quinta-feira, 16 de outubro de 2025
quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Saga dos neandertais na Ibéria e sua hibridação com H. sapiens
A imagem popular dos Neandertais como bestas possantes, resistentes a condições adversas, mas de pouca inteligência, veio «explicar» durante decénios a extinção deste grupo de humanos arcaicos, à medida que se espalhava a população dos "Cro Magnon"* que são nossos ancestrais diretos, humanos anatomicamente modernos.
Porém, desde cedo, a imagem de brutamontes dos Neandertais estava posta em causa, pelo facto de existirem várias evidências de importações de tecnologias de talhe da pedra, oriundas dos Homo sapiens, pois estão já presentes em África, antes da última onda migratória para a Europa*. No entanto, essas técnicas foram copiadas e adaptadas por neandertais. As técnicas de talhe «Levallois» são tipicamente de transição entre a cultura Musteriense (típica de neandertais) e de «Homo sapiens sapiens».
Antes de estarem disponíveis as técnicas de análise de ADN antigo, João Zilhão e equipa (1998) levantaram a hipótese de que o Menino de Lapedo (ver vídeo abaixo), possuía inegáveis traços anatómicos de neandertal, embora fosse um «humano moderno». Zilhão interpreta este hibridismo como sinal de que havia - disseminados na população a que pertencia o menino de Lapedo - genes originários dos neandertais. Tal como acontece com a nossa herança de genes neandertais, os cruzamentos na origem do hibridismo do Menino de Lapedo tiveram lugar muito tempo antes (milhares de anos).
No âmbito da genética das populações é sabido que os genes podem persistir ou desaparecer numa população ao longo das gerações, devido aos efeitos da selecção (selecção «darwiniana»), ou devido ao acaso. Sabemos que quanto mais distantes no tempo forem os acontecimentos de hibridação inter- específica,mais os genes importados estarão diluídos nas gerações subsequentes.
Observou-se uma percentagem maior de genes de origem neandertal em populações atuais da Ibéria, em comparação com a percentagem em populações da Europa Oriental ou Asiáticas. Este facto reforça um conjunto de evidências de que a extinção dos neandertais foi muito mais tardia na Ibéria, em relação a outras zonas que eles povoaram.
Os documentários abaixo são interessantes. Em certos pontos, avançam com teorias ou hipóteses, para as quais não existe acordo na comunidade científica. Isso é o normal na ciência, que precisa do confronto de posições para o avanço nas pesquisas, nas investigações no terreno, nos debates teóricos...
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* Os primeiros humanos modernos (chamados de Cro-Magnon) chegaram à Europa há cerca de 45.000 anos.
Neandertais SOBREVIVERAM ATÉ 25.000 ANOS ATRÁS
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
PRIMEIRO REACTOR NUCLEAR A TÓRIO (NA CHINA, DESERTO DE GOBI) FUNCIONA EM CONTÍNUO
Esta tecnologia usa matéria-prima abundante (o Tório), largamente distribuída no planeta, ao contrário do isótopo de urânio utilizado nas centrais atuais.
A quantidade de Tório disponível no território da China, é suficiente para fornecer eletricidade a toda a sociedade chinesa durante 20 000 anos.
Será uma energia praticamente ilimitada.
domingo, 12 de outubro de 2025
APOSTILA: O Remanescente são Palavras [OBRAS DE MANUEL BANET]
Deixa a ridícula miragem
De sermos perpétuos, eternos
Não desprezes um suspiro
Um olhar, ou gesto inacabado
Sermos aquilo que somos
Parece o mais difícil, afinal:
Neste mundo, enganados somos
Pelos espelhos da nossa vaidade
Afinal, a felicidade está no instante,
No efémero, no real ao nosso alcance;
Nesta curvatura do espaço-tempo
Onde cegos e surdos caminhamos
Mas ouvir os sons naturais,
Apreciar uma paisagem intacta
Sem «monumentos» que plantaram
Os humanos na sua ébria vaidade
Colher tais impressões não cansa:
Levo-as para casa, nelas renovo
A misteriosa e potente força
Que a Vida nos oferece
Fecho os olhos e vejo a realidade
Transmutada em sonho único
Que nenhum artifício captaria
Porque o sonho é meu guia
Revelado quem sabotou Nordstream
sábado, 11 de outubro de 2025
O MURO DAS LAMENTAÇÕES - HAVERÁ, DESTA VEZ, RESPEITO PELO PLANO DE PAZ?
