Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

terça-feira, 13 de junho de 2017

CONTO ou REALIDADE? O GRANDE CASINO DA ECONOMIA DE MERCADO

Imaginem* um casino... Mas um casino com regras muito especiais.

Os croupiers têm instruções para irem dando sempre mais crédito aos jogadores, entusiasmados pelos activos de fantasia nos seus investimentos especulativos, sempre com mais dígitos electrónicos.
Algo que faz subir níveis dos neurotransmissores, que dão sensações de excitação e de prazer, aos jogadores adictos.
Só que os empréstimos obtidos pelos jogadores junto dos croupiers, têm como contrapartida coisas sólidas - joias, valiosos quadros, terrenos, imóveis, títulos industriais- dadas como garantia.
O jogo pode prosseguir quase indefinidamente; de vez em quando, um jogador fica falido e suicida-se.
Mas nenhum dos jogadores abandona o casino por causa disso, antes reforça suas apostas temerárias.
O dono do casino, entretanto, não está preocupado com os acontecimentos.
No momento que lhe parecer mais conveniente, dá uma ordem discreta aos croupiers para que comecem a fazer os jogadores perder.
Toda a gente sabe que, neste casino, tudo - as «slot-machines», as roletas e as cartas nas mesas jogo - está viciado, mas os jogadores não se importam, continuam jogando por adicção.

Começam a perder, têm «azar». A certa altura, esgotam-se lhe as fichas e vão procurar mais crédito; só então se apercebem que terão de desfazer-se dos tais bens dados em garantia. Têm de vendê-los por uma pechincha.
O dono do casino, que também é o único comprador desses tais bens «no mercado», obtém duplo ganho: ganha nas mesas de jogo e, depois, ganha ao comprar bens valiosos, por quase nada.

Neste jogo perverso, os tais jogadores inveterados, compulsivos e adictos, jogam sempre mais do que os seus capitais próprios,
usando e abusando do dinheiro e dos bens de outros.
Estes outros, são pacatos cidadãos que, na sua ingenuidade, acreditaram na palavra dos financeiros e dos governos, de que o seu dinheiro está «garantido e seguro» nas mãos dos tais jogadores, de que eles podiam estar perfeitamente tranquilos.

Por estas e por outras é que - a certa altura - se dão revoltas, explosões sociais, revoluções.

(*) Nota: Na realidade, não é preciso imaginar nada: a realidade que está perante todos é esta mesma, só que em vez de «casino» e outros termos, eles usam expressões mais «polidas» como «economia de mercado», etc...

A CIBERGUERRA E A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO TERROR


O absurdo disto tudo é que muitas pessoas estão ainda em estado de negação psicológica (denial). Recebem estas informações, mas não conseguem descolar da narrativa governamental. Porém, tudo o que diz este notável video não apenas é real, como também está perfeitamente documentado. 


segunda-feira, 12 de junho de 2017

ELEIÇÕES EM FRANÇA - SUÍCIDIO DA ESQUERDA

                          Foto de Pepe Escobar.


O penoso e previsível resultado da primeira volta das legislativas francesas, é que Macron vai dispor de uma maioria absoluta (mas numa eleição onde mais de um eleitor em dois se absteve!) para avançar com decretos que anularão aspetos importantes do direito do trabalho, tornando mais difícil a defesa dos interesses dos trabalhadores. 
O constante deslizar das forças de esquerda (reformista) para satisfazer o capital conduz sempre à derrota. Para agravar o cenário, a esquerda francesa recebe a maior derrota de que há memória, mas ainda assim os seus chefes e chefinhos continuam -hoje mesmo - a luta de galos... 




Um exemplo...a não seguir!


Trata-se de um suicídio lento, um suicídio com participação de vários comparsas, visto que prevaleceu durante decénios: a guerrinha de influências no aparelho de Estado, a negociata de lugares e votos aquando das eleições legislativas, a manutenção do sistema eleitoral da Vª república, quando convinha ao PS francês, para dominar a esquerda e impor a sua hegemonia, etc... Tudo isto, ainda por cima e sobretudo, com o abandono de uma política de classe, que deveria ser aquilo que caracteriza a esquerda enquanto tal e para além de todos os seus particularismos ideológicos, estratégicos ou tácticos... na viragem do século a «esquerda» deixou de assumir-se defensora dos trabalhadores, para ser a esquerda das «causas fracturantes», a esquerda «humanitária» (e das guerras «humanitárias», não esqueçamos...). Agora, recolhe o resultado desse longo suicídio de decénios... 

