As tempestades de neve, as inundações catastróficas são consequência de estarmos no início de nova Era Glaciar. Não deem crédito a quem vos disser que são devidas ao «efeito de estufa». https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2024/09/a-grande-fraude-do-clima.html

quinta-feira, 25 de julho de 2024

A CHINA NÃO ESTÁ A DESPEJAR DÓLARES .


... ESTÁ  A INVESTI-LOS EM APLICAÇÕES QUE NÃO SEJAM DOS EUA

A percepção de que a China estaria a perder parte do valor dos dólares, despejando as suas obrigações soberanas dos EUA, ou «treasuries»,  no mercado, não me parecia muito credível. Com efeito, a venda de treasuries iria ser feita a troco de dólares.  Por outro lado, muitas vezes o valor de mercado duma obrigação é abaixo do seu valor nominal. O que os chineses estão a fazer, em relação às treasuries, é antes deixar que elas cheguem ao fim do prazo, recebendo então o valor respetivo em dólares. Depois não irão investir esses dólares em obrigações ou ativos denominados em dólares. Estes são - de facto - controlados pelos EUA. Muitos autores, no entanto, pensam que a China vende as treasuries no mercado. Pensam que é assim que obtém dólares para comprar ouro. 
Porém, a China não está de-dolarizando, nem despejando euros, de forma direta. Todos os dias recebe muitos milhões, em dólares e em euros, resultantes das suas exportações. Ela está simplesmente desviando o fluxo de dólares (e euros) que recebe, para bancos e aplicações financeiras que não estejam ao alcance das sanções e extorsões dos EUA.
Na prática, está a transferir a custódia dos dólares e ativos denominados em dólares, para bancos chineses que - obviamente - lhes dão garantias. Os bancos ocidentais estão comprometidos com o roubo dos ativos russos. A China não irá deixar que lhe façam o mesmo.
Os EUA transformaram o dólar numa arma de guerra económica. O resultado foi que as autoridades chinesas responsáveis pelas finanças e comércio exterior encontraram uma estratégia para neutralizar tal ameaça. A  resposta tem sido brilhante. 
É por isso (e pelo fracasso das sanções e tarifas) que os neocons estão desesperados por lançar os EUA e seus aliados em novas aventuras bélicas contra a China.

Oiça a explicação pormenorizada no vídeo: ficará mais informado e compreenderá como se desenrola o processo, na realidade.


quarta-feira, 24 de julho de 2024

CELEBRANDO A LUZ ETERNA E DIVINA COM HAENDEL

 

                                 https://www.youtube.com/watch?v=RNj0lI7j6pE

Esta Ária* faz parte da Ode HWV 74 composta por Haendel, provavelmente em Janeiro de 1713. Ela foi composta e executada para celebrar o aniversário da Rainha Anne (a última monarca da Casa de Stuart).
Desde então, esta ária tem sido aproveitada para enquadramento musical solene na corte real, nomeadamente, em casamentos de príncipes e princesas. É muito célebre e frequentemente executada. Não será por isso que tem menos valor, nem que deixa de merecer cuidadosa audição e análise.

Esta cantata celebra o aniversário da Rainha Ana mas - igualmente - o tratado de paz de Utrecht (negociado pelo ministro Tory da Rainha, em 1712) pondo fim à Guerra de Sucessão de Espanha.
Diz-se que a Rainha Ana não se interessou demasiado pela obra de Haendel. No entanto, concedeu-lhe uma «tença» (ou subsídio para a vida inteira) de duzentas libras.
O título da ária é "Eternal source of light divine" («fonte eterna da luz divina»). A ária, com solo de trompete e cordas em apoio, tem a seguinte letra:

«Eternal source of light divine
With double warmth thy beams display
And with distinguish'd glory shine
To add a lustre to this day.»

(Texto integral da Ode, de Ambrose Philips, em: https://en.wikipedia.org/wiki/Ode_for_the_Birthday_of_Queen_Anne )

Do ponto de vista musical, destaca-se a preferência por notas longas, sustentadas pela trompete, o que lhe dá a solenidade perfeitamente adequada ao texto.
Haendel mostra aqui, como noutras obras, o seu grande domínio em moldar a matéria-prima sonora, em especial, a voz**. Se houvesse que "apresentar prova" de que Haendel era um génio de primeira grandeza, esta seria uma das peças que eu escolheria para esse fim.

