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segunda-feira, 10 de junho de 2019

PRIMEIRO-MINISTRO DA MALÁSIA ABRE «CAIXA DE PANDORA» POLÍTICA DA UCRÂNIA




O primeiro-ministro da Malásia, Mahatir Mohamad, enviou ondas de choque num discurso público em que descartou o relatório «oficial» holandês que dava como responsáveis os russos pelo disparo contra o avião da companhia aérea Malaysia Air, voo 17 em Julho de 2014, semanas depois de um golpe orientado pela CIA que derrubou o presidente eleito da Ucrânia. 
Apesar da media ocidental ter silenciado os comentários do líder da Malásia, este está a criar um sério embaraço para o ex-vice presidente Joe Biden e seus colaboradores na Ucrânia, tais como Igor Kolomoisky, nos seus esforços patéticos para condenarem a Rússia pelos seus próprios crimes.

Durante um diálogo no Clube Japonês de Correspondentes Estrangeiros, no dia 30 de Maio, Mahatir desafiou o governo holandês a providenciar provas da sua afirmação de que o avião da Malaysian Airlines FH17 que se despenhou na Ucrânia tinha sido alvejado por um míssil BUK de fabrico russo, disparado de um regimento russo estacionado em território russo (Kursk). O primeiro-ministro malaio disse aos media japoneses: «Eles acusam a Rússia, mas onde estão as provas? Nós sabemos que o míssil que deitou abaixo o avião é de modelo russo, mas ele poderia também ter sido fabricado na Ucrânia.” Sem hesitações, Mahatir acrescentou, “É precisa uma prova sólida para mostrar que foi disparado pelos russos; poderia ter sido pelos rebeldes na Ucrânia, poderia ter sido pelas tropas governamentais da Ucrânia, porque eles também têm o mesmo míssil.”
Continuou, fazendo a exigência de que o governo da Malásia possa ser autorizado a inspeccionar a caixa negra do avião despenhado, afirmando o óbvio, sendo o avião malaio, com um piloto malaio e onde uma parte dos passageiros eram malaios: “Pode ser que não tenhamos a capacidade de peritagem mas podemos comprar os serviços de tal peritagem. Por algum motivo, a Malásia não foi autorizada a inspeccionar a caixa negra para ver o que se passou.”
Afirmou ainda, “não sabemos porque fomos excluídos do inquérito, mas desde o princípio, vemos demasiada política nisso e a ideia parece ter sido, não de descobrir como é que isso aconteceu, mas de tentar colar as culpas nos  russos.”
O voo da Malaysian Air MH17 estava no caminho de Amsterdam para Kuala Lumpur quando foi abatido acima de uma zona de conflito no leste da Ucrânia a 17 de Julho de 2014. Somente em Maio de 2018 o grupo de investigação, liderado pelos holandeses, produziu o seu relatório alegando que um míssil BUK foi usado para abater o avião da Malaysia Airlines, indicando que ele fora disparado a partir da 53ª brigada antiaérea da Federação Russa, estacionada em Kursk próximo da fronteira ucraniana. O Grupo de Investigação Holandês (Joint Investigation Team – JIT) declarou que “chegou à conclusão de que o BUK-TELAR que abateu o MH17 veio da 53ª brigada de mísseis antiaéreos estacionada em Kursk na Rússia,” segundo o investigador-chefe holandês, Wilbert Paulissen. Paulissen acrescentou, “Estamos convictos que o que encontrámos justifica as  conclusões…”
O grupo liderado por holandeses não apresentou uma prova forense concreta e Moscovo tem repetidas vezes desmentido envolvimento num tal ato, que não faria sentido em termos militares ou políticos para os russos. Em 2018 o ministro da defesa russo providenciou provas de que o míssil BUK que alvejou o avião de passageiros malaio foi manufacturado numa fábrica da Rússia em 1986 e depois despachado para a Ucrânia. A sua última localização registada era uma base militar ucraniana.
Ao levantar de novo dúvidas sobre as conclusões dos investigadores holandeses, Mahatir abriu potencialmente uma caixa de Pandora, que poderia afectar membros do governo ucraniano da época, nomeadamente Igor Kolomoisky , o bilionário apoiante de Volodymyr Zelensky, o recém-eleito presidente da Ucrânia. Potencialmente, também, poderia implicar o então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e muitos outros.

Questões em Aberto

Os investigadores independentes da destruição do MH17 sublinham o facto de que a equipa de inquérito liderada por holandeses deliberadamente excluiu a Malásia, assim como a Rússia, do seu grupo, mas incluiu os representantes ucranianos do regime resultante do golpe de Estado apoiado pela CIA, que dificilmente se pode considerar uma parte desinteressada. Além disso todas as escutas apresentadas como prova da culpa dos russos vieram dos serviços secretos ucranianos, SBU. Desde o golpe apoiado pela CIA na Ucrânia em 2014, o SBU tem estado envolvido em repetidas acusações fabricadas contra a Rússia, até mesmo simulando o assassínio de um jornalista, que depois se revelou estar bem  vivo.
Um dos problemas que o grupo holandês JIT nunca abordou é porquê, quando se estava numa zona de guerra e os voos comerciais internacionais eram aconselhados a evitar o espaço aéreo da Ucrânia do Leste, o voo MH17 recebeu a ordem, comprovadamente, pelas autoridades de controlo aéreo em Dnepropetrovsk, a mudar o seu itinerário e voar directamente por cima da zona de guerra. Segundo um sítio Internet holandês, Post Online, o Eurocontrol, a organização europeia para a segurança da navegação aérea, informou o parlamento holandês sobre o estatuto dos radares da Ucrânia, em 2016, informando que a organização ucraniana de controlo de tráfego aéreo UkSATSE falhou informar o Eurocontrol, no Verão de 2014, sobre a situação não-operacional de três sistemas de radar no Leste da Ucrânia, uma violação grave da lei. Um dos três radares tinha sido tomado na sequência do golpe apoiado pela CIA, em Abril, por um bando usando capuz, que destruiu as instalações.

