordoliberalismo ou neoliberalismo, na sua expressão mais pura. Seria como dar o aval a todos os recuos, que têm desapossado os povos dos seus Estados Sociais (Welfare State), em proveito de uma minoria de capitalistas que se apropriou dos bens públicos privatizados, para seu benefício pessoal, enquanto as condições de vida diminuem - sob todos os aspectos - para a massa da população.

4º É dever de honestidade dizer as coisas como elas são: se a esquerda tivesse vergonha na cara, não participava na farsa. O que acontece é que ela, tal como as outras correntes políticas - está corrompida ao nível mais fundamental de esquecer os seus princípios e objectivos base, para participar num teatro em que ela terá sempre um papel secundário, apenas para legitimar a pseudo-democracia do sistema


Conclusão: 

As pessoas, os grupos, os partidos, etc. têm de ser responsáveis. Se assumem a participação num sistema, é porque encontram nele alguma virtualidade de o reformar por dentro. 

Ora, é isso precisamente que eu contesto. É isto que está na base da contradição fundamental. Ou a UE é reformável ou não é. 
A minha análise (e não sou o único) é que - na prática - não é. Ninguém, dos diversos partidos e tendências que se dizem anti-capitalistas, na Europa, me apresentou argumentos convincentes de que eu estava errado. 

Muito pelo contrário. 
Trinta anos de Maastricht provaram que a UE era apenas o esteio de CONTRA-reformas -ou seja- o meio de provocar e facilitar a passagem de um sistema de Welfare State, para um sistema neo-liberal. 

O que é que as organizações de esquerda têm a dizer perante isto? Se são contra o neo-liberalismo, contra a política de Maastricht, etc, como podem elas se apresentar aos eleitores, dando o seu aval a esta mascarada? 

Considero que a possibilidade de democracia tem de ser exclusivamente baseada em mecanismos nacionais. É ao nível nacional que se pode debater - de forma aprofundada - os assuntos. O soberano, o povo, tem de ser perfeitamente informado dos debates e tem de saber o que seus eleitos estão fazendo. 

As relações entre os diferentes povos devem ser baseadas no respeito mútuo, no respeito pelas suas independências, pelos seus modos de gerir os respectivos Estados, não tolerando ingerências nos assuntos internos, fazendo acordos com base em vantagens recíprocas. Uma assembleia de Estados soberanos da Europa deveria estar organizada segundo o modelo da Assembleia Geral da ONU. 

sexta-feira, 10 de maio de 2019

JEAN BRICMONT - A UNIÃO EUROPEIA E AS ELEIÇÕES EUROPEIAS

                                       
                                      https://www.youtube.com/watch?v=Fcm3DhRVPbw

Jean Bricmont afirma a necessidade de uma discussão civilizada sobre a hipótese de saída da União Europeia, recordando que há alguns anos atrás, o simples facto de se por a questão da continuidade dentro do euro (não propriamente da união europeia) era motivo para se ser tratado de «fascista»!
Ainda hoje, é-se frequentemente apelidado de nomes deste género, se se tem o arrojo de discutir o projecto da União Europeia. Ora o referido projecto encontra-se em crise, uma crise que não é de conjuntura, mas sim muito mais profunda. 

Jean Brictmont demonstra brilhantemente que a «esquerda alternativa», que aponta como saída para esta crise, um aprofundamento da democracia no seio das instituições europeias, está completamente auto-iludida.
Eu estou de acordo com Bricmont na medida em que considero que o processo da construção desta «União», se fez, não só de cima para baixo, mas tendo como traves-mestras, como ossatura, a ideologia liberal ou neo-liberal, os mercados sacro-santos, a sujeição dos Estados e dos povos ao diktat dos mercados.
Portanto, a União Europeia é irreformável, tendo ela própria trancado «a sete chaves» a hipótese de uma reforma por dentro da sua estrutura: Ela assegurou isso na forma como redigiu certas cláusulas dos tratados (nomeadamente, no Tratado de Lisboa). 
Estes são, afinal, em termos práticos, equivalentes a um texto constitucional. Embora estejam previstos mecanismos para saída ou para modificação dos tratados, intencionalmente isso foi tornado tão complexo e difícil de obter (com exigências de unanimidade dos Estados, ou restrições análogas), que fazem com que, na prática, as nações que «voluntariamente» se comprometeram com esses textos, ficam atadas de pés e mãos e apenas poderão sair da estrutura burocrática da UE, em ruptura, em conflito aberto, na prática... 