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*) Músicos nesta gravação:
Kathrin Hottiger | soprano – https://kathrinhottiger.ch Dominic Wunderli | baroque trumpet – https://dominicwunderli.jimdofree.com Jonathan Pesek | violoncello –   / jonathan-pes.  . Frédéric Champion | organ – http://www.fredericchampion.com This recording was made by Leonart Studio on the 7th of Mai 2021 in the church of Männedorf, Switzerland. – https://leonart.org/

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**) Listagem de algumas obras de Haendel reproduzidas neste blog:





terça-feira, 23 de julho de 2024

O FÓRUM ECONÓMICO MUNDIAL (WEF) APODERA-SE DE GOBEKLI TEPE!

Gobekli Tepe já era «escândalo» desde o início das escavações, nos anos 90 do século passado: Porque se tratava de arquitetura monumental, datada entre 13.600 e 12.000 anos atrás, quando, segundo a arqueologia oficial, as sociedades eram de caçadores-recolectores e suas culturas da Idade da pedra polida. Não havia - segundo eles - lugar, nessa época, para templos com arquiteturas que implicavam muitos trabalhadores e importantes recursos, canalizados para a feitura desses monumentos de pedra. Igualmente, parecia-lhes impossível a produção das esculturas, dos altos e baixos-relevos nos pilares antropomórficos em forma de T.

Gobekli Tepe foi a surpresa que obrigou a reformular o passado longínquo, a reescrever os tratados sobre o Neolítico (Idade da pedra polida); foi o ruir de preconceitos sobre as sociedades de caçadores-recolectores, seu grau de sofisticação, seu sentido estético e arquitetónico, associado a um complexo sistema de crenças religiosas.
Aquele vasto conjunto de monumentos do nosso passado comum, deveria ser preservado com o máximo cuidado. As zonas ainda não escavadas deveriam ser muito bem preservadas. Sabe-se, através de estudos de radiometria do subsolo, que enormes áreas junto das escavações encerram tesouros de pedra, semelhantes aos que já estão expostos.
Mas, não! Os multimilionários do Fórum Económico Mundial de Davos decidiram que «Gobekli Tepe deveria ficar reservado para escavação pelas gerações futuras» (sic!).
Quem são eles para ditar o que a Humanidade e a Arqueologia devem, ou não, saber? Que conhecimentos arqueológicos possuem? Porque são eles a decidir sobre quando e como efetuar as escavações?
Além disso, o desfigurar deste conjunto arqueológico único, é um crime contra todos nós, pois Gobekli Tepe está classificado como Património Mundial.
Conjugada com a arrogância dos muito ricos, a corrupção existiu, sem dúvida, num certo número de responsáveis estatais e académicos. Eles deveriam ter dado prioridade às escavações e à integridade do local.
Vejam o que eles fizeram, no vídeo seguinte:



 

PS1: Gobekli Tepe, com cerca de 12000 anos, tem inscrito na pedra o mais antigo calendário lunar/solar conhecido. Graças a ele, e a figuras inscritas na pedra, foi possível situar no tempo a terrível catástrofe astronómica que durou 27 dias e que desencadeou um duríssimo arrefecimento do clima. Veja os pormenores em : 

segunda-feira, 22 de julho de 2024

MARCHAS MILITARES & TATTOOS (Segundas-f. musicais N. 10)

                            https://www.youtube.com/watch?v=LE8koZD-3pM


 A marcha das moças de Helsingor (Dinamarca) é cativante. Tem a perfeição dum mecanismo bem oleado e, em simultâneo, a graça feminina e jovem, de que é composta.

Porém, não sou apreciador da música militar, que se destina a pôr toda a gente a marchar e a marcar passo, ao ritmo dos tambores e das cornetas. Prefiro canções irónicas, como «Cachorro Vira-Lata» de Carmen Miranda, ou «Caporal Casse-Pompon» de Jacques Brel.

Podemos ouvir - neste vídeo - uma rapsódia de várias marchas militares. As melodias são bem distintas; por vezes, no intervalo entre as peças, ouve-se o rolar dos tambores. 