Leia AQUI (https://chrishedges.substack.com/p/trumps-sham-peace-plan) o artigo de Chris Hedges, na íntegra.
Praticamente, tudo aponta para um falso plano de paz, tanto mais que um plano sério teria de explicitamente mencionar o estatuto da Palestina como de «Estado soberano», coisa que evita a todo o custo.
Acho que - lamentavelmente - este «plano de paz» teve mais a ver com a preocupação de Trump em ganhar o «prémio Nóbel da Paz». Reflectindo sobre isto, se ele não o ganhou foi uma injustiça, digo eu. Pois, não só ficaria junto de outros ex-presidentes dos EUA, sem dúvida premiados pelas «pacíficas invasões e guerras que iniciaram ou alimentaram», como de Henry Kissinger, Secretário de Estado sob Richard Nixon, que aconselhou bombardeamentos massivos com napalm nas zonas rurais do Vietname e organizou o golpe contra Salvador Allende, no Chile em 1973.
O Comité Nobel para a Paz está, há muito tempo, transformado numa espécie de «tambor», ecoando as «virtudes» de personagens do imperialismo americano, ou de seus apaniguados. O último caso é o Nóbel, atribuído* a Maria Corina Machado, golpista venezuelana.
*Ver artigo por Code Pink, uma organização feminista revolucionária dos EUA.
Alastair Crooke receia - com razão - que este «plano de paz» seja apenas mais «poeira para os olhos», com vista a um ataque surpresa contra o Irão, organizado pelos «pacíficos» Trump e Netanyahu.
PS1: Aaron Maté Escreve um artigo onde aponta o facto do cessar-fogo entrar em vigor sem que nenhuma das causas subjacentes do conflito tenham sido abordadas.
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
COMO É QUE PORTUGAL NÃO FOI ABSORVIDO PELA ESPANHA
Na realidade, esta questão é um bocado misteriosa para mim, que não sou historiador e tenho ideias demasiado esquemáticas do que foi o Condado Portucalense e todas as relações entre famílias reinantes, de Portugal, Castela e restantes reinos ibéricos, que tanta influência tiveram na evolução da geografia política da Península Ibérica.
O que me apraz sublinhar é que o estado de guerra não era de todo o mais comum entre os reinos vizinhos de Portugal e Castela. Antes pelo contrário, as casas reais estavam aparentadas por uma série de casamentos entre príncipes dos dois reinos, forma como eram seladas ou consolidadas as alianças, nessa época. Apenas uma visão maniqueísta coloca os dois reinos ibéricos em contenda permanente.
Lembremos que o grande período de hostilidade aconteceu no final do Séc. XVI, quando o rei D. Sebastião de Portugal morreu em combate na batalha de Alcãcer Quibir (Marrocos) e foi sucedido pelo Cardeal D. Henrique, o qual não possuía descendência.
As cortes estabeleceram que o legítimo herdeiro do trono era Felipe IIº de Espanha, tendo os seus exércitos invadido Portugal e derrotado uma fraca resistência militar, fiel ao candidato português ao trono (D. António Prior do Crato, «bastardo» real) e durante 60 anos foi o domínio dos Felipes na coroa de Portugal, não fusionada com a de Espanha, mas mantidos os dois reinos separados, com à cabeça, o mesmo monarca.
Esta situação agradava a uma parte da aristocracia portuguesa. Por isso não houve grande resistência em Portugal durante a maior parte do período. Foi devido a uma série de acasos felizes que a conjura de 1ª de Dezembro de 1640 teve sucesso. Um facto importante, foi que o exército castelhano estava ocupado - nesse preciso momento - a reprimir uma insurreição na Catalunha. Esta foi um fracasso, mas o resultado foi que, entretanto, Portugal sob o novo monarca, D. João IV, teve tempo de organizar um exército próprio e fazer face às incursões espanholas. A guerra «de baixa intensidade» que se seguiu, durou bem até ao reinado de D. João V. Só no reinado deste monarca português se chegou a uma paz estável com Espanha, com os casamentos de príncipes herdeiros. Nesta ocasião, foi celebrado o casamento entre o monarca espanhol e D. Maria Bárbara de Bragança princesa real, que se tornou assim Rainha de Espanha.
