- Que importância tem isto? Tem a importância de uma marca simbólica, visto que o valor do dólar - assim como de todas as divisas «fiat», de todos os países, garantidas apenas pela «palavra» do respectivo governo - é um poderoso factor psicológico.
Se as pessoas soubessem o que significa - verdadeiramente - a quantidade de dívidas (impagáveis!) de Estados, bancos, bancos centrais, empresas e particulares, uma quantia na casa dos quadriliões de dólares, número propriamente astronómico, é evidente que deixariam instantaneamente de ter qualquer confiança no dinheiro-papel e iriam querer trocá-lo, o mais depressa possível, por bens tangíveis.
Assim se passou noutras crises monetárias, como a famosa crise hiper-inflacionária da República Alemã de Weimar de 1922-23, ou as crises que assolam a Venezuela, o Zimbabwe, a Argentina e outros países, cujas oligarquias locais se têm servido - sem vergonha - das riquezas dos países que governam.
... E por falar nisso, cabe aqui uma referência especial à política da União Europeia e do BCE, que têm multiplicado a dívida, quer do referido banco central, quer dos Estados membros da Eurozona, sem qualquer preocupação em destruir a confiança na divisa «Euro».
O esquema de Ponzi, já posto em prática aquando da crise do Euro de 2012, continua e é reforçado, tornando cada vez maior a folha de activos do BCE.
Por outro lado, as dívidas dos Estados atingem valores que são considerados claramente impagáveis. Tecnicamente, todos estes Estados estão falidos. O único modo que têm para ir «pagando» as suas obrigações, desde juros das dívidas contraídas, até às obrigações com ordenados dos funcionários públicos e as pensões, é inflacionando a moeda.
Ou seja, pagam 1000, mas essa soma uns poucos anos antes, no início da introdução do Euro em 2001 (por exemplo), equivaleria - em capacidade aquisitiva - a muito mais, o dobro, o triplo, ou mais...
Ninguém pode dizer ao certo, porque as estatísticas estão falseadas, intencionalmente, como era prática corrente nos países de Leste do ex-COMECON. Assim, é praticamente impossível avaliar o valor real do dinheiro, portanto, quanto valem salários e todas as transacções em geral. A avaliação contabilística (feita pelo governo) é uma completa mentira.
Como demonstrei noutro artigo, a única maneira de medir o valor do dinheiro-papel, é comparar os preços numa divisa, da onça de ouro, em vários momentos:
No início da introdução do Euro, era cerca de 300 € /onça troy. O preço do mesmo metal, hoje, é de 1576 € / onça troy. Portanto, o valor do Euro desceu de 5.25 vezes ou seja, vale 525% menos, em relação a 2001.
Por este simples cálculo, se vê como a inflação e a sua ocultação se conjugam, para transformar a Eurozona numa experiência falida. Nem seria necessário passarmos pela experiência do Covid, para isso ser patente.
Os únicos beneficiários da Eurozona são os grandes capitalistas, os grandes grupos, sejam eles financeiros, de comércio, ou industriais, que têm beneficiado da constante erosão dos salários de milhões de trabalhadores, mantidos num colete de forças, em que se lhes pede cada vez mais produtividade para menor paga. No regime de monopólios que vigora, o capitalismo genuíno não passa de figura de retórica.
O que temos é um mercado protegido, com privilégios que vão desde ajudas estatais (isenção de impostos, abaixamento dos encargos sociais, etc), supostamente para «garantir» o emprego ou a «competitividade» ou outras mentiras, até aos «bail-outs» (resgates) sucessivos dos bancos ou de grandes empresas, supostamente para «salvar» a economia dum País da bancarrota.
É justamente para a bancarrota que estamos a ser encaminhados, em toda a Eurozona, em especial nos «PIGS» (Portugal, Itália, Grécia, Espanha).
A minha previsão é que estes governos do flanco sul europeu vão acentuar o despesismo, prometendo e dando a torto e a direito, garantindo assim os votos necessários para se manterem no poder.
Os actuais ocupantes de lugares de poder têm a ilusão de terem as costas quentes. Pensam que estão apoiados nas forças repressivas/militares ... PSP, GNR, Forças Armadas, NATO. Mas, estas forças não estarão dispostas a defendê-los, se - elas próprias - compreenderem que nada ganham e arriscam-se a perder tudo se defenderem os pusilânimes governantes...
O povo deixará de ter ilusões, no momento em que perceber que não há recuperação do estado «pré-covid». As coisas foram feitas, justamente, de modo a que -de novo- fosse o povo a pagar a factura. Isso tomará o seu tempo, mas não tardará muito, pois a realidade no terreno económico vai ditar a mudança de perspectiva.
Não encontro motivos para ser optimista em relação ao futuro próximo. Não fico feliz com a infelicidade dos outros.
Porém, os meus concidadãos têm de acordar da hipnose em que ficaram mergulhados, para perceber o que se passou, o porquê daquilo que se está a passar e o que devem fazer, para tomarem em mãos a situação.