É curioso verificar que um número tão elevado de pessoas, à esquerda, nunca equacionou a realidade deste projecto da UE, como sendo um projecto de natureza imperial, portanto onde o «centro», o país (ou países) mais poderoso(s) dita(m) a lei aos mais fracos, não havendo possibilidade de inverter - dentro da estrutura existente - tal correlação de forças. 
Veja-se o caso da Grécia e de como «torceram o braço» ao governo de Tsipras, até este acabar por ceder, para evitar um descalabro ainda maior da economia e sofrimento do povo. 
Vejam-se os desenvolvimentos em curso do Brexit que, sem dúvida, foi tornado o mais desagradável possível, para o povo britânico, «culpado» de não querer pertencer à maravilha das maravilhas, que é o Império com sede em Bruxelas! 
Veja-se ainda os casos dos referendos que os povos dinamarquês e irlandês foram obrigados a repetir, quando os resultados de uma primeira consulta negavam o caminho que a aristocracia maastrichiana tinha decidido. 
Ou ainda, os dirigentes da UE e os próprios dirigentes nacionais respectivos, terem ignorado os «não» dos referendos francês e holandês, à constituição europeia para, pouco depois, esta mesma ser de novo servida como «prato requentado», agora rebaptizado de «Tratado de Lisboa»... Porquê um tratado? Porque assim não carecia de ratificação popular, sob forma de referendos nacionais.

Enfim, tal como Bricmont, eu continuo a ser profundamente céptico sobre a viabilidade de um processo democrático supra-nacional. 
Tenho verificado, observando a História, que os processos que conduzem os povos a maior liberdade, maior autonomia, ao aprofundamento dos seus direitos, se passam todos a nível nacional.
Mesmo que certas evoluções ou revoluções sejam inspiradoras para outros povos, que não tenham sido protagonistas iniciais das mesmas, nunca se opera uma transplantação bem sucedida de tais transformações, a não ser que já exista uma forma ou outra de processo, fervilhando no seio desse(s) outro(s) povo(s). 
Sobretudo, não existe maneira de um povo minoritário ou um conjunto minoritário de povos (em termos de população, logo em número de deputados no parlamento europeu) ver a sua posição respeitada, se a vontade maioritária for antagónica dos primeiros, mesmo em matérias vitais. 
Assim, o único resultado possível de um aprofundar da democracia representativa no seio da UE, seria o aumento das querelas e dissensões entre povos, causador do rebentamento (talvez sangrento) da UE, visto que as contradições entre os interesses dos diversos povos iriam acumular-se, como muito bem o demonstra Jean Bricmont. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

O COLETE DE FORÇAS DA UNIÃO EUROPEIA



Como é que a União Europeia se tornou uma prisão para as Nações e para os Povos?

