quarta-feira, 13 de março de 2019

SAÍDA DE PESSOAL DIPLOMÁTICO DOS EUA, DA VENEZUELA, É UM MAU SINAL



                         

Ontem, Michael Pompeo, o Secretário do Governo Trump, decretou a retirada de todo o pessoal diplomático da Venezuela. Não creio que isso inclua os operacionais da CIA e das outras agências que estão apoiando as forças de oposição ao governo Maduro. Este é um sinal muito mau, em termos de perspectiva de uma actuação militar, em grande escala e com possibilidade de muitos mortos, como um bombardeio de Caracas, por exemplo. Numa circunstância dessas, o governo dos EUA não iria ter a possibilidade efectiva de garantir a segurança dos seus funcionários.
A agressão sob todas as formas, contra o governo legítimo de Maduro, atingiu o patamar mais elevado, com a sabotagem da rede eléctrica, cujo significado é muito claro; pretendem assim tornar a vida impossível aos milhões de cidadãos, pretendem propiciar o saque a supermercados e comércios, por forma a que a vida de todos os dias seja impossível, dado os comerciantes se irem embora; pretendem sobretudo, mostrar que têm capacidade em sabotar do interior as estruturas vitais de um país, mensagem sobretudo endereçada a um todo-poderoso exército, que se tem mantido do lado da legalidade, mas poderá (como no Chile!) bascular para o lado dos golpistas.
    
                  Blackout shuts down Venezuela’s oil exports
                  Acima: Uma artéria de Caracas durante o «apagão» 

A estratégia do imperialismo em relação à Venezuela tem sido clara:

  • Criar uma série de obstáculos através de sanções económicas e outras, sem porém cortar relações diplomáticas (fase do processo que tem já mais de uma dezena de anos).
  • Estrangular economicamente a Venezuela através de embargos de todo o género de mercadorias, desde material com uso militar até artigos de medicina e alimentos.
  • Fomentar o mercado negro desses produtos, que somente poderão ser adquiridos a troco de dólares. Assim, colocam em ruptura o abastecimento normal do país, infelizmente demasiado dependente de compras ao exterior, para toda a espécie de bens e mesmo de alimentos. Por outro lado, o desenvolvimento do mercado negro provoca a descida acelerada do Bolivar – a divisa do país – e inicia-se a fase de híper inflação.
  • A oposição, constantemente apoiada e financiada, exige eleições; estas têm lugar, mas a mesma oposição boicota-as, alegando que não são «democráticas». Isto passou-se assim, apesar dos observadores declararem que as eleições tinham sido regulares e de – aliás – ter havido uma candidatura de oposição, que se apresentou a escrutínio.
  • Uma campanha internacional insistente para deslegitimar o governo do presidente Maduro, em paralelo com o fomentar de manifestações de rua, cada vez mais violentas.
  • A declaração, em perfeita coordenação com Michael Pence, vice-presidente dos EUA, de que Guaidó – que fortuitamente, era presidente do parlamento- seria, daqui por diante, o Presidente-interino da Venezuela. Esta manobra tinha como objectivo criar um movimento de deslegitimação de Maduro, pelos acólitos dos EUA (dignamente, a Itália recusou).
  • A política de sanções e de guerra económica atinge o cúmulo, com o roubo de mais de 20 biliões de dólares, pertencentes ao Estado Venezuelano, assim como a recusa pelo Banco de Inglaterra em autorizar o repatriamento de ouro venezuelano, do qual tem a custódia. Estes actos são tipicamente pirataria económica, são actos totalmente ilegais face à lei internacional.
  • A recente sabotagem da rede eléctrica pública da Venezuela, mostra como os imperialistas dispõem de meios de sabotagem, que poderão ser ainda mais gravosos e instaurarem o caos. O que fizeram agora tem a seguinte mensagem explícita: «Ou derrubam Maduro, ou nós fazemos ainda mais e pior, tornando a Venezuela um inferno ingovernável». Esta mensagem dirige-se sobretudo à casta militar.
  • A ordem de saída de todo o pessoal diplomático da Venezuela, por Pompeo, surge como preparação para uma invasão ou um ataque militar aéreo ou algo semelhante, em preparação e na eminência de ser executado. Retiram o seu pessoal diplomático – também- para evitar que este possa servir como refém, se a guerra com tiros e bombas rebentar.


