sábado, 4 de agosto de 2018

DAVID ICKE - VISITA GUIADA A LONDRES, CENTRO DE PODER

Cada um pode aceitar, ou não, a visão de David Icke, porém não se pode negar a existência dum «Estado profundo», que controla o funcionamento do Estado, a um nível muito mais relevante que o poder «visível», que os políticos eleitos, que o governo... 


Vejam atentamente, até ao fim, tem muita informação interessante!!! 

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

JAPÃO, CENÁRIO DA PRÓXIMA CRISE?

Muitas pessoas, mesmo relativamente instruídas em termos de políticas financeiras, ignoram tudo das contas públicas e finanças do Japão, a terceira economia mundial.

                       Banco de Japón transforma su política monetaria

O Japão, essencialmente, leva a cabo uma política de impressão monetária desde os anos noventa, com zero de sucesso. A sua política monetária consiste em tornar o yen muito barato, por forma a que os investidores internacionais procedam ao «carry trade» com o dólar ou outras divisas «fortes». Com isso, aumenta a competitividade dos seus produtos, sendo um dos maiores exportadores mundiais de  produtos industriais sofisticados. Mas, o modo como «embaratece» o yen é muito importante compreender, também: o banco central do Japão compra essencialmente toda a dívida em obrigações do tesouro, sendo um papel com um rendimento virtualmente zero (0,3%). Quando se está num ambiente em deflação, manter em carteira um activo com juro próximo de zero é aceitável, pois ainda assim o valor do activo não desce, mas quando a inflação começa da despontar, como agora, com 1% sendo previsto que atinja os 2% dentro de pouco tempo, qualquer investidor quer livrar-se das obrigações japonesas da dívida que apenas lhe trazem prejuízo. 
Ora, a situação presente é de que o serviço da dívida (pagamento do capital mais os juros) ascende a 24,1% das receitas de impostos, sendo que a inflação agora é somente de 1%. O BCJ (Banco Central do Japão) está a comprar todas as obrigações que aparecem no mercado, tendo para isso que imprimir triliões de yen. É certo que os juros pagos com o dinheiro do orçamento irão quase todos para detentores japoneses, o próprio Banco Central, fundos de pensões, investidores particulares... Porém, o  peso crescente da dívida no orçamento, torna o próprio funcionamento do Estado e da economia muito frágil: Bastaria a subida de 0,3% de juros para 1% de juros - provável, numa situação onde a inflação cresce -  para que praticamente a totalidade da receita de impostos seja devorada pelo serviço da dívida. Seria um cenário catastrófico. Caso a situação atinja esse ponto, a realidade do endividamento extremo das principais economias e Estados ao nível mundial será impossível de esconder do grande público. Pois, a realidade é que essa situação já existe e os governos e bancos centrais têm-se limitado a disfarçar o descalabro. Mas a ignorância do público, em geral, que se verifica mesmo nas economias mais afluentes, é o único facto que nos distancia de um colapso geral neste cenário, em que se acumularam triliões de dívida ... essencialmente impagável! 

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

CRÓNICA SINO-COREANA - PARTE III (EDUARDO BAPTISTA)

     
Na semana passada, explor​á​mos questões​ relativas ao​ povo Joseonjok de Yanji, com foco especial na relação que eles têm com a Coreia do Sul e com a China. Esta semana, desviamos o nosso olhar das duas grandes etnias da cidade de Yanji, coreana e ​h​an, para podermos concentrar-nos numa comunidade de imigrantes muito especial: os norte-coreanos de Yanji. Sim, para quem não saiba, há muitos norte-coreanos, vivendo tranquilamente fora das fronteiras do regime totalitário.

                            