Muitas pessoas argumentam hoje em dia, em relação ao Euro e à implicação da austeridade sem fim, o seguinte: os países do Sul e - em particular - Portugal, que permanecerem na «Eurolândia» estão fadados a constantemente perder competitividade, sem outro recurso senão o de baixarem as remunerações laborais e as prestações sociais da população mais desfavorecida.
Esta espiral descendente, que faz com que há vinte anos os países do Sul estejam em défice crónico, enquanto a Alemanha e uma mão-cheia de outros Estados (Finlândia, Áustria, Holanda...) tenham um superavit crónico nas suas trocas com os países do Sul, foi sendo «remediada» com crescentes empréstimos pelos Estados do Sul. 
Assim, cada vez maiores quantidades de dívida se foram acumulando. No momento da grande crise do Euro de 2011, estas economias foram quase até ao fundo, à bancarrota. 
Apenas foram «salvas» pela promessa do BCE e de Mario Draghi em fazer tudo o que fosse necessário, para salvar a moeda única. Isto implicou políticas ditas de «quantitative easing» ou seja, de comprar dívida soberana, emitida pelos Estados mais débeis, Itália, Portugal, Grécia, Espanha... por forma a baixar artificialmente o custo da mesma dívida, podendo assim evitar o descarrilar completo das economias da região do Sul.
Como é evidente, este recurso de compra de activos pelo BCE foi uma medida transitória, terminada em janeiro deste ano. Mas, pela sua natureza, também foi uma medida meramente paliativa, visto que não teve qualquer efeito benéfico, em relação às causas do problema.
Com efeito, manteve-se a assimetria, a enorme disparidade, entre as economias do Norte da Europa e as do Sul, com a capacidade agressiva das primeiras em colocar uma série de produtos de elevada incorporação tecnológica nos mercados mundiais, enquanto os países meridionais eram uma espécie de mercado «cativo» para os gigantes do Norte europeu. 
Para que o Sul tivesse hipótese de se desenvolver autonomamente, permanecendo dentro da UE, esta teria de caminhar para um regime verdadeiramente federal, em que as carências/défices de uns eram compensadas pelo superavit de outros. Mas a Alemanha «nem quer ouvir falar» de pagar dívidas dos outros.
 Esta solução implicava que as regiões europeias menos desenvolvidas receberiam um apoio especial e que os seus défices seriam cobertos, na perspectiva de se diminuir progressivamente o fosso entre regiões «ricas» e «pobres». 
Isto seria muito bonito e belo, mas simplesmente, não poderá acontecer porque a Alemanha tem uma visão tacanha, que não lhe permite compreender que superavits crónicos foram obtidos à custa dos défices doutros ou, por outras palavras, se as suas grandes empresas de automóveis, de metalomecânica, de electrónica, etc., conseguiram uma grande fatia do mercado do Sul europeu, isso deve-se ao facto do Sul se ter endividado para comprar esses mesmos bens. 
Por exemplo, a Grécia, durante muito tempo, foi estimulada pelo lóbi alemão de fabricantes de armamentos (e pelos generais da NATO) a sobre-equipar-se com gadgets bélicos caros. Em Portugal, aconteceu uma situação semelhante, com os submarinos encomendados na vigência de um governo de direita.

Como a solução de federalismo equilibrado dentro da UE não é possível, os países mais fracos apercebem-se que a UE se tornou - de facto - um império, um colete de forças que mantém os países sob um jugo. A situação é muito vantajosa para as classes empresariais dos países do Norte. Estas fazem beneficiar com umas migalhas suas populações respectivas, para estas se manterem submissas. 
Quanto aos países do Sul, eles são submetidos ao ciclo infernal da austeridade: a austeridade significa uma restrição grande no consumo da maioria; logicamente, o comércio e indústria -  dependentes do consumo interno para prosperarem - entram em falência; as falências trazem mais desemprego, emigração para os jovens e piores salários e pensões, para os restantes; estas condições agravadas tornam cada vez pior a economia destes países, visto que muitas indústrias e serviços dependem fortemente do mercado interno. 
Por verem este descalabro, é que os italianos elegeram partidos ditos «populistas» (ou seja, que defendem o povo!). Isto traduziu-se numa imediata hostilidade dos «grandes» (França e Alemanha, sobretudo) e da «Comissão Imperial de Bruxelas». 
  
