Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quarta-feira, 24 de junho de 2020

DIFERENÇA ENTRE NUMERÁRIO E VALOR

                            

No contexto actual de descalabro económico, causado deliberadamente pelos poderes globalistas, vamos experimentar uma aceleração da inflação... fatalmente. 
A forma como os governos disfarçam a inflação é como um porco com bâton, não deixa de ser exactamente o mesmo animal, pelo facto deste ter os lábios pintados!
O processo de disfarçarem a inflação é totalmente comparável aos lábios pintados no focinho do porco, porque a realidade subjacente é a mesma, com ou sem falsificação governamental. O fenómeno da inflação é - sempre foi e sempre será - um fenómeno monetário.
Na sua essência, é muito fácil de compreender; os disfarces do governo e dos economistas ao seu serviço, apenas são isso: disfarces, para impedir que as pessoas façam a avaliação real do grau em que são espoliadas.
Com efeito, a inflação tira ao pobre para dar ao rico; tira ao trabalhador para dar ao governo.
A história da utilização da inflação como instrumento fundamental da política económica e financeira dos governos, pode resumir-se nalguns parágrafos:
A partir do momento em que o governo dos EUA se desvinculou dos acordos de Bretton Woods, que obrigavam a manter uma convertibilidade do dólar em ouro (35 dólares US = 1 onça de ouro) e deixou de converter a moeda de reserva mundial em ouro, quando um governo estrangeiro pedisse essa conversão, as moedas começaram a «flutuar» umas em relação às outras e o preço do ouro (e da prata) experimentou uma subida vertiginosa. No mesmo momento, o Ocidente sofreu inflação, conjugada com o choque petrolífero, que desencadeou a crise chamada de stagflation ou seja, estagnação/inflação. A partir desse momento, os governos todos começaram a fazer batota na contabilização da inflação. 
Se os governos actuais usassem os mesmos critérios que no início dos anos 70, para avaliar a taxa de inflação ao consumidor, esta seria - de acordo com John Williams de ShadowStats.com - múltiplos da que nos é apresentada como sendo a inflação «oficial». Dizem que esta inflação não atingiu os dois por cento na Eurozona, porém, segundo os cálculos do género de ShadowStats (estes para a economia dos EUA) a verdadeira inflação deve cifrar-se nalguns países (como é o caso de Portugal) bem próximo, senão acima, dos 10 % anuais, para um cabaz de consumo corrente das famílias.
Então, pode-se perguntar: «que vantagem tem o governo em subavaliar de forma tão grosseira a inflação»? 
Sem dúvida, tem vantagens e não são poucas:
- Dá a ilusão à sua população de que tem as coisas sob controlo, tem um efeito de auto-promoção da sua «bondade» em termos de gestão económica.
- Além disso, mantém uma pressão sobre os salários. Esta, exerce-se para além do emprego do Estado, não apenas na função pública, pois as empresas privadas acabam por ter um nível semelhante, em cada categoria salarial, ao nível salarial correspondente dos funcionários do Estado.
- O Estado está obrigado a gerir as pensões de reforma, as prestações sociais, etc. Estas, são indexadas a um índice que mede a erosão do valor do dinheiro. Simplesmente, o factor correctivo é diminuto. O Estado mantém assim suas obrigações, nominalmente. No entanto, paga com dinheiro que vale cada vez menos, iludindo a esperança das pessoas que trabalharam e descontaram durante décadas. Acabam por ter, depois, uma pensão muito mais baixa, em valores reais, do que jamais imaginaram.
- O Estado emite dívida: As obrigações do tesouro pagam um juro mais baixo do que deveriam. Se um empréstimo a dez anos tem um juro de dois por cento, teria de existir uma inflação bem inferior, em média, durante esse intervalo de tempo, para que o detentor dessas obrigações tenha uma remuneração correspondente. Não são apenas os grandes investidores privados, desde bancos comerciais, aos fundos especulativos, etc. que compram a dívida pública, também os fundos de pensões o fazem. O Estado faz «default» discreta e suavemente, sobre a sua dívida, mas não aparenta estar a fazer isso. 
- O PIB é uma espécie de «farol» da economia de um país. Apesar desta métrica ser muito questionável, em vários aspectos, ela é utilizada por todos os governos, para atrair investimento ou para utilizar como argumento eleitoral. Mas, ao valor do «PIB bruto» tem de se descontar a inflação, para avaliar o crescimento económico real dum país. Ora, o PIB é «corrigido», sistematicamente, usando um valor de inflação demasiado pequeno. Por exemplo; um país apresenta um valor de PIB bruto de 4%, num dado ano. Mas ele tem - por exemplo - cerca de 6% de inflação verdadeira, embora o governo diga que a inflação é só de 2%. O PIB «corrigido» será de 2% positivo, quando - na verdade - deveria ser de 4% negativo. 
O resultado cumulativo desta ocultação do valor real da inflação, é o empobrecimento das pessoas comuns que dependem, exclusivamente ou maioritariamente, de salário ou pensão para sobreviverem.  
Tem também efeitos perniciosos na governação, pois é indutor de políticas despesistas: todos os governos gostam de agradar aos eleitores, todos têm tendência a ultrapassar os limites das receitas, pedindo dinheiro emprestado nos mercados (emissão de dívida soberana). É assim que os Estados vão acumulando dívidas, sobrecarregando os orçamentos com o serviço das mesmas, impedindo que esse dinheiro, indo para juros das dívidas, seja investido para algo produtivo. 
Finalmente, na economia real, a maquilhagem do valor da inflação tem efeitos nefastos; pois, escondendo a realidade dos actores económicos, faz com que aumente a proporção dos investimentos não rentáveis. Isso significa que certas empresas são obrigadas a fechar portas e despedir trabalhadores, porque os cálculos para investimentos foram feitos com base em números falsos de inflação. 
Neste contexto, a única forma de avaliar correcta, na economia, é usar o padrão ouro. O padrão ouro, que foi sustentáculo das moedas principais, nos períodos de maior expansão do capitalismo (segunda metade do século XIX, por exemplo), permitiu grande estabilidade nos preços, com a inestimável vantagem que isso acarreta, para qualquer economia.
Hoje em dia, não existem divisas seguindo o padrão ouro: mas, a conversão das quantias expressas numa divisa, pela correspondente cotação em ouro, permitirá avaliar a rentabilidade futura (ou passada) de um investimento. 
A quantidade equivalente em ouro, no momento x (hoje) é maior que a quantidade equivalente em ouro, no momento x-z ? - Então, o investimento tem uma rentabilidade correspondente à diferença entre as duas quantidades. 
Só assim poderemos fazer uma estimativa, porque só o ouro conserva o valor real, ou seja, o poder de compra ao longo do tempo. 

                            

                                         Gráfico: Poder de compra do ouro na eurozona

A quantidade em ouro, necessária para comprar um elegante fato para homem (para um vestido de senhora também se aplica, claro), é cerca duma onça de ouro puro (31,1 gramas aproximadamente): isso correspondia a 20 dólares US, em 1913; hoje, corresponde a 1800 dólares US. 
Quem tivesse guardado, desde 1913 até hoje, num cofre, uma onça de ouro, poderia comprar um fato, com o valor dessa mesma onça de ouro. Quem tivesse guardado 20 dólares em papel, teria apenas possibilidade de, com essa quantia, comprar hoje... um par de peúgas, talvez! 
Podemos habituar-nos a pensar em termos de valor, não em termos nominais de divisas... Só assim estaremos em condições de salvaguardar nosso poder de compra. Só assim poderemos evitar fazer investimentos não rentáveis. 
No contexto actual, tem havido muitas pessoas sobre-endividadas, sem capacidade para saírem do buraco em que se meteram. É fundamental as pessoas educarem-se para saber como investir ou como pedir um empréstimo. Compreender a diferença entre o custo nominal (em divisa fiat) e o valor real (usando o ouro como critério/padrão) é fundamental, para não se cair naquelas situações.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO...