Pessoalmente, acho irónico que só depois dos 20 anos é que tenha começado a aperceber-me como a Coreia do Norte é incorrectamente caracterizada por muita da média ​a​mericana, o que naturalmente influencia a média ​p​ortuguesa.
Antes, eu também fazia parte da distribuição de informação falsa ou exagerada sobre este regime. Ansioso ​por​ impressionar compatriotas portugueses, que nunca tinham conhecido um luso-coreano, muitas conversas decorriam desta maneira:
"Ah, não és chinês? Então esses olhos em bico vêm donde?" pergunta um bacano qualquer à frente do Bar 148, fornecedor das cervejas de meio-litro mais baratas do Bairro Alto. O tom dele é simpático, revela ignorância e ingenuidade, mas não tem conotação racista.
"É porque a minha mãe é coreana..."
"Do norte ou do sul?" responde ele com um sorriso malandro.
Eu respondo-lhe com outro sorriso, ainda maior. Tendo ouvido esta pergunta tantas vezes, a minha resposta já estava bem ensaiada; era uma que dava para puxar mais conversa.
"Mas estás maluco ou quê? Os do norte não podem sair do país, nem para viajar, quanto mais para emigrar."
"A sério? Mas então o que é que acontece se um deles tentar sair dali?" pergunta o meu ouvinte de boca aberta.
"Quase de certeza, vai ser apanhado, arrastado de volta para a Coreia do Norte, torturado e finalmente fuzilado. Ás vezes a sua família recebe o mesmo castigo!"
"É pá, isso nem a PIDE faria!"
E assim ​prosseguia​ a conversa, uma exageração após outra, até eu finalmente ​decidir alcançar os meus amigos que, entretanto se tinham distanciado,​ fartos da minha ​tagarelice​.
Proceder por generalizações, a torto e a direito,​ é marca da estupidez, enquanto a nuance é indício de maturidade e reflexão​. ​Espero ​afastar-me da primeira e aproximar-me da segunda​; ​espero que a história verídica de hoje vos motive​ a pesquisar mais acerca da Coreia da Norte, ​a ​questionar as narrativas da televisão … até mesmo​ a passar uma semana em Pyongyang. Tendo eu​ feito esta mesma viagem, garanto-vos que ela é perfeitamente segura, o passaporte português é visto lá com bons olhos.
                 

