sexta-feira, 11 de outubro de 2019

ROTEIRO PARA ESCAPAR DA MATRIX/LABIRINTO [p. V]

                          
Nos escritos anteriores vimos alguns dos métodos que permitem ao sistema de escravidão «suave» contemporâneo se apoderar das alavancas fundamentais das sociedades e - a pouco e pouco - ir controlando os indivíduos. Poderia insistir e desenvolver, detalhando os métodos de controlo social que estão despontando, com muita eficácia, em países muito diversos. Mas esta sequência de escritos propõe-se ser, antes de tudo, um roteiro para escapar da matrix ou labirinto... 
Trata-se de uma afirmação arrojada, pois não pode haver duas situações iguais, quaisquer duas pessoas são diferentes, neste mundo; cada qual terá de construir a sua escada metafórica, para se evadir da ilusão, da falsa realidade que o cerca e lhe faz andar sempre, em infindável caminhar, pelos corredores do labirinto, sem jamais vislumbrar a saída do mesmo. No entanto, creio que se nos centrarmos naquilo que é efectivamente idêntico no ser humano, por muito que cada um de nós seja único, podemos chegar a algum lado, podemos encontrar o fio de Ariadne que nos permita sair do Labirinto.
As necessidades básicas têm de ser satisfeitas, será esse o primeiro nível de auto-transformação. O reconhecimento de que o equilíbrio de todo o ser passa por uma alimentação, um estilo de vida, uma regularidade nas horas de repouso e sono, uma harmonia essencial do indivíduo consigo próprio, que se vai traduzir também por uma maior harmonia com a Natureza e com tudo aquilo que o cerca.
Uma disciplina adequada ao nosso próprio ser, levada a cabo no longo prazo, tem de estar interiorizada por convicção profunda, não por mera atitude de entusiasmo momentâneo. Pois, se nosso ego se sobrepõe ao nosso verdadeiro eu, comandando e dominando todos os aspectos da nossa vida (hoje em dia, isso é muito mais frequente do que se pensa), não haverá possibilidade de um indivíduo sair da matrix. Note-se que, a matrix é completamente interiorizada por nós próprios. É assumindo os seus parâmetros, inconscientemente, devido à nossa persistente adesão ao seu mundo falso, ilusório, que estamos encerrados nela. A matrix é (ou tornou-se parte de ... ) o nosso ego.
No segundo nível corresponde ao acordar para o facto de que as realidades que nos cercam, não são tão poderosas como parecem. De novo, estamos muitas vezes condicionados a imaginar coisas - geralmente inibitórias - sobre a realidade social que nos cerca, sobre os outros. A realidade do entorno social, o seu funcionamento, é como uma meta-linguagem, tem de ser compreendida, para ser desencriptada. Enquanto linguagem, tem uma gramática e uma sintaxe própria. Quem está atento e consciente desta realidade básica, não poderá ser apanhado de surpresa, nem ficar indefeso, porque está desperto e atento a todos os sinais que vêm do entorno, dando-lhes uma «leitura» adequada. 
A leitura do real, analogamente à linguagem, é como quando analisamos a fundo um texto: não olhamos para as palavras isoladamente. Vemos as relações entre elas, avaliamos a importância relativa das mesmas, na estrutura do texto. Sublinhamos as palavras-chave, as que nos dão a chave para a compreensão global do texto em análise. Este modo de proceder, aplicado ao entorno social, não se aprende senão com muita experiência, com ensaios e erros. Mas, podemos acelerar muito esta auto-aprendizagem, caso desejemos realmente nos emancipar, não da sociedade em si mesma, mas de nossa relação de submissão doentia aos  que a dominam.
O conhecimento verdadeiro de si próprio e da sociedade leva-nos à consciência das múltiplas instâncias em que nos auto-condicionamos e em que somos condicionados.  Tais mecanismos não são, em si mesmos, benéficos ou malévolos. Os indivíduos que já alcançaram aquele patamar de consciência, irão instituir - para si próprios - determinados condicionamentos e anular ou neutralizar outros. 
Os condicionamentos exteriores são poderosos, se adoptados e interiorizados inconscientemente. Porque, a partir desse momento, levam o indivíduo, sem que ele se aperceba, a adoptar automatismos, a ter respostas estereotipadas do seu comportamento em sociedade.  Penso que, a maior parte senão todos, os condicionamentos escravizantes, têm origem  na sociedade. Eles foram «naturalizados» de forma inconsciente, ao ponto de parecerem fazer parte de nós próprios. 