               SSAR Issuer: European Stability Mechanism | IFR

É só uma questão de tempo, não que eu anseie pela chegada desse tempo, mas ele virá tão fatalmente como 2 + 2 = 4. 
Estou a falar do desenvolvimento da grande crise, supostamente causada pelo coronavírus, mas que - na realidade - deriva inteiramente da incrível dívida que se tem vindo a acumular, ao nível mundial. 
São cerca de 4 quadriliões de dólares  de dívidas no total mundial, de Estados, empresas e indivíduos. Um número com 4, seguido de 15 zeros! 
A possibilidade dessa dívida jamais ser cobrada, está para além da mais fantasiosa imaginação. É absolutamente impagável. 
A oligarquia sabe-o e não é de agora; simplesmente, tem aproveitado a situação da melhor forma (para seus interesses), à custa da saúde da economia mundial.
 Desde que Nixon descolou o dólar do ouro em 1971, a «impressão monetária» tem sido o «instrumento de governação financeira nº1» de todos os governos. 
A história não serve de lição aos políticos, nem - tão pouco - aos economistas ao serviço do sistema: Ambos têm sido beneficiados com as migalhas que caem do banquete da oligarquia. 
Mas o crescimento - durante décadas - da dívida, tanto pública como privada, significa que muitas das empresas e não poucos Estados estão na bancarrota, tecnicamente. 
Chegou-se a um ponto em que o serviço da dívida, que inclui juros cada vez mais pesados, é incomportável para o orçamento de cada Estado. 
A maneira de disfarçar isso é de inflacionar. É fazer com que o dinheiro corresponda a cada menos valor, a muito menos poder de compra.  
A explicação que dão os economistas «mainstream» para a suposta necessidade de inflação seria a de um efeito psicológico sobre os consumidores, que assim teriam a sensação de que a economia está «a crescer» e portanto, seriam mais inclinados a gastar dinheiro. Por outro lado, a inflação vai diminuir a carga de juros e de prestações de capital em dívida, se um empréstimo for a taxa fixa, o que - no longo prazo - confere vantagem ao devedor. 
Simplesmente, a economia não se esquematiza da forma simplista como estes economistas «certificados» a entendem. No cômputo geral, deve-se ter em conta o declínio do poder de compra de salários e pensões, tanto maior, quanto maior for a inflação:
Como - infelizmente - nem aos assalariados, nem aos pensionistas lhes é reconhecido o direito de aumento automático na mesma proporção da inflação, eles vão perdendo capacidade aquisitiva à medida que vai passando o tempo, mesmo num contexto de inflação  dita «baixa». 
Chega-se ao ponto de ruptura quando as sociedades, até então usufruindo de bem-estar generalizado, começam a sofrer o empobrecimento rápido das várias camadas laboriosas. Na mesma ocasião, uma minoria ínfima de especuladores consegue acumular e enriquecer muito mais, sem gerar qualquer coisa real, em termos de bens ou serviços.

Na UE, com o pacote decidido recentemente pelos Estados membros, permitindo que as dívidas (sobretudo as do Sul) sejam garantidas pelo Norte, o euro caminha para um processo inflacionário acelerado, mesmo que os míopes declarem que as constantes injecções de biliões de euros, saídos do nada, não terão efeitos na inflação: 
Não apenas terão efeitos visíveis, como desencadear inflação é justamente um dos objectivos dos governos da UE e do Banco Central Europeu (BCE). 
A destruição do valor dos meios de subsistência - que são os salários e as pensões - é sempre passada sob silêncio, como se a economia fosse independente da população.  
Com efeito, se aumenta a massa monetária em circulação, por exemplo, por um factor de 50%,  é inevitável que os preços disparem, porque a quantidade de bens e serviços transaccionáveis irá manter-se sensivelmente a mesma, mas a quantidade de dinheiro disponível para a adquirir, vai aumentar: Se um quilo de laranjas valia 1 euro antes, agora vai valer 1,5 euros. 
Dizem-me que a enorme crise de produção resultou numa escassez de bens e serviços, havendo uma retracção da economia e logo uma severa deflação; dizem-me também que o aumento da massa monetária não irá implicar inflação mais acentuada, porque terá pela frente o fenómeno contrário. Uma situação deflacionária tem toda a probabilidade de se verificar agora, em relação a determinados bens: equipamentos,  automóveis, imobiliário, bens de «prestígio» e de «luxo», etc. 
Mas, pode muito bem ocorrer - em simultâneo e em paralelo - com uma inflação acrescida, incidindo sobre os bens de consumo corrente, como alimentos, transportes públicos e fornecimento de serviços diversos, desde restauração a cabeleireiros. 
Tudo isto é provável que esteja a acontecer, mas é ocultado pela descarada falsificação dos números oficiais da inflação. Com efeito, uma pessoa sente no quotidiano a generalização do aumento dos preços, mas ela deverá ser quantificada pela estatística. 
Em Portugal, a fraca informação, não atempada e claramente distorcida, para favorecer o governo, faz parte da panóplia que permite manter um nível de salários e pensões próximo, ou ao nível da indigência, em muitos casos.
  O disparar da inflação irá ocorrer, inevitavelmente, quer a nível nacional, com a acumulação de divida pelo Estado e particulares, quer na Comunidade Europeia, com os défices crónicos das balanças de pagamentos  de todos os países do Sul. Tristemente, o único remédio que os dirigentes conhecem (ou estão disponíveis para aplicar), face ao crescimento incipiente, ou à estagnação, é a acumulação de mais dívida. 
Por isso, é apenas uma questão de tempo, até a hiperinflação se desencadear. Não será nada bonito de se ver, pois irá acompanhar-se dum imenso sofrimento social. 
Mas, a oligarquia pretende levar as coisas ao extremo, seguindo a estratégia de «choque e pavor», ou de «problema- reacção - solução». Desta forma, pretende perpetuar-se no poder, fazendo o tal «Great Reset» à sua medida, isto é, na forma que permita conservar o essencial dos seus privilégios.


quinta-feira, 1 de março de 2018

A CRIAÇÃO MONETÁRIA E A INFLAÇÃO

Muitas pessoas são mantidas na ignorância, em relação aos mecanismos que operam nas economias. Nomeadamente, para muitas pessoas, a inflação é um «mistério», do qual apenas experimentam os efeitos, sem realmente compreenderem a sua origem e a razão de ser. 

