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segunda-feira, 14 de julho de 2025

A GRANDE ILUSÃO - PARTE II

 Há cerca de 12 anos, escrevi um extenso ensaio intitulado «A Grande Ilusão». Este, está inserido neste blog, embora o seu aparecimento seja anterior à existência do blog. 

Mas, o que me importa mais agora é escrever uma espécie de apêndice ou postfácio, enfatizando aspectos da Grande Ilusão que não eram visíveis, na altura, pelo menos de forma representativa. Quero referir-me à persistente ilusão dos homens dominarem a Natureza, de serem eles a ditarem as regras, a imporem as leis e julgarem que estão no cerne do funcionamento dessa mesma Natureza. 

E digo que isto cabe perfeitamente sob o mesmo título, pois é uma tendência generalizada e os mais inteligentes caem na armadilha com maior facilidade ainda, que os estúpidos e os ignorantes.

Por isso mesmo, se verifica um tipo especial de estupidez, «a estupidez dos inteligentes», em que a sofisticação do raciocínio, a riqueza da argumentação, a erudição medida pelas numerosas referências, tudo isso junto, produz um resultado prático irrisório, ou manifestamente inoperante: Traduz-se numa incapacidade patológica de apreensão do real.

Porém, é essa mesma estupidez dos inteligentes, que tem maiores hipóteses de fazer carreira, de ter sucesso, numa sociedade plena de ilusões, incapaz de distinguir a realidade, da projecção da mente, sem qualquer outro critério de «verdade», que não seja essa filosófica nulidade chamada estatística.

A verdade não é nem pode ser uma questão estatística. Se todos errarem menos um, é este que tem razão, não importa quantos disserem que é esse indivíduo que está enganado. Em filosofia, o número não faz a prova e, sobretudo, não faz a razão. Verdades tão evidentes como esta, temos com frequência de voltar a enunciá-las, a reafirmá-las no nosso espírito, para mantermos a calma e a força da razão no meio do desvario. 

A ilusão mais perniciosa - ao fim e ao cabo - talvez seja a de quem se «colocar no lugar de Deus». Este facto mantém-se válido quer acredites em Deus, quer não: É completamente independente da nossa posição em relação à existência da Divindade Cósmica, pois postula a impossibilidade ab initio da posição peculiar dos indivíduos que pensam tudo saber, capazes de tudo equacionar, de terem solução para tudo e - se lhes for fornecido o que exigem - serem capazes de tudo fazer. Estamos aqui perante um delírio agudo ou crónico de inflação do ego, uma extrema confusão entre o limitado e falível, efémero e fraco, ser humano e aquilo que ele consegue se aperceber do Universo, na sua limitadíssima visão do mesmo. 

Mas, são esses indivíduos, inflados no seu narcisismo, que têm a maior probabilidade de arrastar as massas, as quais estão sempre em adoração do que elas consideram ser um «génio». As massas idólatras de super-homens e super-mulheres de pacotilha, são capazes de fazer as maiores loucuras, acreditar nos maiores absurdos, sendo estas crenças tanto mais fanaticamente defendidas, quanto mais absurdas forem.

Num mundo assim, é muito difícil ser-se racional, um pouco céptico e comedido. Num mundo assim, o sábio é frequentemente assimilado ao louco, ou ainda pior, ao dissidente. O seu destino não é invejável, pois vai do «gulag» para uns, até à fogueira, para outros. E porquê tanto ódio contra pessoas que pensam diferentemente da maioria? - Será que a grande maioria pensa, ou apenas repete slogans, lugares-comuns erigidos em grandes visões e todas as parafrenálias das ideologias? Se a maioria fosse composta por pessoas que pensam, elas não teriam problemas com os que têm um pensamento outro, dissidente. As suas capacidades cognitivas até ficariam estimuladas perante um pensamento dissidente e nunca lhes passaria pela cabeça «contrariar» uma teoria com uma sentença de morte ou de prisão, ou um linchamento.

Os ditadores e demagogos de todas as espécies e variedades, sabem perfeitamente que uma maioria da espécie humana não pensa. Sabem que não é difícil enfiar-lhes na cabeça uma série de automatismos mentais, como aliás a «educação» se esmera a fazer, em todas as nações, de todos os continentes. 

