terça-feira, 14 de setembro de 2021

O COMPLEXO DE «ANJO DA GUARDA»

 Mais misterioso do que o facto de que milhões de pessoas se submetem ao poder, é o facto deste mecanismo estar profundamente ancorado no inconsciente coletivo.

A transposição da necessidade biológica de proteção da criança pequenina em relação aos pais e demais adultos é talvez uma chave para esclarecer este mistério da servidão voluntária. 

Quando se é criança, é de vital importância ter grande confiança nos adultos que rodeiam o ser humano em fase da aprendizagem, é crucial este pequeno ser aceitar que está numa posição de inferioridade não apenas em relação à força, como também às capacidades, à sabedoria. O mundo é um grande mistério, a criança está constantemente a «tropeçar», a enganar-se e ela sabe-o ou percebe-o confusamente. Daí que seja inteiramente natural e de acordo com a necessidade do desenvolvimento ontológico, que exista essa dependência da criança em relação aos adultos. Mas, as coisas não ficam por aqui*, pelos aspetos práticos e concretos da vida, pois nos aspetos mais simbólicos também estão as crianças muito suscetíveis de construírem um modelo de super-mamã, de super-papá. 

Estes super progenitores, transferem-se depois, na aceitação da religião, seja ela mono- ou pluri-deísta, onde os entes individualizados, pessoalizados, são vistos como intercessores, daí as preces, os sacrifícios, as necessidades de ritos para apaziguar etc. Porém, no universo laicizado dos últimos duzentos anos, no chamado «Ocidente», em particular, a figura do herói, do chefe mítico, que também é ancestral e se confundia com os deuses ou semi-deuses da antiguidade, passa a desempenhar o papel de entidade mágica, para a qual se dirigem as preces. 

O que é uma adesão a um partido, uma ideologia, um determinado líder, etc. senão a transposição num universo laico, desdeificado, da necessidade de proteção, de ter um ser acima do vulgar, um herói ou heroína, que serve como objeto de culto, de intercessor/a pelas preces, sejam elas palavras de ordem ritualmente repetidas em comícios ou manifestações, ou em boletins de voto? 

As pessoas que seguem determinado ideário e aderem a uma tendência política não são crianças, nem atrasadas mentais, direis. Tendes razão, de forma nenhuma quero dar a impressão de que as pessoas sejam limitadas na sua inteligência. O meu ponto de vista é que estes mecanismos agem ao nível muito profundo e portanto não são fáceis de serem reconhecidos pelos indivíduos, mesmo pelos mais inteligentes e cultos que se possa imaginar. O inconsciente existe; as pulsões profundas existem; não somos capazes de nos «emancipar» dessa parte da nossa psique, da mesma maneira que não poderíamos viver, propriamente, somente sobreviver, se nos fosse retirado um pedaço substancial e contendo centros importantes do nosso cérebro.

O medo, a angústia, as fobias, tudo o que se traduz por comportamentos aversivos, tem uma origem em camadas muito profundas do psiquismo. Não é portanto fácil extirpar esses medos, em geral, sobretudo se eles entroncam, se fundem de algum modo, com medos e traumas experimentados na infância, os quais estão presentes, mas não são do foro consciente para a quase totalidade dos indivíduos. Os mesmos medos, os traumas, podem ser reavivados, reatualizados na vida adulta. É o papel da propaganda, a que se disfarça em informação objetiva, muitas vezes como sendo «a ciência», o de reativar esses estádios muito profundos e inconscientes, que ocorrem em todos os indivíduos, embora a natureza precisa das fobias, dos traumas seja obviamente muito diversa e varie muito no concreto, de pessoa para pessoa.   

Igualmente, a solução «mágica» de invocar o «anjo da guarda», que pode ser uma pessoa, uma «força ou energia natural», um deus ou uma ideologia, permite pontualmente acalmar a angústia dos indivíduos, que são confrontados com a situação angustiante, da qual não podem sair, ou fugir; contra a qual os meios de luta individuais são irrisórios, mas cuja realidade avassaladora corresponde a condenação sem apelo.

É exatamente o que se está a passar com a transformação duma parte das pessoas em «párias», por não aceitarem a «salvação vacinal». Elas são malevolamente acusadas (sobretudo por media e políticos sem escrúpulos) de serem transmissoras do vírus terrível. A manipulação resulta, porque vai acordar terrores irracionais da morte, da doença misteriosa, epidémica. 

Estão, conscientemente, os que controlam o discurso mediático, a desencadear esta regressão para o estádio infantil, em que a criança, destituída de saber e experiência da vida, confia nos pais. Aqui, serão «cientistas», «dirigentes», «chefes de Estado e de governo» e «gurus» diversos.

Note-se que é compreensível e que traduz uma necessidade biológica, o comportamento da criança de procurar proteção junto dos «anjos da guarda» dos progenitores, em primeiro lugar, e na ausência deles, quaisquer adultos que aparentem ser confiáveis, como parentes (avós, tios, tias, etc.), ou educadores (professores/as, instrutores/as, etc). É saudável e racional, na criança, esta acreditar naquilo que um progenitor, ou parente, ou pessoa próxima lhe disser. 