O aumento de preços ao consumidor é, afinal, equivalente a uma diminuição do poder de compra do salário ou pensão, ou quaisquer rendimentos monetários do indivíduo. 
Mas esse aumento não se verifica por obra  e graça de uma «força natural», uma tal «mão invisível» do mercado. 
Ele ocorre porque o sistema monetário está desenhado de tal modo que os poderes (dos Estados e do grande capital) podem a seu bel prazer manipular o volume de dinheiro em circulação, o dinheiro disponível. 
Veremos adiante como conseguem essa proeza. Mas, desde já, vamos esclarecer quais as vantagens deles, ao disporem e usarem abundantemente dessa capacidade de manipulação:
Imagine o leitor que tem de receber uma soma correspondente a um empréstimo que fez ao Estado (via obrigações do Tesouro ou outros instrumentos) ou a uma grande empresa. Isto é uma forma comum de poupança, investir-se em dívida pública ou privada, directa ou indirectamente, através de fundos. 
O juro é fixo: se tiver um juro abaixo da taxa de inflação real, por exemplo, juro de 3% ao ano, sendo que a inflação real é de 4%, na realidade está a perder 1% ao ano sobre essa suposta «poupança». 
A manipulação dos índices de inflação destina-se a ocultar este facto, a realidade da inflação, ou seja: existe uma perda do poder aquisitivo duma dada moeda, perdemos valor real somente por determos essa moeda. 
Um dado montante em dívida, que tem de ser integralmente paga ao fim de 5, 10 ou mais anos, o chamado «principal» irá valer, em termos reais , muito menos que o valor dessa mesma quantia no momento inicial: por exemplo, 1000 € em 2007 tinham uma capacidade de adquirir determinada quantidade de mercadorias, de bens ou serviços... o poder de compra dessa mesma quantia em 2017 é apenas de cerca de 60% de há dez anos atrás, compra-se menos 40% com esse dinheiro em 2017, relativamente ao que se poderia comprar dez anos antes, em 2007.

Os pensionistas perdem constantemente poder de compra, o ajustamento no montante das suas pensões vem sempre tarde e a más horas: o sistema de pensões (seja público ou privado) tira vantagem, obviamente, da existência de inflação. 
As contas do Estado, em geral, beneficiam com a inflação pois, no médio e longo prazo, as dívidas acabam por pesar muito menos e são mais facilmente liquidadas. 
Note-se que é uma devolução de «gato por lebre»... com efeito, se o Estado (ou a entidade privada) devolver dez anos depois os 1000 € que pediu emprestado, está a restituir apenas 600 €: o equivalente ao poder de compra de 600 €, em 2007!

Para gerar artificialmente inflação, que beneficia os devedores - principalmente a grande banca, as grandes empresas, os Estados - dá-se uma criação monetária constante. 
A criação monetária pode ser efectuada pelos bancos centrais. Eles têm feito isso ultimamente em grande escala quando compram dívida, com dinheiro criado a partir de nada: é o que tem feito o BCE, nomeadamente, desde há vários anos, com uma compra mensal média de 60 biliões de euros em activos financeiros aos bancos dos vários países e obrigações dos Estados-membros. 
O dinheiro globalmente disponível no sistema vai aumentando, sem que exista correlativa e proporcional retirada de circulação dessa divisa. Cada unidade nesta moeda (neste caso, o euro) fica portanto com o seu valor diminuído, visto que existem mais euros em circulação, para comprar sensivelmente a mesma quantidade de bens ou serviços.
Mas a principal criação monetária, nas nossas sociedades, é efectuada quotidianamente pelos bancos comerciais: através dos empréstimos, eles criam dinheiro a partir de nada: Se tiver 100 € no banco e o mesmo banco emprestar 100€ a outro cliente, este irá ter a sua conta creditada com 100 €, que poderão ser utilizados. 
Devido ao empréstimo do banco, existirão agora 200 €, onde antes existiam apenas 100€. 
É esta a principal origem de inflação monetária. Os bancos detêm quase todo o controlo do crédito, tendo portanto capacidade de «aquecer» uma economia, facilitando o crédito, ou o contrário. 

O custo dos empréstimos, as taxas de juro são o instrumento mais utilizado para controlar a quantidade de dinheiro disponível. Os bancos centrais, os governos e a banca comercial detêm o controlo dessas taxas, para manterem em funcionamento o sistema, mas no sentido de os favorecer a eles
O cidadão comum está, muitas vezes, enredado em dívidas, em relação à casa, ao automóvel, a várias compras (cartões de crédito...). Tem muito pouca margem de segurança para «ficar à tona», caso falhe - num dado momento - a entrada de dinheiro, ou se for obrigado a fazer face a despesas não previstas.  
Desde 2008, sobretudo, a poupança é desestimulada, visto que as taxas de juro são negativas, em termos reais. Se a inflação verdadeira é de 6% , um depósito a prazo com juro de 4%, é negativo: - 2%
Com este mecanismo, as pessoas são empurradas para apostas arriscadas no casino da especulação, na bolsa de ações, ou noutros activos financeiros.  
Outras pessoas «jogam» no imobiliário, estimuladas pela bolha especulativa a investirem em casas ou apartamentos claramente sobre valorizados; quando vem uma crise, perdem imenso, 50% ou mais do valor investido, quando não perdem tudo, porque ficaram falidas.
A economia individual ou familiar tem de ser compreendida de modo diferente da economia global. É necessário poupar, sempre que possível, e fazê-lo a vários níveis. 
As famílias e indivíduos podem poupar, fazendo reserva de alimentos ou outros bens consumíveis: ao terem uma dispensa contendo mais do que o consumo imediato (por exemplo, reservas de alimentos que se podem guardar 2 a 6 meses...) estão a poupar, porque evitam pagar mais caro. Não devem recorrer ao crédito e, caso o tenham feito, ir diminuindo o montante em dívida, sempre que tenham oportunidade disso. 
Se têm algum excedente,  é mais seguro investir fora do sistema financeiro: por exemplo, em moedas ou barras de ouro ou prata, em bens imobiliários (casas e/ou terrenos), etc...estes funcionam como almofada de segurança, caso haja aceleração da inflação: os referidos investimentos têm, neste caso, um aumento que equilibra, ou mesmo ultrapassa, o efeito da inflação sobre salários e pensões.

As pessoas devem tentar aprender noções práticas de economia fora do convencional, da pseudo-ciência económica, que apenas está interessada em que as pessoas vivam na ilusão. Não se poderão defender, se estiverem na ignorância dos mecanismos básicos, aliás, muito menos complicados do que possam parecer à primeira vista.
Por ingenuidade e défice de informação, acabam por ter o comportamento que interessa aos detentores do grande capital. Sobretudo, não irão jamais questionar, apontando responsabilidades, pela degradação do poder de compra de suas poupanças, de seus salários e pensões... 

sábado, 1 de abril de 2023

Inflação: o imposto oculto

 Não existe ainda uma consciência na generalidade das pessoas, sobre o modo como o Estado obtém o financiamento para as despesas que faz. Teoricamente, ele funcionaria com o dinheiro dos impostos. Mas, é fácil constatar que ele gasta muito mais do que recebe e, ainda por cima, tem despesa que não está inscrita no Orçamento de Estado.

Como é que os Estados se mantêm, muitas vezes com défices orçamentais que se avolumam de ano para ano?

Existem vários mecanismos que levam a um aumento da receita de imposto, sem que isso se torne muito óbvio para a generalidade das pessoas. Assim, se houver um aumento geral dos preços, todos os produtos que têm o imposto de valor acrescentado (IVA) aumentam na mesma proporção. Dirão: mas o valor maior cobrado vai cobrir as maiores despesas do Estado, portanto em termos líquidos, não é propriamente um aumento.

