Manuel Banet, ele próprio

Reflexão pessoal, com ênfase na criação e crítica

segunda-feira, 17 de junho de 2019

A INDIFERENÇA COMO ARMA


Num mundo zombificado pelas maquinetas electrónicas, os poderes podem manipular à vontade os desejos, as aspirações, e mesmo os sonhos, de um bilião de utilizadores. 
O tempo tornou-se a matéria-prima principal para fazer dinheiro. Se algo tem capacidade para reter, nem que seja por um segundo, o tempo do consumidor médio, então essa 'coisa' (seja visual, seja sonora, seja conceptual...) tem potencial para interessar os novos capitalistas, os quais constroem o seu poder e património sobre o capital-tempo. 
Assim, o mundo mais tradicional do poder, encarnado nos governos e nas máquinas dos Estados, incluindo, não esqueçamos, os exércitos, armadas e forças aéreas,  pode dispor de um conhecimento praticamente infinito sobre os seus súbditos (cidadãos, pressuporia vontade em participar activamente na coisa pública). Para que lhes serve esse conhecimento? 
- Como matéria-prima para suas «psi-ops» ou seja, operações psicológicas. Note-se que, hoje em dia, tudo é psi-op, mesmo aquilo que à partida não parece ser. 
A manipulação das mentes pode implicar a saturação com coisas triviais, a satisfação dos desejos hedónicos, a adição compulsiva a comunicar com a sua rede de amigos e conhecidos, a manipulação do medo e da angústia (que é um medo indefinido, não objectivável) e de muitas outras formas mais subtis ou mais grosseiras. 
Com efeito, a propaganda, rebaptizada de «fake news» e cuja utilização massiva se verifica sobretudo na informação «mainstream», é apenas um mecanismo entre outros, aliás a sua eficácia depende exclusivamente do prévio abaixamento das defesas dos seus alvos (nós), através das diversas técnicas de manipulação. 
Os cientistas do cérebro, da psicologia, da sociologia, estão fornecendo - muitas vezes sem o saberem - elementos preciosos para que outros, menos «puros», se esmerem em refinar as técnicas de condicionamento psicológico e de controlo das massas.  
Não existe nenhuma grande potência mundial que esteja fora deste jogo, de capturar não apenas a atenção, mas mesmo a vontade do seu público e, se possível, de neutralizar as mensagens dos seus inimigos internos e externos. 
É risível ver-se a oligarquia dos regimes ocidentais gritar indignada com as violações dos direitos humanos que ocorrem na China e noutros países de que eles não gostam. Risível, não por essas violações não existirem, elas existem de facto. Mas, porque eles estão a denunciar aquilo que eles próprios fazem «em casa», com os seus aparelhos de vigilância em massa. 
Aliás, porque pensam que estão eles tão assanhados contra Julian Assange? Seria bastante incoerente que fosse pelas razões que eles invocam. Pelo contrário, a sua raiva e ódio são devidas ao facto de Wikileaks ter demonstrado perante todo o mundo, o cinismo e crueldade do poder, precisamente aquilo que ele temia ver revelado, porque o desautoriza e desmascara seus discursos de «direitos humanos».
Existe uma resistência a todo esse desenrolar de estratégias de controle do comportamento? 
- Sim, existe; tal como no romance «1984» de Orwell também existia.  Mas essa resistência é desproporcionada ao poderio dos Estados e suas armas tecnológicas sofisticadas. 
A única hipótese de algo se transformar em proveito dos cidadãos e em desfavor dos que controlam as alavancas dos Estados, seria que os próprios zombificados tomando consciência de serem manipulados, de seus instintos serem usados... se insurgissem. Em suma, uma revolta geral dos escravos. Não acredito que essa revolta ocorra enquanto forem dadas as doses diárias de «soma» (ver romance da Aldous Huxley, «O Melhor dos Mundos»).  Algo terá de correr terrivelmente mal, rupturas no aparelho da ilusão perfeita, no suporte básico da vida, a um ponto tal, que a fabricação duma realidade ilusória deixe de ser possível... 