A regressão em causa, é desencadeada pelo medo, que tem aliás uma componente social muito forte, pois as pessoas começam a ficar deveras assustadas se, em seu redor, vêm comportamentos que denotam que os outros também têm medo. 

O medo é contagioso. A epidemia atual é sobretudo uma epidemia de medo e de irracionalidade. Vai demorar algum tempo a «curar-se», pois não serve de nada o discurso racional, perante o pânico. É necessário que a situação evolua e que as pessoas deixem de estar como que hipnotizadas, para haver um retorno ao funcionamento normal e racional ao nível social.  

A humanidade, ou parte importante dela, está nesta fase, ativada propositadamente por forças poderosas que, aliás, o fazem abertamente. É em fases assim que as transformações mais profundas ocorrem, mas não no sentido de uma «revolução», mas de uma «contrarrevolução» ou «regressão», da instalação dum poder «neofeudal», uma sociedade onde existe uma enorme diferença entre os poderosos, os que possuem tudo e os servos, os que não possuem nada, objetos  manipuláveis a preceito.

Os «anjos da guarda», para os quais os adultos  dirigem hoje suas preces, não são mais que os seus senhores, os donos dos escravos, disfarçados de anjos. 

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* NB: A este respeito convém notar que um dos «truques» para dominar ou ter ascendente sobre alguém é fazer esse alguém sentir-se «pequenino». É tão comum, no discurso das pessoas autoritárias, dirigir-se a um adolescente ou adulto, como se se tratasse de criança pequenina ...  

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

SARAH VAUGHAN - «WHAT IS THIS THING CALLED LOVE» (Cole Porter)




Uma das mais belas composições de Cole Porter, pela fenomenal Sarah Vaughan, no auge das capacidades vocais. 
São dois minutos e 5 segundos, de gravação ao vivo, cheia de swing e bebop! 

Sassy Swings The Tivoli ℗ 1963 The Verve Music Group, a Division of UMG Recordings, Inc. Released on: 1963-10-01 Producer: Quincy Jones Associated Performer, Bass Guitar: Charles Williams Associated Performer, Drums: George Hughes Associated Performer, Piano: Kirk Stuart Composer Lyricist: Cole Porter

 


domingo, 12 de setembro de 2021

OS VÍRUS NA EVOLUÇÃO DA VIDA


 Uma conferência fascinante, sobre o  papel dos vírus enquanto protagonistas centrais da evolução biológica.

Conferência dada em 2010 no quadro do ciclo «A face escondida dos vírus» por Patrick Forterre, investigador em biologia do Instituto Pasteur.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

QUANDO A HISTÓRIA REAL NOS É ROUBADA



Nesta época, muitas pessoas são, simultaneamente, céticas da narrativa do COVID-19 e descrentes da versão censurada, oficial da tragédia do 11 de Setembro de 2001.

Quanto ao 11 de Setembro 2001: Não sou daqueles que considera como «coisa de somenos» a morte violenta de cerca de 3,500 pessoas inocentes. Seja qual for a consequência para os políticos, para as instituições e para certos países estrangeiros, a verdade tem de vir ao de cima. E tem de vir ao de cima, mesmo que haja impossibilidade momentânea em processar os verdadeiros responsáveis.
É importante notar que, mesmo com censura e omissão de factos importantes pelo relatório da comissão de inquérito (NIST), há numerosos pontos em que a narrativa oficial do 11 de Setembro de 2001, e a dos críticos coincide. Portanto, o assunto NÃO está definitivamente arrumado.(1,2)



Em relação aos crimes associados ao COVID-19: Para quem realmente queira saber a verdade, ela está «em cima da mesa». Os crimes e seus atores são conhecidos, são constatáveis para além de qualquer dúvida razoável, por quem busque a verdade, em fontes outras que a media «mainstream» e os discursos «oficiais». Os crimes vão da propaganda mediática de falsa ciência, dando cobertura aos «lockdown» que - em si mesmos - são um crime, até à recusa de tratamento a milhões de pessoas, que seriam salvas, caso prevalecesse a ciência médica verdadeira. Este último crime é muito grave, porque significa recusar tratamento e fazer obstáculo a que alguém possa tratar doentes usando um certo tratamento. É uma forma de assassínio: deixar morrer as pessoas, havendo tratamento fácil e acessível. O rol de ações criminosas não termina aqui, visto que as chamadas «vacinas» (na verdade, meios de clonagem) causam mais danos do que o próprio vírus que, teoricamente, deveriam combater. Ainda por cima, as «vacinações» são impostas coercivamente sobre a população.