A verdadeira educação é sobretudo uma auto-educação. É uma educação da vontade, da capacidade de dirigir o barco do nosso ser... Aliás, a palavra «cibernética» deriva daí, na sua raiz grega: a palavra cibernética em grego, designa  o saber ou a ciência daquele que está ao leme dum navio. Por outras palavras, a nossa autonomia consiste na auto-condução do nosso ser pelos mares da vida.   
A falsa educação, que nos é imposta por anos e anos de condicionamento na escola, na família, na igreja, etc, tende a suprimir qualquer aspiração a exercitar nossa potencialidade cibernética. 
O condicionamento skineriano ou pavloviano utiliza técnicas de amestramento, recorrendo à recompensa e à punição. Pode acontecer, sem que as pessoas que protagonizam este amestrar, tenham plena consciência do que estão a fazer. Elas estão convencidas de que isso é «educação» e de que o fazem «para o bem» da criança ou jovem.
Como poderá imaginar, não faria sentido nenhum eu propor-lhe um comportamento, seja ele qual for, pois somente o leitor/a está em condições de avaliar o seu próprio estado, a sua situação. 
Sugiro apenas uma metodologia que lhe permita deslindar os problemas que tem encontrado na sua vida pessoal: 
- Procurar ver os próprios fracassos sem contemplações, mas compreender o que está na sua origem. 
- Ter clara noção do poder que está encerrado em cada um de nós, sem o hipertrofiar ou diminuir. 
- Avaliar as nossas qualidades, os nossos trunfos. A nossa avaliação deve ser realista e prudentemente optimista. 
- Devemos assumir o papel de «mestres» de nós próprios. 
- A postura correcta face aos outros, face à sociedade, também se aprende e se aperfeiçoa. 
Imagine-se um guerreiro com um escudo e uma lança: O escudo simboliza as tácticas defensivas e a lança, as ofensivas (ou contra-ofensivas). Para que seja bem sucedido num combate (imaginário), ele terá de guardar a boa distância, a que permite proteger-se dos golpes do adversário, mas conservando a capacidade de desferir - ele próprio - um golpe. 
Esta analogia deve ser interpretada, não como algo bélico, mas como metáfora...O combate pode ser uma troca amistosa, uma relação amorosa, etc... Não fiquemos demasiado presos pelas palavras. 
 Para que a vida não seja uma luta incessante e inglória, a postura de que falei acima não chega. Tem de ser complementada com outra, a qual se traduz no mais profundo Mandamento que existe. 
Ele é reconhecido e ensinado, desde tempos imemoriais, em todos os povos, em todas as regiões. Pode-se formular do seguinte modo: 
«Trata o outro, como queres que te tratem a ti próprio». 
Isto significa o reconhecimento de uma série de coisas: 
- a igualdade humana (em dignidade); 
- a necessidade de ver o outro (sair da sua redoma, do seu egoísmo); 
- a troca igual, a ajuda mútua, a sociedade baseada na entre-ajuda... 
Desta simples frase extrai-se um sem fim de corolários.
Estou convicto de que é retomando este fio condutor, que poderemos - colectivamente - ser felizes, pois a nossa felicidade está absolutamente ligada ao bem-estar dos outros, ao estado de harmonia da sociedade que nos rodeia. É impossível ser-se feliz no meio da infelicidade, no meio da desgraça...  
Nesta série de textos «ROTEIRO PARA ESCAPAR DA MATRIX» preconizo o auto-conhecimento para o auto-governo (autonomia), assim como o conhecimento do nosso entorno (a ecologia social), a capacidade de avaliar a situação em que nos encontramos, do modo mais objectivo possível, a firme decisão de sermos mestres de nós próprios, o que não implica rejeitar, pelo contrário, o que nos vem de fora. 
O mundo exterior deve ser visto como algo que nos enriquece, como fonte, não só de informação , mas de aprendizagem. Mas, tanto no plano individual como social devemos ter como finalidade ética o que é realmente elevado...
Pois, não se trata de nos colocarmos acima dos outros, mas de adoptarmos o princípio da reciprocidade, como base das relações pessoais. Este princípio pode e deve estender-se a toda a sociedade humana: quanto mais for praticado, numa dada sociedade, mais essa sociedade estará próxima dos ideais de equidade, respeito, justiça e portanto, estará proporcionando as melhores condições para a felicidade dos indivíduos. 
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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

[NO PAÍS DOS SONHOS] TCHAIKOVSKY: SERENATA PARA CORDAS


Lá vêm outra vez, estes sons de beleza pungente, que trespassam a minha alma! 
Dentro do sonho acordado, que me proporciona a audição atenta desta serenata, sou transportado para outro espaço-tempo paralelo, outro universo em que o real se abre, como travessia do espelho.

