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quinta-feira, 25 de julho de 2024

A CHINA NÃO ESTÁ A DESPEJAR DÓLARES .


... ESTÁ  A INVESTI-LOS EM APLICAÇÕES QUE NÃO SEJAM DOS EUA

A percepção de que a China estaria a perder parte do valor dos dólares, despejando as suas obrigações soberanas dos EUA, ou «treasuries»,  no mercado, não me parecia muito credível. Com efeito, a venda de treasuries iria ser feita a troco de dólares.  Por outro lado, muitas vezes o valor de mercado duma obrigação é abaixo do seu valor nominal. O que os chineses estão a fazer, em relação às treasuries, é antes deixar que elas cheguem ao fim do prazo, recebendo então o valor respetivo em dólares. Depois não irão investir esses dólares em obrigações ou ativos denominados em dólares. Estes são - de facto - controlados pelos EUA. Muitos autores, no entanto, pensam que a China vende as treasuries no mercado. Pensam que é assim que obtém dólares para comprar ouro. 
Porém, a China não está de-dolarizando, nem despejando euros, de forma direta. Todos os dias recebe muitos milhões, em dólares e em euros, resultantes das suas exportações. Ela está simplesmente desviando o fluxo de dólares (e euros) que recebe, para bancos e aplicações financeiras que não estejam ao alcance das sanções e extorsões dos EUA.
Na prática, está a transferir a custódia dos dólares e ativos denominados em dólares, para bancos chineses que - obviamente - lhes dão garantias. Os bancos ocidentais estão comprometidos com o roubo dos ativos russos. A China não irá deixar que lhe façam o mesmo.
Os EUA transformaram o dólar numa arma de guerra económica. O resultado foi que as autoridades chinesas responsáveis pelas finanças e comércio exterior encontraram uma estratégia para neutralizar tal ameaça. A  resposta tem sido brilhante. 
É por isso (e pelo fracasso das sanções e tarifas) que os neocons estão desesperados por lançar os EUA e seus aliados em novas aventuras bélicas contra a China.

Oiça a explicação pormenorizada no vídeo: ficará mais informado e compreenderá como se desenrola o processo, na realidade.


sábado, 17 de agosto de 2019

A AUSÊNCIA DE EMPATIA E O DOMÍNIO DE UMA CASTA

Talvez seja pretensioso e enfático naquilo que escrevo. Porém, as frases - despidas de sua retórica - têm um significado preciso. Não tenho um talento de comunicador que me permita agarrar o leitor e fazê-lo aceitar de bom grado as minhas teses. Não tenho esse talento e tenho a obsessão pela verdade. Sei que isto é coisa fora de moda, mas - para cúmulo - eu também não dou «um traque» pelas modas!

Mas aquilo que é fundamental hoje compreendermos é que as pessoas estão agrupadas em organizações piramidais, hierárquicas, colaborando na sua manutenção e permanência. Crêem que não existe outra forma de organizar o trabalho e - em geral - todas as actividades humanas. Incluem isso nos seus sistemas de valores e de crenças, que lhes é incutido desde a mais tenra infância, sem questionarem. 
Porém, seria fundamental as pessoas «saírem da casca». Para compreenderem o que fazem com elas, o que fazem delas. Não creio que este saber, em si mesmo, modifique a sociedade; porém, sem esse primeiro passo de tomada de consciência, será fútil qualquer tentativa de mudar profundamente a sociedade. Quando falo em mudança, é de mudança real: não em mais sofisticadas, ou mais disfarçadas, formas de escravidão!

Aquilo que as pessoas não compreendem é que os que dirigem os destinos de milhões de pessoas foram seleccionados por uma espécie de «selecção darwiniana perversa». Isto é, uma selecção darwiniana que não faz prevalecer os mais fortes, os mais sábios, os mais inteligentes, mas antes os mais perversos, os sem quaisquer sentimentos de empatia pelos seus semelhantes, os capazes - portanto - de tomar decisões totalmente erradas moralmente, com o sorriso nos lábios, sabendo perfeitamente que conduzirão o justo ao cadafalso, as famílias à miséria mais abjecta, os soldados a uma morte inglória no campo de batalha, etc... 
Porque, para estes monstros psicológicos que são os «grandes homens» (e «grandes mulheres»), as dores e sofrimentos dos outros não lhes importam nada: tudo o que lhes interessa, é a sua própria glória; é o tão desejado domínio sobre os outros, sobre um povo, uma nação, um reino, um império... 