Eu queria deixar - aqui - o registo da viragem que representam estes 20 anos do século XXI. Pode parecer que os dois acontecimentos, o ataque do 11 de Setembro e a pandemia de COVID-19, são completamente independentes. Na realidade, existe uma relação entre eles.
Tem a ver, não com os acontecimentos em si, mas com a deliberada e sistemática ocultação de factos e evidências, que poderiam levar o público a aperceber-se de como tem sido manipulado.
Há crimes que induzem os seus autores a cometer outros crimes, seja para encobrir os crimes iniciais, seja para neutralizar acusações e criminalizar os que denunciam as conjuras: São hoje perseguidos, não os responsáveis desses crimes, mas os que dão o alerta, que expõem e desmascaram o tecido de mentiras que encobre as malfeitorias dos muito poderosos.
Nesta época, a comunicação social de grande difusão está na posse e sob controlo de multimilionários. Estes têm assegurado que tais órgãos sejam dóceis e relatem os acontecimentos do modo mais favorável aos seus interesses.

Hoje existe, num grau enorme, uma difusão da informação e a possibilidade real de acesso ao saber científico.
Infelizmente existe, também, uma profusão tal de «lixo informativo», incluindo em narrativas oficiais e oficiosas, que o cidadão está impossibilitado de fazer a destrinça entre uma notícia verdadeira, ou falsa (os «fact-checkers são mera fraude, apenas!), sobretudo quando esta última vem de fonte próxima do poder.
Esta época tem como marca indelével, apesar de todas as aparências, que o público seja mantido na completa ignorância dos reais motivos e planos da «elite» no poder.

A História não pode ser uma ficção. Não pode ser a narrativa conveniente que os poderes do momento decretam como sendo «a verdade». Esta abordagem é totalitária na sua essência, maquiavélica no seu modo e ultra elitista - apesar de se revestir das roupagens da democracia - pois ela destina-se a perpetuar o poder da oligarquia.
Perante este quadro, a «democracia liberal», tal como foi entendida no passado, parece-me morta e enterrada. O que resta nos países do «Ocidente», é somente o invólucro vazio das constituições, constantemente violadas na sua substância. Nestes países, a «lei» torna-se o mero capricho do poder. Quem realmente manda nestes países (mesmo nos mais poderosos), são os poderes económicos gigantescos, que controlam agências internacionais, meios de comunicação de massas e os próprios governos.

Abaixo, dois documentos para meditar.
Afixá-los não significa que se esteja de acordo com tudo o que lá se diz. Mas, vale a pena serem dados a conhecer aos leitores, pois contêm elementos desconhecidos de muitas pessoas.

9/11 Was an Israeli Job
How America was neoconned into World War IV

https://www.unz.com/article/911-was-an-israeli-job/


Video: #Yes, It’s a “Killer Vaccine”: Michel Chossudovsky

https://www.bitchute.com/video/uBzx3eYozeXz/


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(1) https://off-guardian.org/2021/09/09/14-ways-official-reports-agreed-with-conspiracy-theorists-on-9-11/






PS1 (13-09-2021): Para nos apercebermos da violência e ilegalidade de que estão a fazer com as «vacinas» à população vejam o artigo «Perspectives on the Pandemic» de Dr. Joseph Mercola e Dr. Peter McCullough :
Citação:

 «A proteína do pico (spike protein) em si é perigosa e circula em seu corpo pelo menos por semanas e mais provavelmente meses 11 - talvez muito mais - após a injeção de COVID.

Em suas células, a proteína do pico danifica os vasos sanguíneos e pode levar ao desenvolvimento de coágulos sanguíneos. 12 , 13 Pode ir para o cérebro, glândulas supra-renais, ovários, coração, músculos esqueléticos e nervos, causando inflamação, cicatrizes e danos em órgãos ao longo do tempo. »


PS2 (13-09-2021) Veja a transcrição de uma troca de «twitters» entre Pepe Escobar e um membro do «estado profundo».

 https://www.unz.com/pescobar/9-11-a-u-s-deep-state-insider-speaks/

Citação:

 Pergunta «Quem está no comando?»,

Resposta: «O cume da estrutura de comando dos EUA não é a presidência. É o Estado Profundo. Uso este termo, embora não o tenhamos feito do modo como é comummente usado».


PS3 : um mapa das intervenções «pacificadoras» dos EUA nos anos pós-II Guerra Mundial


PS4: 9/11 and the Politics of Fear and Self-PreservationUma análise aprofundada, por Whitney Webb; 


Citação:
We will either be remembered as a country that took freedom and liberty for all seriously or we will be remembered as a nation of cowards who, driven by fear, were willing to deprive this group, then that group, of their freedom — before losing that freedom entirely.

PS5: Philip Giraldi, ex-membro da CIA, apresenta uma série de argumentos que apontam para um papel proeminente dos serviços israelitas na conjura do ataque de falsa-bandeira do 11 de Setembro. O autor conclui dizendo que, por parte do governo e das agências dos EUA, não haverá nunca uma aproximação à verdade e que eles manterão sempre a narrativa de ficção, na qual cada vez menos pessoas acreditam.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

ELLA FITZGERALD, AO VIVO «TAKE THE A TRAIN»


                                               https://www.youtube.com/watch?v=cjMjsaddCac


Um cume de improvisação de jazz, utilizando seus recursos vocais fabulosos.