terça-feira, 12 de março de 2019

DOIS BOEING 737-8 MAX DESPENHAM-SE EM CIRCUNSTÂNCIAS SEMELHANTES NO ESPAÇO DE SEIS MESES

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Destes dois aviões eram do recente modelo da Boeing, 737-8 MAX. O acidente mais recente, de Domingo 10 de Março, corresponde ao voo de Addis Abbeba para Nairobi, pelas Ethiopian Airlines, causando 157 mortes, sem sobreviventes. O anterior acidente com este modelo de avião de transporte de passageiros ocorreu no mar de Java, em Outubro do ano passado. 
Abaixo, pode-se ler algumas observações dos peritos (retirado de notícia de newser):

  • A analista de aviação Mary Schiavo considera «Altamente suspeito». «Temos um modelo de avião recém-estreado que caiu duas vezes num ano. Isto soa o alarme na indústria de aviação, porque simplesmente isto não tem antecedentes."
  • Controlos automáticos: os investigadores vão querer saber se o sistema de voo automático do 737 obrigou o avião a descer a pique. O relatório preliminar do acidente no Mar de Java sugere que os pilotos não conseguiram saber como contrariar o sistema.
Verificou-se que o avião da companhia etíope, antes de se despenhar, se terá comportado como se estivesse na «montanha russa», causando náuseas aos passageiros.
....
Entretanto um número considerável de companhias aéreas interditam a utilização de aviões deste modelo, entre eles a China, o Brasil e Singapura... entre vários.
A 12 de Março, o blog Zero Hedge publicou a lista das companhias aéreas que possuem Boeings 737 e quais aparelhos estão em uso, e quais estão estacionados.
(tabela abaixo copiada de Zero Hedge)

Algo muito estranho se passa com este modelo da Boeing, pois os novos modelos de aviões de passageiros, em particular, têm vindo a oferecer mais e mais garantias de segurança, na competição para obterem fatias de mercado maiores. Não esqueçamos que as companhias aéreas (e não apenas os fabricantes de aviões) são responsáveis pelos desastres e as indemnizações às vítimas podem atingir somas astronómicas. Note-se que a indústria aeronáutica dos EUA tem perdido muitos segmentos do mercado, em particular para a AIRBUS e outros. 

CHELSEA MANNING RECUSA TESTEMUNHAR E É PRESA


Ver também:

https://ogmfp.wordpress.com/2019/03/09/chelsea-manning-de-novo-presa-por-recusar-testemunhar-contra-wikileaks/

actualização:
https://www.youtube.com/watch?v=8-SJByc9gks

segunda-feira, 11 de março de 2019

CONFLITO DO NOSSO TEMPO: IMPERIALISMO DOS EUA CONTRA LEGALIDADE INTERNACIONAL


Traduzido por Manuel Baptista para Observatório da Guerra e do Militarismo

Por Nicolas J S Davies


O mundo enfrenta muitas crises sobrepostas: crises políticas regionais do Caxemira à Venezuela; guerras brutais que assolam o Afeganistão, a Síria, o Iémene e a Somália; e os perigos existenciais das armas nucleares, das alterações climáticas e da extinção das espécies em massa.
Mas por baixo da superfície de todas essas crises, as sociedades humanas sofrem dum conflito subjacente e não resolvido sobre quem ou o quê governa o mundo e quem é que deve tomar as decisões críticas sobre como abordar estes problemas – ou até, se eles serão de todo abordáveis. A crise subjacente de legitimidade e de autoridade, que torna tantos dos nossos problemas quase de resolução impossível, é o conflito entre o imperialismo dos EUA e a legalidade.

Imperialismo, significa que um governo dominante exerce soberania sobre outros países e povos do mundo, tomando as decisões críticas sobre como devem ser governados e em que tipo de sistema económico estes deverão viver.
Por outro lado, o nosso sistema em vigor, de legalidade internacional, baseado na Carta da ONU  e noutros tratados internacionais, reconhece as nações como independentes e soberanas, com direito fundamental a governarem-se a si próprias e a negociarem livremente acordos sobre suas relações políticas e económicas, umas com as outras.  Segundo a lei internacional, os tratados multilaterais que tenham sido assinados e ratificados por larga maioria de nações, tornam-se parte estrutural da lei internacional, sendo vinculativa para todos os países, do mais pequeno ao mais poderoso.

