Sabemos que a FED está empenhada na subida das taxas de juro, que servem como referência para o mercado do crédito americano e - por extensão - se repercutem nos mercados doutros países. Na Ásia, zona que tem sido a exportadora principal de bens para os EUA (e países europeus), esta subida já está a causar uma acentuada queda nas bolsas. Não admira, pois se os americanos tiverem menos condições para obterem crédito, irão consumir menos... logo, importarão menos bens da Ásia.
O aumento das tarifas nos EUA, sobre importações provenientes da China (guerra comercial) também joga o seu papel, mas o factor principal reside na diminuição do consumo de bens nos EUA em consequência do QT, quantitative tightening , ou seja, uma restrição progressiva do crédito, através da subida dos juros.
A economia americana está ainda numa fase de recuperação da grande depressão de 2008, pois os índices oficiais não reflectem a realidade. O crescimento do PIB é fictício, pois a taxa de inflação oficial calculada está muitos pontos abaixo da taxa real. Muitas empresas terão dificuldade em absorver as condições mais desfavoráveis de obtenção de crédito para elas próprias e - em simultâneo - uma perda nas vendas, pela menor capacidade aquisitiva dos seus clientes.
No resto do mundo, já se nota uma grave crise nos mercados bolsistas dos países emergentes. Se o motor da economia mundial é o consumo, havendo diminuição significativa do mesmo nos países mais afluentes, como os EUA, isso implica um efeito desproporcional nas economias essencialmente exportadoras, como as do Extremo Oriente.
Se os países emergentes já entraram numa crise, a zona geográfica que se segue é - sem dúvida - a Europa, a qual não vê o fim das suas próprias crises internas: desde a Grã-Bretanha e o «Brexit» a arrastar-se, até Itália com o governo a propor um crescimento da dívida no orçamento em conflito com as regras acordadas ao nível da UE, passando pelos contestatários (polacos, húngaros e checos e agora, também os italianos) das políticas oficiais da UE sobre migrações e refugiados.
Sabemos que o ranking da dívida dos países, emitida por agências «oficiosas» como «Standards & Poor», «Fitch» e «Moody's», vai condicionar o nível de taxas de juro das obrigações emitidas: quanto mais descrente estiver o mercado na capacidade dum dado país pagar o que pediu emprestado (quanto maior o perigo de bancarrota), mais elevados serão os juros que esse mesmo país terá de pagar para ter compradores das suas obrigações.
A Itália está em vias de deixar de ser classificada como de nível «de investimento» ou seja, das suas obrigações soberanas passarem a serem consideradas demasiado arriscadas, «junk».
Nessa ocasião, não haveria mais aquisição por parte das instituições que tradicionalmente o fazem, bancos, seguradoras ou fundos de pensões. Então, restaria apenas o ECB (BCE), mas este prometeu acabar com as compras de obrigações soberanas da zona euro, até ao fim deste ano de 2018.
Como todo o sistema económico e financeiro actual está estruturado em torno do crédito, da dívida, que consequências terá o congelamento do crédito, decorrente da generalizada suspeição sobre a capacidade de pagar dos diversos países?
- Temos a experiência recente de 2008, para nos dar uma ideia, mas desta vez, os montantes em jogo serão ordens de grandeza maiores e quase todos os países têm um excesso de dívida acumulada, quer seja estatal, das empresas, ou das famílias: isto irá obrigar a que se adoptem medidas extremas.
Uma delas é o «bail in», ou resgate interno, ensaiada primeiro em Chipre e depois na Grécia:
Nestas circunstâncias, os que possuem dinheiro nos bancos vão ficar cortados do acesso às suas contas, vão obrigá-los a aceitar acções ou outro papel qualquer dos ditos cujos bancos, em troca de poderem recuperar uma parte do dinheiro que estava depositado nessas contas.
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