Isso é verificável, hoje em dia, na região de Chernobyl e na região de Fukushima: uma natureza que se reconstitui parcialmente, mas onde a ingestão de alimento contamina os animais, impossibilitando vida humana «normal» por muitos séculos, nos solos e aquíferos contaminados pela radioactividade. Os habitantes dessas zonas sabem; mas a sua experiência traumática não é passada, antes ocultada, aos restantes cidadãos... 

A ignorância da monstruosa corrida aos armamentos, que está agora ocorrendo, é -em parte -devida ao efeito de ocultação dos media, mas isto não explica tudo.  A psicologia social explica como é que as pessoas se colocam numa postura de «denegação»: 
- Elas sentem medo, mas julgam que suas tentativas de evitar esses perigos são inúteis; então, no seu «Eu profundo» ocorre uma transformação, que consiste em «anular» todos os sinais de perigo que vêm de tal fonte. Concentrando-se nas suas tarefas do dia-a-dia, elas pensam que poderão evitar o sofrimento ou que, pelo menos, não irão acrescentar sofrimento inútil ao presente, aos sofrimentos que poderão ter, num futuro indefinido...
A fabricação da indiferença e não somente do consentimento (Chomsky) é o grande instrumento de subjugação da elite plutocrática sobre a massa amorfa. Se tal não fosse assim, mesmo com a superioridade do material técnico (incluindo o armamento...), não seria possível tão poucos controlarem tantos. 

A raiz do totalitarismo reside nisso, como analisou Hannah Arendt, em relação aos fenómenos da sua época, da ascensão dos totalitarismos, soviético e nazi... 

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Labels: Controlo social, Edward Snowden, Fukushima, Hannah Arendt, Julian Assange, media, totalitarismo, WikiLeaks

sábado, 15 de junho de 2019

ENTREVISTA A MICHEL CHOSSUDOVSKY: «Sem desinformação, a NATO desmoronar-se-ia»


Manlio Dinucci
Michel Chossudovsky fala sobre as conclusões do colóquio internacional na ocasião do aniversário da NATO, salientando como a opinião publica ignora a natureza desta aliança fictícia, os seus verdadeiros objectivos, o seu funcionamento e os seus crimes.