O leitor não pode saber por que razão estes sons têm um efeito tão estranho na pessoa que escreve. 
Nem seria fácil conhecer a verdadeira razão, nem a personagem está acessível para desvelar todas as aventuras que viveu em sua vida. 

«Em suas vidas», seria melhor dizer, porque as vidas que já foram, retomam seus direitos e revivem no instante em que estes acordes, sacros e endiabrados da música de Tchaikovsky, atravessam os ares. 

Tudo está expresso ao pormenor em cada movimento. 
Quando fecho os olhos, vejo o passado não sonhado, mas recordado ou revisitado, de eras em que a vida tinha uma vibração mais intensa. 

A chave da história fantástica, alegre e triste, reside na própria música. 
Se fosse traduzir cada episódio em palavras, cairia na banalização e dessacralização que isso implica. 

Esta serenata tem a ver com alguém que existiu realmente. 
O compositor não inventou a história que deu pretexto a esta peça, mas teve o bom gosto de apresentá-la enquanto música absoluta, não programática. 

No entanto, aqueles poucos que a ouviram, aquando da sua estreia, sabiam! 
A linguagem musical raramente exprime, de forma mais límpida, os sentimentos e as paixões humanas: por isso mesmo, ela é tão poderosa.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Manlio Dinucci: «O F-35 na agenda secreta de Pompeo em Roma»





 O caça furtivo F-35 torna-se invisível não só ao radar, mas também à política: nos comunicados dos encontros do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em Roma, não há vestígios. No entanto, o ‘Corriere della Sera’ revela que Pompeo solicitou à Itália  para pagar os atrasos dos caças adquiridos e para desbloquear a encomenda de uma compra posterior, recebendo de Conte a garantia de que "seremos leais aos pactos".

A Itália comprou até agora, 14 caças F-35 da americana Lockheed Martin, 13 dos quais já entregues,estão "completamente financiados". Anunciou no Senado, em 3 de Junho, a então Ministra da Defesa, Elisabetta Trenta (M5S), anunciando outras aquisições que elevarão o total a 28 caças até 2022. A Itália comprometeu-se a comprar 90, com uma despesa prevista de 14 biliões de euros. A essa despesa, junta-se a da actualização contínua do software (o conjunto dos programas operacionais) do caça de que a Lockheed Martin mantém exclusividade: somente para os aviões comprados até agora, a Itália deve despender cerca de meio bilião de euros. 

A Itália não é só compradora, mas fabricante do F-35, como parceira de segundo nível. A Leonardo (anteriormente Finmeccanica) - a maior indústria militar italiana, da qual o Ministério da Economia e Finanças é o principal accionista, com uma quota de cerca de 30% - administra a linha de montagem e testes do F-35 na fábrica de Faco de Cameri (Piemonte), de onde saem os caças destinados à Itália e à Holanda. A Leonardo também produz asas completas para os aviões montados nos EUA, utilizando materiais produzidos nas fábricas de Foggia (Puglia), Nola (Campania) e Venegono (Lombardia). O governo dos EUA seleccionou a fábrica de Cameri como centro regional europeu para manutenção e actualização da fuselagem.

O emprego na Faco é de cerca de mil trabalhadores, dos quais muitos são precários, apenas um sexto do esperado. As despesas para a construção da fábrica e a aquisição dos caças são muito superiores ao valor dos contratos estipulados pelas empresas italianas para a produção do F-35. E não devemos esquecer o facto de que, embora os ganhos vão quase inteiramente para os cofres das empresas privadas, as despesas saem do erário público, fazendo aumentar a despesa militar italiana, que já atingiu os 70 milhões de euros por dia. 

