segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O CREPÚSCULO DA INTELIGÊNCIA PÚBLICA NO OCIDENTE


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"A ditadura perfeita seria a que tivesse as aparências da 
democracia, uma prisão sem muros, cujos prisioneiros
não sonhassem sequer se escapar. Um sistema de
escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento,
os escravos amassem a sua servidão."

Aldous Huxley 
O Melhor dos Mundos

A minha tese é muito simples:
De maneira deliberada ou não, a civilização ocidental vem produzindo - geração após geração - cidadãos mais ingénuos, incapazes de racionalidade, de raciocínio lógico, de visão clara da realidade.

A falsa informação sobre o 11 de Setembro de 2001, foi talvez o ponto de partida: Um golpe monstruoso dos neocons que precisavam do seu «Pearl Harbour» para dar o golpe final às liberdades nos EUA e transformar o seu regime em tudo o que caracteriza um fascismo, embora guardando aparências de democracia. 

Digo que foi o ponto de partida pois, a partir deste ponto, causaram guerras de agressão, em si mesmas crimes contra a humanidade, sem que houvesse um sobressalto da generalidade do público das «democracias ocidentais», aliadas do Império. 

Mas a agressividade e o atrevimento dos neocons não se ficaram por aqui pois, apesar do seu óbvio fracasso em trazer a «democracia» para o Iraque ou a Líbia, foram os arquitectos e os mentores do golpe de Estado na Ucrânia, com o apoio da U.E. em Fevereiro de 2014, colocando no poder uma extrema-direita, que se reclama herdeira dos ucranianos que escolheram Hitler, que se alistaram nas suas unidades de exterminação das SS, sendo autores de crimes comprovados contra população civil, judaica e não-judaica, polaca, russa, ou ucraniana, que não estivesse do lado deles.
A partir deste ponto, a caixa de pandora destapa-se completamente, pois precisam de uma guerra-fria bis para demonizar a Rússia, como o fizeram com a antiga URSS, mas agora, sem qualquer laivo de verosimilhança ou pudor. 
Acusam constantemente os russos e os chineses de actos de espionagem quando eles, poderes da NATO, são os que espiam tudo e todos, os maiores e mais constantes agentes de subversão dos regimes que não lhes agradam. São estes governos que clamam que estão sujeitos a «ingerências» da Rússia e da China!

O público ocidental é o verdadeiro alvo desta propaganda, que visa justificar perante ele a política agressiva, belicista da NATO, em particular, dos anglo-americanos (EUA, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia, Austrália). 

Creio que a estupidez ocidental não é endógena, mas que é infundida e reforçada constantemente pela media. Graças à media, tudo tem uma «explicação» compatível com as narrativas delirantes dos governos da NATO. 
Se apenas tivermos a media mainstream como fonte de informação sobre tudo o que se passa, realmente não saberemos nada, pois as notícias importantes são afundadas num mar de lixo, de mexericos envolvendo a vida sexual de pessoas famosas ou outras futilidades. 
O próprio conteúdo das notícias propriamente ditas, deixa muito a desejar: repare-se que, cada vez que noticiam o ponto de vista governamental, ele é apresentado como «a verdade oficial», inquestionável, incontestável. Não existe -na imensa maioria dos casos - qualquer contraponto audível nos media de massa, apenas um pequeno número de pessoas consegue conhecer a posição de políticos contrários aos governos, ou de sindicalistas, ou de outras personalidades que sejam críticas. 
Como a imensa maioria das pessoas está exposta apenas à narrativa dos media de massas, o ponto de vista que esta veicula é adoptado a-criticamente como sendo «a verdade». 
Por exemplo, há 4 anos atrás, as vozes que diziam que o ISIS era uma fabricação dos serviços secretos americanos e de Israel e financiados pela Arábia Saudita, com o apoio do Catar e da Turquia, foram postas de lado como sendo «teóricos da conspiração» mas, agora, toda a gente sabe que isso foi assim. 
No entanto, quase ninguém vem agora questionar o «Ocidente» por ele ter estado a financiar, a pretexto da luta contra o governo legítimo da Síria, os irmãos ideológicos da Al Quaida, os declarados autores de bárbaros ataques contra os civis, nos EUA, na Inglaterra,  em Espanha, em França, etc?

Vemos que existe uma monstruosa conspiração, não uma «teoria da dita», a qual envolve os «nossos» governos, com a preciosa colaboração dos aparelhos ideológicos disfarçados de «órgãos de informação», para nos fazer aceitar a transição paulatina para um regime  totalitário mundial (o triunfo do globalismo), mas um totalitarismo que não se vê.

Um totalitarismo «soft» não significa que ele seja menos duro com a dissidência do que os totalitarismos nazi-fascista ou bolchevique que prosperaram tristemente durante boa parte do século passado: 
- pelo contrário, eles aprenderam a lição com estes totalitarismos passados e não se esquecem de apregoar - como um ritual - o discurso sobre a liberdade, a democracia, etc. Isto, para melhor apunhalar os mesmos valores e - sobretudo - colocar a generalidade dos cidadãos na posição de menoridade mental ou de escravização psicológica (o mecanismo da síndrome de Estocolmo, que usam com abundância). 
Tudo é «psi-op», ou seja, operação psicológica com o objectivo de desarmar, confundir, iludir o «adversário», mas o adversário aqui é a própria população civil dos países que eles governam, sujeita à propaganda maciça.

A maior fragilidade deste novo totalitarismo reside nas pessoas: as que não têm vendas, que já perceberam o jogo. Estas são susceptíveis de  comunicar com outras e mostrar como estão todas sujeitas a manipulação. 
A partir deste momento, uma pessoa deixa de ser manipulável. Uma pessoa não manipulável tem tendência a propagar essa postura de espírito à outras. Se o processo se repete "n" vezes, já ninguém liga à propaganda. Toda a gente está consciente de que «as notícias» são falsidades fabricadas para levar as pessoas a adoptar uma determinada posição.

Isto aconteceu com os regimes de Salazar e Franco, nos últimos anos, em que quase toda a gente era de oposição ou crítica dos poderes, quase ninguém dava crédito aos órgãos de informação controlados pelos governos respectivos. O mesmo se passou com os regimes do Leste europeu.
Tive ocasião de «tomar o pulso» da verdadeira opinião pública em Portugal e Espanha (nos anos de 1970 até 1974). 
Também na Polónia, República da Checoslováquia, República Democrática Alemã e mesmo na União Soviética, países que visitei várias vezes e contactei com pessoas comuns, intelectuais ou operários, jovens ou anciãos, nos anos 1976-1985. 
Foi muito importante para mim, para compreender que as pessoas, uma vez despertas, ficam como que «vacinadas» contra a propaganda. 
Não só a propaganda governamental deve ser encarada criticamente, por aquilo que realmente é, mas toda a propaganda, seja qual for a sua origem; também a de sinal contrário, anti-governamental. 


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