Take the A Train é um standard de jazz, composto em 1939 por Billy Strayhorn, com letra de Joya Sherrill.
Foi orquestrado e gravado pela primeira vez por Duke Ellington, em 1941.


A atuação aqui apresentada foi gravada no «The Crescendo» em 1961.
A acompanhar Ella Fitzgerald, estavam...
piano: Lou Levy
guitarra: Herb Ellis
contrabaixo: Wilfred Middlebrooks
bateria: Gus Johnson

terça-feira, 7 de setembro de 2021

DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DAS POUPANÇAS, SALÁRIOS E PENSÕES

Quando as pessoas ouvem falar do «Great Reset» ou «Grande Reiniciação», pensam, geralmente, como algo que acontecerá no futuro. Além disso, a média dá notícias, como se incidisse «apenas» sobre os grandes acordos monetários, um «Bretton Woods II», algo que se passaria longe da economia do dia-a-dia, da nossa vida. Mas, na verdade, isto é um truque dos poderosos, com a conivência da média económica.

Vou tentar explicar claramente por que razão...
(a) o «Great Reset» está em curso e em fase adiantada
(b) isso tem tudo a ver com nossas vidas pessoais (pensões, ordenados, poupanças, contas bancárias)
(c) o completar do plano - com a total digitalização das divisas - equivale à nossa transformação em servos da gleba face aos senhores feudais globalistas.

Mas comecemos pelo princípio: O sistema de Bretton Woods, o sistema monetário instaurado em 1944, assumia-se ancorado ao padrão-ouro, mas esse ouro só podia ser remido de um banco central para outro banco central. O dólar US funcionava como moeda de reserva, tendo uma paridade fixa (35 dólares /onça de ouro troy) e todas as restantes divisas iriam ter indiretamente ligação ao ouro, através da cotação ao dólar.

Em 1971, há meio século, Nixon fez uma mudança, instigado pelos seus conselheiros, vendo a dívida dos EUA aumentar, pelo lançamento, alguns anos antes, de ambiciosos programas sociais pela administração Johnson e pela intensificação da guerra do Vietnam, a qual absorvia, além de muitos americanos jovens (criação do serviço militar obrigatório), quantidades enormes de dólares para alimentar a máquina de guerra. Por outro lado, os parceiros dos EUA estavam cada vez mais suspeitosos da sua solvabilidade e da cobertura em ouro do dólar. Eles tinham adotado a prudente estratégia de pedir que os dólares em excesso nos cofres dos seus bancos centrais fossem remidos em ouro. Isso aconteceu, nomeadamente, com a França e com a Grã-Bretanha. A declaração de Nixon, a 15 de Agosto de 1971, decretando a não convertibilidade «provisória» do dólar em ouro, foi de facto, um incumprimento contratual («default») pelo Estado que tinha sido o principal arquiteto (e beneficiário) do sistema instaurado em Bretton Woods.

O resultado deste estado de coisas arrasta-se até hoje, em que não apenas o dólar, como todas as divisas, em todo o mundo, são mantidas numa «paridade flutuante». As cotações são baseadas na «confiança» nos respetivos governos. É o significado do nome latino «fiat». Em bom português, as divisas têm como fundamento o sopro do vento, o ar.

O sistema passou - em 1971 - a ser baseado, exclusivamente, no crédito. Se um determinado governo e, por extensão, o respetivo banco central, «merecem confiança» dos investidores, estes não terão problemas em emprestar-lhes dinheiro (comprando obrigações, ou bilhetes do tesouro). As obrigações do tesouro desse país deveriam teoricamente dar um juro suficiente para atrair os investidores. O juro remunera o tempo em que o título (a obrigação, ou outro instrumento de crédito), está em dívida, para compensar o investidor que emprestou o dinheiro. Porém, se houver desconfiança quanto à solvabilidade daquele Estado, ou sua vontade em restituir o dinheiro emprestado, os juros subirão na proporção dessa desconfiança.

O sistema monetário baseado no crédito tem como pilar fundamental os bancos centrais, que emitem divisas (notas de banco ou equivalente eletrónico), para cobrir as emissões de dívida dos respetivos Estados. Se não houvesse a participação dos bancos centrais nos leilões da dívida dos Estados, esta teria - com certeza - um juro mais alto. Há cerca de dez anos, os leilões de dívida dos «PIIGS» passaram a ser cobertos regularmente pelo Banco Central Europeu, de tal maneira que aqueles têm conseguido colocar a dívida apesar dos juros ridículos, iguais ou mais baixos que as emissões de dívida dos EUA ou doutros Estados, muito mais sólidos que os países do Sul da UE (que essa perceção de solidez seja certa ou errada, não está em discussão, aqui).

A distorção permanente do valor do dinheiro (1), ou seja dos juros da dívida, tem consequências. Note-se que todo o dinheiro é «fiat»: Neste sistema, o dinheiro, não é mais do que dívida.

Uma grave consequência disto, é a perda de poder aquisitivo das pensões. Com efeito, o sistema de pensões está baseado no princípio de se dar na fase ativa profissional, para se reaver através de uma pensão, uma quantia fixa, recebida quando, por idade ou por deficiência, já não se pode trabalhar.