O Secretário de Estado, Mike Pompeo, nos encontros com o Presidente Mattarella e com o Primeiro Ministro Conte, sublinhou a necessidade da Itália e de outros aliados europeus "aumentarem os seus investimentos na defesa colectiva da NATO". Certamente, nas reuniões confidenciais, este pedido foi feito por Pompeu com tons não diplomáticos, mas peremptórios. Certamente, enquanto o Departamento de Estado elogia a Itália porque "alberga mais de 30 mil soldados e funcionários do Pentágono em cinco grandes bases e mais de 50 sub-instalações", Mike Pompeo solicitou, em reuniões confidenciais, poder instalar outras bases militares em Itália (talvez em troca de algum alívio das taxas aduaneiras dos EUA sobre o parmesão italiano). 

Certamente, na agenda secreta de Pompeo, estava também o ajuste para próxima chegada,  a Itália, das novas bombas nucleares USA B61-12, que substituirão as actuais B-61. Uma nova arma nuclear projectada especialmente para os caças bombardeiros F-35A, seis dos quais pertencentes à Força Aérea Italiana, receberam, em Outubro, o certificado da NATO de plena capacidade operacional.

Mike Pompeo, em Roma, não se ocupou só de coisas materiais, como o F-35 e o queijo Parmesão. Num simpósio no Vaticano, fez um discurso em 1º de Outubro, sobre "Dignidade Humana e Fé nas Sociedades Livres": afirmou que "os Estados Unidos chegaram um pouco depois de São Pedro, mas protegeram sempre a liberdade religiosa" e, com ela, a "dignidade humana"; acusou a China, Cuba, Irão e Síria de suprimirem essas liberdades. Palavras proferidas, com uma grande cruz como fundo, por um homem santo que, no momento em que se tornou chefe da CIA, declarou ao Congresso que tinha considerado" a reintrodução do 'waterboarding' e de outras medidas de interrogatório aprimorado", ou seja, a tortura. 

il manifesto, 7 de Outubro de 2019

(traduzido do italiano por Luísa Vasconcellos)

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

CEM ANOS DO JORNAL «A BATALHA» - SESSÃO EVOCATIVA E EXPOSIÇÃO

No dia 9 de Outubro de 2019, quarta-f., uma sessão na Biblioteca Nacional de Portugal*, pelas 17 h.
(*Campo Grande 83, 1749-081 Lisboa)

VER AQUI O PROGRAMA DETALHADO DA EXPOSIÇÃO E PALESTRAS ASSOCIADAS
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António Ventura apresentará o livro Surgindo vem ao longe a nova aurora..., de Jacinto Baptista (reeditado este ano pela Letra Livre), na sessão inaugural.

OBRIGAÇÕES COM TAXAS DE JURO NEGATIVAS = CATÁSTROFE À VISTA

Existem, neste momento, cerca de 14 triliões de dólares investidos em obrigações com taxas negativas. A maior parte destas são obrigações do tesouro de Estados.

Segundo François Asselineau, o mecanismo das taxas negativas na zona Euro, explica-se pela existência de uma grande incerteza quanto ao futuro do euro. 

                    
     https://www.zerohedge.com/economics/moneys-not-worth-anything-anymore-ex-credit-suisse-ceo-blasts-crazy-negative-rates

Com efeito, se os investidores estão cépticos em relação à existência do euro dentro de 10 anos, vão apostar numa obrigação emitida pela Alemanha - por exemplo - porque se acredita que a moeda deste país, o Deutche Mark, no caso do rebentamento da zona euro, irá valorizar-se em relação ao euro e/ou às outras divisas que surgirem desse rebentamento. Assim, poderá um investidor perder 0,25 % em euros, mas mesmo assim ganhar pelo facto da nova moeda, o Marco, que substituirá o euro ficar cotado 20% - ou mais - acima da cotação do euro, em relação ao dólar e em relação a outras divisas. 

                 

Por outro lado, a existência de taxas de juro muito baixas ou negativas só é possível porque as nossas pensões e poupanças estão, directa ou indirectamente, mobilizadas para sustentar essa «experiência inédita». É o que explica o responsável pelo «Grand Angle». 

                 

Com efeito, as pessoas são forçadas a isso sem o saberem (na maioria dos casos), pela colocação de capitais dos fundos do sistema de Segurança Social, e outros fundos (por exemplo, Seguradoras) em obrigações soberanas (dos Estados), consideradas seguras. Estatutariamente, estas instituições são obrigadas a ter uma certa percentagem dos seus fundos em «investimentos seguros». Que estes investimentos seguros sejam obrigações de Estados, deve-se ao pressuposto falacioso de que «um Estado nunca entra em falência» (basta pensar na Argentina, no Zimbabwe, na Venezuela, etc.)! 