Espero, ao menos, que as pessoas sinceras tenham a coragem de ver os erros, as ilusões, de se auto-criticarem (mas fraternalmente, sem intuitos de exclusão) e aprendam...

domingo, 11 de junho de 2017

FÓSSEIS HUMANOS DE 300 MIL ANOS DESCOBERTOS EM MARROCOS

A fantástica descoberta de Jebel Irhoud (Marrocos), não apenas recua de 100 mil anos o aparecimento de Homo sapiens, passando a 300 mil anos antes do presente, como também vai abrir uma nova perspectiva  sobre a evolução precoce da humanidade. 
Esta conferência, no College de France, é efectuada por Jean-Jacques Hublin, professor nesta instituição e um dos investigadores da equipa que realizou a descoberta.


sábado, 10 de junho de 2017

PAISAGENS PORTUGUESAS


                                                    Luar sobre a praia de Carcavelos


                                                             Areal da Figueira da Foz


                                                    «Porta da traição», castelo de Monsanto


                                                          Pôr do Sol em Monsanto


                                                     Seteira, Castelo de Arraiolos


Praia da Adraga, Sintra


Rocha da Ursa vista do Cabo da Roca



Falésias e grutas no mar de Lagos


Falésias na Praia do Alvor


                                                   Miongsuk e Kijun no Convento de Cristo


sexta-feira, 9 de junho de 2017

RESCALDO DAS ELEIÇÕES BRITÂNICAS

Resultado das eleições britânicas, segundo o jornal «The Sun»: 

...
Mrs May had been hoping to win a commanding majority she could use as a strong platform to push through her radical domestic reforms as well as our EU exit.

She declared it was "the most important election for this country" in her lifetime, but now looks set to lose a dozen seats after the expected huge swing of Ukip voters to Conservative failed to materialise.

...

                  


O golpe das eleições antecipadas foi tiro lhes saíu pela culatra! 
Mas o curioso é que - há precisamente um ano atrás - passou-se o mesmo com o Brexit: Cameron apostou o seu futuro político na derrota dos eurocépticos do interior do seu partido com esse referendo... e perdeu.
Agora, de novo, o poder conservador instalado apostou num golpe eleitoral para consolidar a sua posição, perante as negociações de saída da UE. 
Passou-se exactamente o contrário: o voto desmentiu que houvesse um amplo consenso popular por detrás do governo sobre a maneira como este está a conduzir o processo de saída da UE. Significativa foi a transferência de votos do UKIP para os Trabalhistas, perante a ameaça de May e dos conservadores em acabarem com o Welfare State...

É caso para dizer, segundo a Lei de Murphy... "o que poderá correr mal, corre mal" (neste caso, para a Sra May).

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A MACIEIRA DE NEWTON [Obras de Manuel Banet]

                     
                        
       [Isaac Newton: manuscrito autógrafo]

  - Este texto surgiu primeiro na página literária do Diário de Lisboa e posteriormente foi incorporado à recolha de poemas inédita «Transfigurações» (obras de 1984-1985).


                       A MACIEIRA DE NEWTON
                                       (Ensaio)

As teorias, os conceitos científicos estão frequentemente associados, nas biografias mais ou menos romanceadas de celebridades da Ciência a anedotas ou lendas ou ainda, a citações atribuídas a este ou aquele cientista.
Tomamos esse conjunto de “estórias” como ponto de partida do presente ensaio.
Com efeito, elas fazem parte do imaginário colectivo... o que nos leva a considerá-las como fonte de poesia, tal como as lendas, os contos de fadas, as canções, etc. ... que iluminam a nossa infância.
Cremos que a poesia não é uma forma de pensamento ou de expressão do pensamento radicalmente diferente das “iluminações” (título de um livro de poemas de Rimbaud) dos citentistas. O momento poético, tal como o momento da intuição de uma nova teoria, é de revelação.
Os poetas, tal como os cientistas, são dotados da capacidade de abaixar o limiar da consciência e de produzir algo que foi elaborado nas profundezas do sonho.
Os homens têm, à partida, essa capacidade ... “a poesia deve ser feita por todos, não por um” (Lautréamont) ... mas ela é reprimida ao longo da vida adulta, na grande maioria das pessoas.
Pierre Curie dizia: “é preciso fazer da vida um sonho e desse sonho uma realidade”. Eis aqui, formulada por um cientista, a declaração clara das intenções dos poetas e artistas que se congregaram sob a bandeira do movimento surrealista. O sonho é um processo expontâneo de produzir imagens, em que intervém o aleatório. Note-se que aleatório não significa arbitrário, mas antes, um processo  a-determinístico de geração ao qual se sobrepõe um processo de selecção, de tal modo que, na imagem produzida, há criação de algo intrinsecamente próprio, genuíno, cuja lógica profunda foi decifrada por Freud e por Jung.

  A lógica do sonho opera sobre imagens simbólicas. Uma imagem é simbólica quando o objecto a que se refere não está contido nela, quando este pode ser definido apenas dentro do contexto em que se encontra a referida imagem/símbolo. 
É pois uma questão de “evidência poética” (título de um livro de poemas de Éluard), a questão de se saber ler o que o poema encerra: “voir c’est recevoir, réfléter, c’est donner à voir” (Éluard). 
                                 