Num artigo recente, “The Hidden Structure of U.S. Empire,” [A Estrutura Oculta do Império dos EUA], explorei algumas das maneiras pelas quais os EUA exercem o seu poder imperial sobre outras nações nominalmente soberanas, independentes, assim como sobre seus cidadãos.  Citei um estudo etnográfico de Darryl Li sobre suspeitos de exercerem terrorismo na Bósnia às ordens dos EUA, que revelava um sistema em várias camadas de soberania, em que as pessoas pelo mundo fora, não apenas são sujeitas à soberania dos seus países, mas também a uma tentacular soberania extraterritorial do império dos EUA.

Descrevi como Julian Assange, encerrado na embaixada do Equador em Londres e a executiva da Huawei, Meng Wanzhou, detida enquanto mudava de avião no aeroporto de Vancouver, são vítimas da mesma soberania  extraterritorial dos EUA, e tal como as centenas de «suspeitos de terrorismo» que as forças dos EUA raptaram e que foram levadas para prisões como de Guantanamo Bay e outras, para uma detenção indefinida e extralegal.

Embora o trabalho de Darryl Li  seja de grande valor, ao revelar as camadas de soberania realmente existentes, através das quais os EUA exercem o seu poder imperial, o imperialismo é muito mais do que um exercício de captura e detenção de pessoas noutros países. Muitas das crises internacionais actuais são resultantes desse mesmo sistema de soberania extraterritorial, tentacular, do império dos EUA.

Todas as actuais crises servem para demonstrar como é que os EUA exercem o seu poder imperial, como é que isto entra em conflito e sabota a estrutura da lei internacional, penosamente desenvolvida para a resolução das questões internacionais no mundo moderno, e como esta crise de legitimidade subjacente nos impede de resolver os nossos problemas mais graves neste século XXI, portanto, ficando todos nós em risco.


As Guerras Imperiais dos EUA Desencadeiam Violência no Longo Prazo e Caos

A Carta da ONU foi redigida no fim da IIª Guerra Mundial para prevenir a repetição da sangria em massa e do caos das duas Guerras Mundiais. O arquitecto da Carta da ONU, o presidente dos EUA Franklin Roosevelt, já tinha morrido, mas os horrores da guerra global estavam suficientemente frescos nas mentes dos líderes, para garantir que aceitavam que a paz era a condição essencial nos assuntos internacionais e o princípio fundador das Nações Unidas.
O desenvolvimento das armas nucleares mostrou a possibilidade duma guerra mundial futura destruir completamente a civilização humana e que portanto, nunca deveria ter lugar. Como disse Albert Einstein numa famosa entrevista, «Não sei como é que a Terceira Guerra Mundial será combatida, mas posso dizer-lhe o que vão usar na Quarta: pedras!»
Os líderes mundiais puseram então as suas assinaturas na Carta das Nações Unidas, um  tratado vinculativo, proibindo a ameaça ou o uso da força de um qualquer país contra outro qualquer. O Senado dos EUA tinha aprendido a lição amarga de recusar assinar o tratado da Liga das Nações, após a Primeira Guerra Mundial, votou pela ratificação da Carta da ONU sem reservas, por 98 votos contra 2.
Os horrores das guerras da Coreia e do Vietname foram ocasião de distorção da proibição do uso da força na Carta da ONU com forças da ONU ou dos EUA, lutando a «defender» novos Estados neo-coloniais, talhados a partir das ruínas do colonialismo japonês ou francês.

Mas após o fim da Guerra Fria, os líderes dos EUA e os seus conselheiros sucumbiram àquilo que o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev refere agora como o  “triunfalismo do Ocidente,”  a visão imperial dum mundo «unipolar» dominado, de facto, pelo único «super poder», os Estados Unidos. O império dos EUA expandiu-se economicamente, politicamente e militarmente, em direcção à Europa de Leste e os membros do governo dos EUA acreditavam que podiam finalmente «conduzir operações militares no Médio Oriente, sem terem de se preocupar com um desencadear da Terceira Guerra Mundial», como Michael Mandelbaum do Conselho para as Relações Exteriores declarava em 1990.