Compreendo que este espetáculo encha de orgulho pessoas dos países de origem das bandas musicais. As evoluções da banda no estádio, quanto melhor coordenadas forem, mais impressionantes serão. Por isso, a coreografia foi cuidadosamente escolhida, em função das músicas.

Enquanto se trata apenas de fazer evoluir  a banda num estádio, mostrando impecável coordenação dos seus movimentos com os ritmos musicais, tudo pode parecer inócuo, inocente

Porém, as coisas não se ficam por aqui. Trata-se de public relations (PR) junto do povo a que pertence a banda e junto de outros povos, também. A perfeição da execução, tanto musical como coreográfica, destina-se a inspirar admiração e apoio à instituição militar.

O que está tão bem coordenado no "Tattoo", também o será, aquando de manobras militares a sério. É um raciocínio ilógico, mas funciona ao nível subliminar. É a mensagem implícita dos Tattoos e marchas militares, em todas as nações. 

Antigamente, as bandas militares acompanhavam os regimentos até ao campo de batalha, a pouca distância do inimigo. 
Hoje não é assim, claro, mas suas atuações continuam a infundir sentimentos patrióticos.
Neste século, em que a guerra se tornou num mero negócio de chacina, sobretudo de populações civis indefesas, em que a ameaça de guerra nuclear paira sobre todas as cabeças, ainda há público entusiasta nestas manifestações de militarismo. Muitas pessoas reagem de modo infantil perante estas exibições: Com as marchas e paradas militares, ficam empolgadas, querem logo seguir a banda e o cortejo militar atrás dela!

domingo, 21 de julho de 2024

DECLARAÇÃO DA OTAN E ESTRATÉGIA MORTAL NEOCONSERVADORA [Jeffrey Sachs]

 https://www.unz.com/article/the-nato-declaration-and-the-deadly-strategy-of-neoconservatism/

                     Foto: Biden discursando num encontro da OTAN, em Bruxelas


Em prol da segurança da América e da paz mundial, os EUA deveriam abandonar imediatamente o objetivo de hegemonia dos neocons, favorecendo em vez disso, a diplomacia e a coexistência pacífica.

In 1992, U.S. foreign-policy exceptionalism went into overdrive. The U.S. has always viewed itself as an exceptional nation destined for leadership, and the demise of the Soviet Union in December 1991 convinced a group of committed ideologues—who came to be known as neoconservatives—that the U.S. should now rule the world as the unchallenged sole superpower. Despite countless foreign policy disasters at neocon hands, the 2024 NATO Declaration continues to push the neocon agenda, driving the world closer to nuclear war.

The neoconservatives were originally led by Richard Cheney, the Defense Secretary in 1992. Every President since then—Clinton, Bush, Obama, Trump, and Biden—has pursued the neocon agenda of U.S. hegemony, leading theU.S. into perpetual wars of choice, including Serbia, Afghanistan, Iraq, Syria, Libya, and Ukraine, as well as relentless eastward expansion of NATO, despite a clear U.S. and German promise in 1990 to Soviet President Mikhail Gorbachev that NATO would not move one inch eastward.

The core neocon idea is that the U.S. should have military, financial, economic, and political dominance over any potential rival in any part of the world. It is targeted especially at rival powers such as China and Russia, and therefore brings the U.S. into direct confrontation with them. The American hubris is stunning: most of the world does not want to be led by the U.S., much less led by a U.S. state clearly driven by militarism, elitism and greed.

The neocon plan for U.S. military dominance was spelled out in the Project for a New American Century. The plan includes relentless NATO expansion eastward, and the transformation of NATO from a defensive alliance against a now-defunct Soviet Union to an offensive alliance used to promote U.S. hegemony. The U.S. arms industry is the major financial and political backer of the neocons. The arms industry spearheaded the lobbying for NATO’s eastward enlargement starting in the 1990s. Joe Biden has been a staunch neocon from the start, first as Senator, then as Vice President, and now as President.

To achieve hegemony, the neocon plans rely on CIA regime-change operations; U.S.-led wars of choice; U.S. overseas military bases (now numbering around 750 overseas bases in at least 80 countries); the militarization of advanced technologies (biowarfare, artificial intelligence, quantum computing, etc.); and relentless use of information warfare.

