Imaginem* um casino... Mas um casino com regras muito especiais.
Os croupiers têm instruções para irem dando sempre mais crédito aos jogadores, entusiasmados pelos activos de fantasia nos seus investimentos especulativos, sempre com mais dígitos electrónicos.
Algo que faz subir níveis dos neurotransmissores, que dão sensações de excitação e de prazer, aos jogadores adictos.
Só que os empréstimos obtidos pelos jogadores junto dos croupiers, têm como contrapartida coisas sólidas - joias, valiosos quadros, terrenos, imóveis, títulos industriais- dadas como garantia.
O jogo pode prosseguir quase indefinidamente; de vez em quando, um jogador fica falido e suicida-se.
Mas nenhum dos jogadores abandona o casino por causa disso, antes reforça suas apostas temerárias.
O dono do casino, entretanto, não está preocupado com os acontecimentos.
No momento que lhe parecer mais conveniente, dá uma ordem discreta aos croupiers para que comecem a fazer os jogadores perder.
Toda a gente sabe que, neste casino, tudo - as «slot-machines», as roletas e as cartas nas mesas jogo - está viciado, mas os jogadores não se importam, continuam jogando por adicção.
Começam a perder, têm «azar». A certa altura, esgotam-se lhe as fichas e vão procurar mais crédito; só então se apercebem que terão de desfazer-se dos tais bens dados em garantia. Têm de vendê-los por uma pechincha.
O dono do casino, que também é o único comprador desses tais bens «no mercado», obtém duplo ganho: ganha nas mesas de jogo e, depois, ganha ao comprar bens valiosos, por quase nada.
Neste jogo perverso, os tais jogadores inveterados, compulsivos e adictos, jogam sempre mais do que os seus capitais próprios,
usando e abusando do dinheiro e dos bens de outros.
Estes outros, são pacatos cidadãos que, na sua ingenuidade, acreditaram na palavra dos financeiros e dos governos, de que o seu dinheiro está «garantido e seguro» nas mãos dos tais jogadores, de que eles podiam estar perfeitamente tranquilos.
Por estas e por outras é que - a certa altura - se dão revoltas, explosões sociais, revoluções.
(*) Nota: Na realidade, não é preciso imaginar nada: a realidade que está perante todos é esta mesma, só que em vez de «casino» e outros termos, eles usam expressões mais «polidas» como «economia de mercado», etc...