O poeta é um revelador, é aquele que imprime na superfície do espelho (a realidade)... a imagem que se encontra ... “do outro lado do espelho” (Lewis Carrol). Aqui chegados, temos de reconhecer que não é com os instrumentos do dia-a-dia, com o senso comum, que podemos caminhar, pela mão de Alice, no país das Maravilhas. Este país é uma densa floresta, recheada de estranhas formas, cujas pistas estão entrecortadas por ribeiros, cujos diversos andares abrigam diferentes nichos ecológicos, e onde, digamos, precisamos de toda a força animal de Tarzan, para subir e descer pelas lianas que pendem das árvores.
A palavra poética é polissémica; é uma polissemia resultante do confronto entre a utlização corrente, pragmática, das palavras e o uso simbólico que o poeta faz delas. Mas isto não significa que a utilização corrente das palavras seja destituída de polissemia. O tradutor  experiente sabe bem como é difícil dar à tradução de um texto literário as conotações, a carga emotiva, a polissemia em suma, que encerra o texto original. Mas a vida está cheia de “frases feitas”, os provérbios, os ditados, as expressões idiomáticas... é possível que o seu produtor tenha sido um poeta anónimo, que soube dar contorno emblemático a essas modestas “flores” da linguagem. Isso foi reconhecido pelo povo, que passou a fazer  uso dessas expressões ... com o uso, acabaram por perder o carácter cortante, afiado, que tinham inicialmente: tal como um instrumento que é utilizado por longo tempo, com grande frequência, as imagens poéticas também se “gastam”. A função do poeta, do criador é a de produzir novas imagens, de retemperar as imagens gastas.
        A poesia foi comparada a “uma alquimia do Verbo” (Rimbaud). A alquimia é uma forma de conhecimento do Universo em que as partes não estão dissociadas do Todo. É um caminho inverso ao da análise. Tem por fim o conhecimento interior e a transmutaçõa do eu (Je, est un autre” Rimbaud) muito mais do que a transmutação de metais; na verdade, a tranmutação dos metais é apenas o aspecto exterior da Obra Filosofal, “a pedra de toque” que permite constatar a realidade da transmutação interior. 


                                   




Quais são os instrumentos do “laboratório” poético? A “loucura”, a “lucidez”, a “hiper sensibilidade”, o abaixamento da fronteira entre o sonho e a realidade, o trabalho árduo, lento, nocturno, o confronto com a realidade externa, a leitura, a apropriação, o plágio da obra dos outros poetas. O resultado de tudo isso, uma obra da qual o artista nunca se encontra satisfeito, ficando necessariamente aquem do ideal que o artista persegue. O mito do pigmalião constitui a parábola dessa situação. O transcendente e o efémero, a serenidade e o empolgado, o indizível e o explícito: antinomias que estão presentes em qualquer obra de um artista total.

O objecto poético deixa de pertencer ao seu criador quando atinge o público. O público é o outro pólo do acto de criação, pois quem diz criação, diz mensagem ... e uma mensagem só existe enquanto tal, quando existe um emissor e um receptor: as mensagens que são enviadas para o espaço por astrónomos, astro-físicos, por cientistas da era espacial, só o são... se encontrarem destinatário, seres extra-terrestres dotados da capacidade de compreender esses sinais. A teoria diz que é impossível transmitir uma informação sem perda de energia e o que é captado, nunca é mais do que uma fracção do que é emitido; as palavras lançadas ao vento pelos poetas obedecem a estes princípios. Do “lado de cá do espelho”, o receptor, ao ler a mensagem, vai interpretá-la de acordo com o universo semântico no qual está banhado e que lhe é pessoal, vai portanto recriá-la, com toda a carga de subjectividade que o acto implica. Será possível uma “análise objectiva” de uma produção poética? Para responder a esta questão vamos recorrer ao Princípio da Incerteza de Heisenberg; este diz-nos que não se pode conhecer com grande precisão o momento de um corpo e a sua energia, simultaneamente. Se utilizarmos um instrumento muito potente para observar uma partícula atómica, a energia investida na observação vai interferir com o estado energético dela. Se quisermos saber com precisão a quantidade de energia dessa partícula, num dado momento, temos de renunciar á determinação simultânea das suas coordenadas espaciais... Analogamente, quando se está perante uma obra poética, não podemos num único olhar, detalhar a forma da obra, e sentir a sua vibração, avaliar a energia que encerra. Não se pode, em simultâneo, num concerto, estar atento à perfeição com que os violinos e outros instrumentos executam a obra e ao desenho geral da mesma, à atmosfera em que ela está banhada. Visão analítica e visão global fazem apelo a dois tipos completamente distintos de capacidades psicológicas ( teoria da Gestalt). 

O nosso ponto de vista é de que, em relação à obra poética, o desenho geral, a visão global, a avaliação da energia intrínseca são principais... para que o “efeito poético” possa exercer-se no leitor. Portanto, por mais legítimas que sejam, as leituras críticas de uma obra poética deixam, a nosso ver, de lado o que constitui o cerne, a razão de ser, o centro gerador da poesia. 







Dito isto, é quase inútil sublinhar que, quer no produtor, quer no receptor, uma procura e uma compreensão das formas são necessárias. A crítica (diferente da fruição), deve exercer-se sobre os aspectos formais do poema, deve pôr em evidência a “gramática generativa” (Chomsky) da linguagem poética.