The quest for U.S. hegemony has pushed the world to open warfare in Ukraine between the world’s two leading nuclear powers, Russia and the United States. The war in Ukraine was provoked by the relentless determination of the U.S. to expand NATO to Ukraine despite Russia’s fervent opposition, as well as the U.S. participation in the violent Maidan coup (February 2014) that overthrew a neutral government, and the U.S. undermining of the Minsk II agreement that called for autonomy for the ethnically Russian regions of eastern Ukraine.

The NATO Declaration calls NATO a defensive alliance, but the facts say otherwise. NATO repeatedly engages in offensive operations, including regime-change operations. NATO led the bombing of Serbia in order to break that nation in two parts, with NATO placing a major military base in the breakaway region of Kosovo. NATO has played a major role in many U.S. wars of choice. NATO bombing of Libya was used to overthrow the government of Moammar Qaddafi.

The U.S. quest for hegemony, which was arrogant and unwise in 1992, is absolutely delusional today, since the U.S. clearly faces formidable rivals that are able to compete with the U.S. on the battlefield, in nuclear arms deployments, and in the production and deployment of advanced technologies. China’s GDP is now around 30% larger than the U.S. when measured at international prices, and China is the world’s low-cost producer and supplier of many critical green technologies, including EVs, 5G, photovoltaics, wind power, modular nuclear power, and others. China’s productivity is now so great that the U.S. complains of China’s “over-capacity.”

Sadly, and alarmingly, the NATO declaration repeats the neoconservative delusions.

The Declaration falsely declares that “Russia bears sole responsibility for its war of aggression against Ukraine,” despite the U.S. provocations that led to the outbreak of the war in 2014.

The NATO Declaration reaffirms Article 10 of the NATO Washington Treaty, according to which NATO’s eastward expansion is none of Russia’s business. Yet the U.S. would never accept Russia or China establishing a military base on the US border (say in Mexico), as the U.S. first declared in the Monroe Doctrine in 1823 and has reaffirmed ever since.

The NATO Declaration reaffirms NATO’s commitment to biodefense technologies, despite growing evidence that U.S. biodefense spending by NIH financed the laboratory creation of the virus that may have caused the Covid-19 pandemic.

The NATO Declaration proclaims NATO’s intention to continue to deploy anti-ballistic Aegis missiles (as it has already done in Poland, Romania, and Turkey), despite the fact that the U.S. withdrawal from the ABM Treaty and placement of Aegis missiles in Poland and Romania has profoundly destabilized the nuclear arms control architecture.

The NATO Declaration expresses no interest whatsoever in a negotiated peace for Ukraine.

The NATO Declaration doubles-down on Ukraine’s “irreversible path to full Euro-Atlantic integration, including NATO membership.” Yet Russia will never accept Ukraine’s NATO membership, so the “irreversible” commitment is an irreversible commitment to war.

The Washington Post reports that in the lead-up to the NATO summit, Biden had serious qualms about pledging an “irreversible path” to Ukraine’s NATO membership, yet Biden’s advisors brushed aside these concerns.

The neoconservatives have created countless disasters for the U.S. and the world, including several failed wars, a massive buildup of U.S. public debt driven by trillions of dollars of wasteful war-driven military outlays, and the increasingly dangerous confrontation of the U.S. with China, Russia, Iran, and others. The neocons have brought the Doomsday Clock to just 90 seconds to midnight (nuclear war), compared with 17 minutes in 1992.

For the sake of America’s security and world peace, the U.S. should immediately abandon the neocon quest for hegemony in favor of diplomacy and peaceful co-existence.

Alas, NATO has just done the opposite.


(Republished from Common Dreams by permission of author or representative)

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Pode ver o vídeo recente de diálogo sobre geoestratégia, entre Larry Johnson (antigo analista da CIA) e Pepe Escobar (jornalista brasileiro, baseado na Tailândia).
Veja também este vídeo, excerto de entrevista ao Prof. Jeffrey Sachs; é muito esclarecedor.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

DERROTA AUTO-INFLINGIDA DA HUMANIDADE


Em termos de biologia evolutiva, que deve abranger tudo o que se pode designar como ser vivo, dos alvores desde há 4 biliões de anos, até agora, a espécie humana não pode ser exceção. Na verdade, em termos de evolução, as forças «cegas» que impulsionam ou extinguem as espécies não têm «moral», não se pautam por considerações filosóficas e, ainda menos se sujeitam a estar conformes com teorias em voga. 