- Certo, só que as despesas do Estado são, numa grande fatia, despesas fixas ou que pouco aumentam: Estou  a referir-me a despesa com ordenados dos funcionários e agentes do Estado, assim como as pensões de reforma e invalidez. Estas despesas deveriam aumentar na devida proporção do aumento do custo de vida, mas tal não acontece nunca. Um funcionário público, ou um pensionista do Estado, terão mais alguns euros no seu ordenado ou pensão, mas de forma nenhuma tais aumentos atingem o valor que corresponderia à inflação.

Além do mais, o índice de inflação não é objetivamente avaliado. Desta forma, o Estado não tem de desembolsar tanto como seria o caso, se a inflação fosse avaliada corretamente. Se o verdadeiro índice de inflação for de 12 % ao ano, o «cozinhado» que fazem com as estatísticas poderá dar um índice (falso) de 8%. Nestas circunstâncias, não apenas o Estado desembolsa menos 4% com ordenados e pensões, como vai buscar mais na receita do IVA. 

Em geral, o Estado, sobretudo quando estiver em défice, cobre as despesas emitindo obrigações do Tesouro,  títulos de dívida que vencem a prazos de 2, 5 ou 10 anos, por exemplo. Nesse intervalo, o Estado vai dar um juro fixo. Se nesse intervalo de tempo houver uma inflação maior do que a taxa de juro fixo, o Estado vai pagar menos (em valor real) pelo empréstimo feito: nominalmente é a mesma coisa mas, tanto o principal da obrigação, como o juro a ela associado, terão menor valor real (menos capacidade aquisitiva). 

Os Estados do Euro, têm sido «premiados» com a compra automática das obrigações que colocam no mercado e que não encontraram comprador,  pois o BCE (Banco Central Europeu) comprometeu-se a comprar todos os títulos do Tesouro dos Estados aderentes ao Euro. Então, os juros foram baixando para estas obrigações, até ao ponto em que Estados muito débeis, em termos financeiros, como Portugal, tinham um juro associado a sua dívida semelhante, ou mesmo inferior, a Estados com melhor situação económica e financeira. Assim, Portugal estava obrigado a pagar juros da dívida no valor (por hipótese) de 3% em média durante um longo período, mas semelhante juro era o de obrigações estatais de países com muito melhor situação global. Era como se os compradores da dívida portuguesa aceitassem adquiri-la, embora o valor real das obrigações fosse muito menor. 

Com efeito, o valor de uma obrigação é tanto maior quanto mais baixo for o seu juro. Isto reflete o cálculo do mercado sobre os riscos que correm os compradores de - ao fim do tempo definido - não receberem pagamento do principal (situação de bancarrota do Estado), ou de haver interrupção temporária no pagamento dos juros, ou outro tipo de incumprimento. Nestas circunstâncias, o apoio sistemático do BCE através da compra de obrigações dos Estados mais débeis, reflete-se a vários níveis: Estes empréstimos têm comprador garantido, com juro mais baixo e com menor despesa nos orçamentos públicos desses Estados (Os juros da dívida pública são obrigatoriamente inscritos no orçamento de Estado).  

Os ordenados e pensões são sistematicamente depreciados: o seu «ajuste» é feito tardiamente, num intervalo que pode ser dum ano; é baseado num índice oficial de inflação fictício; nalguns casos, provoca o aumento no imposto (IRS), por mudança  de escalão, o que anula o pequeno aumento recebido. 

Os grandes capitalistas também aproveitam a inflação em seu favor. Não apenas nos ordenados que têm de pagar; mesmo aumentando-os, estes terão menos valor, em termos relativos. Eles «antecipam» as subidas de preços, colocando a mesma mercadoria, cuja compra foi ao «preço antigo», com preço inflacionado ou aumentando a margem de lucro porque decidem vender a um preço muito maior que a inflação, que eles próprios sofreram no processo de fabrico.  

Em Portugal, o Estado não tem verdadeiros motivos para se preocupar muito com a subida dos preços, até certo ponto. O ponto crítico é a capacidade da população em suportar uma forte descida do seu nível de vida. Esta descida pode significar a caída na pobreza extrema, para alguns, e o empobrecimento relativo para a imensa maioria. Penso que a generalidade das pessoas estaria de acordo que, em Portugal, o bem-estar económico tem diminuído para a grande maioria, desde há alguns anos, sobretudo desde há cerca de ano e meio, com o agravamento da inflação.

Há perdas acentuadas nos pequenos comércios e nos serviços, que são as empresas mais criticamente dependentes da retração brusca da clientela. Muitos têm de abrir falência, outros têm de reduzir pessoal para fazer face ao novo contexto. Esta concentração favorece os grandes grupos, por exemplo os hipermercados, ao eliminar a concorrência do pequeno comércio de bairro.  

Por fim, a injustiça desta taxa, ou imposto oculto, ressalta se verificarmos que as pessoas pobres, ou com rendimentos médios-baixos, têm como principal despesa a alimentação (e outras necessidades quotidianas): A inflação é sempre mais acentuada neste item. Ora, os ricos têm, proporcionalmente às despesas, muito menos impacto, com o aumento dos preços da alimentação:  A alimentação pode representar uns 60% do rendimento, numa família pobre e somente 20% numa família rica. 


Alimentos subiram 20% na UE, num ano.


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

COMO É CALCULADO O ÍNDICE DE INFLAÇÃO?

Esta reflexão ocorreu-me pela leitura dum excelente artigo de Charles Hugh Smith, intitulado «tenha cuidado sobre o que deseja». Com efeito, no supracitado artigo demonstra que o índice de inflação para os EUA está completamente dissociado da realidade. Os valores descontam toda uma série de factores de aumento de preço em produtos diversos. Por exemplo, novos carros vêm com melhorias ao nível de sistemas de segurança e de vários acessórios, sendo benefícios reais e como tal contabilizados nesse sistema de avaliação de preços, mas realmente trata-se de um cálculo artificioso, pois pura e simplesmente o comprador do carro novo não tem a opção - em muitos casos - de comprar o tal novo modelo, mas por menos uns 10 mil dólares e sem os tais benefícios que estavam ausentes na série anterior. Esse mesmo fenómeno é geral e notório em equipamentos electrónicos e computadores. Os que calculam os preços descontam sistematicamente a parte no preço que eles estimam ser devida a inovações incorporadas no novo produto, por comparação com o anterior. Os casos mais escandalosos são os dos custos da saúde e dos estudos. Como se estes factores não tivessem uma incidência elevada nas despesas das famílias. Dirão que o fenómeno é mais preocupante num país como os EUA, onde a saúde é cara, essencialmente entregue a companhias de seguros privadas, onde as universidades também são privadas e cobram somas abismais para um ensino nem sempre de grande qualidade. Sim, é verdade. Mas na Europa e em Portugal, as mesmas coisas ocorrem, os mesmos aumentos para os mesmos serviços, com a única diferença que, neste país,  muito mais pobre que aquilo que se costuma pensar quando se invoca «a Europa», um número impressionante de pessoas não tem sequer real acesso a saúde de qualidade e o número dos que frequentam o ensino até ao nível de licenciatura ou mais é muito menor, do que nos restantes países do «espaço euro». 