Ora, as pensões são atacadas de duas maneiras: uma, pela perda do poder de compra do dinheiro. Se os objetivos de inflação de 2% anuais do BCE ou da FED fossem cumpridos (2), as pessoas reformadas perderiam em 10 anos, pelo menos 20% ou mais, em poder de compra da sua pensão, o que não é nada trivial. Estas pensões quase nunca são aumentadas e quando o são, os aumentos são tardios e insuficientes para cobrir a perda de poder de compra.
Outra forma de ataque, deve-se ao facto dos fundos de pensões terem dificuldade em obter a rentabilidade mínima para se (auto)sustentarem no longo prazo, devido à descida radical dos juros. Esta descida incita os fundos de pensões a aumentarem, cada vez mais, a proporção de investimentos especulativos (bolsa, etc.), arriscando no casino financeiro as garantias de pagamento das pensões.
Quanto aos salários: Em teoria, os trabalhadores podem, mediante lutas reivindicativas, conquistar melhorias salariais. Isto, porém, não existe hoje, em múltiplas situações, porque as pessoas são sujeitas a emprego precário, a repressão das atividades sindicais é uma realidade e devido a outras circunstâncias, os salários reais (em termos do seu poder de compra) têm diminuído.

Mas, todo o dinheiro é crédito. Quando as pessoas pedem um crédito ao banco, para compra de uma casa, por exemplo, este dinheiro é escriturário: ou seja, o banco inscreve determinada soma na conta bancária do cliente e este fica a dever-lhe prestações mensais mais os juros, durante o tempo do contrato. O dinheiro não existia antes, não foi retirado da conta doutros clientes, ou dum fundo pertencendo ao banco. Foi criado «ex-nihilo». Aliás, a maior parte do dinheiro em circulação é gerado desta forma.
O dinheiro que os devedores do banco pedem emprestado, deve considerar-se uma ficção, em última análise. Mas, TAL NÃO É O CASO do dinheiro gerado pelas atividades económicas dos mesmos clientes. Foram estas atividades que permitiram que eles tivessem um excedente (sobre a satisfação de suas necessidades imediatas) e, com ele, pagassem as prestações. Digo que não é o caso, pois esse dinheiro foi gerado em retribuição de trabalho (e mesmo se foi de rendimentos, indiretamente resulta do trabalho de alguém).
Portanto, o dinheiro real (resultante da atividade económica) serviu para extinguir a dívida contraída junto do banco, mas essa dívida constituiu-se com CAPITAL FICTÍCIO.
Aliás, a prova disso é que quando a dívida se extingue, esse dinheiro também se extingue. No fundo, o que o banco esteve a fazer, foi trazer para o horizonte temporal do presente, a soma necessária ao cliente para obter determinado bem material (uma casa, neste exemplo), sendo essa soma paga num intervalo de tempo, com a taxa de juro calculada, tendo em conta a desvalorização do dinheiro nesse intervalo de tempo, mais a remuneração (lucro) do banco.

Visto que tudo funciona com base no crédito, os juros de referência dos bancos centrais tornam-se ainda mais importantes, pois servem para determinar os restantes juros. São também importantes para avaliar a rentabilidade do capital investido.
Ora, a mais ostensiva falsificação do valor do dinheiro «fiat», começa com as catadupas que foram vertidas a partir de 2008 no sistema financeiro, sobretudo nos bancos ditos 'sistémicos', para estes não colapsarem, mas sem qualquer contrapartida. Estes bancos não investiram na economia, não emprestaram para realizar investimentos produtivos, o que teria um efeito multiplicador. Preferiram manter o dinheiro em contas, que eles detêm nos próprios bancos centrais (contas onde guardam os excessos de reservas), recebendo um juro minúsculo, mas seguro. Alternativamente, emprestaram a grandes empresas tecnológicas (Google, IBM, Apple, etc., etc.) e outros gigantes que, por seu turno, usaram este crédito muito barato para auto-compra das ações. Desta forma, aumentam a cotação bolsista das suas próprias empresas e arrastam os especuladores a comprar essas ações.

Na base da bolha enorme, que se observa em todas as grandes bolsas mundiais, estão - sem dúvida - os bancos centrais e sua deliberada estratégia. A teoria (falaciosa) deles, é de que isso dá aos indivíduos uma perceção subjetiva duma economia a funcionar bem, o que os iria encorajar a investir e a consumir.
Esta conversa já não nos deveria enganar, pois:
- Primeiro, muitas pessoas ignoram completamente, ou veem de longe o mercado de ações;
- Segundo, os investidores normais não têm acesso a créditos com juros de favor, que as grandes empresas obtêm para jogar na bolsa. Para o comum dos mortais, as taxas de juro, de empréstimos para estes ou outros fins, estão longe de ser próximas de zero;
- Terceiro, as pessoas (já) não têm capital disponível para investir em bolsa, pelo menos de um modo significativo, pois os salários perderam muito do seu poder de compra, nestes últimos 30 anos. Por esse motivo, aliás, cada vez mais compram a crédito bens de consumo, estudos, ou férias, que dantes pagavam a pronto, ou com as pequenas poupanças que faziam.