Porém, os interesses de Espanha e Portugal continuaram a entrechocar-se no continente Americano. Houve combates na América do Sul por causa da delimitação dos territórios das colónias pertencentes a Espanha e a Portugal. Posteriormente, em 1801, na «Guerra das Laranjas» Portugal foi invadido pelo exército espanhol, por iniciativa do primeiro-ministro Godoy e nas boas graças do Consul vitalício, Napoleão Bonaparte.
Durante a terrível guerra civil espanhola (1936-39), participaram forças portuguesas, de um lado e do outro: são conhecidas participações diretas de comunistas e de anarquistas nas milícias republicanas; do lado falangista, também houve voluntários. Esta guerra ocorreu já durante a ditadura de Salazar (1932-1968). Ele e o seu regime eram totalmente favoráveis aos insurrectos comandados por Franco. Quando algum «rojo» atravessava a fronteira para Portugal, era quase certo que seria apanhado, entregue aos falangistas e executado.
No período pós-25 de Abril de 74, houve grupos (ELP, MDLP) de portugueses contra-revolucionários (grupos armados, praticando atos terroristas) que se acolheram em Espanha, onde ainda vigorava o regime falangista.
Mais tarde, aquando da adesão de Portugal e Espanha à então CEE, havia um certo preconceito dos eurocratas e dos principais países membros formando então «o Mercado Comum», em colocar Portugal e Espanha «no mesmo barco». Isto porque viam maior vantagem na adesão da Espanha com a sua indústria, agricultura e relações com a América-Latina.
Porém, acabaram por encontrar uma fórmula, em que as indústrias portuguesas com maior potencial foram entregues, como «prenda de casamento da CEE» ao país vizinho. Os espanhoís puderam desenvolver em Portugal uma estratégia agressiva de aquisições em vários sectores, na indústria, nas pescas, no imobiliário, etc. O resultado foi o acentuar da «terceiro-mundialização» de Portugal, como se pode verificar até hoje.
Nos períodos em que Portugal fez face a Espanha, em geral, tinha o apoio duma grande potência, como o Reino Unido ou a França. Também nestas circunstâncias, Portugal teve de ceder muito a seus aliados, não só no seu império colonial, como em relação ao comércio da metrópole: por exemplo, os britânicos conseguiram obter exportações em exclusivo de uma série de artigos para o Reino lusitano e obtiveram o exclusivo do cultivo e exportação dos vinhos do Porto, da transformação das lãs da Covilhã, etc.
Pode dizer-se que o Portugal do século XVIII já tinha características de neocolónia, embora fosse - ele próprio - um império colonial. Mas o colonialismo português foi, quase sempre, subordinado a interesses estrangeiros até ao final do período colonial. Com efeito, eram numerosos os empreendimentos agrícolas, industriais e mineiros, nas colónias portuguesas, entregues a parceiros da OTAN (EUA, Reino Unido, França, Bélgica...). Também na metrópole, durante o período da ditadura de Salazar, as grandes empresas com lucros assegurados eram britânicas, alemãs, estado-unidenses, francesas e doutros países.
O regime de Salazar e Caetano oferecia as bases estratégicas (as bases aéreas das Lajes, Açores e de Beja) às forças armadas de países da OTAN. Estas, tinham, graças a estas bases, a possibilidade da sua aviação alcançar pontos estratégicos no Médio Oriente. Em contrapartida, Portugal recebia destes países apoio diplomático dentro da ONU e noutras instâncias, assim como armamento.
As armas, aviões, carros de combate, etc. fornecidos, eram muitas vezes em segunda mão ou modelos que já não eram usados pelos países doadores (por exemplo, aviões da guerra da Coreia, dados pelos americanos).
As guerras do período colonial foram guerras «proxi», em que os soldados eram portugueses, mas a grande maioria do equipamento provinha de aliados da OTAN. Quanto aos interesses defendidos, estes eram claramente os dos grandes empórios estrangeiros e da política hegemónica dos EUA, em confronto com o campo socialista e os movimentos anti-coloniais.
Portugal, em conclusão, é um país muito dependente, quer dos seus parceiros da UE, quer dos seus aliados mais fortes da OTAN. Configura-se uma situação neo-colonial, em que é mais vantajoso para os senhores feudais (o grande capital internacional) que Portugal permaneça como país nominalmente independente.