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Da esquerda para a direita: General Fabio Mini, intérprete, Michel Chossudovsky (de pé), Vladimir Kozyn, intérprete, Giulietto Chiesa, Manlio Dinucci (de pé).
Q:Qual foi o resultado da Conferência de Florença?
Michel Chossudovsky : Foi um acontecimento de máximo sucesso, com a participação de oradores qualificados dos Estados Unidos, Europa e Rússia. Foi apresentada a história da NATO. Os crimes contra a Humanidade foram identificados e cuidadosamente documentados. No final da Conferência, a foi apresentada a “Declaração de Florença” para sair do sistema de guerra.
Q : Na sua introdução, afirmou que a Aliança Atlântica não é uma aliança…
Michel Chossudovsky : Pelo contrário, sob o disfarce de uma aliança militar multinacional, o Pentágono domina o mecanismo da tomada de decisões da NATO. Os EUA controlam as estruturas de comando da NATO, que estão incorporadas nas dos EUA. O Comandante Supremo Aliado na Europa (SACEUR) é sempre um general americano, nomeado por Washington. O Secretário Geral, actualmente, Jens Stoltenberg, é essencialmente um burocrata encarregado das relações públicas. Não tem nenhum papel decisivo.
Q : Outro tema salientado por si é o das bases militares dos EUA, em Itália e em outros países europeus, mesmo no Leste, apesar do Pacto de Varsóvia ter deixado de existir desde 1991 e apesar da promessa feita a Gorbachov de que não haveria expansão para Leste. Para que é que elas servem?
Michel Chossudovsky : O objectivo tácito da NATO - um tema relevante no nosso debate em Florença - foi instalar, sob uma designação diferente, uma “ocupação militar” de facto, na Europa Ocidental. Os Estados Unidos não só continuam a “ocupar” os antigos “países do Eixo” da Segunda Guerra Mundial (Itália, Alemanha), mas usaram o emblema da NATO para instalar bases militares dos EUA em toda a Europa Ocidental e, posteriormente, na Europa Oriental, no prosseguimento da Guerra Fria e nos Balcãs, na continuação da guerra da NATO contra a Jugoslávia (Sérvia e Montenegro).
Q : O que mudou sobre um possível uso de armas nucleares?
Michel Chossudovsky : Logo após a Guerra Fria, foi formulada uma nova doutrina nuclear, focada no uso preventivo de armas nucleares, isto é 'first strike’ (primeiro ataque) nuclear como meio de autodefesa. No âmbito das intervenções USA/NATO, apresentadas como acções de manutenção da paz, foi criada uma nova geração de armas nucleares de “baixa potência” e “mais utilizáveis”, descritas como “inofensivas para os civis”. Os políticos americanos consideram-na “bombas para a pacificação”. Os acordos da Guerra Fria, que estabeleciam algumas salvaguardas, foram cancelados. O conceito de “Destruição Mútua Assegurada”, relativo ao uso de armas nucleares, foi substituído pela doutrina da guerra nuclear preventiva.
Q : A NATO estava “obsoleta” na primeira metade da presidência de Trump, mas agora é reactivada pela Casa Branca. Qual é a relação entre a corrida armamentista e a crise económica?
Michel Chossudovsky : A guerra e globalização andam de mãos dadas. A militarização apoia a imposição da reestruturação macroeconómica nos países-alvo. Impõe a despesa militares para apoiar a economia de guerra em detrimento da economia civil. Leva à desestabilização económica e à perda de poder das instituições nacionais. Um exemplo: recentemente, o Presidente Trump propôs grandes cortes na saúde, na educação e na infraestrutura social, enquanto exigiu um grande aumento no orçamento do Pentágono. No início da sua administração, o Presidente Trump confirmou o aumento da despesa para o programa nuclear militar, lançado por Obama, de 1.000 a 1.200 biliões de dólares, alegando que isso serve para manter o mundo mais seguro. Em toda a União Europeia, o aumento da despesa militar, juntamente com medidas de austeridade, está a levar ao fim o que foi designado como “Welfare State” = “Estado Providência ou de bem-estar social”. Agora, a NATO está sob pressão dos EUA para aumentar as despesas militares e o Secretário Geral, Jens Stoltenberg, declara que essa é a coisa certa a fazer para “manter a segurança da nossa população”. As intervenções militares são combinadas com actos simultâneos de sabotagem económica e manipulação financeira. O objectivo final é a conquista dos recursos humanos e materiais e das instituições políticas. Os actos de guerra sustentam um processo de conquista económica completa. O projecto hegemónico dos Estados Unidos é transformar os países soberanos e as instituições internacionais em territórios abertos à sua penetração. Um dos instrumentos é a imposição de fortes restrições aos países endividados. Para empobrecer vastos sectores da população mundial contribui a imposição de reformas macroeconómicas prejudiciais.
Q : Qual é e qual deveria ser o papel da comunicação mediática?
Michel Chossudovsky : Sem a desinformação distribuída, na generalidade, por quase toda a comunicação mediática, a agenda militar dos USA/NATO desabava como um castelo de cartas. Os perigos iminentes de uma nova guerra com as armas mais modernas e com o perigo atómico não são notícia de primeira página. A guerra é representada como uma acção de pacificação. Os criminosos de guerra são descritos como pacificadores. A guerra torna-se paz. A realidade está deturpada. Quando a mentira se torna verdade, não se pode voltar atrás.
Manlio Dinucci
Tradução 
Maria Luísa de Vasconcellos
Fonte 
Il Manifesto (Itália)
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Labels: Crimes de Guerra, Declaração de Florença, guerra fria, Manlio Dinucci, Michel Chossudovsky, NATO, rede Voltaire

DYLAN 1975 : SIMPLE TWIST OF FATE / LOVE MINUS ZERO


Simple Twist of Fate (Live at Harvard Square Theatre, Cambridge, MA - November 1975)