O valor da inflação em Portugal é uma construção dos governos e administrações, um fraco reflexo, ou mesmo uma completa ficção, daquilo que os portugueses comuns experimentam no dia a dia. Porém, este «índice» estabelece uma série de valores de aumentos, desde as pensões até aos ordenados da função pública. É com base neste índice que são calculados os aumentos das rendas de casa, ou as prestações sociais. 
Por causa deste número fictício e completamente manipulado, o próprio PIB é calculado usando como índice «deflator», um valor muito menor do que deveria ser, permitindo exibir uma ligeira progressão, quando, na verdade, o país se encontra em depressão há vários anos a esta parte.  

A tabela abaixo, retirado desta página, mostra como as inflações mensais são tão erráticas, o que não deixa de colocar várias interrogações. 

Tabelas - IPC Portugal actuais e histórico

IPC PT últimos meses

 períodoinflação
 agosto 20171,136 %
 julho 20170,902 %
 junho 20170,909 %
 maio 20171,451 %
 abril 20171,979 %
 março 20171,370 %
 fevereiro 20171,553 %
 janeiro 20171,331 %
 dezembro 20160,878 %
 novembro 20160,575 %

IPC PT últimos anos

 períodoinflação
 agosto 20171,136 %
 agosto 20160,724 %
 agosto 20150,658 %
 agosto 2014-0,359 %
 agosto 20130,153 %
 agosto 20123,077 %
 agosto 20112,906 %
 agosto 20101,980 %
 agosto 2009-1,330 %
 agosto 20083,015 %

Outros números de inflação

 países/regiõesinflaçãoperíodo
 IHPC DE1,789 %agosto 2017
 IHPC BE1,998 %agosto 2017
 IHPC EUR1,497 %agosto 2017
 IHPC FR0,993 %agosto 2017
 IHPC NL1,500 %agosto 2017
 IPC BE2,009 %setembro 2017
 IPC US1,939 %agosto 2017
 IPC NL1,400 %agosto 2017
 IPC JP0,602 %agosto 2017
 IPC RU3,293 %agosto 2017


A primeira das quais é saber se, sendo o país largamente importador, que efeito terão as oscilações doutras divisas e das suas cotações, relativamente ao euro. Verifica-se, se colocarmos em paralelo uma tabela com cotações do euro em dólares, em libras ou noutras moedas, que existe um maior aumento da inflação quando o euro em sido mais forte em relação a todas as moedas com as quais Portugal faz comércio frequente (ver valores de Agosto de 2017, em que a cotação do euro atingiu um máximo em relação ao dólar). Isto é bastante insólito. 
A segunda interrogação incide sobre as oscilações importantes de inflação de um mês para o outro: não sabemos se os cálculos contemplam a existência, ou não, de fatores corretivos devidos à sazonalidade de certas despesas (por exemplo, gabardinas em Agosto ou artigos de praia em Dezembro). A terceira interrogação e talvez a mais importante é a que tem a ver com a ausência completa de referências sobre os critérios e procedimentos estatísticos utilizados. 
Provavelmente, uma pessoa muito interessada, poderá pedir ao INE (Instituo Nacional de Estatística) algumas informações sobre os critérios usados para cálculo do índice de inflação. Mas, a imensa maioria contenta-se em aceitar o «dado» de que a «inflação de Agosto de 2017 foi de 1,136%» coisa que é impossível de validar ou de invalidar. É decretada assim, sendo todos os cálculos (pelo menos os oficiais) baseados nestes dados numéricos. 
Daqui decorrem duas consequências importantes: como estes dados estão geralmente fora da realidade e enviesados no sentido de diminuírem o valor real da inflação, as pessoas vão perdendo poder de compra, vão sentindo cada vez maior aperto  mas não sabem ao certo o que se passa. Têm a sensação vaga do seu ordenado ou pensão valer cada vez menos, mas sem - porém - poderem relacionar com os dados mais gerais da situação económica. 
Outra consequência: as pessoas podem ouvir que a situação do país está a melhorar e que - por azar - elas estão pior, mas que a situação das pessoas terá melhorado, em média. Satisfaz portanto o papel de propaganda discreta do governo e de contenção das despesas do mesmo, em relação a obrigações do Estado, desde pensões e prestações sociais, até aos ordenados dos funcionários. 

De facto, estes números são tão falsos em relação à realidade económica das famílias e das empresas - do país em geral - como eram os dados estatísticos do bloco soviético, na era da guerra fria (nos anos 50 a 80 do século passado). 
O facto de economistas e investigadores se basearem em dados completamente falseados mostra até que ponto a economia não é uma ciência, mas apenas um discurso feito à medida das necessidades de justificar este ou aquele discurso de poder, como esclareci em detalhe aqui.

A nossa capacidade em tomar decisões acertadas, quer ao nível pessoal, quer ao nível de empresas, está completamente dependente da nossa capacidade em avaliar com justeza a dinâmica da situação económica, seja a um nível global, regional ou nacional. Se tais instrumentos forem escamoteados ou falseados, é inevitável que as pessoas cometam erros de avaliação, tanto maiores quanto mais forte for a sua crença na propaganda disfarçada em «factos económicos», produzida pelas agências governamentais  ou afins.

O cálculo dos índices de inflação, é - em resumo - uma enorme trapaça, servida pelos governos, para enganar as pessoas comuns, os «servos da gleba» modernos.


domingo, 8 de novembro de 2020

O ESTERTOR FINAL VIRÁ, DISSO PODEMOS ESTAR CERTOS


A impressão monetária, que se desenvolveu ao longo do período «Covid», tanto nos EUA como na Europa, deixou atrás em volume quaisquer outros surtos de QE («quantitative easing», eufemismo para impressão monetária). Nos EUA, a dívida estatal acumulada, desde a independência, nos finais do séc. XVIII até há bem pouco tempo, era de cerca de 3 triliões de dólares. No espaço de um trimestre, esta dívida mais que duplicou, sendo agora de cerca de 7 triliões e irá - com certeza- subir muito mais. 

Na Europa, o ECB imprimiu e emprestou a juro zero aos bancos da zona euro, dinheiro que serviu para eles consolidarem os seus balanços desastrosos, onde certos bancos - não dos menores, como por exemplo Santander - têm uma enorme carga de dívida não paga, de cobrança difícil ou impossível. 

O dinheiro deveria ser visto como um meio de troca de uns valores por outros, mas não como um valor em si. A impressão monetária tem um efeito depressor na economia, contrariamente ao que a escola Neo-keynesiana pretende. Com efeito, a inundação de dinheiro, não correspondente a acréscimo de bens e serviços só pode ter como resultado o aumento da inflação. Esta pode exprimir-se no domínio das bolhas especulativas, bolsas de valores e imobiliário, principalmente; ou poderá exprimir-se pelo aumento dos preços ao consumidor. Esta segunda modalidade já começou a manifestar-se nos bens alimentares, os que afectam mais a população pobre. Ela terá uma aceleração brusca, a partir do momento em que as pessoas percebam que a causa da inflação reside no dinheiro ser demasiado abundante, não nos preços ao consumidor dos produtos (estes são uma consequência). 

Na primeira parte da entrevista de Claudio Grass a Rafi Farber, um economista da Escola Austríaca, o entrevistador colocava a pergunta seguinte (ver abaixo), à qual RF respondeu de maneira brilhante e original. Traduzi aquela resposta, sugerindo aos leitores deste blog que leiam também a entrevista na íntegra. Tem  passagens de grande profundidade e inteligência.