Em Yanji, o Hotel Ryugyong (류경호텔​   ​/ 柳京) não se esconde num qualquer beco. Não há nenhuma palavra-passe para entrar, ​ ​nem se vêm guardas armados​. Parece ​orgulhoso da sua identidade norte-coreana. ​ "Pyongyang" (평양/平) encontra-se​ em letras​ perfeitamente ​visíveis​ no letreiro.
Ao aproximar-me da porta giratória do hotel vejo, através do vidro, uma moça jovem a sorrir-me. Contente com esta recepção inicial, entro pela porta. A minha amigável anfitriã​, vestida de trajes tradicionais (​hanbok), cumprimenta-me​ em coreano e ​conduz-me​ para o segundo andar, onde se encontra o restaurante. A clientela parece ser composta quase inteiramente por norte-coreanos, nota-se apenas ​um casal chinês, uns turistas ​como eu.
A moça transfere-me para uma camareira alta, de olhar frio, que​ me​ ​conduz a uma mesa, rodeada por mesas onde estão instalados clientes norte-coreanos. Pergunto-lhe em coreano que especialidades me recomenda. Sem parecer preocupada, ou surpreendida com a minha pronúncia sul-coreana, responde-me: «massa de Pyongyang, tortilha​ coreana, carne de pato grelhada». Decidi-me pela opção mais barata e enquanto esperava, fui ouvindo os diálogos à minha volta, na minha língua materna: … Negócios com chineses e com josondjok, queixas sobre colegas, viagens de regresso a Pyongyang.
Estes norte-coreanos de Yanji parecem ter desprezo pelos​ chineses e falta de confiança no povo que partilha a mesma língua. Recordo ter ouvido uma conversa, aproximadamente assim​:
'Então, já fechaste o negócio com aquela companhia de Tumen (uma cidade que faz fronteira com a Coreia do Norte, a 50km de Yanji)?’ perguntou uma voz rouca, algo enfadada.
'Não sei o que está a acontecer, irmão, mas aqueles ​djosonjok ​[nome dado aos cidadãos chineses de etnia coreana] estão a demorar anos a finalizar o contrato...' respondeu de forma educada​ a​ outra voz, mais nervosa.
'É difícil confiar nessa gente...dizem que são coreanos, mas a verdade é que pensam como Han zu [a etnia ​maioritária​, constituindo 90% da população chinesa]; são matreiros, não penses por um segundo que eles ​nos veem​ como irmãos, ou ​o quer que seja​. Se eles não soubessem falar chinês, garanto-te que me mantinha bem afastado deles,' disse o mais idoso.
'Sim, precisamos deles mais do que eles precisam de nós. O que dava jeito era ter uma dessas tradutoras treinadas em Pyongyang para nos acompanhar nos negócios, estas miúdas daqui não aprendem nada, passam o dia inteiro a falar coreano e a servir pessoas como nós, o chinês que elas falam só dá para descrever os pratos e contar números,' desabafou o mais jovem.
'Nem sonhes com isso, as tradutoras são valiosas demais, o país precisa delas para o turismo, ou para ajudar na comunicação do partido com estrangeiros, Pyongyang não as iria desperdiç​ar em negócios pequenos, como o nosso;' o mais velho acendeu um cigarro, dando grandes bafos que passavam ​por cima das nossas cabeças​. ​Continuei de ​costas viradas, a ouvir, ocasionalmente ​fingindo ​que estava a falar ​em chinês​ ao telefone, para eles não suspeitarem ​de mim​.
'Se as cantoras lá de baixo pudessem passar uns anos a estudar chinês, talvez nem fosse preciso pedir ajuda a Pyongyang...' sugeriu o mais novo.
'Não sejas parvo! Achas que eles nos deixariam fazer isso? Essas raparigas são filhas de gente poderosa do partido,​ entendes? Achas que um general ou um ministro iria deixar a sua filha subordinar-se a um negociante? Nunca na vida!' ​exclamou​ o mais idoso, ​numa​ voz claramente ​enfadada​.
'Sim; mas, se calhar, até lhes fazia bem aprender chinês, pode ser útil no futuro, quem sabe...'
'Cala-te e não fales de gente que nos pode trazer problemas.' disse o mais idoso friamente, parando de falar durante alguns segundos, enquanto uma empregada de mesa passava por eles.
Acabada a refeição​ fiquei a pensar​: quem serão estas cantoras? Chamo a empregada, que me informa que todas as noites há um concerto, depois do jantar, ​em que atua​ um grupo de jovens muito belas, cheias de talento.
Pago a conta e desço, encontrando a moça do sorriso esplendoroso, que me leva até uma sala grande. Num palco iluminado por luzes holográficas fluorescentes, ​encontram-se quatro ​mulheres, das mais belas ​que já alguma vez vi.
Parecem ter saído de um conto de fadas; as suas saias são compridas, largas nas ancas, em tecido reluzente​ diferindo entre elas apenas na cor dos vestidos e nos instrumentos que cada uma toca. A de verde esmeralda empunha uma guitarra eléctrica, a de azul um saxofone, a de amarelo claro uma flauta, e a de cor-de-rosa um baixo eléctrico. As suas faces, perfeitamente maquilhadas, emitem um brilho pálido; suas expressões serenas ​dão uma certa solenidade à ocasião, como se isto não fosse meramente uma rotina diária, para ajudar à digestão do jantar de uns quantos turistas.
Pouso a minha mala no chão, com intenção​ de tirar a minha máquina fotográfica, mas reparo num cartaz ao lado do palco, onde está escrito em caracteres grandes: "Proibido tirar fotografias." Limito-me a aguardar o espectáculo sentado a uma das mesas vazias. No outro lado da sala, um grupo de turistas chineses ​parece estar entusiasmado​ com a actuação que se aproxima.
De repente, as luzes da sala escurecem e o quarteto dá um passo em frente. Uma faz o sinal de «O.K.» e a música de fundo começa a tocar.
A música não é nada parecida com a que se ouve nos canais de rádio do Ocidente. Os temas são clássicos e conservadores; as letras falam de paixão inocente entre dois amantes, de nostalgia pela terra natal, e de tristeza ​pelos pais envelhecerem​.
O fado português também se baseia nalguns destes temas, mas leva o sentimento de angústia até ao extremo, o que não é compatível com a placidez desta música. O descontrolo, que em doses​ pequenas, confere calor humano à música, é alheio totalmente aos valores éticos impostos pelo governo norte-coreano, ​​contrário​ a qualquer tipo de experimentalismo ou de libertação ​individual. Os versos falam sobre paixão sem introspecção, de tristeza sem que se considere jamais a autodestruição, ou duma nostalgia sem o pessimismo que a torna verosímil.​ Apesar de Yanji estar longe dos centros urbanos de Pequim e de Xangai, senti que estava a observar algo muito comercializado, ​como um anúncio muito bem produzido, mas que só consegue​​ aliciar os olhos do espectador, não o coração.