Após uma geração, os povos do Médio Oriente podiam ser perdoados por pensarem que estão de facto a sofrer a experiência da Terceira Guerra Mundial, visto que invasões sem fim, campanhas de bombardeamentos e guerras por procuração têm reduzido cidades inteiras, vilas e aldeias a ruínas e matado milhões de pessoas  no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Somália, Líbano, Palestina, Líbia, Síria e Iémene – sem um fim à vista, após 30 anos de guerra, sempre se espalhando, com toda as suas violências e caos.

Nenhuma das guerras levadas a cabo pelos EUA após o 11 de Setembro de 2001 foi autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU, tal como a Carta da ONU o exige, o que quer dizer que, ou violaram a Carta das Nações Unidas, como o Secretário Geral Kofi Annan admitiu no caso do Iraque, ou violaram os termos explícitos das resoluções do Conselho de Segurança, como no caso do mandato UNSCR 1973  para um «cessar-fogo imediato», um estrito embargo de armas e a exclusão duma «força de ocupação estrangeira sob qualquer forma” na Líbia, em 2011.

Na realidade, embora os lideres imperialistas dos EUA costumem usar o Conselho de Segurança da ONU para enfeite dos seus planos bélicos, arrogam-se o direito de tomar decisões sobre a guerra e a paz, por si próprios, usando argumentos políticos para justificar guerras que não têm um fundamento legal real, face à lei internacional.

Os líderes dos EUA mostram o mesmo desdém pela Constituição dos EUA, que têm para com a Carta e as resoluções da ONU. Tal como escreveu James Madison a Thomas Jefferson em 1798, a Constituição dos EUA «com prudente cuidado entregou a questão da guerra ao corpo legislativo», precisamente para evitar os tais abusos perigosos, quando o poder de decretar a guerra é exercido pelo ramo executivo do governo.

Mas, passaram-se décadas de guerra e milhões de mortes até que o Congresso dos EUA tivesse invocado a Lei dos Poderes de Guerra durante a guerra do Vietname, para que fizesse uso da sua autoridade constitucional para parar tais guerras ilegais e inconstitucionais. O Congresso, até agora, limitou-se à guerra do Iémene, em que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU) são os agressores principais e os EUA desempenham um papel de apoio, embora vital para esta guerra. Com um dos seus na Casa Branca, a maior parte dos congressistas republicanos continua a resistir, até mesmo a esta afirmação limitada de autoridade constitucional do Congresso.

Entretanto, uma proposta de lei, HR 1004, do representante Cicilline, para confirmar que o presidente Trump não possui autoridade constitucional para ordenar o uso de força militar dos EUA na Venezuela, tem apenas 52 subscritores (50 democratas e 2 republicanos). O senador Merkley introduziu uma lei semelhante no Senado, a qual aguarda ainda o seu primeiro co-signatário.

Os debates políticos que ocorrem nos EUA sobre a guerra e a paz, ignoram a realidade legal da Carta da ONU, antecedida pela “Renúncia em Fazer a Guerra Como Instrumento de Política Nacional” no Pacto de Kellogg-Briand de 1928 e a proibição de levar a cabo uma agressão da lei internacional comum, todas elas proibindo que os EUA ataquem outro pais. Em vez disso, os políticos dos EUA debatem vantagens e inconvenientes de um ataque dos EUA sobre um dado país, apenas em termos do interesse dos EUA e na sua forma redutora de pesar os prós e os contras políticos de uma situação. 

Os EUA utiliza a guerra de informação para diabolizar governos estrangeiros  e a guerra económica  para desestabilizar as nações escolhidas, para gerar crises políticas, económicas e humanitárias que possam servir de pretexto à guerra, tal como o mundo tem visto, de um país para o outro; agora, como podemos testemunhar com a Venezuela.
Isto são claramente acções e políticas de um poder imperial, não de um país soberano, agindo no respeito pela lei internacional.