They sat together in the park
As the evening sky grew dark
She looked at him and he felt a spark
Tingle to his bones
'Twas then he felt alone
And wished that he'd gone straight
And watched out for a simple twist of fate
They walked along by the old canal
A little confused, I remember well
And stopped into a strange hotel
With a neon burnin' bright
He felt the heat of the night
Hit him like a freight train
Moving with a simple twist of fate
A saxophone someplace far-off played
As she was walkin' on by the arcade
As the light bust through a beat-up shade
Where he was waking up
She dropped a coin into the cup
Of a blind man at the gate
And forgot about a simple twist of fate
He woke up, the room was bare
He didn't see her anywhere
He told himself he didn't care
Pushed the window open wide
Felt an emptiness inside
To which he just could not relate
Brought on by a simple twist of fate
He hears the ticking of the clocks
And walks along with a parrot that talks
Hunts her down by the waterfront docks
Where the sailors all come in
Maybe she'll pick him out again
How long must he wait?
One more time, for a simple twist of fate
People tell me it's a sin
To know and feel too much within
I still believe she was my twin
But I lost the ring
She was born in spring
But I was born too late
Blame it on a simple twist of fate
Songwriters: Bob Dylan
Simple Twist of Fate lyrics © Sony/ATV Music Publishing LLC, Audiam, Inc




Love Minus Zero / No Limit (Live at Montreal Forum, Montreal, Quebec - December 1975)




My love, she speaks like silence
Without ideals or violence
She doesn't have to say she's faithful
Yet she's true like ice, like fire
People carry roses
And make promises by the hour
My love she laughs like the flowers
Valentines can't buy her
In the dime stores and bus stations
People talk of situations
Read books, repeat quotations
Draw conclusions on the wall
Some speak of the future
My love, she speaks softly
She knows there's no success like failure
And that failure's no success at all
The cloak and dagger dangles
Madams light the candles
In ceremonies of the horsemen
Even the pawn must hold a grudge
Statues made of matchsticks
Crumble into one another
My love winks she does not bother
She knows too much to argue or to judge
The bridge at midnight trembles
The country doctor rambles
Bankers' nieces seek perfection
Expecting all the gifts that wise men bring
The wind howls like a hammer
The night wind blows cold n' rainy
My love, she's like some raven
At my window with a broken wing

Songwriters: Bob Dylan
Love Minus Zero/No Limit lyrics © Sony/ATV Music Publishing LLC, Audiam, Inc


As duas canções aqui registadas são, talvez, das melhores que Bob Dylan jamais compôs. 

As letras fazem parte do desiderato ideológico-emotivo dos anos sessenta... mas são imediatamente inteligíveis pelas gerações posteriores! 


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Labels: Bob Dylan, música pop

sexta-feira, 14 de junho de 2019

OS ATAQUES AOS PETROLEIROS NO GOLFO DE OMAN SÃO UM CASO DE «FALSA BANDEIRA»

Kim Iversen descreve a construção de falsas evidências, usando os dados de que se dispõe sobre este caso e evocando o caso do incidente do golfo de Tonkin em 1964 como escalada da guerra do Vietname e os pseudo-ataques químicos dos sírios no ano passado.


Veja também como é que Pompeo apresenta o caso, no sentido de encontrar uma «justificação» para o endurecimento das sanções contra o Irão e tentativa de aumentar o seu isolamento:

http://www.informationclearinghouse.info/51764.htm



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Labels: Arábia Saudita, ataques de falsa bandeira, Golfo de Oman, Huthis, Irão, Kim Iversen, Michael Pompeo, petroleiros

quinta-feira, 13 de junho de 2019

AURORA DA HUMANIDADE


Um vídeo-documentário excelente, da «National Geographic Studios» em associação com a cadeia «Arte», dá-nos conta dos avanços, espectaculares e recentes, do conhecimento sobre a origem da espécie humana, expostos de modo pedagógico e sedutor. 
As próprias descobertas de Homo naledi ou de Australopithecus sediba também foram aventuras. No filme, as narrativas fascinantes do trabalho de cientistas e exploradores, são contadas na primeira pessoa.
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Labels: Australopithecus sediba, Charles Darwin, Homo naledi, Humanidade, Origem, Raymond Dart

terça-feira, 11 de junho de 2019

ARRAIAL EM ALGÉS - 12/06/2019 - 20H.