A destruição do valor das divisas fiat, é uma estratégia deliberada dos governos e bancos centrais, para minorar a enorme dívida que se acumulou:
Primeiro, houve a crise de 2008, depois a continuidade da economia deficitária, mas convenientemente ocultada e, finalmente, a chamada «crise do COVID», que veio mesmo no tempo exato, ocultar a disfunção no coração do sistema, nomeadamente, o financiamento interbancário (o «Repo market»).
A partir de Março de 2020, os bancos centrais têm vindo a acelerar a impressão monetária, a um ritmo tal, que será impossível qualquer «atenuação». Basta pensar no que aconteceu em dezembro de 2018, após alguns meses de redução (apenas redução!) dessa impressão monetária. A FED teve de inverter completamente a sua política, sob pena duma crise, financeira e monetária, rebentar com efeitos brutais na economia real.
Foi exatamente o que se passou em Março de 2020, mas numa escala ainda maior. O discurso sobre futura redução do caudal («tapering») é para adormecer os incautos e para satisfazer os governos, que também precisam de adormecer seus eleitores.
De facto, os bancos centrais preparam-se para a destruição final do dinheiro «fiat». Estão ativamente a preparar o lançamento de «criptomoedas», centralizadas, por eles produzidas e controladas. Nessa altura, a digitalização do dinheiro será completa. Não será possível comprar um objeto ou serviço, com dinheiro-papel. O dinheiro-papel poderá ficar como objeto de coleção, tal como certas emissões de selos de correio, somente compradas por filatelistas, ou moedas em ouro ou prata, para os numismatas colecionarem.

Interessa à oligarquia e aos governos que as pessoas guardem o dinheiro inteiramente à mercê deles, nas suas contas eletrónicas. Elas não poderão fazer sair esse dinheiro, senão gastando-o. Mas, qualquer gasto terá a «impressão digital» indelével, pelo que tudo o que fizermos estará totalmente sob escrutínio das grandes corporações e dos Estados.

Além disso, podem estes sistemas de dinheiro 100% digital, aumentar a eficácia da coleta de impostos (sobretudo dos nossos, não os dos muito ricos). Não havendo possibilidade de fuga aos impostos, haverá uma punção periódica, calculada em função dos parâmetros do teu rendimento e do teu consumo.
Por fim, os bancos comerciais poderão cobrar taxas sobre os depósitos. Estaremos sujeitos à sua chantagem permanente. Note-se que as pessoas não terão opção: Hoje em dia, podes pagar em dinheiro físico qualquer coisa. Isso não é ilegal, nem sequer é suspeito. De futuro, as possibilidades de fazeres o que entenderes com o teu dinheiro ficarão limitadas. E, não se trata de atividades ilícitas, mas de atividades do dia-a-dia. De futuro, mesmo pequenas despesas deixarão de estar fora do escrutínio dos sistemas de Inteligência Artificial e dos que detêm o controlo sobre os mesmos.

Estamos perante perigos reais para a nossa autodeterminação, privacidade, possibilidades de escolha, para a liberdade dos indivíduos. Além disso, ninguém pode saber em que mãos esses tais sistemas podem ir parar, no futuro. Os sistemas de pagamento digitais centralizados têm demasiados inconvenientes para as pessoas comuns, mas são imensamente úteis para a oligarquia que tudo domina.

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(1) «Os juros negativos são uma aberração. São uma tomada de reféns. Se toda a gente pudesse obter empréstimos com juros negativos, o Euro seria imediatamente destruído.» (da newsletter de Guy de la Fortelle «L'Investisseur Sans Costume»)

(2) Ver inflação real, calculada por John Williams, Shadowstats.com

[John Pilger] O GRANDE JOGO DE DESTRUIR NAÇÕES*

saur revolution afghanistan

Fig. 1: A real revolução popular no Afeganistão foi em 1978. Desde então, o que aconteceu foram esforços liderados pelos EUA para derrubá-la, apoiando as milícias direitistas do islamismo radical...



                                          Fig.2: Mulheres afegãs sob o regime talibã, em 2000**

* TRADUZIDO DE http://www.informationclearinghouse.info/56741.htm

Por John Pilger 

06-09- 2021

 No momento em que um tsunami de lágrimas de crocodilos submerge os políticos ocidentais, a História tem sido suprimida. Há mais de uma geração, o Afeganistão conquistou a sua liberdade, que os Estados Unidos, Grã Bretanha e seus «aliados» destruíram.

Em 1978, um movimento de libertação liderado pelo Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA) derrubou a ditadura de Mohammad Dawd, um primo do rei King Zahir Shah. Foi uma revolução imensamente popular que tomou de surpresa os britânicos e americanos. 

Os jornalistas estrangeiros em Cabul, segundo relata o «New York Times», ficaram surpreendidos por descobrirem que «quase todos os afegãos entrevistados estavam encantados com o golpe». O «Wall Street Journal» noticiava que   “150,000 pessoas … defilaram para honrar a nova bandeira … os participantes aparentavam um entusiasmo sincero.”