CG: Logo desde o começo da crise do COVID, vimos os bancos centrais e governos tomarem passos inéditos, com medidas fiscais e monetárias extremas. Porém, quando temos em conta a escala de destruição económica, pode ser um desafio determinar-se que força irá prevalecer, por isso se assiste a um vivo debate «inflação vs deflação». Como é que se posiciona neste debate?

RF: Eis uma questão fascinante. Deixe-me responder sinteticamente e depois explicar. Inflação/deflação é uma falsa dicotomia. Inflação é deflação. São a mesma coisa. Dirá, isso é sem-sentido! Como é isso possível? Vou explicá-lo de forma simples.

A produção real mergulhou em todo o Mundo, enquanto a abundância de divisas «fiat» (não sustentadas por valor tangível) cresce numa parábola. Como é que alguém poderá dizer que isto não é inflacionário, quando aquilo que todos os bancos centrais estão fazendo é literalmente inflacionar? A resposta é que, no momento em que as dívidas têm de ser pagas, mas os fluxos de pagamento param, o serviço da dívida não pode ser satisfeito e portanto tem de ser obtido «cash» (dinheiro líquido) por qualquer meio possível para pagamento, ou as obrigações entrariam em incumprimento e o sistema bancário, todo ele cheio de dívida tóxica até ao pescoço, entra em colapso. Eles estão cheios até às goelas com este veneno

No afã de obter «cash» por quaisquer meios, a procura de dinheiro sobe precipitadamente; inversamente, a procura de bens e serviços vai cair nesta emergência, temporariamente puxando o nível dos preços para baixo. Isto é visto como deflação. Acontece que o único propósito de um banco central, a própria razão de sua existência, é manter todo o esquema da dívida a funcionar, de ser o «emprestador de último recurso» e portanto eles não podem deixar que isto aconteça, nunca. Então, em vez de deixar que tudo acabe por deflacionar numa implosão espectacular, em vez de deixar que toda a dívida tóxica seja reduzida ao seu valor intrínseco, que é zero, os bancos centrais simplesmente compram todo o lixo («junk») e entregam «cash», que produzem a partir de nada. Agora, toda a gente está em dívida para com eles, porque eles compraram todas as dívidas com nada.

Num certo momento, muito em breve, os detentores internacionais de dólares vão tomar consciência do que está a acontecer e irão desfazer-se dos dólares e comprar algo tangível, para fazerem face ao que se está a passar. A China já está a fazê-lo com matérias primas agrícolas como trigo e soja. O mesmo se passa com o Egipto e Jordânia, por sinal. Os preços dos bilhetes de avião podem estar em queda, mas apenas porque é impossível voar para qualquer lado sem quarentenas. No entanto, o preço da comida está a subir em todo o lado, e depressa. Uma vez que o dólar seja trocado internacionalmente por bens tangíveis - e isto pode tornar-se muito sério, assim que o novo resgate de multi-triliões de dólares for aprovado – o efeito nos preços ao consumidor nos EUA vai ser drástico e assustador: nesse momento, veremos rapidamente uma hiper inflação nos preços ao consumidor. 

Mas se pensarmos um pouco mais profundamente, o que é realmente a hiper-inflação? É a destruição de toda a dívida, expressa em dinheiro-fiat, de todos os activos em papel, em benefício dos activos tangíveis. A híper inflação é uma completa e manifesta deflação, em termos do ouro e da prata. Em termos de dinheiro real (ouro e prata) os preços literalmente tombam. É verdade que, quem não tem dinheiro real, ouro e prata, ficará desesperadamente pobre, o que é horrível. No entanto, os que têm ouro e prata ficam, de repente, com todo o poder de compra. Na Alemanha de Weimar, em 1923, podia-se comprar uma bela casa no centro de Berlim, apenas com quatro onças de ouro. Só isso. A hiper inflação é apenas hiper deflação, com outro nome. Tudo converge para o mesmo objectivo - o fim da bolha de dinheiro-fiat, que permitiu este crime contra a civilização humana, que está a atingir o pico em mais do que uma maneira. 

Ou a bolha deflaciona, ou hiper- inflaciona e explode. Em ambos os casos, o resultado final é o mesmo.

Murray Rothbard descreve a hiper- inflação no livro « Man Economy and State », não como uma tragédia que deva ser evitada, mas como uma última defesa do povo contra a impressão sistemática de divisas e o correlativo roubo. É apenas uma tragédia, se não se está preparado para isso. Estamos agora no 50º aniversário da monstruosa bolha, que começou em 1971 e que procura desesperadamente deflacionar. E irá fazê-lo. Se a FED não deixar que a dívida tóxica, com juros negativos deflacione completamente e morra, e se deixar que os bancos criminosos sobrevivam, o povo - espontaneamente - irá destruir a bolha por ele próprio, atacando o próprio dólar. A inflação é deflação, em termos de dinheiro real. É a mesma coisa; é para lá que caminhamos.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

NÃO É SÓ A ECONOMIA, ESTÚPIDO!