                          Arraial 12JUN2019 banner.png

Integrado na campanha de recolha de fundos para ajudar nas obras necessárias à nossa nova sede, a Fábrica de Alternativas convida todos a participarem no Arraial de Santo António no próximo dia 12, a partir das 20 horas, na Escola Sofia de Carvalho em Algés (confluência da Av. da República e Rua Sofia de Carvalho).

Haverá sardinhas, bifanas, caldo-verde, chouriço, vinho, cerveja e música. 

Apareçam, que todos são bem-vindos

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Labels: Algés, Arraial, Escola Sofia de Carvalho, Fábrica de Alternativas

segunda-feira, 10 de junho de 2019

PRIMEIRO-MINISTRO DA MALÁSIA ABRE «CAIXA DE PANDORA» POLÍTICA DA UCRÂNIA



Primeiro-ministro da Malásia abre «Caixa de Pandora» política da Ucrânia

O primeiro-ministro da Malásia, Mahatir Mohamad, enviou ondas de choque num discurso público em que descartou o relatório «oficial» holandês que dava como responsáveis os russos pelo disparo contra o avião da companhia aérea Malaysia Air, voo 17 em Julho de 2014, semanas depois de um golpe orientado pela CIA que derrubou o presidente eleito da Ucrânia. 
Apesar da media ocidental ter silenciado os comentários do líder da Malásia, este está a criar um sério embaraço para o ex-vice presidente Joe Biden e seus colaboradores na Ucrânia, tais como Igor Kolomoisky, nos seus esforços patéticos para condenarem a Rússia pelos seus próprios crimes.

Durante um diálogo no Clube Japonês de Correspondentes Estrangeiros, no dia 30 de Maio, Mahatir desafiou o governo holandês a providenciar provas da sua afirmação de que o avião da Malaysian Airlines FH17 que se despenhou na Ucrânia tinha sido alvejado por um míssil BUK de fabrico russo, disparado de um regimento russo estacionado em território russo (Kursk). O primeiro-ministro malaio disse aos media japoneses: «Eles acusam a Rússia, mas onde estão as provas? Nós sabemos que o míssil que deitou abaixo o avião é de modelo russo, mas ele poderia também ter sido fabricado na Ucrânia.” Sem hesitações, Mahatir acrescentou, “É precisa uma prova sólida para mostrar que foi disparado pelos russos; poderia ter sido pelos rebeldes na Ucrânia, poderia ter sido pelas tropas governamentais da Ucrânia, porque eles também têm o mesmo míssil.”
Continuou, fazendo a exigência de que o governo da Malásia possa ser autorizado a inspeccionar a caixa negra do avião despenhado, afirmando o óbvio, sendo o avião malaio, com um piloto malaio e onde uma parte dos passageiros eram malaios: “Pode ser que não tenhamos a capacidade de peritagem mas podemos comprar os serviços de tal peritagem. Por algum motivo, a Malásia não foi autorizada a inspeccionar a caixa negra para ver o que se passou.”
Afirmou ainda, “não sabemos porque fomos excluídos do inquérito, mas desde o princípio, vemos demasiada política nisso e a ideia parece ter sido, não de descobrir como é que isso aconteceu, mas de tentar colar as culpas nos  russos.”
O voo da Malaysian Air MH17 estava no caminho de Amsterdam para Kuala Lumpur quando foi abatido acima de uma zona de conflito no leste da Ucrânia a 17 de Julho de 2014. Somente em Maio de 2018 o grupo de investigação, liderado pelos holandeses, produziu o seu relatório alegando que um míssil BUK foi usado para abater o avião da Malaysia Airlines, indicando que ele fora disparado a partir da 53ª brigada antiaérea da Federação Russa, estacionada em Kursk próximo da fronteira ucraniana. O Grupo de Investigação Holandês (Joint Investigation Team – JIT) declarou que “chegou à conclusão de que o BUK-TELAR que abateu o MH17 veio da 53ª brigada de mísseis antiaéreos estacionada em Kursk na Rússia,” segundo o investigador-chefe holandês, Wilbert Paulissen. Paulissen acrescentou, “Estamos convictos que o que encontrámos justifica as  conclusões…”
O grupo liderado por holandeses não apresentou uma prova forense concreta e Moscovo tem repetidas vezes desmentido envolvimento num tal ato, que não faria sentido em termos militares ou políticos para os russos. Em 2018 o ministro da defesa russo providenciou provas de que o míssil BUK que alvejou o avião de passageiros malaio foi manufacturado numa fábrica da Rússia em 1986 e depois despachado para a Ucrânia. A sua última localização registada era uma base militar ucraniana.
Ao levantar de novo dúvidas sobre as conclusões dos investigadores holandeses, Mahatir abriu potencialmente uma caixa de Pandora, que poderia afectar membros do governo ucraniano da época, nomeadamente Igor Kolomoisky , o bilionário apoiante de Volodymyr Zelensky, o recém-eleito presidente da Ucrânia. Potencialmente, também, poderia implicar o então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e muitos outros.