O «Washington Post» assinalava que “A lealdade dos afegãos para com o governo não poderá ser contestada.” Um programa de governo onde secularismo, modernidade e num grau considerável, socialismo foi declarado, incluindo reformas progressivas como a igualdade de direitos para as mulheres e para as minorias. Os prisioneiros políticos foram libertados e as fichas policiais queimadas em público. 
Sob a monarquia, a esperança de vida era de 35 anos; um em cada três crianças morria na infância. Noventa por cento da população era analfabeta. O novo governo introduziu a gratuidade na assistência médica. Uma massiva  campanha de alfabetização foi lançada.
Para as mulheres, os ganhos não tinham precedente; nos finais de 1980, metade de estudantes universitários eram mulheres. Eram mulheres cerca de 40% dos médicos afegãos, 70 % dos professores e 30% dos funcionários públicos. 

Apoiados pelo Ocidente

As transformações eram tão radicais que permanecem vívidas na memória das que delas beneficiaram. Saira Noorani, uma cirurgiã que fugiu do Afeganistão em 2001, recorda:
“Qualquer moça podia ir ao liceu e à universidade. Podíamos ir onde queríamos e vestir o que nos agradasse .... Costumávamos ir a cafés e ao cinema, ver os últimos filmes indianos à Sexta-feira.... tudo começou a andar para trás quando os mudjahedin começaram a vencer …estes tinham o apoio do Ocidente.”
Para os EUA, o problema com o governo do PDPA era que tinha o apoio da União Soviética. Nunca foi o governo-fantoche caricaturado pelo Ocidente, nem o golpe contra a monarquia foi “com o apoio soviético,” como a imprensa americana e britânica referiam na altura.
O Secretário de Estado do Presidente Jimmy Carter, Cyrus Vance, escreveu mais tarde, nas suas memórias: “Não tínhamos evidências de qualquer cumplicidade dos soviéticos no golpe.” Na mesma administração,  Zbigniew Brzezinski era conselheiro de Carter para a segurança nacional, um emigrado polaco, fanático anticomunista e extremista moral, cuja duradoira influência sobre os presidentes americanos se extinguiu somente com a sua morte, em 2017.
A 3 de Julho de 1979,  sem dar conhecimento ao povo americano e ao Congresso,  Carter autorizou um programa de 500 milhões de dólares, para "ações encobertas" para derrubar o primeiro governo afegão, secular, progressista. Tinha o nome de código da CIA de «Operation Cyclone».
Os 500 milhões compraram, corromperam e armaram um grupo de zelotas religiosos e tribais, os mudjahedin. Na sua história oficiosa, o repórter do «Washington Post», Bob Woodward, escreveu que a CIA gastou cerca de 70 milhões, somente em subornos. Ele relatou o encontro dum agente da CIA designado por “Gary” e um senhor da guerra, chamado Amniat-Melli:
“Gary colocou sobre a mesa um montão de notas de banco: 500 mil dólares empilhados em blocos com um pé de espessura, de notas de 100 $. Ele achava que seria mais impressionante que a soma de $200,000, mais frequentemente usada; seria a melhor forma de dizer que estamos aqui, é a sério, aqui está o dinheiro, nós sabemos que vocês precisam … Gary pediria, em breve, ao quartel-general da CIA, mais $10 milhões em dinheiro líquido e recebê-os.”
Recrutados em todo o mundo muçulmano, o exército secreto da América foi treinado em campos no Paquistão geridos pelos serviços secretos paquistaneses, pela CIA e pelo MI16 britânico. Outros, foram recrutados num colégio islâmico de Brooklyn, em Nova Iorque – à vista das «Twin Towers». Um dos recrutas era um engenheiro saudita chamado Osama bin Laden.
O objetivo era de espalhar o fundamentalismo islâmico na Ásia Central, desestabilizar e destruir a União Soviética.

‘Interesses Mais Amplos’

Em Agosto de 1979 a embaixada dos EUA em Cabul comunicou que «os interesses mais amplos dos EUA … seriam servidos pela derrota do governo do  PDPA, apesar de quaisquer inconvenientes que isso possa trazer às reformas económicas e sociais futuras no Afeganistão
Leia de novo as palavras acima que coloquei em itálico. Não é frequente que tão cínica intenção seja enunciada de forma tão clara. Os EUA estavam a dizer que um governo genuinamente progressivo e os direitos das mulheres afegãs podiam ir para  o diabo.  
Após seis meses, os soviéticos fizeram o erro fatal de entrarem no Afeganistão em resposta à ameaça djihadista, criada pelos americanos à sua porta. Armados com mísseis stinger, fornecidos pela CIA e celebrados como «libertadores» por Margaret Thatcher, os mudjahedin acabaram por obrigar o Exército Vermelho a sair do Afeganistão.
Os mudjahedin estavam dominados por senhores da guerra, que controlavam o tráfico de heroína e aterrorizavam as mulheres afegãs. Mais tarde, nos inícios de 1990, os Talibãs emergiram, uma fação ultra-puritana, cujos mulás se vestiam de negro e puniam o banditismo, as violações e os assassínios, mas baniam as mulheres da vida pública. 
Na década de 1980, estabeleci contato com a Associação Revolucionária de Mulheres do Afeganistão, conhecida como RAWA, que havia tentado alertar o mundo sobre o sofrimento das mulheres afegãs. Durante o tempo dos Talibans, elas esconderam câmaras sob suas burcas para filmar evidências de atrocidades e fizeram o mesmo para expor a brutalidade dos mudjahedin apoiados pelo Ocidente. “Marina” da RAWA, contou-me: “Levámos o filme para todos os principais grupos de média, mas eles não queriam saber ...”.
Em 1992, o governo progressista do PDPA foi derrotado. O presidente, Mohammad Najibullah, foi às Nações Unidas para pedir ajuda. Em seu retorno, ele foi enforcado a um poste de iluminação.