Os portugueses e os europeus em geral estão sendo propositadamente mantidos no escuro no que toca à gravidade da crise do Euro e da economia. 
Com o provável rebentamento de uma crise muito pior que a de 2008, já no horizonte próximo de 2017, a maior parte das pessoas vão ficar completamente arrasadas, com uma parte muito substancial das suas poupanças destruídas, ou o poder de compra de seus salários ou pensões grandemente reduzido.
Um fator que torna a situação mais confusa é a total rendição de uma parte da esquerda, incluindo a que se gosta de afirmar como «anticapitalista» a teses neokeynesianas, as quais decretam que, em situações de recessão, a produção de grandes quantidades de dinheiro (QE = «quantative easing») vai estimular a economia e criar o efeito de inflação benéfico para os mercados. 
Estas afirmações são absurdas em si mesmas: a verdadeira estimulação da economia tem de ser feita propiciando a construção de infraestruturas e de estímulos ao consumo, como defendeu Keynes aliás, não com a deliberada destruição do valor do dinheiro como pretendem os neokeynesianos. 
A diluição do valor do dinheiro e a tentativa de fazer disparar a inflação não apenas são ineficazes enquanto «estímulo» da economia, têm exatamente o efeito oposto. Isto é simples de ver, pois a diluição do valor do dinheiro, conjugada com a impossibilidade de manter rendimento significativo com as formas tradicionais de aforro, inevitavelmente vai trazer um aumento do capital mal aplicado, seja em ações ou obrigações, ativos financeiros muito hipervalorizados: quando ocorre uma correção (o que acaba sempre por acontecer) há uma perda brutal de capital para os investidores individuais, mas também para os investidores institucionais, tais como fundos de pensões. 
Isto significa que a insistência no «QE» por parte do banco central europeu (BCE) faz exatamente o contrário do que pretende remediar. Agrava a carência de capital, desvia somas colossais para a especulação e acaba por estimular - não a economia - mas a destruição de capital, subsequente de decisões de investimento equivocadas ou aventureiras.
O conjunto das pessoas parece ignorar que estão a segurar na sua mão algo que - de dia para dia - perde valor. Quando o valor de uma moeda é diluído, por aumento constante das unidades dessa moeda em circulação sem uma destruição equivalente como contrapartida, isso vai inevitavelmente diminuir o poder de compra da mesma, chama-se inflação monetária. 
Esta inflação monetária vai transformar-se em qualquer momento em inflação nos preços, pois não existe nenhum mecanismo que possa prevenir que – num momento ou noutro – os detentores de grandes quantidades dessa moeda decidam coloca-la na economia «real», adquirindo bens, etc. A quantidade de capital mantido em espera de investimento pelos grandes bancos, não trouxe ainda um efeito na economia real, pois eles não arriscam empresta-lo para atividades económicas, preferem guardá-lo nas suas próprias contas do BCE, auferindo um juro muito baixo, mas sem risco e assim também retendo a sua solvabilidade e compensando para eventuais perdas nos setores mais especulativos, como seja o mercado de derivados onde estão todos mergulhados até ao pescoço. 
Como as operações com derivativos não estão sujeitas às regras de contabilidade bancárias das outras operações, não se pode – de facto – saber ao certo quantas «apostas» nos mercados de derivados tal ou tal banco ou outra entidade fez. Pode-se apenas fazer uma estimativa. 
Todo este processo parece um enorme ciclo de Ponzi, onde as «garantias» de solvabilidade dos bancos são «garantidas» por papel-moeda que está cada vez mais diluído. 
Os detentores de poupanças e os detentores de dívida (pública ou privada) são os grandes castigados, pois detêm algo que se vai desvalorizando mais e mais. 
Os sistemas públicos de pensões são largamente utilizadores de veículos financeiros que estão constantemente a perder rendibilidade; não há dúvida que isso corresponde a parte do problema da «sustentabilidade» do sistema de pensões, parte esta que poucas vezes se vê descrita; é um agravamento substancial ao problema demográfico, mas que é passado sob silêncio.
A crise do euro mantém-se desde há mais de seis anos, pelo menos (apareceu em toda a sua extensão com a crise grega), e não vai ser «curada» por nenhuma medida das que o BCE ou os governos têm estado a seguir. 
Infelizmente, serão os pobres a sofrer as consequências de uma aceleração da inflação. Desejar um aumento da inflação para 2% e pensar que se pode manter esse número «mágico» é como desejar que as pessoas percam «só um pouco» confiança na moeda, mas sabemos que uma perda parcial de confiança pode ampliar-se até uma rejeição total da moeda ou uma destruição total da confiança, como na hiperinflação em curso na Venezuela ou nos exemplos históricos. 
Não existe nenhum caso de inflação deliberada e controlada a contrapor aos múltiplos exemplos de inflação fora de controlo, quando as autoridades monetárias e governamentais se põem a «brincar» com a moeda! É uma história que - desde os romanos do final do império, até à Alemanha de 1923, ao Zimbabué, etc. - acaba sempre mal!
Os banqueiros centrais estão a brincar com o fogo, sabem-no, mas não se importam, porque assim mantêm a falsa coesão de um sistema, o sistema da moeda única, que foi mal concebido e pior implementado. 
A análise da crise do Euro e da eurolândia por «opinadores» que escrevem nos jornais e em blogues, incorre muitas vezes no erro de tomar por válidos os mitos das teorias económicas em voga, neokeynesianas e outras, o que mostra até que ponto estão – de facto – dentro do paradigma neoliberal. 
A consequência, é que o público, em vez de alertado para os problemas reais, está na ilusão de falsas panaceias, caminhando de olhos fechados para o colapso.
Chego à conclusão de que, aquando da avalanche e colapso do sistema financeiro, praticamente ninguém estará preparado. A opinião pública foi intencionalmente distraída das questões e dos factos.
A quem aproveita o crime?


segunda-feira, 8 de março de 2021

MERCADOS FINANCEIROS: O QUE NOS DIZEM, VERDADEIRAMENTE

                                


Na semana passada, assistiu-se a uma série de alterações, nos mercados de obrigações, a começar pelas «treasuries» (as obrigações a 10 anos, do Tesouro dos EUA), cujos juros subiram de 0.38 % em Março de 2020 a cerca 1.5 %. Até agora, pode-se dizer que seja um problema apenas das obrigações americanas, visto as obrigações japonesas a 10 anos terem um crescimento muito baixo dos juros e as obrigações alemãs - embora subam acentuadamente - ainda permanecem em terreno negativo (*). 


A importância do mercado obrigacionista, em particular das obrigações estatais, é que este fornece uma medida do custo do dinheiro (de emprestar dinheiro, de pedir um empréstimo, etc.). Os Estados, normalmente, são os actores institucionais mais confiáveis - salvo improvável bancarrota - pelo que as taxas de juro que oferecem, em relação aos empréstimos que contraem, são uma espécie de linha de base, que vai condicionar todo o mercado do crédito. 
Globalmente, o mercado das obrigações, ao nível mundial, é cerca de dez vezes maior que o mercado accionista. No entanto, nos noticiários de economia, as acções cotadas em bolsa são sempre apresentadas como o barómetro primário. 
Mas isto é redondamente falso, até porque muitas das subidas e descidas das bolsas são mera especulação. Nos últimos tempos são potenciadas por algoritmos, que compram e vendem centenas de vezes ao segundo, agindo assim em relação a toda a gama de acções, podendo surgir amplificações de movimentos para cima ou para baixo, inteiramente artificiais e que não correspondem a qualquer variação significativa da situação das empresas, cujas acções estão subindo ou descendo. 


No gráfico seguinte, vê-se claramente que se está a atingir um topo, no que toca às acções, nas bolsas do mundo inteiro.


                   


Estes movimentos, ditos de «compra de pânico», são - em geral - indicativos de que se está a atingir um topo. O mercado de acções tem sido accionado pela impressão monetária. Ela está a ser levada ao extremo pelos bancos centrais dos principais países ocidentais, a começar pela FED dos EUA mas, também, pelo ECB da Zona Euro; tudo em nome do «combate ao COVID», quando, na verdade, se trata de algo completamente diferente. 


De facto, na população dos países ocidentais, raros são os que possuem acções de qualquer espécie. De facto, as pessoas mais ricas - em geral - são as que possuem um portefólio significativo, com acções das bolsas mundiais. São essas pessoas que estão a ser subsidiadas, sob pretexto de «estimular a economia», com somas astronómicas, como o 1,9 trilião de dólares do recém-eleito Biden. Um comportamento semelhante passou-se e passa-se em todos os países ocidentais. 