Questões em Aberto

Os investigadores independentes da destruição do MH17 sublinham o facto de que a equipa de inquérito liderada por holandeses deliberadamente excluiu a Malásia, assim como a Rússia, do seu grupo, mas incluiu os representantes ucranianos do regime resultante do golpe de Estado apoiado pela CIA, que dificilmente se pode considerar uma parte desinteressada. Além disso todas as escutas apresentadas como prova da culpa dos russos vieram dos serviços secretos ucranianos, SBU. Desde o golpe apoiado pela CIA na Ucrânia em 2014, o SBU tem estado envolvido em repetidas acusações fabricadas contra a Rússia, até mesmo simulando o assassínio de um jornalista, que depois se revelou estar bem  vivo.
Um dos problemas que o grupo holandês JIT nunca abordou é porquê, quando se estava numa zona de guerra e os voos comerciais internacionais eram aconselhados a evitar o espaço aéreo da Ucrânia do Leste, o voo MH17 recebeu a ordem, comprovadamente, pelas autoridades de controlo aéreo em Dnepropetrovsk, a mudar o seu itinerário e voar directamente por cima da zona de guerra. Segundo um sítio Internet holandês, Post Online, o Eurocontrol, a organização europeia para a segurança da navegação aérea, informou o parlamento holandês sobre o estatuto dos radares da Ucrânia, em 2016, informando que a organização ucraniana de controlo de tráfego aéreo UkSATSE falhou informar o Eurocontrol, no Verão de 2014, sobre a situação não-operacional de três sistemas de radar no Leste da Ucrânia, uma violação grave da lei. Um dos três radares tinha sido tomado na sequência do golpe apoiado pela CIA, em Abril, por um bando usando capuz, que destruiu as instalações.

Além disso, noutra falha, o serviço ucraniano UkSATSE recusou autorização para que o seu controlador aéreo em Dnepropetrovsk, responsável pelo controlo do voo MH17, fosse questionado. Segundo reportagens russas, o indivíduo «foi de férias» e nunca mais reapareceu.

