Como
tenho apontado repetidas vezes (ver aqui, aqui e aqui), aquilo que nos é
vendido pela media corporativa, reproduzindo acriticamente o discurso dos governos
e bancos centrais e os factos da economia real, que é ressentida pelas famílias e pelas
empresas, estão em total dissociação.
Porém,
não se pode atribuir facilmente o ponto de início para a presente crise, pois – se examinarmos
com atenção os dados – vemos que não houve verdadeira recuperação da crise de
2008. Diria que se trata do prolongamento de uma doença terminal, passando de uma situação aguda, para uma situação crónica.
Os
empregos não retomaram os níveis de 2007, os salários médios são muito mais
baixos: há uma descida em termos absolutos devido a muitas pessoas serem empregadas em trabalhos temporários, sazonais ou a tempo
parcial.
Os volumes de endividamento das famílias não diminuíram e portanto estas ficam mais expostas - que em 2008 - a serem atiradas para a pobreza.
Quanto
aos Estados, eles têm vindo a endividar-se cada vez mais, o que só tem sido
possível apenas pela conjuntura de juros excepcionalmente baixos (artificialmente criada pelos bancos centrais), mas isto poderá mudar bruscamente. Eles não conseguirão obter empréstimos, senão a um
juro bem maior.
Os
valores das cotações bolsistas são – em si mesmo – uma «aldeia Potemkin» visto
que a bolha é nutrida pela auto compra de acções das empresas, pela compra
discreta de biliões por parte dos bancos centrais de vários países ocidentais e
pela repressão sobre os juros dos depósitos bancários, forçando a investir nos mercados com maior risco…
Muitas
empresas, sobretudo as que dependem da capacidade do público em gastar dinheiro,
como o comércio de retalho, estão a sofrer dificuldades. Muitos centros
comerciais estão com um número elevado de lojas vazias, mesmo centros
comerciais situados nos bairros «chiques», para não falar dos que estão nas periferias urbanas (nas cidades dormitório das classes laboriosas), que apresentam
um aspecto confrangedor.
Aquilo
que não nos dizem os governantes e os media é que os «instrumentos»
utilizados para supostamente monitorizar e «regular» a economia, não são senão
pseudo instrumentos, como é o caso do PIB, o qual serve sobretudo para fazerem
política (pró ou anti- governo) dando um
ar de «cientificidade».
O PIB é um mau instrumento e -sobretudo - não é
compreendido como aquilo que ele é: mede as transacções que se efectuaram dentro
de um mercado nacional, num ano. Não diz nada sobre a qualidade das
mesmas, além de que vai reflectir mecanicamente o aspecto demográfico:
- num
país em rápido crescimento demográfico, o PIB pode dar a ilusão de uma economia «a crescer»;
- num país cuja população está em declínio demográfico, a contracção do PIB não significa necessariamente que a economia individual das pessoas tenha piorado.
Muito
importante, mas raramente tratado pelos que se arvoram em «comentadores
económicos» (compreende-se porquê…), é o afastamento entre as camadas mais
pobres e mais ricas da população, no que toca à distribuição de riqueza. Os estudos
que se têm debruçado sobre este afastamento são unânimes em considerar que, nestas últimas décadas, o fosso entre muito ricos e pobres vai alargando, na
generalidade do «Ocidente». Pelo contrário, a quantidade de pessoas da classe média que passam para a classe pobre tem vindo a aumentar.
Como
este sistema não é sustentável, provoca cada vez mais contradições internas
e estas tornam-se cada vez mais agudas. Com efeito, a resposta inflacionária
voluntarista de criar triliões a partir de nada, supostamente para criar um
efeito de «miragem de crescimento» falhou redondamente, maciçamente em
todos os recantos onde foi ensaiada, nos EUA, na Europa, no Japão.
No entanto,
os Bancos Centrais dessas regiões apenas se preparam para fazer mais do mesmo,
aquando de um súbito agravamento da presente crise.
Estamos certamente mergulhados numa crise mundial de depressão, em que os índices do PIB não precisam de ser necessariamente negativos, mas que são demasiado fracos para reconstituir a capacidade produtiva passada, destruída pela grande crise de 2008. É exactamente aquilo que se está a verificar.
As
pessoas bem informadas, «por dentro dos negócios», já começaram há
algum tempo a resguardar-se, saindo discretamente das áreas de investimento onde têm crescido as bolhas especulativas.
Vejam-se as vendas de acções em grande
escala por «hedge funds» por exemplo, ou como os grandes fundos do imobiliário estão a vender parte do seu capital imobiliário às empresas de menor
dimensão ou a particulares.
Tudo isto que escrevi acima é conhecido dos grandes bancos e grandes
investidores, mas não é patente para o público em geral, mesmo o que acompanha a actualidade
económica.
O resultado é que os primeiros se têm estado a aproveitar das baixas cotações
dos metais preciosos (ouro e prata) transitórias, que ocorrem. Salvaguardam agora os lucros realizados nos mercados mais especulativos e esperam obter mais lucros
quando estes mercados descerem acentuadamente e os pequenos investidores, em pânico, forem comprar ouro ou prata, por um preço muito mais elevado .
As
pessoas menos atentas, ou que se deixam embalar pelas canções de sereia da media
ao serviço do grande capital, verão as suas poupanças subitamente reduzidas a
metade ou menos, além de que ficarão impossibilitadas de viver apenas do salário ou da pensão, porque - entretanto - a inflação disparou.
Basta um instante para que se
instale o caos, o pânico, na economia real a partir do colapso nos mercados!
Os
bens mais expostos a desvalorização brusca são os financeiros... acções,
obrigações, fundos, derivados, depósitos a prazo.
Os bens que podem conservar
ou aumentar o seu valor, no contexto de uma crise, são os bens físicos facilmente transaccionáveis (ouro e prata, antiguidades, ou objectos de colecção), ou património com valor seguro (o imobiliário, susceptível de ser alugado; terrenos agrícolas, a produzir ou com possibilidade de serem produtivos a
curto prazo).
A constatação do perigo iminente não resulta
de quaisquer fantasias ideológicas, mas da observação fria dos factos da
economia real, por um lado e, por outro, de ver o que os muito ricos têm feito
nos últimos tempos.