Com as técnicas de condicionamento da psique, podem ver a massa das gentes, (no sentido próprio, por vezes...) executar os que se atrevem a não acatar, os que não se submetem à «verdade» da multidão furiosa. 

Estes comportamentos surgem, não espontaneamente, mas por condicionamento, aberto ou disfarçado, em muitas sociedades. Muitos fanatismos são completamente «reversíveis», no sentido em que se pode mudar-lhe etiquetas, sinais, protagonistas, mas continuam a ser reflexos pavlovianos. Trata-se, porém, de um ser humano na aparência, mas que o medo, o desejo de pertença, a imaturidade, fez submeter-se ao que lhe aponta um chefe.

O engodo da «IA», tem servido para fazer passar as mais extremadas posições e manipulação dos factos e isto, ao bel prazer dos multimilionários que possuem as empresas de «IA». Nada deste extremismo induzido surge ao olhar do público como insano, como totalmente repelente, etc. porque foi emitido (supostamente) por um algorítmo «IA» o qual teria a virtude de «pensar mais e melhor» que a mente humana. 

Junta-se a ignorância do que sejam estas máquinas informáticas e os algorítmos, com o complexo de inferioridade frente àquilo que não se compreende, que se julga demasiado complexo. 

O resultado é uma regressão, não apenas à infância, como ao «estado larvar»: Os indivíduos estão dentro de casulos, são alimentados e mantidos, consumindo o que os mantém em vida, mas uma vida do tipo zombie...

Assim, a redução do número de efetivos nas diversas populações pode prosseguir (com vários métodos), até ao limite que os Senhores desejarem. O limite para a redução dos efetivos, é que deverá haver um número suficiente de escravos para manutenção do mundo de conforto dos Senhores. 

Quanto aos escravos, em breve, nem terão a capacidade de reprodução. Esta deixará de estar dependente de um «ato animal»; será um complexo de operações de tecnologia biológica. Logicamente, as pessoas «vulgares» (a plebe, os escravos), serão produzidas em série, por clonagem. Assim, por uma técnica muito simples, produzem-se «seres sem defeitos». Estes terão sua recompensa num pouco de comida, um mísero abrigo e serão «processados» e substituídos quando sua produtividade baixar.

Se olharmos retrospectivamente, compreendemos que muitos fenómenos sociais, muitas situações «aberrantes» até, já se podiam delinear, pois despontavam nas sociedades onde ocorreram, mas as pessoas contemporâneas desses fenómenos não deram por nada, aparentemente. Embora, de facto, haja sempre algumas pessoas que não se deixam iludir e tentam dar o alerta, este nunca é tomado a sério ou pior, é considerado subversivo, vindo dos inimigos da sociedade. 

É falso pensarmos que não existe mais religião, baseados na premissa errada de que as pessoas abandonaram os respectivos templos. Há uma religião e está mais viva do que nunca, embora as pessoas não consigam identificá-la como tal. Por um lado, é transversal às diversas religiões, tradicionalmente prevalecentes. Por outro, ela flui pelos interstícios da sociedade, confundindo-se com as atividades mais triviais e indispensáveis no dia-a-dia. Não é religião que erga templos explícitos para culto dos fiéis. No entanto, o seu culto é muito divulgado e tem um número de fiéis certamente maioritário, em relação a todas as outras. Falo da religião do dinheiro.

No passado, ela existia também, diga-se: mas era temperada por outras coisas, como seja uma moral (religiosa, ou com raízes religiosas), que prescrevia o que se devia fazer ou não fazer, além de toda uma moldura de valores, de virtudes, às quais os devotos deveriam se conformar. Ou, pelo menos, na aparência. 

Agora, o fator mais importante de ascenção social é o dinheiro. Não importa como foi obtido, nem como é gasto... É a sua acumulação que provoca «respeito religioso», da parte da multidão. Assim, ser rico - muito rico, na verdade - tornou-se virtude. Claro que as pessoas sempre admiraram e cobiçaram os ricos, no passado. Porém, a passagem do dinheiro a culto religioso, fez dos detentores do capital, simultâneamente, sacerdotes, magos, semi-deuses...  