A acumulação de dívida, mais cedo ou mais tarde, vai fazer ruir o próprio fundamento das economias. Se a dívida de um Estado equivale a 150% do PIB, isso quer dizer que toda a riqueza produzida durante um ano e meio, por esse país, teria de ser utilizada para saldar a dívida acumulada. 
Claro que nunca acontece assim, mas -pelo contrário - os Estados podem esperar saldar, a pouco e pouco, as suas dívidas, se os tempos melhorarem (uma visão muito optimista, no presente) e sobretudo, poderão reduzir a mesma, através da inflação, que faz com que o valor nominal da dívida a pagar seja o mesmo, porém o valor real em dívida desça, na mesma percentagem que a inflação: 
- Se a inflação atinge 20% ao ano, isso quer dizer que o valor do capital em dívida, ao fim do mesmo ano, vai ser 20% menos, em termos reais, embora seja nominalmente o mesmo.
A dívida dos Estados não é excepção: Se um Estado estiver a dever muito, uma inflação elevada torna mais fácil o pagamento das dívidas. Porém, nos mercados de obrigações, o que irá acontecer às dívidas/obrigações dos Estados? Os investidores vão exigir maior juro, para compensar a inflação observada, ou antecipada. Não apenas isso; verão com olhos críticos o sobre-endividamento dum Estado, exigindo portanto um juro maior para compensar o maior risco de «default», ou seja, da falha de pagamento da entidade devedora. 
Chega-se então ao ponto em que os Estados continuam a emitir dívida, mas são incapazes de o fazer sem sobrecarregar os orçamentos com excessivas verbas de juros da dívida pública. Não têm viabilidade, um Estado, uma economia, que entrem num tal processo. 
Embora o Estado possa - durante mais algum tempo - pagar as suas dívidas, os custos disso não serão sustentáveis: Não será capaz de efectuar os investimentos necessários para as suas infraestruturas; a economia perderá capacidade produtiva, de criação de riqueza, pela punção excessiva de dinheiro dos impostos para pagar os juros da dívida pública. Estas somas, se não tivessem de ser canalizadas para pagar juros, poderiam ser investidas, poderiam ser geradoras de riqueza. Entra-se numa espiral descendente. O cenário conduz à estagnação/inflação (a «estagflação»). Isto corresponde ao empobrecimento da sociedade e economia desse país. 

É neste ponto em que se encontram as economias da América do Norte e da Europa. Qualquer aumento dos juros da dívida pública, vai traduzir-se pelo agravamento da inflação, porque os agentes económicos vão ter em conta estes juros como referência, quando negoceiam, quando estabelecem os preços das mercadorias, etc. Vai haver aumento da inflação de preços ao consumidor. Por sua vez, uma inflação acrescida significa uma diminuição do poder de compra das pessoas, um empobrecimento geral e logo, a diminuição da actividade económica (no Ocidente, o PIB depende em ~ 70%, do consumo). O ciclo vicioso está plenamente instalado!
Mais vale as pessoas estarem resguardadas, neste período de destruição massiva das divisas. Note-se que o dinheiro pode «desaparecer» ou «deixar de valer» mas, a «riqueza» é outra coisa. Assim, os ricos podem estar a encher-se ainda mais, a ficar mais ricos, apesar do empobrecimento geral.
Na Alemanha de 1923, uns cem dólares USA eram suficientes para compra dum andar de luxo, em Berlim. Houve pessoas espertas que compraram, com marcos alemães, que valiam cada vez menos, imobiliário, empresas, terrenos, etc... tudo o que não era activo financeiro. À saída da crise, estavam imensamente ricas. Outras, conservaram acções, obrigações, ou «cash» e ficaram falidas, na miséria. 
Não digo que a situação se vá repetir. Porém, é de reflectir sobre ela, estudá-la. Porque o mecanismo do desencadear da inflação, através da impressão monetária, é o mesmo. 

Recorde-se a definição de loucura de Albert Einstein: «Esperar um efeito diferente duma acção repetidamente falhada, é um sinal de loucura». Se os dirigentes dos Estados mais poderosos «esperam» um desenlace diferente («desta vez vai ser diferente» dizem eles...), nós não temos de acreditar neles. Aliás, seria loucura ainda maior, acreditarmos em loucos ou aldrabões, que nos vêm «com falinhas mansas»!

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*NB: O valor de uma obrigação é tanto maior, quanto o juro é mais baixo, porque, nestas circunstâncias, se supõe que há muitos compradores para essa dívida. Sendo assim, o emissor da dívida pode oferecer um juro mais baixo e terá, no entanto, suficientes compradores da mesma. Inversamente, se os juros sobem, isso quer dizer que o emissor da dívida só consegue colocar a mesma caso ofereça um juro maior, só assim obterá investidores que lhe emprestem dinheiro, comprando as suas obrigações.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

PETER SCHIFF «Por que razão a promessa de inflação da FED faz subir o preço do ouro»

 


Uma lição clara e concisa!

Peter Schiff é o CEO duma empresa de investimento «Euro Pacific Capital». Ele começa pela análise da subida muito enérgica do ouro. Ele recua no tempo até à decisão de Nixon de 1971, de retirar o dólar da indexação ao ouro (35 USD /onça de ouro) fazendo com que o sistema de Bretton Woods ficasse sem base. Antes da decisão de Nixon, era possível trocar (ao nível dos bancos centrais) os dólares - que estes detivessem em excesso nas suas reservas - por ouro àquela taxa.

A inflação que ocorreu nos anos 70 e até Paul Volker (o presidente da FED durante a presidência de Ronald Reagan) nos início dos anos 80, fez com que o ouro subisse de 35 dólares a mais de 800 dólares a onça, em menos de uma década.

Seguiu-se um período em que a inflação foi severamente reprimida, com imenso custo social. Neste período, o ouro iniciou uma longa fase de descida que atingiu seu mínimo por volta do ano 2000. Após esta fase, a subida do ouro -  muito lenta, primeiro e rápida depois  - culminou com a cotação de cerca de 1900 dólares / onça (em 2011). 

No entanto, os bancos centrais ocidentais, em conjunção com os grandes bancos que negoceiam no mercado do ouro, têm-se coligado para suprimir a subida do ouro, pois iria mostrar a rapidez da desvalorização das divisas, a começar pelo dólar, a divisa de reserva desde Bretton Woods (1944). 

Mas, eles não têm escolha, senão deixar o ouro subir substancialmente, mas ainda assim, muito abaixo do valor que corresponderia à relação ouro /divisas. 

Com efeito, o ouro total teoricamente disponível nos cofres dos bancos centrais, dos bancos comerciais, de particulares, etc., se correspondesse ao total de divisas «fiat» em circulação, ao nível mundial, segundo os cálculos de especialistas, teria um preço de cerca de 10 mil a 20 mil dólares por onça.  É preciso notar que o poder aquisitivo das divisas (a começar pelo dólar) tem diminuído exponencialmente, sendo de cerca de 2-3% DO PODER AQUISITIVO, na primeira ou na segunda década do século XX.

A inflação é uma coisa má; Peter Schiff explica porquê. Ele recorda que Warren Buffett está consciente que esse imposto escondido - que é a inflação - vai afectar os seus investimentos, razão pela qual decidiu vender acções de empresas tecnológicas e investir substancialmente nas melhores empresas mineiras de ouro.

Ele explica porque razão o mundo está a ficar inundado em «dinheiro falso», ou seja, o aumento desproporcionado da massa monetária em relação à economia produtiva. O efeito é, necessariamente, uma espiral da inflação. Não admira, portanto, que o ouro tenha ultrapassado recentemente a cotação máxima de 1900 dólares/onça, atingindo cotações que se aproximam de 2000 dólares /onça.  

Defende que o ouro voltará - num certo momento - a ser  o garante do valor das diversas divisas. Diz que está a verificar-se o início dessa viragem, o que se pode observar pelo sentimento cada vez mais favorável em relação ao ouro. Nos últimos dois anos, verificou-se uma procura - cada vez maior- deste metal precioso, nos mercados.  O ouro é um garante contra a perda de valor dos activos, num contexto de aumento da inflação. Esta, deve-se à impressão monetária dos bancos centrais. Todos os analistas dos mercados estão seguros de que ela vai acelerar. Com efeito, Jerome Powell, o presidente da FED, prometeu de que irá permitir que a inflação suba, para além do objectivo (anterior) de 2%.

NB: O vídeo de Lynette Zang é um bom complemento para aprofundar este tema.