Porém, a evolução não estancou, não se fixou num tipo definitivo de ser humano, contrariamente ao mito arreigado e muito difundido, segundo o qual, não apenas a História social e política da Humanidade teria chegado ao fim, ou seja, haveria perpetuação da civilização mais ou menos semelhante à que se pode observar nos países de capitalismo avançado, social-democratas e liberais, como a própria natureza biológica teria chegado a um equilíbrio meta-estável, no qual a humanidade iria, de ora em diante, substituir a força física e a capacidade em arcar com dificuldades de toda a espécie, por uma humanidade mais «inteligente», no seu conjunto, com grande capacidade inventiva nos domínios da técnica. A evolução das sociedades e dos indivíduos iria dar-se, doravante, no plano da inovação tecnológica, não no plano anátomo-fisiológico. 

Nada mais falso do que esta visão. Porém, ela é propalada pela media corporativa e mesmo por correntes ditas «alternativas». É que as pessoas que escrevem, jornalistas e «opinion-makers», são, na sua maioria, bastante ignorantes em biologia e ainda mais, em biologia evolutiva.

Para mostrar que não houve nunca uma «paragem» da evolução «física» da humanidade, podemos referir algumas mudanças que ocorreram em tempos pré-históricos, mas recentes, como a perda da intolerância à lactose, nos povos do Norte, permitindo assim que ocupassem terras setentrionais cujos recursos alimentares (sobretudo os que são fonte de vitaminas) eram muito escassos - ou ausentes - durante o longo inverno. Nestes casos, a pastorícia, fornecendo leite e derivados do mesmo, permitia a esses povos sobreviver durante o inverno. 

Outra adaptação notável, é a que se verificou, separadamente, nas populações andinas e nas do planalto do Tibete. Em ambas as populações, ocorre a tolerância a um teor mais baixo de oxigénio atmosférico, causado pela rarefação do ar e da sua mais baixa densidade, nas zonas de grande altitude. Este teor mais baixo não os afeta: A sua adaptação permite-lhes ter atividades normais, porque o sangue pode absorver melhor e conservar mais eficientemente o oxigénio. 

Não se pode falar duma «raça» negra, muito simplesmente porque a quantidade de melanina presente na pele pode variar em muito pouco tempo, consoante a exposição aos raios solares (portadores de radiação UV, potencialmente nociva). Assim, as pessoas de tez branca, ditas «caucasianas» são descendentes de Homo sapiens, vindos de África há cerca de 60 mil anos, com pele escura. A perda de pigmentação pelas populações nas zonas europeias, ainda com clima glaciar (muito semelhante ao da Tundra siberiana de hoje), foi permitir que esses povos obtivessem vitamina D, a partir de pró-vitamina D. Esta transformação necessita de luz UV. Como a melanina interfere com a absorção dos raios UV, a quantidade em excesso desse pigmento, de vantajosa para proteger de um excesso de raios UV, tornou-se um obstáculo à obtenção de vitamina D em quantidades satisfatórias. 

Existiram, em tempos históricos e continuam nalguns pontos, zonas infestadas pela malária, quer na bacia Mediterrânica, quer em várias zonas de África subsaariana. Esta doença* está correlacionada com o vetor de sua propagação por uma espécie de mosquitos, mas cujo agente infeccioso é um protozoário (ser unicelular com algumas características que o aproximam dos animais).

No entanto, os humanos que existiram e existem nestas zonas, conseguem tolerar melhor a doença, através de uma mutação da hemoglobina, cujo gene - no estado heterozigoto, ou seja, alelo normal/alelo mutante - não confere sintomas, mas em estado homozigótico - os dois alelos do gene têm a mutação - é gravemente debilitante. Na ausência de tratamento, é causa de morte precoce de bebés, ou crianças, que tenham  herdado de ambos os progenitores o mesmo gene. Portanto, em princípio, o gene mutante deveria ser muito pouco frequente, pois causaria enorme desvantagem  na população. No entanto, nas populações que vivem em zonas infestadas por malária, a taxa de sobrevivência é maior, se os progenitores forem heterozigóticos, ou seja, se tiverem um gene normal e um mutante. Quando os genes estão em condição homozigótica - as cópias dos dois progenitores são ambas mutantes - a doença genética é letal. Dá-se assim uma situação de equilíbrio dinâmico entre formas mutantes e não-mutantes dos genes da hemoglobina.  