Cortando O Ramo No Qual Estamos Sentados

Não passa uma semana sem que novos estudos revelem aspectos antes não mencionados da crise ambiental, que a espécie humana e o mundo em que vivemos, enfrentam. A totalidade das espécies de insectos pode ficar extinta dentro de um século, com a possível excepção das baratas e das moscas domésticas, desencadeando o caos ecológico pois as plantas ficarão não polinizadas, as aves e outros seres irão sofrer após o desaparecimento dos insectos o mesmo destino de extinção em massa. Metade das populações terrestres de mamíferos, peixes e répteis já desapareceu nos passados 40 anos.

As alterações climáticas podem provocar uma subida do nível do mar de seis ou oito pés, neste século – ou serão 20 ou 30 pés? Ninguém pode saber, ao certo. No momento presente, já é demasiado tarde para preveni-lo. Um recente artigo de Dahr Jamail em Truthout, intitulado “Estamos a Destruir o Nosso Sistema de Sustentação da Vida” é uma boa revisão daquilo que realmente sabemos.

De um ponto de vista prático, tecnológico, a transição necessária para energias renováveis das quais pode depender a nossa sobrevivência, é inteiramente realizável. Então o que impede o mundo de levar a cabo esta transição crítica?
Os cientistas compreendem os aspectos básicos do aquecimento global induzido pelos humanos desde os anos 1970. A Convenção Sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas (UNFCCC) foi negociada em 1992 na Cimeira da Terra de Rio e rapidamente, com cortes maiores impostos aos países desenvolvidos que são os mais responsáveis pelo problema. Mas há um país ausente: os Estados Unidos. Somente os EUA, Andorra e o Sudão do Sul não ratificaram o Protocolo de Quioto, aos quais se juntou o Canadá, que se retirou deste em 2012.

Muitos países desenvolvidos reduziram substancialmente as suas emissões de carbono aquando da primeira etapa do Protocolo de Quioto e a  Cimeira de Copenhaga de 2009  foi planeada para elevar a estrutura legal, no seguimento de Quioto. A eleição de Barack Obama levou muitos a acreditar que os Estados Unidos, a nação historicamente responsável por maior quantidade de emissões de carbono, iria finalmente unir-se ao plano global para resolver este problema.

Em vez disso, a condição para a participação dos EUA foi a insistência em objectivos não-vinculativos, voluntários em vez dum tratado com obrigação de cumprir as metas. Então, enquanto a União Europeia (UE), a Rússia e o Japão apontaram objectivos de reduções da ordem de 15-30% sobre seus níveis de emissões em 1990, para 2020 e a China apontou para uma redução de 40-45% das suas emissões em 2005, os EUA e o Canadá apenas se comprometeram a reduzir de 17% as suas emissões, em relação aos níveis de 2005. Isto significa que o objectivo dos EUA era cortar apenas de 4% suas emissões relativamente ao seu nível de 1990, enquanto quase todos os países desenvolvidos apontavam para níveis de 15-40%.

Acordo Climático de Paris baseava-se no mesmo modelo de objectivos voluntários, não-obrigatórios, tal como o Acordo de Copenhaga. Com a fase final do Protocolo de Quioto expirando em 2020, nenhum país terá qualquer obrigação internacional de reduzir as emissões de carbono. Os países e povos genuinamente empenhados na transição para formas de energia renovável estão a avançar, enquanto os outros não estão. A Holanda aprovou uma lei exigindo que as emissões de carbono sofram uma  redução de 95% dos seus níveis de 1990, em 2050, e decidiu banir  a venda de carros a gasolina e a diesel após 2030.  Entretanto, nos EUA as emissões de carbono apenas desceram de 10% desde que atingiram um máximo, em 2005 e – mesmo – chegaram a subir de 3.4% em 2018.

Tal como as leis internacionais que proíbem a guerra, os EUA recusam ficar obrigados por acordos internacionais relacionados com as alterações climáticas. Têm usado do seu poder imperial para dificultar acções internacionais relativas ao clima a cada passo, para preservar ao máximo do tempo possível, a economia baseada em combustíveis fósseis. O «fracking» e o petróleo de xisto foram largamente expandidos no seu território e elevam a produção para níveis recorde, gerando ainda mais gases de efeito de estufa que os métodos tradicionais de exploração de petróleo e de gás.

