Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quarta-feira, 1 de maio de 2019

ESPECIAL VENEZUELA



O golpe militar tentado pelos EUA, nos dias 29-30 de Abril do corrente ano foi derrotado. As forças militares venezuelanas continuaram fiéis ao presidente Maduro. Porém, este episódio mostra como as forças pilotadas à distância pelo Departamento de Estado, pela CIA e por outras agências dos EUA, no terreno, estão posicionadas para desencadear a guerra civil, neste país tão rico e tão sacrificado. Sem dúvida, que este processo é criminoso e a sua condução mostra até que ponto os defensores de Guaidó e outros fantoches dos americanos desprezam o próprio povo que dizem representar. Com efeito, a maioria do povo apoia consistentemente o governo Maduro e demonstrou esse apoio, agora mesmo, juntando-se muitos milhares, em torno do palácio presidencial. Lembremos que foi o povo que derrotou o golpe de 2002 contra Chavez. O então Chefe de Estado teve de ser solto, depois de ter sido preso pelos golpistas, devido ao facto da pressão popular ser demasiado forte. 
Aos inimigos da Venezuela e do seu povo, só restam a continuação do cerco económico, a constante propaganda com que inundam os media controlados por eles, a fabricação de uma oposição golpista. Pois eles sabem que a utilização directa da força militar dos EUA, mesmo que esteja maquilhada em operação para «restaurar a democracia na Venezuela», iria custar demasiado caro em homens e colocaria uma espécie de vulcão junto da «sua porta das traseiras». 
A guerra dos EUA na Venezuela é um exemplo de guerra híbrida e assimétrica, assistindo-se, ao longo de duas décadas, a uma escalada dos meios e da violência, tal como tem sido planeada pelos estrategas do Pentágono, da CIA e do Departamento de Estado. 
Nesta fase do processo, já se podem traçar duas conclusões, cujo significado ultrapassa o aspecto regional: 
- Primeiro, os EUA estão, de facto, a enterrar todo o edifício da legalidade internacional, penosamente erguido pelos diversos países dos dois lados da Guerra Fria Nº1. Esta deriva é longa, pois já ocorre desde a transformação da NATO num instrumento de agressão, em 1999 na ex-Jugoslávia. Não é fruto da política de Trump, especificamente. Embora Trump, acossado pelas facções contrárias internas que o acusam de ser um «peão» dos russos, tenha usado a política internacional como trunfo para se manter internamente fora do alcance dos seus opositores, que queriam a sua destituição. Ele, para evitar isso e para ter as mãos livres noutros aspectos da sua política, fez um «deal»: dava uma fatia substancial do poder no plano internacional aos neocons e ao aparelho do partido democrata, para - em troca - ter oportunidade de avançar com a reestruturação da economia americana.  
- Segundo, os aliados europeus dos EUA mantêm-se obedientes, em relação aos assuntos da América Latina. Efectivamente, seguem uma política externa do tipo «Monroe»: os assuntos do Continente Americano são essencialmente deixados à discrição do «Tio Sam». Aquilo que têm feito em relação à Venezuela, mais não é do que uma negação grosseira dos princípios elementares das relações de Estado a Estado, uma violação das normas internacionais da diplomacia, com o reconhecimento de Guaidó como o presidente legítimo, quando nem sequer foi candidato ao cargo, assim como um atentado às regras dos negócios internacionais quando retêm ou capturam a propriedade do Estado venezuelano, quer sob forma de ouro retido no Banco de Inglaterra, quer sob forma das contas bancárias com os pagamentos do petróleo venezuelano. Para eles, isso não lhe importa muito, pois os seus princípios são ajustáveis às conveniências: na medida em que se mostrem vassalos obedientes dos EUA, talvez beneficiem de um comportamento benevolente do hiper-império... 

