quinta-feira, 10 de outubro de 2019

[NO PAÍS DOS SONHOS] TCHAIKOVSKY: SERENATA PARA CORDAS


Lá vêm outra vez, estes sons de beleza pungente, que trespassam a minha alma! 
Dentro do sonho acordado, que me proporciona a audição atenta desta serenata, sou transportado para outro espaço-tempo paralelo, outro universo em que o real se abre, como travessia do espelho.

O leitor não pode saber por que razão estes sons têm um efeito tão estranho na pessoa que escreve. 
Nem seria fácil conhecer a verdadeira razão, nem a personagem está acessível para desvelar todas as aventuras que viveu em sua vida. 

«Em suas vidas», seria melhor dizer, porque as vidas que já foram, retomam seus direitos e revivem no instante em que estes acordes, sacros e endiabrados da música de Tchaikovsky, atravessam os ares. 

Tudo está expresso ao pormenor em cada movimento. 
Quando fecho os olhos, vejo o passado não sonhado, mas recordado ou revisitado, de eras em que a vida tinha uma vibração mais intensa. 

A chave da história fantástica, alegre e triste, reside na própria música. 
Se fosse traduzir cada episódio em palavras, cairia na banalização e dessacralização que isso implica. 

Esta serenata tem a ver com alguém que existiu realmente. 
O compositor não inventou a história que deu pretexto a esta peça, mas teve o bom gosto de apresentá-la enquanto música absoluta, não programática. 

No entanto, aqueles poucos que a ouviram, aquando da sua estreia, sabiam! 
A linguagem musical raramente exprime, de forma mais límpida, os sentimentos e as paixões humanas: por isso mesmo, ela é tão poderosa.

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