A perversidade do Tratado de Lisboa faz com que um país não possa facilmente retirar-se do Euro. Para tal, terá de se retirar TAMBÉM da própria UE. 
Nesta saída, vemos a Grã-Bretanha (que nunca pertenceu ao Euro) envolvida. É um processo longo, penoso e causador de grandes perdas... é exactamente o que os burocratas de Bruxelas querem para «tirar as peneiras» aos países que queiram fazer uma saída, negociada ou não, da UE. 
O mecanismo congeminado neste Tratado de Lisboa, absurdo, perverso, contraproducente, está agora a dar os seus «amargos frutos». 
Mas o que estes processos todos revelam é a impossibilidade de genuíno federalismo «top-down». O federalismo genuíno, por essência, tem de ser um processo levado a cabo com muita prudência, para que o povo esteja em condições de não aderir ou de poder retirar-se, a qualquer momento. Uma associação voluntária de pessoas a uma organização, pode ser usada como comparação: se a retirada da organização tem um custo incomportável - económico, jurídico e político - essa tal organização não é muito diferente das «máfias», as associações de criminosos, para as quais as pessoas são recrutadas e depois não têm outra saída possível, senão a morte. 
Neste caso, o das Nações na UE, é um facto que não têm como recuperar a sua autonomia, mesmo que o façam por um processo democrático de autodeterminação. 
Uma eventual decisão de saída, no caso da UE, terá um custo político, social e económico tal, que as pessoas acabam por renunciar, não por convicção, mas por medo e por cansaço.

Não existe «refundação» possível, para uma coisa destas. 
Poderia haver dissolução da UE, seguida de acordos bilaterais, mas numa base completamente diferente: hipoteticamente, tal comportamento permitiria restaurar a confiança. A Europa ficaria unida por uma série de acordos bilaterais, benéficos para ambas as partes, que poderiam ser reformulados, ampliados, restringidos ou até revogados, por acordo entre Estados. 
Ao pretenderem uma «refundação» da União Europeia, os grandes (Alemanha e França) querem apenas mostrar que a sua visão da Europa tem de prevalecer sobre todas as outras. A sua «refundação» é somente uma tentativa de imposição da sua liderança do processo. Penso que é tarde demais.
A União Europeia está no ocaso. Os governos de vários países, dentro e fora da UE, aperceberam-se bem deste fenómeno.  Porém, a opinião pública portuguesa tem sido mantida na ignorância total do que se está a passar. 
A maior parte do «establishment» político de Portugal está visceralmente dependente das benesses vindas da UE. São esses privilégios que custam muito sacrifício para a generalidade dos portugueses, sem qualquer benefício no horizonte. A casta dos políticos do poder são um insulto ao povo, mesmo ao povo que vota neles!

- É assim que a União Europeia se tornou uma prisão para as Nações e para os Povos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

COLETES AMARELOS - A HORA DA VERDADE PARA A EUROCRACIA

                                       https://www.youtube.com/watch?v=-wveoPeu6wo

Jovanovic, sem papas na língua, diz até que ponto a ditadura globalista e seus mandatários locais são odiados. Mostra também como evidência, que existe uma comparticipação da generalidade dos media com a situação de escravização a que se chegou: «Os ricos compraram os media para estes transmitirem exclusivamente as informações que lhes convêm» (Bourdieu)

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

SIGNIFICADO DA SUBIDA DAS TAXAS DE JURO

          

Sabemos que a FED está empenhada na subida das taxas de juro, que servem como referência para o mercado do crédito americano e - por extensão - se repercutem nos mercados doutros países. Na Ásia, zona que tem sido a exportadora principal de bens para os EUA (e países europeus), esta subida já está a causar uma acentuada queda nas bolsas. Não admira, pois se os americanos tiverem menos condições para obterem crédito, irão consumir menos... logo, importarão menos bens da Ásia. 
O aumento das tarifas nos EUA, sobre importações provenientes da China (guerra comercial) também joga o seu papel, mas o factor principal reside na diminuição do consumo de bens nos EUA em consequência do QT,  quantitative tightening , ou seja, uma restrição progressiva do crédito, através da subida dos juros.