Assim, como corolário destes dois aspectos acima,  o golpe em marcha na Venezuela não poderá ter um desenlace pacífico, que se traduziria pela negociação entre as diversas oposições e o regime, a não ser que houvesse uma mudança substancial no panorama internacional. Esta mudança teria de implicar um acordo entre EUA, Rússia e China, de partilha de esferas de influência (uma espécie de Ialta nº2), mas isto não está no horizonte. 
Veremos, mas parece-me que a evolução dos acontecimentos coloca como mais provável um cenário de guerra civil, o que seria péssimo para o povo venezuelano.

quarta-feira, 13 de março de 2019

SAÍDA DE PESSOAL DIPLOMÁTICO DOS EUA, DA VENEZUELA, É UM MAU SINAL



                         

Ontem, Michael Pompeo, o Secretário do Governo Trump, decretou a retirada de todo o pessoal diplomático da Venezuela. Não creio que isso inclua os operacionais da CIA e das outras agências que estão apoiando as forças de oposição ao governo Maduro. Este é um sinal muito mau, em termos de perspectiva de uma actuação militar, em grande escala e com possibilidade de muitos mortos, como um bombardeio de Caracas, por exemplo. Numa circunstância dessas, o governo dos EUA não iria ter a possibilidade efectiva de garantir a segurança dos seus funcionários.
A agressão sob todas as formas, contra o governo legítimo de Maduro, atingiu o patamar mais elevado, com a sabotagem da rede eléctrica, cujo significado é muito claro; pretendem assim tornar a vida impossível aos milhões de cidadãos, pretendem propiciar o saque a supermercados e comércios, por forma a que a vida de todos os dias seja impossível, dado os comerciantes se irem embora; pretendem sobretudo, mostrar que têm capacidade em sabotar do interior as estruturas vitais de um país, mensagem sobretudo endereçada a um todo-poderoso exército, que se tem mantido do lado da legalidade, mas poderá (como no Chile!) bascular para o lado dos golpistas.
    
                  Blackout shuts down Venezuela’s oil exports
                  Acima: Uma artéria de Caracas durante o «apagão» 

A estratégia do imperialismo em relação à Venezuela tem sido clara:

  • Criar uma série de obstáculos através de sanções económicas e outras, sem porém cortar relações diplomáticas (fase do processo que tem já mais de uma dezena de anos).
  • Estrangular economicamente a Venezuela através de embargos de todo o género de mercadorias, desde material com uso militar até artigos de medicina e alimentos.
  • Fomentar o mercado negro desses produtos, que somente poderão ser adquiridos a troco de dólares. Assim, colocam em ruptura o abastecimento normal do país, infelizmente demasiado dependente de compras ao exterior, para toda a espécie de bens e mesmo de alimentos. Por outro lado, o desenvolvimento do mercado negro provoca a descida acelerada do Bolivar – a divisa do país – e inicia-se a fase de híper inflação.
  • A oposição, constantemente apoiada e financiada, exige eleições; estas têm lugar, mas a mesma oposição boicota-as, alegando que não são «democráticas». Isto passou-se assim, apesar dos observadores declararem que as eleições tinham sido regulares e de – aliás – ter havido uma candidatura de oposição, que se apresentou a escrutínio.
  • Uma campanha internacional insistente para deslegitimar o governo do presidente Maduro, em paralelo com o fomentar de manifestações de rua, cada vez mais violentas.
  • A declaração, em perfeita coordenação com Michael Pence, vice-presidente dos EUA, de que Guaidó – que fortuitamente, era presidente do parlamento- seria, daqui por diante, o Presidente-interino da Venezuela. Esta manobra tinha como objectivo criar um movimento de deslegitimação de Maduro, pelos acólitos dos EUA (dignamente, a Itália recusou).
  • A política de sanções e de guerra económica atinge o cúmulo, com o roubo de mais de 20 biliões de dólares, pertencentes ao Estado Venezuelano, assim como a recusa pelo Banco de Inglaterra em autorizar o repatriamento de ouro venezuelano, do qual tem a custódia. Estes actos são tipicamente pirataria económica, são actos totalmente ilegais face à lei internacional.
  • A recente sabotagem da rede eléctrica pública da Venezuela, mostra como os imperialistas dispõem de meios de sabotagem, que poderão ser ainda mais gravosos e instaurarem o caos. O que fizeram agora tem a seguinte mensagem explícita: «Ou derrubam Maduro, ou nós fazemos ainda mais e pior, tornando a Venezuela um inferno ingovernável». Esta mensagem dirige-se sobretudo à casta militar.
  • A ordem de saída de todo o pessoal diplomático da Venezuela, por Pompeo, surge como preparação para uma invasão ou um ataque militar aéreo ou algo semelhante, em preparação e na eminência de ser executado. Retiram o seu pessoal diplomático – também- para evitar que este possa servir como refém, se a guerra com tiros e bombas rebentar.