Podemos dar muitos outros exemplos, que mostram que a espécie humana tem evoluído no sentido biológico: No sentido biológico, uma evolução é uma transformação que se fixa numa população e que é transmitida de geração em geração, com tendência para se manter, ou aumentar de frequência, se os fatores ambientais, que favorecem essas mutações, permanecerem. 

O «relaxamento» das condições de seleção ambiental seria o «reverso» da situação acima descrita, da resistência à malária. 

Tem-se observado um aumento da taxa de diabéticos, seja por transmissão de genes que favorecem o aparecimento desta doença, seja pela nutrição inadequada, em geral desde a infância, acabando por causar esta grave  doença. Ela é favorecida por múltiplos fatores ambientais e comportamentais, nomeadamente, pelos hábitos sedentários e pela ingestão de comida hiper calórica, causadora de obesidade. Os diabéticos hereditários (felizmente) são tratados e podem viver uma vida relativamente normal. Infelizmente, muitos deles reproduzem-se. Algumas formas de diabetes hereditária não se manifestam cedo na vida dos indivíduos. Seus portadores não sabem que são diabéticos e reproduzem-se; outros sabem, mas confiam que a medicina possa «eliminar» os males na descendência. De qualquer maneira, a taxa de diabetes tem subido de frequência, quer a forma hereditária, quer a forma de diabetes adquirida. A diabetes tem mudado de frequência, rapidamente, quer devido à disseminação de genes favorecendo  o aparecimento da doença, quer de hábitos alimentares que não existiam no paleolítico, ou seja, durante mais de 250 mil anos da existência da espécie Homo sapiens. 

No paleolítico, quando as pessoas não tinham excedentes de comida, em que a ingestão dum excesso era muito rara, as pessoas precisavam de armazenar reservas de energia, para longas caminhadas, para caçadas esgotantes e para os períodos de escassez alimentar. A capacidade de armazenar energia sob forma de tecido adiposo, era um fator importante de sobrevivência. Houve um nítido relaxamento das condições seletivas em que a humanidade viveu, na maior parte da sua história evolutiva. O que era positivo há 50 mil anos atrás, não é hoje, com certeza: Os humanos têm abundância de alimentos, em particular, nas sociedades ditas «desenvolvidas». Essa abundância não significa qualidade: a chamada «junk-food» (comida-lixo) invadiu tais sociedades e afeta - em especial - os jovens, atraídos pelo baixo preço e pela facilidade em adquirir tais alimentos. Os jovens já não aprendem os rudimentos da arte culinária em casa, pois seus pais e mães já não sabem, ou não têm tempo, para cozinhar.  

A comida industrializada é produzida para agradar ao paladar de milhões de consumidores, não para que seja preservada a saúde dos mesmos, por mais que a publicidade  diga o contrário. O principal motivo para a adição de conservantes, em toda a espécie de comida, é garantir um «tempo de prateleira» mais longo no supermercado: O prazo de validade de um item poderá ser dilatado, se for adicionado um conservante, ou vários, autorizado pelo organismo de controlo do governo. Muito pouco cuidado têm as pessoas em relação ao que estão a ingerir: Em geral, vão escolher o mais barato, aquilo que, segundo seu critério (equivocado), preenche os requisitos de maior qualidade, por mais baixo preço.  É assim que doenças crónicas (diabetes, obesidade, e outras) se propagam, mas também o cancro: A subida de todo o género de cancros é devida ao modo de vida completamente artificial. Este facto está amplamente demonstrado: Os fatores de risco de adquirir cancro e a prevalência dos diversos tipos de cancros são periodicamente avaliados nas nossas sociedades. Não se trata de doença em que as autoridades e o público tenham informação escassa, incerta, contraditória; antes pelo contrário. Porém, os lóbis da alimentação industrial são muito mais fortes  que a vontade dos governantes e legisladores, em fazer algo de positivo pela saúde da população. Também, no mesmo sentido, se exercem as pressões da indústria de saúde, das clínicas privadas, aos grupos farmacêuticos; possuem um poder de influência considerável. Por mais que digam, não é feita prevenção, ou educação do público, na proporção que seria desejável. Todo o seu esforço vai no sentido de manter a população na dependência do sistema de saúde exclusivamente curativo, pois é isso que lhes dá lucro. 