A economia americana está ainda numa fase de recuperação da grande depressão de 2008, pois os índices oficiais não reflectem a realidade. O crescimento do PIB é fictício, pois a taxa de inflação oficial calculada está muitos pontos abaixo da taxa real. Muitas empresas terão dificuldade em absorver as condições mais desfavoráveis de obtenção de crédito para elas próprias e - em simultâneo - uma perda nas vendas, pela menor capacidade aquisitiva dos seus clientes.  
No resto do mundo, já se nota uma grave crise nos mercados bolsistas dos países emergentes. Se o motor da economia mundial é o consumo, havendo diminuição significativa do mesmo nos países mais afluentes, como os EUA, isso implica um efeito desproporcional nas economias essencialmente exportadoras, como as do Extremo Oriente.

Se os países emergentes já entraram numa crise, a zona geográfica que se segue é - sem dúvida - a Europa, a qual não vê o fim das suas próprias crises internas: desde a Grã-Bretanha e o «Brexit» a arrastar-se, até Itália com o governo a propor um crescimento da dívida no orçamento em conflito com as regras acordadas ao nível da UE, passando pelos contestatários (polacos, húngaros e checos e agora, também os italianos) das políticas oficiais da UE sobre migrações e refugiados. 
Sabemos que o ranking da dívida dos países, emitida por agências «oficiosas» como «Standards & Poor», «Fitch» e «Moody's», vai condicionar o nível de taxas de juro das obrigações emitidas: quanto mais descrente estiver o mercado na capacidade dum dado país pagar o que pediu emprestado (quanto maior o perigo de bancarrota), mais elevados serão os juros que esse mesmo país terá de pagar para ter compradores das suas obrigações. 
A Itália está em vias de deixar de ser classificada como de nível «de investimento» ou seja, das suas obrigações soberanas passarem a serem consideradas demasiado arriscadas, «junk». 
Nessa ocasião, não haveria mais aquisição por parte das instituições que tradicionalmente o fazem, bancos, seguradoras ou fundos de pensões.  Então, restaria apenas o ECB (BCE), mas este prometeu acabar com as compras de obrigações soberanas da zona euro, até ao fim deste ano de 2018. 

Como todo o sistema económico e financeiro actual está estruturado em torno do crédito, da dívida, que consequências terá o congelamento do crédito, decorrente da generalizada suspeição sobre a capacidade de pagar dos diversos países?  
- Temos a experiência recente de 2008, para nos dar uma ideia, mas desta vez, os montantes em jogo serão ordens de grandeza maiores e quase todos os países têm um excesso de dívida acumulada, quer seja estatal, das empresas, ou das famílias: isto irá obrigar a que se adoptem medidas extremas. 
Uma delas é o «bail in», ou resgate interno, ensaiada primeiro em Chipre e depois na Grécia: 
Nestas circunstâncias, os que possuem dinheiro nos bancos vão ficar cortados do acesso às suas contas, vão obrigá-los a aceitar acções ou outro papel qualquer dos ditos cujos bancos, em troca  de poderem recuperar uma parte do dinheiro que estava depositado nessas contas.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

POPULISMOS e AS POLÍTICAS DO «OCIDENTE»