De facto, em França, algumas forças políticas já começaram a divulgar o problema, a associação «Solidarité et Progrès», é uma delas. 

                 

Muitos dados importantes são divulgados nos vídeos aqui afixados, quer se goste, ou não, das forças políticas e/ou das pessoas em causa.

Seria uma tarefa impossível eu transcrever os conteúdos para leitores que não compreendem francês...porém, deixo aqui estas informações, que possuem um mínimo de seriedade.  Elas esclareceram-me em relação  dúvidas que eu possuía.

Para terminar, para os anglófonos, eis aqui um artigo muito detalhado, por um professor de economia de Helsínquia, publicado, recentemente em Zero Hedge:

WE FINALLY UNDERSTAND HOW DESTRUCTIVE NEGATIVE INTEREST RATES ACTUALLY ARE

domingo, 6 de outubro de 2019

BANDOS DE CRIMINOSOS ESTÃO A CASTIGAR OS CIDADÃOS INOCENTES DE HONG-KONG

https://www.scmp.com/news/hong-kong/politics/article/3031732/hong-kong-protesters-outraged-anti-mask-law-return-streets

                         A corridor in Mong Kok MTR station is turned into a mini river as protesters break in and vandalise facilities, setting off water sprinklers and a fire hose. Photo: Sam Tsang
                         Estação de metro de HK depois de vandalizadas as bocas anti-fogo


Será que a população tem algo a ganhar com a continuação deste estado de caos e vandalismo permanente?
A táctica dos contestatários não será a de provocar as forças da ordem para estas cometerem actos de repressão desproporcionados, de modo a depois acusá-las nos fóruns internacionais?
Será que eles, grupos de radicais violentos, não sabem que assim impossibilitam qualquer hipótese de diálogo com o governo de H-K?
Durante quanto tempo as pessoas do ocidente continuarão a tomá-los por «uns jovens um bocado exaltados» em vez de os tomarem por aquilo que são, na realidade?

No jogo complexo de guerra mista, comercial, económica, financeira, monetária, de propaganda ... o imperialismo apostou que a China fizesse um novo «Tien An Men», mas desta vez em Hong Kong.




A minha intuição era boa; acertei... mas é triste ver pessoas jovens a destruir tudo, o seu futuro, o de muitos cidadãos de HK, visto que a instabilidade irá desviar muitos negócios para Singapura... 

Quanto aos governos ocidentais, aos meios de comunicação de massas envolvidos numa propaganda anti-China, é isto mesmo que desejam: o máximo de caos para (numa esperança fútil e criminosa) dificultarem, atrasarem a progressão das «Novas Rotas da Seda» junto das mais de 130 nações, que possuem projectos com a China. Neste número inclui-se Portugal. 

Claro que eles não se indignam quando um polícia (que, de qualquer maneira, apenas estava a cumprir sua função) é agarrado e incendiado ou quando um jornalista do jornal oficioso do PC Chinês é cercado e recebe uma tareia que o deixa quase morto (entre outros exemplos de «respeito pelos direitos humanos» e de «liberdade e democracia» por parte dos manifestantes de cara tapada). 

A manipulação da percepção pela media corporativa internacional, sobre o que se passa em HK, é ainda mais óbvia, se nós a compararmos com a ausência de notícias (black-out) sobre o que se passa na Coreia do Sul, desde há um mês, onde se sucedem manifestações com milhões de cidadãos, sem qualquer violência... 

Vivemos numa espécie de redoma, de matrix, onde as pessoas estão dissociadas da realidade, são manipuladas constantemente. A media corporativa no Ocidente desempenha um papel essencial de «polícia da mente», obedecendo aos interesses da banca, da finança e todos os lóbis, que puseram os governos ao seu serviço.

sábado, 5 de outubro de 2019

ROTEIRO PARA ESCAPAR DA MATRIX/LABIRINTO [p. IV]

                            