As políticas ambientais destrutivas, possivelmente suicidas, são racionalizadas pela sua ideologia neoliberal, que eleva «a magia do mercado» a um quase-religioso artigo de fé, escudando as políticas e a economia nos EUA de qualquer aspecto da realidade, que colida com os interesses estreitos das corporações, cada vez mais monopolistas e do 1%, a classe no poder, representada pelos Trump, Obama, Bush e Clinton.

No corrupto «mercado» da politica e dos media dos EUA, os críticos do neoliberalismo são menosprezados como ignorantes e heréticos; os 99%, o tal «povo Americano» tão aclamado, são tratados como sujeitos inferiores destinados a serem passivamente conduzidos como rebanho, da TV à câmara de voto, ao Walmart (ou ao Whole Foods)  e – de vez em quando – à guerra. A bolha do mercado de acções prova que tudo vai bem, enquanto a economia neoliberal destrói o mundo natural cuja real magia nos sustenta a todos.

O imperialismo EUA é portador e disseminador do vírus do neoliberalismo aos quatro cantos da Terra, ao ponto de destruir o mundo natural que nos sustenta a todos: o ar que respiramos; a água que bebemos; o solo que produz o nosso alimento; o clima que torna o nosso planeta habitável; e as extraordinárias criaturas como nós que até agora, têm partilhado e enriquecido o mundo onde vivemos.


Conclusão

Tal como Darryl Li observou  nos casos dos suspeitos de terrorismo que estudou, os EUA exercem uma soberania imperial, extensa, extraterritorial.  Não reconhecem limites geográficos permanentes à sua soberania imperial. Os únicos limites que o império dos EUA aceita, contrariado, são os limites práticos que países fortes conseguem estabelecer, ao defenderem-se contra o peso daquele poder.

Mas os EUA trabalham sem descanso para continuar a expandir a sua soberania imperial e diminuir a soberania dos outros, para fazer tombar a balança do poder ainda mais a seu favor. Eles obrigam cada país, que queira defender qualquer aspecto de sua soberania ou independência em contradição com os interesses comerciais ou geo-estratégicos dos EUA, a lutar pela sua soberania a cada passo do seu caminho.

Isto vai desde as pessoas que, no Reino Unido resistem às importações vindas dos EUA, de carne com hormonas e de frangos clorinados e à privatização por etapas do seu Serviço Nacional de Saúde, pela indústria de «saúde» dos EUA, até às lutas do Irão, da Venezuela e da Coreia do Norte para travarem ameaças específicas de guerra dos EUA, que entram em flagrante violação da Carta da ONU.

Para onde quer que olhemos no nosso mundo conturbado, para questões de guerra e paz ou para a crise ambiental, ou outros perigos que enfrentamos, encontramos sempre presentes estas duas forças e sistemas: o imperialismo dos EUA e a lei internacional, em conflito um com o outro, procurando obter o direito e o poder de tomar decisões, que irão moldar o nosso futuro. Ambos reclamam implícita ou explicitamente uma universalidade que nega a autoridade do outro, o que os torna mutuamente incompatíveis e inconciliáveis.

Então aonde isto leva? Aonde pode possivelmente levar?  Um sistema tem de ceder perante o outro, se quisermos resolver os problemas existenciais que a humanidade enfrenta no século XXI. O tempo é curto e não restam dúvidas sobre qual o sistema que oferece possibilidades ao mundo de ter um futuro de paz e sustentável.


Nicolas J S Davies é o autor de Blood On Our Hands: the American Invasion and Destruction of Iraq. É um investigador para CODEPINK e um escritor «freelancer», cujo trabalho tem sido publicado numa série de órgãos de comunicação independentes, não corporativos.


domingo, 10 de março de 2019

LESTER YOUNG / BILLIE HOLIDAY - I COVER THE WATERFRONT

  


Faixa do último álbum do saxofonista Lester Young, desaparecido há 60 anos.
A versão cantada de Billie Holiday é apenas uma das várias gravações da canção feitas pela «Lady Day». 
Ela insistia em afirmar que Lester era apenas um amigo. Algumas das mais belas gravações da história do jazz integraram estes dois músicos. 
O filme  «Round Midnight», saído em 1986, foi em parte baseado na vida de Young.

sábado, 9 de março de 2019

SARAH VAUGHAN & BILLY ECKSTINE «I'VE GOT MY LOVE TO KEEP ME WARM»

«TENHO O MEU AMOR PARA ME MANTER QUENTE» 

O dueto fantástico interpreta canção do genial Irving Berlin
Oiçam uma das mais optimistas canções de todos os tempos!