                         
Sim, escolho o plural «populismos», pois a identidade e propósitos dos movimentos contraditórios que são etiquetados debaixo deste termo depreciativo, são realmente muito diversos.
Na origem, temos a crise da chamada «democracia ocidental», que não é de ontem, nem de anteontem, sequer: foi consubstanciada num modelo de governança pelo establishment, em que a participação real e autêntica dos cidadãos na vida pública foi afastada, de forma sistemática e sub-reptícia, durante décadas:
- Ao cidadão com direitos políticos e com participação na vida política, modelo clássico e ideologicamente utilizado como montra do «Ocidente democrático», foram substituindo o consumidor-rei, o cidadão cujo verdadeiro e único «direito» era o de consumir, consumir o que desejasse. Para tal, a publicidade, baseando-se na ciência psicológica mais avançada, foi talhando um «Homo consumisticus» à medida da saúde dos mercados.
Mas quando o mercado ele próprio entrou em crise, devido à impossibilidade de absorver todos os gadgets e o consumo supérfluo que tinham sido o apanágio da fase áurea do capitalismo de consumo, foi necessário inflectir as regras e o discurso, sempre com o objectivo de preservar o sacro-santo lucro. 
Surgem então as políticas de austeridade, no dealbar do século XXI, especialmente mais virulentas nos países do sul da União Europeia. Tudo foi feito: a chantagem do emprego, a inoculação do complexo de culpa de «demasiado gastadores», a comparação com os miseráveis dos países pobres, empobrecidos pelo neocolonialismo da civilizada Europa e pelos bombardeamentos humanitários contra os regimes que em África (Líbia) ou no Médio Oriente (Síria) resistiam à vaga neoliberal...
A reacção de um público inculto politicamente, em vez de se revoltar e derrubar a sua própria classe dirigente, foi de ser arrastado pelo discurso demagógico das extrema-direitas de diversos países europeus, que viram a sua oportunidade na conjugação de vários factores: as vagas sucessivas de refugiados, as dificuldades cada vez maiores de emprego e o retraimento do Estado Social (Wellfare State).

Especial papel coube aos políticos franceses, em especial a Miterrand e seus seguidores, que fizeram o (mau) cálculo político de proporcionar o desenvolvimento da extrema direita do «Front National», para contrariar os avanços da direita clássica, evitando assim a possibilidade de alternativa a governos P«S», de neoliberalismo disfarçado com as cores socialistas, em que se tornara o PSF.
Infelizmente, o PSF serviu de modelo a diversos partidos homólogos pela Europa fora. 
Foram tão bem sucedidos, ao ponto de que muitos ex-votantes nos partidos «clássicos» da esquerda, PC e PS, se viraram para os «populistas»: 
Houve emergência de populismos de extrema-esquerda; mas estes, apenas fizeram uma actualização das teses clássicas do leninismo e não foram além do terreno eleitoral habitual da extrema-esquerda... 
Muito mais graves são os populismos de extrema-direita, em vários países. Agora, tem-se o culminar de tão «inteligente» estratégia, a tal artimanha de deixar tais movimentos crescer e adquirir respeitabilidade e sobretudo audiência junto de grande parte do eleitorado operário: movimentos deste calibre estão agora no poder, ou em situação directa de disputar o poder com partidos políticos tradicionais, nos mais diversos países, desde a Suécia à Itália, passando pela Alemanha, Áustria e muitos outros. As consequências disto, no curto prazo, serão eleições para o parlamento europeu marcadas pelo avanço da extrema-direita. 
Os que pensam que o contexto vai também no sentido de favorecer o extremo oposto, ou seja, a extrema-esquerda, estão auto-iludidos. Os mais míopes de todos são aqueles, da extrema-esquerda, que apenas vêem o que as suas lentes com filtragem «marxista», deixam ver... Por isso - nos últimos 20 anos - eles e os que têm confiado neles, só tiveram derrotas, tanto no campo da luta social, como política.
Quanto às classes dominantes, elas estão absolutamente  deliciadas com a subida do «populismo», da extrema-direita: nada melhor para elas do que governos que preconizem a «união nacional», o «sacrifício necessário» face à ameaça externa (a pseudo ameaça dos outros globalistas, do eixo russo-chinês). 

O mais vantajoso, do ponto de vista da classe dominante, é que estas «mudanças» permitem manter a ilusão nas massas de que elas mandam, de que «o povo é soberano»! 
Absolutamente ridículo... porém é assim que os poucos conseguem dominar os muitos, ao ponto de que estes muitos elejam quem os vai esfolar e estrangular ainda mais!

sábado, 1 de setembro de 2018

MAQUIAVEL ERA ITALIANO...NÃO ESQUEÇAMOS!