Na parte III desta série, propunha que nos debruçássemos sobre a questão da propaganda ou das relações públicas (PR = public relations), em conexão com o gregarismo, que foi o fio condutor daquela parte (III). 
Agora, na parte IV, é tempo de aprofundar o que afinal liga esse mecanismo largamente endógeno, o «gregarismo», com algo que é - para todos os efeitos  - uma construção das sociedades.
A teoria da propaganda ou das «relações públicas» foi fundada e desenvolvida por Edward Bernays, um sobrinho de Sigmund Freud, mas depois dele um grande número de especialistas - psicólogos, sociólogos, etc. - foram acrescentando e refinando os conceitos. Se esta teoria foi inovadora no seu tempo (primeiras décadas do século vinte), ela não é mais do que a versão banal dos achados de Freud sobre o inconsciente, sobre as pulsões, enfim sobre a psicologia das profundezas, e a sua aplicação ao homem e mulher comuns, ao cidadão que cruzamos no quotidiano, com o objectivo de induzir um comportamento, que pode ser de consumir algo, mas também pode ter a ver com a escolha política ou outra. 
Noutro escrito detalhei bastante este aspecto, pelo que evitarei aqui repetir-me: o leitor poderá reportar-se ao artigo aqui, deste blog.

O que me interessa agora detalhar é o aspecto de manipulação destas técnicas, que fazem com que as pessoas adoptem, em aparência, atitudes e mesmo valores que pensam ser próprios, resultantes de sua escolha quando, na verdade, são induzidas e são resultantes de um condicionamento discreto. 

Qual a relação que isto tem com a manipulação? 
Penso que isto tem tudo a ver, pois «manipulação» deve ser o termo apropriado para indução de certos comportamentos ou ideias, sem que haja consciência disso. 
Logicamente, os métodos claramente autoritários, repressivos, estão excluídos da minha definição, embora, políticos e outros possam recorrer a eles, forçando as populações a adoptar um determinado padrão de comportamento. 
Neste caso, o das ditaduras, existe uma secreta, mas real, consciência por parte de muitos indivíduos dominados, de que tais comportamentos estão a ser forçados sobre eles, mesmo que eles não possam exprimi-lo. 
Mas, a propaganda ou o «public relations» consiste em algo muito diferente, pois as pessoas são levadas à ilusão de que escolhem fazer isto ou aquilo, que a sua escolha da máquina de lavar roupa é inteiramente racional ou é inteiramente baseada numa avaliação que elas próprias fazem das suas características, como produto... este exemplo anterior é um bocado simplista, mas isso é intencional; mesmo nas questões mais subtis, afinal de contas, a propaganda infiltra-se fazendo as pessoas acreditar que estão a raciocinar por elas próprias, por exemplo, se lhes dão sempre um determinado conjunto de notícias e estas pintam a realidade de determinada maneira, só uma minoria consegue compreender um escrito ou discurso que nega o discurso habitual e desmascara os parâmetros «normais» dessas notícias. Desta minoria, um número ainda menor estará em condições de aderir a esta outra forma de encarar as coisas - as realidades da política, sociológicas ou económicas, por exemplo. 
Igualmente, a chamada Educação tem muito mais de doutrinação, de amestrar, do que de educação, no sentido humanista de fornecer instrumentos de autonomia, de raciocínio crítico, de capacidade de ver o mundo social e natural pelos seus próprios olhos. 
Mas, por que razão isso resulta? Porque razão resulta a publicidade? Por que razão resultam as propagandas políticas e ideológicas? ... ou qualquer outra forma de incutir modos de pensar alheios ao indivíduo?

A resposta a esta interrogação tem necessariamente de passar por vários aspectos.
- Em primeiro lugar, passa pelo mecanismo da auto-ilusão: o eleitor, o adepto deste ou daquele, gosta de ouvir as suas «próprias» ideias, nos discursos, notícias, aquilo que reforça a sua convicção, a sua visão do mundo, a sua escolha pessoal em todos os campos. Assim, terá tendência a aplaudir e a mobilizar-se por candidatos que apelem para esses mesmos valores ou ideias, que os reforcem, que os coloquem de maneira forte, enérgica, ao nível do discurso. 
Terão mais votos, os candidatos que tiverem maior facilidade em produzir o discurso que agrada ao eleitor, não os que tenham realmente coisas importantes e originais a dizer, ou que tenham verdadeiras soluções para os problemas, admitindo que esses candidatos existam.