Além disso, noutra falha, o serviço ucraniano UkSATSE recusou autorização para que o seu controlador aéreo em Dnepropetrovsk, responsável pelo controlo do voo MH17, fosse questionado. Segundo reportagens russas, o indivíduo «foi de férias» e nunca mais reapareceu.

O Factor Kolomoisky

Na altura do abate do MH17, o governador ucraniano da província de Dnepropetrovsk, era Igor Kolomoisky. Kolomoisky, que é classificado como o terceiro mais rico da Ucrânia, com um império que se estende pelo petróleo, carvão, metais e banca, também está referenciado como directamente ligado, via entidades off-shore, à Burisma, uma companhia ucraniana de gás, que tem o filho do Vice-presidente Joe Biden no seu quadro de directores.
Kolomoisky, que é bem conhecido por contratar bandidos e neonazis para espancar os seus oponentes na Ucrânia, assegurou um posto lucrativo na Burisma para Hunter Biden, apesar da inexperiência deste em algo relacionado com a Ucrânia ou com petróleo e gás, como agradecimento a Joe Biden, por este ter anulado a proibição de visto de viagem aos EUA a Kolomoisky. Joe Biden era a pessoa mais responsável da administração Obama, encarregue do golpe da Praça Maidan em 2014, orquestrado pela CIA, para derrubar o presidente eleito, Viktor Yanukovych.
As observações de Mahatir chamaram a atenção de novo para as circunstâncias misteriosas envolvendo o avião da Malaysian Air MH17 em 2014 e o papel que – potencialmente – Kolomoisky e outros teriam nisto. O papel de altos funcionários da Ucrânia, corruptos e apoiados pela administração Obama, está agora a ser examinado.
O novo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é largamente mencionado como protegido de Igor Kolomoisky. Zelensky tornou-se um nome conhecido como comediante numa estação de TV de Kolomoisky, o qual forneceu fundos e pessoal para a campanha vitoriosa do comediante, em Maio de 2019, em que o derrotado foi o presidente cessante, Petro Poroshenko, inimigo declarado de Kolomoisky. Após a vitória eleitoral de Zelensky, Kolomoisky regressou à Ucrânia, após um exílio na Suíça, no seguimento de um azedo conflito e ruptura com Poroshenko em 2015.
Estas peças todas formam um puzzle geopolítico muito obscuro, que mostram o papel sujo que a Ucrânia e a administração Obama jogaram ao demonizar a Rússia, assim como a Administração Trump. Recentemente, verifica-se que o Conselheiro Especial Mueller e seu pessoal, confiaram no testemunho do empresário ucraniano Konstantin Kilimnik, que trabalhava para o presidente da campanha de Trump, Paul Manafort, a figura chave supostamente ligada aos serviços secretos russos, como peça-chave para construir o caso de conivência com a Rússia ou das interferências nas eleições presidenciais de 2016.
Porém, longe de ser um agente de Putin, novas provas mostram que Kilimnik, pelo menos desde 2013, era um informador confidencial do Departamento de Estado dos EUA, de acordo com o jornalista dos EUA, John Solomon. Solomon cita documentos do Departamento de Estado, incluindo e-mails que ele viu, onde Kilimnik é descrito como «importante fonte» de informação para o Departamento de Estado dos EUA. O relatório de Mueller deixou de fora este detalhe embaraçoso, por algum motivo. Kilimnik trabalhou para Paul Manafort o qual, antes do golpe de 2014 na Ucrânia, tinha servido como «lobbyist» para o presidente eleito Viktor Yanukovych e seu Partido das Regiões.
Os actos sombrios de certas personagens na Ucrânia podem vir, em breve, recair sobre elas próprias, quer figuras da Ucrânia tais como Kolomoisky, ou pessoas como Joe Biden e família. Quanto à autoria verdadeira do disparo contra o avião MH17, existem investigadores holandeses e outros, que acreditam estar ligado a agentes ao serviço de Kolomoisky, aos negócios ucranianos de Hunter Biden e aos factos reais nas investigações ao «Russiagate» de Mueller. Todos esses aspectos poderiam ser mais reveladores para o inquérito do departamento de Justiça dos EUA, do que o inquérito de Mueller tem sido. Cada vez mais, se verifica que parece ter sido a Ucrânia e não a Rússia que foi a fonte de interferência na eleição de 2016 e não aquilo que nos têm dito a media do poder, como a CNN.


F. William Engdahl é um consultor de risco e um conferencista, possui uma licenciatura em política pela Universidade de Princeton e é um autor de «best-sellers» sobre petróleo e geopolítica. Escreve em exclusivo para o magazine on-line “New Eastern Outlook.”

[Traduzido por Manuel Banet Baptista para https://ogmfp.wordpress.com/ ]