Num artigo intitulado «Ministro Savona: o Euro é o plano do Reichsbank alemão de 1940, a Itália devia retirar-se dele!» (1), o GEFIRA  retraça os dilemas e as escolhas da elite italiana, a que está discretamente a puxar os cordelinhos do teatro do poder,  qualquer que seja o governo de turno: de «esquerda», «direita» ou mesmo «populista». 

 É muito interessante notar a enorme divergência das contas correntes entre a Alemanha e restantes países do Euro (ver gráfico, retirado do referido artigo). 
O facto é que este sistema, embora altamente favorável para a Alemanha, não é sofrível pelos restantes países, sobretudo, os que tiveram anos de medidas de austeridade, retracção brutal do poder de compra da população e altos níveis de desemprego e de emigração.

                         

O artigo é extenso e merece ser lido na íntegra. Segundo ele, será a elite italiana que irá determinar o momento do «grande terramoto» da saída do Euro. A população apenas é ouvida e atendidas as suas aspirações, quando isto é compatível com os planos da tal elite. 

Considero que é um artigo muito informativo e bem pensado sobre a relação da Itália com a UE. Resta  tirar as consequências práticas do mesmo, pois o que é previsto para Itália, também terá repercussões importantes em Portugal. 

Neste cenário político-económico-financeiro, caminha-se, ou para o abandono puro e simples do Euro, ou para sua transformação em moeda contabilística, para cálculo do «deve e haver» com o exterior, com a lira a circular novamente no mercado interno do país.  

O artigo termina com o parágrafo seguinte (tradução minha): 
«O establishment italiano compreende que é a classe no poder, não o povo, que gere o país. Que o Euro seja abandonado  ou não, isso não é assunto do povo.  
Se e quando eles decidirem fechar o interruptor do Euro, irão fazê-lo de modo que o público aplauda. Ao fim e ao cabo, Maquiavel era italiano.»

segunda-feira, 12 de março de 2018

TERCEIRO-MUNDIALIZAÇÃO DE PORTUGAL


A natureza e origem dos postos de trabalho perdidos e criados num país, dá uma medida MAIS exacta do que se está a passar, muito mais do que o simples cômputo dos números totais de emprego e desemprego.

No caso português, vem-se notando uma transformação qualitativa do emprego: o emprego permanente, com garantias de permanência no posto de trabalho, com perspectiva de uma carreira dentro da empresa tornou-se uma quase miragem para a grande maioria dos jovens que alcançam a idade de entrada no mercado de trabalho. 

As jovens gerações são empurradas a emigrar (veja-se as declarações cínicas de Passos Coelho, não há muito tempo atrás: já antes de tais declarações, a realidade era mesmo de incentivar a emigração dos jovens!). Temos hoje em dia uma das maiores diásporas científicas no mundo se a medirmos na proporção da pequenez numérica da nossa população autóctone. 

A juventude que aqui permanece e procura emprego, apenas consegue trabalho precário, mal remunerado, sem garantias de estabilidade, sem perspectivas de melhoria. 
Este modelo de super-exploração da mão-de-obra assalariada convinha às mil maravilhas ao patronato português tradicional, acanhado e mesquinho, modelo esse que serviu para trabalho pouco especializado, que não implicava maior qualificação que os nove anos do ensino obrigatório. Esta situação manteve-se, mas a qualificação dos jovens portugueses foi aumentando rapidamente e agora estão mesmo acima da média dos vários países «desenvolvidos», em termos de diplomas e de qualificações. 