Bem podemos dizer e demonstrar que por este andar, a Terra fica esgotada, que os equilíbrios estão rompidos, que a diversidade biológica se vai reduzindo perigosamente, que  ecossistemas estão a entrar em ruptura, que o esgotamento dos recursos ou sua contaminação vão tornar muito difícil a vida das gerações vindouras. Não, as pessoas estão viradas exclusivamente para «ganharem mais», para consumir agora, aquilo que antes estava acima de suas posses, e só conseguem equacionar a felicidade ou o sucesso dentro de sua comunidade, com seu enriquecimento. 

Não procurei ser futurólogo no texto inicial de «A Grande Ilusão». Aqui, nesta segunda parte, atrevi-me a descrever tendências, que já se podem ver despontar no presente e têm já uma repercussão, mas que não se tornaram ainda, lugares-comuns.  

 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

O COMPLEXO DE «ANJO DA GUARDA»

 Mais misterioso do que o facto de que milhões de pessoas se submetem ao poder, é o facto deste mecanismo estar profundamente ancorado no inconsciente coletivo.

A transposição da necessidade biológica de proteção da criança pequenina em relação aos pais e demais adultos é talvez uma chave para esclarecer este mistério da servidão voluntária. 

Quando se é criança, é de vital importância ter grande confiança nos adultos que rodeiam o ser humano em fase da aprendizagem, é crucial este pequeno ser aceitar que está numa posição de inferioridade não apenas em relação à força, como também às capacidades, à sabedoria. O mundo é um grande mistério, a criança está constantemente a «tropeçar», a enganar-se e ela sabe-o ou percebe-o confusamente. Daí que seja inteiramente natural e de acordo com a necessidade do desenvolvimento ontológico, que exista essa dependência da criança em relação aos adultos. Mas, as coisas não ficam por aqui*, pelos aspetos práticos e concretos da vida, pois nos aspetos mais simbólicos também estão as crianças muito suscetíveis de construírem um modelo de super-mamã, de super-papá. 

Estes super progenitores, transferem-se depois, na aceitação da religião, seja ela mono- ou pluri-deísta, onde os entes individualizados, pessoalizados, são vistos como intercessores, daí as preces, os sacrifícios, as necessidades de ritos para apaziguar etc. Porém, no universo laicizado dos últimos duzentos anos, no chamado «Ocidente», em particular, a figura do herói, do chefe mítico, que também é ancestral e se confundia com os deuses ou semi-deuses da antiguidade, passa a desempenhar o papel de entidade mágica, para a qual se dirigem as preces. 

O que é uma adesão a um partido, uma ideologia, um determinado líder, etc. senão a transposição num universo laico, desdeificado, da necessidade de proteção, de ter um ser acima do vulgar, um herói ou heroína, que serve como objeto de culto, de intercessor/a pelas preces, sejam elas palavras de ordem ritualmente repetidas em comícios ou manifestações, ou em boletins de voto? 

As pessoas que seguem determinado ideário e aderem a uma tendência política não são crianças, nem atrasadas mentais, direis. Tendes razão, de forma nenhuma quero dar a impressão de que as pessoas sejam limitadas na sua inteligência. O meu ponto de vista é que estes mecanismos agem ao nível muito profundo e portanto não são fáceis de serem reconhecidos pelos indivíduos, mesmo pelos mais inteligentes e cultos que se possa imaginar. O inconsciente existe; as pulsões profundas existem; não somos capazes de nos «emancipar» dessa parte da nossa psique, da mesma maneira que não poderíamos viver, propriamente, somente sobreviver, se nos fosse retirado um pedaço substancial e contendo centros importantes do nosso cérebro.