O Factor Kolomoisky

Na altura do abate do MH17, o governador ucraniano da província de Dnepropetrovsk, era Igor Kolomoisky. Kolomoisky, que é classificado como o terceiro mais rico da Ucrânia, com um império que se estende pelo petróleo, carvão, metais e banca, também está referenciado como directamente ligado, via entidades off-shore, à Burisma, uma companhia ucraniana de gás, que tem o filho do Vice-presidente Joe Biden no seu quadro de directores.
Kolomoisky, que é bem conhecido por contratar bandidos e neonazis para espancar os seus oponentes na Ucrânia, assegurou um posto lucrativo na Burisma para Hunter Biden, apesar da inexperiência deste em algo relacionado com a Ucrânia ou com petróleo e gás, como agradecimento a Joe Biden, por este ter anulado a proibição de visto de viagem aos EUA a Kolomoisky. Joe Biden era a pessoa mais responsável da administração Obama, encarregue do golpe da Praça Maidan em 2014, orquestrado pela CIA, para derrubar o presidente eleito, Viktor Yanukovych.
As observações de Mahatir chamaram a atenção de novo para as circunstâncias misteriosas envolvendo o avião da Malaysian Air MH17 em 2014 e o papel que – potencialmente – Kolomoisky e outros teriam nisto. O papel de altos funcionários da Ucrânia, corruptos e apoiados pela administração Obama, está agora a ser examinado.
O novo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é largamente mencionado como protegido de Igor Kolomoisky. Zelensky tornou-se um nome conhecido como comediante numa estação de TV de Kolomoisky, o qual forneceu fundos e pessoal para a campanha vitoriosa do comediante, em Maio de 2019, em que o derrotado foi o presidente cessante, Petro Poroshenko, inimigo declarado de Kolomoisky. Após a vitória eleitoral de Zelensky, Kolomoisky regressou à Ucrânia, após um exílio na Suíça, no seguimento de um azedo conflito e ruptura com Poroshenko em 2015.
Estas peças todas formam um puzzle geopolítico muito obscuro, que mostram o papel sujo que a Ucrânia e a administração Obama jogaram ao demonizar a Rússia, assim como a Administração Trump. Recentemente, verifica-se que o Conselheiro Especial Mueller e seu pessoal, confiaram no testemunho do empresário ucraniano Konstantin Kilimnik, que trabalhava para o presidente da campanha de Trump, Paul Manafort, a figura chave supostamente ligada aos serviços secretos russos, como peça-chave para construir o caso de conivência com a Rússia ou das interferências nas eleições presidenciais de 2016.
Porém, longe de ser um agente de Putin, novas provas mostram que Kilimnik, pelo menos desde 2013, era um informador confidencial do Departamento de Estado dos EUA, de acordo com o jornalista dos EUA, John Solomon. Solomon cita documentos do Departamento de Estado, incluindo e-mails que ele viu, onde Kilimnik é descrito como «importante fonte» de informação para o Departamento de Estado dos EUA. O relatório de Mueller deixou de fora este detalhe embaraçoso, por algum motivo. Kilimnik trabalhou para Paul Manafort o qual, antes do golpe de 2014 na Ucrânia, tinha servido como «lobbyist» para o presidente eleito Viktor Yanukovych e seu Partido das Regiões.
Os actos sombrios de certas personagens na Ucrânia podem vir, em breve, recair sobre elas próprias, quer figuras da Ucrânia tais como Kolomoisky, ou pessoas como Joe Biden e família. Quanto à autoria verdadeira do disparo contra o avião MH17, existem investigadores holandeses e outros, que acreditam estar ligado a agentes ao serviço de Kolomoisky, aos negócios ucranianos de Hunter Biden e aos factos reais nas investigações ao «Russiagate» de Mueller. Todos esses aspectos poderiam ser mais reveladores para o inquérito do departamento de Justiça dos EUA, do que o inquérito de Mueller tem sido. Cada vez mais, se verifica que parece ter sido a Ucrânia e não a Rússia que foi a fonte de interferência na eleição de 2016 e não aquilo que nos têm dito a media do poder, como a CNN.


F. William Engdahl é um consultor de risco e um conferencista, possui uma licenciatura em política pela Universidade de Princeton e é um autor de «best-sellers» sobre petróleo e geopolítica. Escreve em exclusivo para o magazine on-line “New Eastern Outlook.”
 https://journal-neo.org/2019/06/09/mahatir-opens-a-ukraine-political-pandora-s-box/

[Traduzido por Manuel Banet Baptista para https://ogmfp.wordpress.com/ ]
Posted by Manuel Baptista at 10.6.19 1 comentário:
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Labels: cia, EUA, Golpe de Estado, Joe Biden, Kolomoisky, Mahatir, Malásia, media, MH17, míssil, Russia, Ucrânia, William Engdahl
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