The snow is snowing and the wind is blowing
But I can weather the storm!
What do I care how much it may storm?
For I've got my love to keep me warm
I can't remember a worse December
Just watch those icicles form!
Oh, what do I care if icicles form?
Oh, I've got my love to keep me warm
Off with my overcoat, off with my glove
I need no overcoat, I'm burning with love!
My heart's on fire, the flame grows higher
So I will weather the storm!
What do I care how much it may storm?
Oh, I've got my love to keep me warm
The snow is snowing, the wind is blowing
But I can weather the storm!
What do I care how much it may storm?
Oh, I've got my love to keep me warm
I can't remember a worse December
Just watch those icicles form!
What do I care if icicles form?
Oh-ho-ho, I've got my love to keep me warm
Off with my overcoat, off with my glove
I need no overcoat, I'm burning with love!
My heart's on fire, the flame grows higher
So I will weather the storm!
What do I care how much it may storm?
Oh, I've got my love to keep me warm

Songwriter: Irving Berlin

sexta-feira, 8 de março de 2019

REFLEXÃO: AQUILO QUE PASSA POR POLÍTICA...


Quando os sacerdotes bufões da media falam, incitando as pessoas a pensarem isto ou aquilo, a rejeitarem A e seguirem B, ou vice-versa, desde que sejam sempre passivas… eu tenho tendência para virar a cara para o lado. É que me dá uma náusea, uma sensação de enjoo. Devo ser um caso muito especial, pois senão eles/elas – mediáticos/as – estariam órfãos/órfãs de público.

Aquilo que verifico, afinal, é que todos estes «cientistas» de pacotilha conseguem açambarcar a atenção dum número considerável de pessoas, apenas usando as técnicas de «public relations» e da psicologia mais trivial, mas sempre eficaz. Aliás, estas técnicas manipulativas são eficazes, sobretudo pela simples razão de que têm um público cativo, previamente condicionado, tornado passivo.

A principal questão política - ou sociológica, se se preferir- é que, nas sociedades desta era de consumo de massas e de democracia "representativa", tudo é feito para afastar as pessoas de uma verdadeira intervenção na vida pública.
Os «especialistas» de tudo, ou seja, os «doutores da treta», encarregam-se de «pensar por nós», de falar e escrever o que lhes apetecer, nos seus termos. 
Aquilo que fazem ou dizem é relevante apenas porque lhes foi concedido o monopólio da palavra e da presença nos écrans; os restantes membros da comunidade, os que teoricamente são também cidadãos, apenas têm que ouvir e calar. Dizem-lhes: «vão votar»! Ao mesmo tempo que reduzem ao acto de votar toda e qualquer participação da cidadania, negam-lhe o conhecimento real e verdadeiro das escolhas que lhes apresentam … 
O cidadão é tratado exactamente como sendo menor mental: tal é o desprezo pela inteligência do cidadão-eleitor, que apelam ao voto com campanhas publicitárias feitas de imagens e slogans vazios. 

O sistema mantém-se pela passividade, pela exploração da tendência para a preguiça, pela ausência de curiosidade, da grande maioria. 
Este sistema está desenhado para funcionar na perfeição, com cidadãos apenas interessados em «resolverem» seus assuntos pessoais e seguirem os seus ídolos do desporto, da canção, do cinema… 
Estas formas de alienação funcionam por personificação. O  imagina-se na pele do seu ídolo: consegue aceder a um «estado de graça», identificando-se com o jogador no relvado, ou a cantora no palco, num cenário de sons e cores, etc…  
Assim, transformou-se o povo numa enorme multidão de adolescentes eternos/as, apenas desejosos/as de dar vazão a seus desejos, às suas pulsões. Tais pulsões implicam sempre o consumir, o usufruir dum estatuto especial ou «status», exclusivo duma «elite» do dinheiro. Não é preciso que este consumo seja óptimo, mas tem que ter a chancela mediática que identifica seus consumidores como gente privilegiada e que as outras invejam – supostamente - por não terem possibilidade de tal consumo de luxo, desse tal esbanjar, afinal. 