Todas elas possuem vozes de soprano, capazes de reproduzir o timbre de cantora de ópera. Mas não há ​teatralidade​ nesta atuação; elas não se deixam levar pelas emoções, mantendo sempre a mesma expressão serena e a coreografia sincronizada, um joelho alternando com o outro, a dobrar ligeiramente para dentro, de acordo com o ritmo da música. No fim de cada canção, elas trocam de posição no palco e de instrumento, mostrando-se​ capazes de executar peças ​com​ elevado grau de dificuldade.
Há uma perfeição mecânica na sua rotina bem oleada, ​de tal maneira que, ​de cada vez que um turista​ com ​um bouquet de flores sobe para o palco, obrigando uma delas a forçar um sorriso​ e a​ pegar no fardo perfumado e ​colocá-lo delicadamente num canto qualquer, o resto do grupo ajusta-se automaticamente, ou​ cantando​ mais alto para compensar, ou deixando a música de fundo tocar mais alguns segundos até​ ao​ próximo compasso, recomeçando então ao mesmo tempo, ​sem um piscar de olhos​ que seja. 
Entediado, olho para trás. Três empregadas de mesa, incluindo a moça do sorriso esplendoroso, estão sentadas numa mesa ao fundo, ocupadas a compor flores em bouquets para venda aos turistas. Ao lado delas, de pé, está o patrão do restaurante; um norte-coreano de calças pretas e camisa formal cinzenta, com os botões apertados até ao pescoço. Apesar dum corpo magro, a cara dele é larga e um pouco espalmada, algo realçado pelo seu corte de cabelo, rapado nos lados, com um bloco rectangular no topo. Observa a actuação de braços cruzados e sobrancelhas franzidas, um olhar de avaliador, em vez de apreciador.
Tendo decidido​ que tinha visto o suficiente, levanto-me e caminho em direcção à saída. O patrão vai ao meu encontro, substituindo o seu ar sério por um sorriso artificial de vendedor. Este matreiro, não sabendo falar chinês, só diz "​xie xie" ​mil vezes, ao mesmo tempo que gesticula com os dedos apontando as flores. Aceno ​com a​ mão (gesto que significa "não", em muitos países orientais) e faço cara de cansado, e ele afasta-se, retomando​ a sua pose de​ inspector.
Antes que eu ​chegue​ ás portas giratórias da saída do hotel, a moça de sorriso esplendoroso de repente aparece-me à frente. Parece estar preocupada com a minha saída.
"O patrão diz que parece não ter gostado do concerto; porqu​ê?" pergunta com exagerada curiosidade. Decido ser diplomático.
"Mas eu nunca disse isso! Adorei, achei as cantoras tão bonitas, cantam muito bem também," respondi, com um sorriso artificial, como o do patrão.
"Então porque é que não comprou flores?" perguntou ela num tom magoado, que parecia ser genuíno.
"Mulheres como aquelas quatro senhoras merecem que lhes ofereçam carros, não flores. Se eu não fosse apenas um pobre estudante estrangeiro, de certeza que lhes comprava um," respondi, na esperança que isto fosse ​dar uma conclusão à conversa.
A moça franziu a sobrancelha; não parece ter percebido o meu sentido do humor, mas aproveitei-me do seu estado de confusão para finalmente sair do hotel Ryugyoung.
Atravessei a rua, chamei um táxi usando a aplicação Didi e, ao fim de 2 minutos, um Audi A4 apareceu-me​ ​à​ frente. De dentro do carro, olhei uma última vez para as portas giratórias. A moça ainda lá estava, seguindo-me com os olhos, mas sem o sorriso esplendoroso ou a expressão amistosa, antes um olhar de desconfiança.
Reflectindo no que tinha feito, rapidamente tornou-se tudo muito óbvio​: o Hotel Ryugyong é um dos muitos estabelecimentos norte-coreanos na China vocacionados para gerar ​o maior lucro possível, para benefício do regime de Pyongyang​, que tem estado a sofrer por causa das sanções impostas pelo Ocidente. 



quarta-feira, 1 de agosto de 2018

J.S. BACH: PARTITAS E SONATAS PARA ALAÚDE (HOPKINSON SMITH)

Sonata I BWV 1001 1. Adagio 2. Fuga 3. Siciliana 4. Presto Partita I BWV 1002 5. Allemanda 6. Double 7. Corrente 8. Double 9. Sarabanda 10. Double 11. Tempo di Borea 12. Double Sonata II BWV 1003 13. Grave 14. Fuga 15. Andante 16. Allegro Partita II BWV 1004 17. Allemanda 18. Corrente 19. Sarabanda 20. Giga 21. Ciaccona Sonata III BWV 1005 22. Adagio 23. Fuga 24. Largo 25. Allegro Assai Partita III BWV 1004 26. Preludio 27. Loure 28. Gavotte en Rondeau 29. Menuets I & II 30. Bourrée 31.Gigue 32. Menuet II Hopkinson Smith, baroque lute

terça-feira, 31 de julho de 2018

RICARDO ROBLES: AO QUE TU CHEGASTE!