O medo, a angústia, as fobias, tudo o que se traduz por comportamentos aversivos, tem uma origem em camadas muito profundas do psiquismo. Não é portanto fácil extirpar esses medos, em geral, sobretudo se eles entroncam, se fundem de algum modo, com medos e traumas experimentados na infância, os quais estão presentes, mas não são do foro consciente para a quase totalidade dos indivíduos. Os mesmos medos, os traumas, podem ser reavivados, reatualizados na vida adulta. É o papel da propaganda, a que se disfarça em informação objetiva, muitas vezes como sendo «a ciência», o de reativar esses estádios muito profundos e inconscientes, que ocorrem em todos os indivíduos, embora a natureza precisa das fobias, dos traumas seja obviamente muito diversa e varie muito no concreto, de pessoa para pessoa.   

Igualmente, a solução «mágica» de invocar o «anjo da guarda», que pode ser uma pessoa, uma «força ou energia natural», um deus ou uma ideologia, permite pontualmente acalmar a angústia dos indivíduos, que são confrontados com a situação angustiante, da qual não podem sair, ou fugir; contra a qual os meios de luta individuais são irrisórios, mas cuja realidade avassaladora corresponde a condenação sem apelo.

É exatamente o que se está a passar com a transformação duma parte das pessoas em «párias», por não aceitarem a «salvação vacinal». Elas são malevolamente acusadas (sobretudo por media e políticos sem escrúpulos) de serem transmissoras do vírus terrível. A manipulação resulta, porque vai acordar terrores irracionais da morte, da doença misteriosa, epidémica. 

Estão, conscientemente, os que controlam o discurso mediático, a desencadear esta regressão para o estádio infantil, em que a criança, destituída de saber e experiência da vida, confia nos pais. Aqui, serão «cientistas», «dirigentes», «chefes de Estado e de governo» e «gurus» diversos.

Note-se que é compreensível e que traduz uma necessidade biológica, o comportamento da criança de procurar proteção junto dos «anjos da guarda» dos progenitores, em primeiro lugar, e na ausência deles, quaisquer adultos que aparentem ser confiáveis, como parentes (avós, tios, tias, etc.), ou educadores (professores/as, instrutores/as, etc). É saudável e racional, na criança, esta acreditar naquilo que um progenitor, ou parente, ou pessoa próxima lhe disser. 

A regressão em causa, é desencadeada pelo medo, que tem aliás uma componente social muito forte, pois as pessoas começam a ficar deveras assustadas se, em seu redor, vêm comportamentos que denotam que os outros também têm medo. 

O medo é contagioso. A epidemia atual é sobretudo uma epidemia de medo e de irracionalidade. Vai demorar algum tempo a «curar-se», pois não serve de nada o discurso racional, perante o pânico. É necessário que a situação evolua e que as pessoas deixem de estar como que hipnotizadas, para haver um retorno ao funcionamento normal e racional ao nível social.  

A humanidade, ou parte importante dela, está nesta fase, ativada propositadamente por forças poderosas que, aliás, o fazem abertamente. É em fases assim que as transformações mais profundas ocorrem, mas não no sentido de uma «revolução», mas de uma «contrarrevolução» ou «regressão», da instalação dum poder «neofeudal», uma sociedade onde existe uma enorme diferença entre os poderosos, os que possuem tudo e os servos, os que não possuem nada, objetos  manipuláveis a preceito.

Os «anjos da guarda», para os quais os adultos  dirigem hoje suas preces, não são mais que os seus senhores, os donos dos escravos, disfarçados de anjos. 

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* NB: A este respeito convém notar que um dos «truques» para dominar ou ter ascendente sobre alguém é fazer esse alguém sentir-se «pequenino». É tão comum, no discurso das pessoas autoritárias, dirigir-se a um adolescente ou adulto, como se se tratasse de criança pequenina ...  

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

PROPAGANDA 21 Nº9: A VIOLAÇÃO DAS CONSCIÊNCIAS


 [Charles Sannat «Le Grenier de l'Éco»] O vídeo acima é uma muito útil chamada de atenção. Ele coloca a questão filosófica-política sobre «se sim ou não o fim justifica os meios», entre outras questões importantes. 
Também chama a atenção para clássicos da literatura associados com Propaganda, como George Orwell, Noam Chomsky e autores de ficção menos conhecidos, que nos podem iluminar uma reflexão nestes tempos conturbados.