As pessoas vulgares podem ter muitos defeitos: podem ter cobiça, serem mesquinhas, avaras, egoístas, etc. mas, num grau ou noutro, possuem capacidade de empatia humana. 
Algo dentro delas sofre com a visão do sofrimento alheio, sobretudo, se for alguém que conhecem, que estimam, que amam... evidentemente. Mas também sentem empatia por alguém que não conhecem, com quem nunca falaram, que sofre e elas apercebem-se desse sofrimento. Compreendem que essa pessoa sofre, imaginam esse sofrimento nelas próprias. A compaixão é esse sentimento nobre, perante o sofrimento, qualquer tipo de sofrimento. Isso é, porventura, muito humano e mesmo, mais ainda, pois os animais manifestam-no de forma inequívoca. 
Note-se que a empatia e a capacidade de compaixão não anulam - noutras circunstâncias - a ferocidade, a crueldade, face a inimigos. Mas as pessoas destituídas de compaixão, de empatia, psicopatas ou sociopatas, têm prazer em ver sofrer, seja quem for, sobretudo se isso os ajuda a alcançar o que desejam. Onde as pessoas «normais» recuariam, onde se absteriam de determinada acção, os psicopatas avançam. Isso, muitas vezes, é confundido com coragem, determinação, ou sentido de liderança.  

Portanto, a questão primeira e fundamental é a seguinte: um sistema que premeia os psicopatas e sociopatas, onde estes têm todas das hipóteses de alcançar o topo da pirâmide social, é um sistema - ele próprio - que estará segregando normas perversas, sociopáticas. Os que estão no topo, naturalmente, estarão interessados em manter o seu poder sobre a sociedade. Temos então o «darwinismo perverso» de que falei acima.
A segunda questão e correlativa, é que as pessoas restantes guardaram suas capacidades de empatia, de compaixão, de amar... embora este amor possa ser limitado a poucos entes. 
Estas pessoas, a imensa maioria, são completamente diferentes dos psicopatas, do ponto de vista biológico profundo: têm circuitos cerebrais que permitem a manutenção da espécie enquanto tal, não somente na reprodução (o amor nas parelhas, nos parentes, etc.) como também são capazes de realizar actos que não sejam vantajosos somente para elas próprias. Existem formas de solidariedade genuínas, onde não há qualquer esperança de retribuição do gesto solidário. 
As pessoas solidárias, numa qualquer sociedade, são aquelas que permitem a coesão do tecido social. São elas que dão o bom exemplo e «obrigam» as pessoas menos solidárias a adoptarem uma moral exterior solidária. O efeito geral é benéfico para a sociedade. 
A moral predominante no neo-liberalismo, porém, consiste no exacto contrário: é destrutiva, pois institui um «não valor», o egoísmo ou egocentrismo, enquanto forma, não apenas legítima, mas única e «sensata» de comportamento. A inversão chega ao ponto de uma pessoa naturalmente levada as comportamentos solidários, ser tida por débil, fraca, até mesmo «estúpida».
Mas, pelo contrário, uma sociedade será tanto mais sólida e seus membros terão um maior grau de auto-confiança e de confiança nas instituições, quanto maior for o grau de solidariedade não coerciva que exista. Quanto maior o grau de empatia, quanto mais cultivada a compaixão e quanto mais as pessoas se insiram harmoniosamente no colectivo, mais a sociedade no seu todo beneficiará. 
Para haver mudança do comportamento social, é necessário que seja compreendido todo o mal que tem sido feito pela ideologia neo-liberal, o que eu chamo «darwinismo pervertido», que tem feito as vezes de ideologia silenciosa dominante. É preciso que se compreenda como foi instaurada e mantida uma determinada ordem hierárquica, onde os mais velhacos, os sem escrúpulos, os mais destituídos de sentimentos altruístas, são quem vence a competição social e obtém os lugares cimeiros, não apenas com as associadas benesses materiais mas, igualmente, com o poder. 
Obviamente, irão exercer esse poder sobre todos os outros, de forma a extrair o máximo deles, e de forma a que esse poder se perpetue. Esta perpetuação implica que eles tenham de segregar uma «moral ao contrário», em que ser amável, solidário, cooperativo, etc... é fraqueza; onde o contrário disto, é ser «forte», é ter «espírito de liderança»!

Hoje em dia, no vasto Mundo, constato isso:
As sociedades mais estáveis, mais felizes e as mais produtivas (embora a produtividade não seja o mais importante!), são aquelas onde os comportamentos sociais são moldados mais pela empatia, ajuda, solidariedade e sentido cooperativo... 
Os países possuídos pela «não civilização» do consumo, são aqueles onde a escala de valores tradicionais deu lugar ao consumismo/materialismo completo e total, mesmo que, na superfície, as populações continuem a aderir às suas religiões. 
Pelo contrário, os países que souberam integrar a modernidade, sem descurar seus próprios valores e a sabedoria ancestral, são mais felizes, mais pacíficos, mais auto-confiantes.