O jogo

“Confesso que os países são meras peças num tabuleiro de xadrez”, disse Lord Curzon em 1898, “sobre o qual está sendo disputado um grande jogo para dominar o mundo”.
O vice-rei da Índia referia-se em particular ao Afeganistão. Um século depois, o primeiro-ministro Tony Blair usou palavras ligeiramente diferentes.
“Este é o momento para aproveitar”, disse ele após o 11 de setembro. “O Caleidoscópio foi abalado. As peças estão em movimento. Logo, elas se restabelecerão novamente. Antes que o façam, vamos reordenar este mundo em nosso redor. ”
Sobre o Afeganistão, ele acrescentou: “Não iremos embora, mas garantiremos alguma forma deles saírem da pobreza, que é a sua existência miserável.”
Blair fez eco ao seu mentor, o presidente George W. Bush, que falou às vítimas de suas bombas no Salão Oval da Casa Branca: “O povo oprimido do Afeganistão conhecerá a generosidade da América. Ao atacarmos alvos militares, também lançaremos alimentos, remédios e auxílios para os famintos e sofredores ... “
Quase todas as palavras eram falsas. Suas declarações de preocupação foram ilusões cruéis para a selvajaria imperial que “nós”, no Ocidente, raramente reconhecemos como tal.

Orifa

Em 2001, o Afeganistão foi atingido e dependia das caravanas de socorro de emergência vindas do Paquistão. Como relatou o jornalista Jonathan Steele, a invasão causou indiretamente a morte de cerca de 20.000 pessoas, pois o fornecimento de ajuda para as vítimas da seca parou e as pessoas fugiram de suas casas.
Dezoito meses depois, encontrei bombas de fragmentação americanas não detonadas, nos escombros de Cabul, que muitas vezes eram confundidas com pacotes de auxílio humanitário amarelos lançados do ar. Eles explodiam quando crianças aí buscavam alimentos.
Na aldeia de Bibi Maru, vi uma mulher chamada Orifa ajoelhar-se perto do túmulo de seu marido, Gul Ahmed, um tecelão de tapetes, e de sete outros membros de sua família, incluindo seis filhos, e de duas outras crianças que foram mortas na casa ao lado. Uma aeronave americana F-16 saiu dum céu azul claro e lançou uma bomba Mk82 de 500 libras na casa de lama, pedra e palha. Orifa estava ausente nesse momento. Quando ela voltou,  juntou as partes dos corpos.
Meses depois, um grupo de americanos veio de Cabul e deu-lhe um envelope com 15 notas: um total de $ 15. “Dois dólares por cada morto de minha família”, disse ela.
A invasão do Afeganistão foi uma fraude. Na esteira do 11 de setembro, os Talibans procuraram distanciar-se de Osama bin Laden. Eles eram, em muitos aspetos, clientes dos americanos, com os quais o governo de Bill Clinton havia feito uma série de acordos secretos para permitir a construção dum gasoduto de US $ 3 bilhões, por um consórcio de empresas petrolíferas dos Estados Unidos.
Em grande sigilo, os líderes dos Talibans foram convidados a vir aos Estados Unidos e foram recebidos pelo CEO da empresa Unocal, na sua mansão no Texas e pela CIA, na sua sede na Virgínia. Um dos negociadores foi Dick Cheney, mais tarde o vice-presidente de George W. Bush.
Em 2010, eu estava em Washington e consegui entrevistar o idealizador da era moderna de sofrimento no Afeganistão, Zbigniew Brzezinski. Citei sua autobiografia, na qual ele admitia que seu grande esquema para atrair os soviéticos ao Afeganistão havia criado “alguns muçulmanos excitados”.

"Você tem algum arrependimento?" perguntei.

"Arrependimento! Arrependimento! Qual arrependimento? ”

Quando assistimos às atuais cenas de pânico no aeroporto de Cabul e ouvimos jornalistas e generais em distantes estúdios de TV lamentando a retirada de "nossa proteção", não é altura de darmos atenção à verdade do passado, para que todo esse sofrimento nunca volte a acontecer?

** Foto extraída do artigo de Pepe Escobar «Back to the Future»