Veja-se o exemplo duma empresa farmacêutica dinamarquesa, que colocou no mercado um «medicamento-maravilha» para reduzir a obesidade, mas que afinal, tem imensos problemas associados. Está bem estabelecido que a obesidade se trata sobretudo com a educação, a mudança de hábitos, o acompanhamento dos doentes, a adequada informação e o ensinar das boas práticas de culinária. Nada disto tem efeito notável nos lucros das farmacêuticas, por isso será descartado pelas mesmas indústrias. Porém, essa empresa farmacêutica realizou chorudos lucros nas bolsas. Igualmente responsáveis são os governos corruptos que, não apenas autorizam essas substâncias (algumas perigosas) para emagrecer como vão pagar  o seu consumo. O que equivale, na prática, a darem um subsídio às empresas farmacêuticas, através de sistemas públicos. 

As  pessoas de países pobres, que vivem no limiar da pobreza, olham para a abundância de certas sociedades e sentem-se fascinadas, encaram essas sociedades como «modelo», tanto mais que tendem a ignorar, ou a descartar, os problemas que tais sociedades da abundância apresentam. 

O efeito do capitalismo da abundância sobre as populações do Sul global, faz com que sejam importadas atitudes de consumo das ditas sociedades da abundância. Ou, existindo geralmente uma classe média com um certo poder de compra nessas sociedades do Sul global, os padrões de consumo por ela adotados - copiando o padrão das sociedades ditas desenvolvidas -  vão ser desejados pelos mais pobres.  Estes, com fraca educação, confundem luxo, com o verdadeiro bem-estar.

A quantidade de desperdício é afinal um traço constante das sociedades contemporâneas, sejam elas «capitalistas» ou «socialistas». O seu padrão de produção e de consumo, totalmente insustentável, torna-se cada vez mais chocante. Isto porque, a pobreza e miséria alastram a olhos vistos, não apenas nos países ditos «periféricos». Também os países «do centro», as sociedades da opulência, transformam-se em sociedades duais, onde muitos não têm o suficiente para viver com um mínimo de dignidade, os pobres. E em percentagens crescentes, os que são completamente excluídos. Tal qual o que se verifica em países do Sul global. 

Nas grandes cidades do Brasil, por exemplo, existem condomínios de luxo, com favelas (bairros de lata) na proximidade imediata. Muitas das mulheres que fazem a limpeza e outros trabalhos domésticos nos condomínios de luxo, vivem nas favelas mais próximas. 

Não existe uma preocupação genuína em preservar a biosfera, pois os políticos ecologistas, tal como outros políticos, deixaram-se comprar, fazendo de conta que não percebem como têm sido usados para criar o ambiente necessário à tão propalada «transição energética». 

Sem dúvida, é possível desenvolver tecnologias sustentáveis, como eólicas ou painéis solares, para atender às necessidades dos destituídos, para melhorar seu padrão de vida.  Mas, isso implicaria que os grandes da distribuição elétrica, deixavam de ter largas faixas da população como clientes. Está fora de questão implementar estas soluções (viáveis tecnicamente), de armazenar localmente energia potencial, para alimentar os lares nas horas de menor ou de ausência de captação de energia solar.  Isso é feito em muitas aldeias - especialmente em África - que podem estar a distância proibitiva (em termos de custos) da rede elétrica geral. Claro que este modelo se pode aplicar, com modificações, nos ambientes urbanos de quaisquer sociedades. Assim, estas possuiriam capacidade de gerar e armazenar energia, com baixo custo. Mas, isso tiraria os benefícios das grandes empresas de distribuição de energia; e dificultaria o controlo do Estado sobre seus súbditos. 

É a dependência que gera a miséria, porque os poderosos têm toda a vantagem em ter vasto número de pessoas sob sua dependência. Muito poucos ou nenhuns dos dependentes de subsídios, da assistência dos Estados, se irão rebelar enquanto continuarem a subsistir graças às esmolas estatais. Muitos, sem meios de  subsistência, anseiam estar nas condições de dependência. Eles não sonham em montar uma empresa, que lhes permitisse ser fonte de rendimento próprio. Porém, o potencial para isso existe em muitos casos. A sua efetivação poderia traduzir-se em redes de cooperativas , dando um grau elevado de autonomia aos indivíduos e às comunidades.