A «escolha» tende a ser inteiramente emotiva, baseada na impressão que tal ou tal candidato causa, junto do eleitor, não havendo relação quase nenhuma com o conteúdo concreto do discurso. 
Se analisar os discursos eleitorais em várias décadas verá que os conteúdos se tornam cada vez mais banais, mais insípidos de ideias, mais abrangentes, de forma a agradar a «gregos e troianos», com o tempo. Notará também que esta tendência se verifica em todos os partidos e correntes políticas que concorrem aos actos eleitorais.  
Podia-se também verificar um processo análogo com o fetichismo da mercadoria: por exemplo o consumo de luxo, de prestígio, teria a virtude mágica de colocar o consumidor entre a «elite» dos «muito ricos» e «superiores», visto que assinalaria um «status» de excepção do mesmo consumidor. Ou, que daria (restituiria) ao consumidor a juventude, ou charme ou sex-appeal, etc...
O mecanismo da auto-ilusão é muito forte e podem muitas pessoas auto-convencer-se das coisas mais extravagantes, desde a sua aparência física (naturalmente, a beleza é vista pelos próprios olhos...), aos seus dotes intelectuais ou morais. 
Outro aspecto importante, é o que se prende com a pressão grupal ou - dito de outro modo - com a pressão de conformidade ao grupo, que é o aspecto mais saliente do gregarismo.
Nos adolescentes, em particular, são muito marcadas as tendências para se conformarem com uma norma, não escrita... para serem aceites dentro do grupo, da faixa etária. Esta forma de coação social pode ser benigna, no melhor dos casos, resumindo-se ao uso de determinada indumentária, de certas expressões na linguagem, de gostar de determinadas músicas, etc. 
Mas, também pode ter aspectos muito menos anódinos, que passam pela criminalidade dos grupos, ou gangs, pela sistemática utilização do interdito, do socialmente condenado, do vandalismo, do uso de drogas, da utilização de motas e motociclos, de forma perigosa (para os próprios e os outros), etc. Tudo isto, para afirmarem, ou serem aceites, ou manterem, uma dada posição (hierárquica) dentro do grupo...

A tendência para o gregarismo é muito forte. Os psicólogos e sociólogos, ao serviço do sistema, sabem manipular os sentimentos das «massas» no sentido delas adoptarem este ou aquele padrão de comportamento. 
Ninguém, ou quase, sente-se confortável, se excluído do convívio com os seus semelhantes. O medo da exclusão, de ser apontado a dedo, inibe muitas pessoas de tomar certas atitudes, de fazer as coisas de acordo com sua consciência, por causa desse receio. É portanto uma força de coação social e psicológica muito importante. 
O esforço para uma pessoa se libertar de tal complexo, não é algo que se observe correntemente. A conformidade, para não dizer o conformismo, é a norma. 
As pessoas são induzidas a conformar-se com a norma, «adaptando-se», quer na escola, quer na empresa, a essa norma, mesmo a mais absurda ou contra-produtiva. Os críticos são vistos, no melhor dos casos, como uns «chatos», no pior... como «perigosos» e «subversivos».

 Assim, a sociedade tem mais tendência a reforçar comportamentos gregários, o «ficar dentro do rebanho», do que encorajar a inovação, a criatividade, a procura de novas formas de abordar as questões. 
O conservatismo das sociedades permitiu que - nas eras remotas, em que a vida, de geração em geração, era perfeitamente semelhante - houvesse um máximo de estabilidade. 
Mas agora, nas sociedades sacudidas pelo caos, onde nem nos podemos inteirar, quanto menos adaptar, aos efeitos das inúmeras mudanças simultâneas, de tantos desafios e perigos, tanto a um nível individual como colectivo, a educação conformista, autoritária e repressiva, surge como anacronismo, como um factor de regressão. 
Não admira portanto que, enquanto instituição, esteja em crise profunda e que não haja muita gente, dentro do sistema, capaz de tomar um recuo e perceber quais as causas profundas das disfunções. Este fenómeno ocorre de forma mais ou menos intensa, ou dramática, consoante os países, mas está patente em todas as sociedades.

Diria que a educação é a questão nº1, mas não o digo no sentido de preconizar a «enésima reforma do  ensino». 
Acho que é hoje a questão pior tratada, de todas as questões, nos discursos políticos ou pseudo-filosóficos, que se possam ouvir ou ler. 
Nos dias de hoje, a crise da educação é  «varrida para debaixo do tapete»,  é um claro caso de «denegação». 
Como este problema é particularmente importante, a meu ver, merece que nos debrucemos sobre ele no próximo escrito (parte V), pois está no cerne de problemas sociais e das repercussões nos indivíduos contemporâneos.