O modelo mais comum, pelo menos para os jovens, é o de contrato de trabalho ultra-precário é até ilegal, pois as empresas atribuem perto de 100% dos postos de trabalho ao emprego precário, a contratos a prazo, sendo apenas aceitável pela lei que uma empresa recrute trabalhadores a termo certo, quando a natureza do trabalho é temporária ou quando têm de fazer face a um acréscimo temporário do trabalho. É ilegal, mas o patronato está tranquilo porque a inspecção do trabalho fará «vista grossa» ou só se irá mover se ela própria for sujeita a «pressões superiores». Está a este nível o estado de corrupção das estruturas de fiscalização do trabalho e da economia em geral.  

Se tal precarização «cientificamente» delineada, foi aconselhada aos governantes por ilustres doutores da treta (spin doctors) do FMI, Banco Mundial, etc. e  seus «epígonos» nacionais, não se tratou - com certeza - de um conselho desinteressado. 
É que os grandes grupos económicos, sobretudo no sector terciário, têm interesse muito concreto em recrutar uma mão-de-obra dócil, maravilhada por trabalhar ao nível de um gigante como a «Google» ou um grande banco entre os dez maiores ao nível mundial. Por mais pomposos que sejam os títulos de postos de trabalho para os quais os nossos brilhantes jovens forem recrutados, o facto é que estarão muito em baixo na hierarquia, sem grande hipótese de fazerem carreira. No fundo, são empregados de «call-center», com maior ou menor prestígio associado a seu posto, mas sem real futuro. Tal já ocorre há muitos anos com os call-centers e outros centros deslocalizados em países do Terceiro Mundo (Índia, Paquistão, etc,etc) onde, por uma pequena fracção do ordenado de um empregado da «metrópole», os empregados resolvem quase tudo aos clientes, eles também deslocalizados, que poderão estar telefonando de Nova Iorque, Tóquio, Istambul, Estocolmo ou Lisboa.

Que continua o regabofe da utilização dos nossos jovens mais brilhantes para quadros subalternos das grandes multinacionais, de vários sectores dos serviços, a começar pela grande banca internacional, das redes sociais, da informática, mas também de estruturas mundializadas do turismo, não há a menor dúvida. 

O que é confrangedor é que as pessoas dêem como crédito positivo a este governo, o facto de Portugal ter um índice de atractividade dos negócios essencialmente pelos baixos salários, pela mão-de-obra qualificada que se oferece para trabalhar em competição directa à mão-de-obra dos outros países da «periferia», ou seja: somos, na prática, mais um país do Terceiro-Mundo, explorável e dominável a preceito, apenas com a «distinção» de estar situado a Europa, com assento na NATO e na União Europeia. «Estamos na EU» mas sem qualquer preocupação de equidade, justiça, respeito pela lei (laboral), consideração por quem trabalha... 
Costumo dizer que, nas últimas décadas, Portugal é o paraíso para o patronato mais perverso, mais predador... Aqui, ele pode desenvolver seus negócios de mui dúbia legalidade,  na maior das impunidades.

O excerto abaixo é apenas uma ilustração pontual do que descrevi acima:

Retirado do Diário de Notícias de 12-03-2018:


Além da redução da rede de balcões e do número de trabalhadores, os bancos estão agora também a apostar na contratação de serviços de outsourcing. "Em 2017 agravou-se a tendência de os bancos substituírem trabalhadores qualificados, de meia-idade, por trabalho em outsourcing, frágil, desregulamentado, barato e não suscetível de criar relações para o futuro", denuncia Paulo Marcos.
O cenário da banca só não é mais negro porque muitas instituições estrangeiras estão a recrutar pessoal. BNP Paribas, Natixis, BAI, BAE e Bankinter são alguns exemplos. "Portugal é um país muito atrativo para os bancos estrangeiros instalarem centros de competência", afirma Paulo Marcos. O Natixis tem um centro de excelência de tecnologias da informação no Porto e vai contratar mais 300 trabalhadores até ao fim de 2019, além dos 300 que já recrutou. O BNP Paribas emprega já 5000 trabalhadores em Portugal. Razão? Boas qualificações e salários baixos.