A espécie humana tornou-se depredadora. Os meios que mobiliza para a sua civilização  sofisticada, a sua cada vez maior ambição de potência, de rapidez, de luxo, fazem com que a Natureza esteja constantemente  a ser destruída, irreversivelmente, numa escala crescente. 

As ideologias como o ambientalismo, dando prioridade às energias renováveis e a utopias tecnocráticas, que se abrigam por debaixo do slogan (idiota) de «zero carbono», são realmente écrans que separam tais «ecologistas», do comum dos cidadãos e da realidade. 

Há ocultação do que está realmente acontecendo. As zonas que têm um teor de lítio acima de certo nível estão a ser açambarcadas, compradas por grandes grupos, para satisfazer a procura desta matéria-prima para baterias. Estas, irão alimentar sobretudo os carros da classe alta, que poderá assim continuar a esbanjar sem má-consciência. Os Estados, a sua típica resposta, é de inteira subserviência aos interesses dos industriais. No passado também era basicamente o mesmo. A única diferença é que agora já não se trata do petróleo, mas do lítio. Vem a dar no mesmo, ou pior. Uma paisagem devastada pelas minas de lítio a céu aberto, será mais parecida com uma paisagem lunar, do que terrestre. O cúmulo desta estupidez, é que se calcula que o lítio «explorável» em toda a superfície da Terra, não chega - nem de longe - para a conversão a cem por cento, do parque  automóvel mundial. Então, porque fazer esses colossais investimentos, esse esventrar da Terra (incluindo a destruição de parques naturais e de paisagens protegidas)?     - A resposta é evidente; é pelo lucro. O Lucro é que manda. Ele é que decide se é, ou não, investimento a fazer-se. Nunca prevaleceu, no passado e no presente, o critério de beneficiar a humanidade, ou de permitir que as indústrias locais floresçam. Basta este exemplo, de depredação dos mais valiosos pedaços de natureza, em nome da «energia verde» (verde: Só tem o verde das notas de dólar!), para se compreender a estupidez e ganância do pensamento a curto prazo, não apenas de decisores políticos e industriais, mas também de engenheiros e funcionários de  instituições estatais e outras. 

Um Megaloceros giganteus (espécie extinta), imediatamente à direita de um homem; ao centro um alce e mais à direita, um veado vermelho.

O conceito de hipertelia aplica-se ao desenvolvimento tecnológico e económico das sociedades: A hipertelia é a propriedade de certas tendências evolutivas  se exercerem para além do seu nível máximo de eficácia, traduzindo-se assim num «handicap».

 É conhecido e muito citado, o exemplo duma espécie de veado (extinta) que tinha hastes tão desenvolvidas, que isso tinha consequências negativas para se deslocar, em ambientes de floresta.  

É provável que esta espécie tenha atingido a extinção, porque aquilo que conferiu, em certa etapa, uma vantagem evolutiva, se tornou num inconveniente demasiado grande. Com efeito, os veados desenvolvem as hastes para os combates entre machos, para decidir sobre os acoplamentos. O macho mais bem sucedido nestes combates, também é suscetível de ter a maior descendência. É um mecanismo muito direto de seleção, que favorece os portadores das hastes cada vez mais fortes e largas. Mas chega-se a uma situação limite, em que essas mesmas hastes são um inconveniente maior, para o macho poder deslocar-se em ambientes densamente arborizados. Muitos falecem, presos aos ramos das árvores onde suas hastes se prenderam de maneira irreversível.

Metaforicamente, a espécie humana, com sua sofisticação tecnológica, atingiu o ponto de hipertelia, ou seja, a tecnologia, permitindo-lhe satisfazer a vontade de sempre mais e melhor, leva a depredar o ambiente, de tal modo que a espécie se encontra em sério risco de desaparecer, em consequência direta da sua própria atividade.


 

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*) A malária é uma doença parasitária do sangue, provocada por um protozoário do género Plasmodium. Este parasita é transmitido através da picada de um mosquito (do género Anopheles). A malária é endémica em vários países tropicais, sendo potencialmente fatal se não tratada atempadamente.