sábado, 26 de janeiro de 2019

VENEZUELA: FABRICAÇÃO DO «INEVITÁVEL» GOLPE...


Começaram por fazer um boicote a todos os meios de subsistência da Venezuela. Lembram-se da «campanha do papel higiénico»? O boicote económico implicava que apenas se conseguiam coisas essenciais à custa de dólares e estes obtidos no mercado negro, a um valor múltiplas vezes superior ao câmbio legal. Foi assim que começaram a desencadear o ciclo infernal da hiperinflação. 
A Venezuela estava bem exposta a esse tipo de sabotagem, na medida em que - devido à bonança do petróleo - as pessoas recebiam ajudas do governo para praticamente tudo, o qual governo se abastecia de dólares no mercado petrolífero, distribuindo esses dólares aos comerciantes que os usavam na importação de bens de consumo. A partir de determinado momento, os comerciantes começaram a guardar os dólares, muitos deles, com certeza, fora do país, em vez de os trocar por mercadorias. Organizou-se a escassez, que levou à inflação e depois à hiperinflação.

A CIA esteve desde sempre associada na Venezuela com todo o tipo de contestação, desde a mais «política», à mais terrorista, à sabotagem económica, que culminou com uma série de sanções cada vez mais abrangentes, do governo dos EUA contra o Estado Venezuelano.
A guerra económica era apenas uma etapa para o golpe, para a substituição de Maduro por um Juan Guaido fiel e submisso aos seus patrões dos EUA: com 35 anos, preside ao parlamento, membro da oposição, não tem direito constitucional de tomar o cargo de presidente, visto que Maduro ganhou as eleições presidenciais, de forma totalmente legal, como foi decretado pelos juízes, que avaliaram (e descartaram) as queixas sobre o referido processo eleitoral.  
A utilização de países da América Latina (e do Canadá) como apoiantes do golpe, mostra claramente quais estão ao serviço do imperialismo, por sinal os que já tinham sido largamente favorecidos pelo «maná» vindo de Washington. 
Logo que se trata de subverter um processo democrático que escapa ao seu controlo, estes fantásticos «democratas» esquecem logo certos factos, relegados a «pormenores sem relevância» como, nomeadamente, de que uma grande maioria do povo venezuelano votou em eleições consideradas livres e legítimas e elegeu Nicolas Maduro.

É lamentável ver a falta de coragem de uma certa esquerda, sendo que as personagens que nos EUA realmente colocam as coisas em termos factuais são Paul Craig Roberts e Ron Paul.



Caitlin Johnstone trouxe ao nosso conhecimento o acto corajoso de Medea Benjamin, que realmente diz as coisas que os presidentes da Organização dos Estados Americanos não gostaram de ouvir, mas totalmente certas:


Fazer um golpe de Estado, não é solução, além de que é criminoso; é o caminho mais certo para desencadear uma guerra civil, uma tragédia. 
Apoiar um golpe de Estado é uma cobardia; quem sofre as consequências é o povo desse país, não os presidentes que nas suas poltronas lançam uns contra os outros e promovem o caos.