Assim, o sistema político-mediático que nos governa está permanentemente a inverter os termos daquilo que foi sendo consignado nas constituições e nas leis, ao longo de dois séculos e meio. Os textos legais permanecem, em muitos casos, mas são letra morta, porque não tem havido correlação de forças favorável a que se imponha o seu respeito. Este esvaziamento da democracia tem sido levado a cabo nos últimos 30 anos, pelas políticas ditas neoliberais no domínio económico, acopladas ao crescente autoritarismo político e à reconstituição dos privilégios para uma pequena minoria. 
É essencialmente contra este neo-feudalismo que têm lutado os movimentos sociais nos finais do século passado e primeiros decénios do presente século. 

A passivização do público, a sua transformação em seres pulsionais, em «crianças para toda a vida» é o objectivo dos defensores dos privilegiados. 
As pessoas estão condicionadas a pensarem os políticos como uma casta à parte: os que «sabem sobre todos os assuntos», que «têm ideais e que os defendem com ardor», que - por vezes - mentem, mas «que se lhes deve dar um certo desconto».
O que as pessoas não compreendem é que os políticos profissionais são pessoas comuns, com os seus defeitos e qualidades. Quando são entrevistados ou participam num evento público, têm por detrás o aconselhamento dos especialistas em imagem, têm gabinetes de apoio onde pessoas com valências técnicas, que eles/elas não possuem, lhes vão decifrar questões de economia, de saúde, de relações internacionais, etc. 
Assim, aquilo que dizem em público, será ou aparenta ser, profundo; sobretudo, será aquilo que seu auditório cativo, seu eleitorado e o público em geral, desejam ouvir.

Uma intervenção nesta política-espectáculo mais se pareceria com um jogo de espelhos. Tal intervenção seria análoga àqueles percursos labirínticos nas feiras, com espelhos que nos desorientam e nos fazem andar em círculo… 
A primeira coisa que alguém terá de fazer se deseja entrar neste jogo, é desfazer-se de qualquer prurido moral quando se trata de abocanhar um naco de poder, de influência, de visibilidade mediática… A segunda, será de escolher e seguir o líder, alguém com mais poder, em condições de favorecer o candidato, colocando-o numa lista em posição elegível.

Face a esta desoladora paisagem, face a este espectáculo de cinismo e ganância obscenas, as pessoas sensíveis...
- ou se recolhem num mundo pessoal, íntimo, cultivando seus «jardins secretos»; 
- ou se sentem desesperadas e descrentes de tudo e acabam por se auto destruir, pelas dependências a drogas e de um estilo de vida que acaba por desembocar no suicídio, muitas vezes. 
As pessoas com carácter forte, rebelde, não conformadas, por vezes adoptam uma postura quixotesca, sem qualquer esteio prático, porque não se inserem nas lutas sociais, na vida quotidiana de seus concidadãos e sonham com românticos Che, afinal um mito construído. 
Os restantes, os que escolhem o caminho estreito da resistência realista, mantendo-se próxima do sentir dos outros, sem se auto proclamarem como chefes, estes são demasiado poucos para serem capazes, por si sós, de inverter a tendência.

Embora tudo o que escrevi acima pareça de um pessimismo atroz, não o é, pois é a partir da constatação de uma dada situação, tendo identificado as nossas falhas de toda a ordem, que podemos encontrar os meios para se avançar. 
Não se trata de cruzar os braços e lamentar a nossa impotência, mas antes, de ver como ela foi construída, confeccionada pelos poderes, embora ela não seja uma fatalidade. Porém, um diagnóstico crítico e auto-crítico é necessário para desenharmos estratégias individuais e colectivas, que não terão de ser únicas, nem uniformes, mas que deverão ser confluentes. 
Esta será a metodologia capaz de contrariar e inverter, subvertendo a presente ditadura, que se reveste das aparências da liberdade e da democracia. 
Ela será realisticamente eficaz e alcançará a sua finalidade, se conduzir a que as pessoas se ergam e livremente, democraticamente, moldem o presente e o futuro de suas vidas e das sociedades.