 A ganância é uma paixão humana, mas as pessoas com a postura pública de Ricardo Robles, não podem desculpar-se nisso, pois têm responsabilidade perante os seus eleitores e perante as muitas centenas de milhares de pessoas que têm sido desalojadas ou obrigadas a migrar para a periferia porque o negócio da locação turística e a especulação imobiliária tomaram conta da capital.
Robles não tinha o direito de fazer o que fez, não por ser ilegal, mas sim porque está em contradição flagrante com o programa e ideias defendidas pelo seu partido, o BE, para a Câmara de Lisboa. 
A direita pode usar o pretexto para atirar farpas e enlamear não apenas o  ex-vereador bloquista, não apenas o BE na sua direcção, como até fazer processos de intenção ao PCP que, neste caso, não tem absolutamente nada que ser envolvido. 
Mas com raiva e mesquinhez, certos plumitivos atiram-se, como «gato a bofe», maneira de dizer... a tudo o que «cheire a comunismo» e a «esquerda».

A tragédia do regime em deliquescência transcende em muito a figura deste vereador, lutando enquanto vereador por algo que ele próprio sabotava nos seus negócios privados. 
Poderia parecer o guião duma novela política, se não fosse a exacta realidade. Mas as figuras que circulam nos corredores alcatifados do poder, independentemente da sua ideologia, acabam por perder o senso comum, acabam por pensar que tudo lhes é permitido. Infelizmente, Robles não é o primeiro nem será -provavelmente - o último apanhado a fazer o contrário do que defende.

A democracia não pode ser um jogo verbal, em que as pessoas envolvidas não têm que dar «o corpo ao manifesto». Não podem fazer como cidadãos privados, o que condenam em termos públicos. 
Mas como isto está constantemente a acontecer, em maior ou menor escala, o sistema político acaba por ficar podre até à medula, corrompido de forma irreversível. 
A democracia não pode ser este regime partidocrático, em que uma «classe» se considera acima da lei, acima da própria moral. Lamento, mas não encontro, nem na esquerda, nem na direita, nem no centro... diferenças substanciais. 

O desafio para a cidadania é fazer uma democracia de participação, em que as pessoas eleitas o são, não porque foram escolhidas no interior de um colégio eleitoral interno aos partidos (no melhor dos casos), mas como MANDATÁRIOS, cujo desempenho do mandato é periodicamente posto à avaliação dos eleitores, não de  quatro em quatro anos, mas sim em reuniões presenciais e/ ou virtuais no mínimo, uma vez por trimestre. 
Este modelo de democracia funciona em pequena escala, há muito tempo, mas também foi ensaiado em escala muito maior, na grande cidade ou em províncias inteiras, envolvendo dezenas ou centenas de milhares de pessoas.
Mas o povo está apático, está descrente da democracia, sob qualquer forma. 
Irá, com certeza, acolher, mais dia menos dia, o próximo ditador... como sendo um salvador da pátria! 

- Os Ricardos Robles e companhia, que enxameiam a democracia pós 25 de Abril, podem-se orgulhar de terem participado na «inevitável ascensão» do novo Salazar!!!

segunda-feira, 30 de julho de 2018

BRICMONT DESCONSTROI O DISCURSO DE ONFRAY SOBRE ANTI-SIONISMO


Vídeo de Onfray que é criticado por Bricmont encontra-se  aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=P4yoO0esUkA


É para mim um choque ter ouvido o vídeo acima, sobre o qual Jean Bricmont, muito conhecido filósofo belga, exerce uma crítica,  que considero correcta, quer pela sua lógica, quer pela ética.
Realmente, não se pode ter «ídolos», sobretudo nesta época de conexões globais, em que os mais intransigentes defensores de conceitos e valores totalmente respeitáveis, como o caso de Michel Onfray, se transformam - de repente - em mercenários ao serviço de grupos de interesses (lobbies), dos mais dúbios. 
É o caso do poderoso «CRIF» em França, uma associação que supostamente defende os judeus contra crimes anti-semitas, mas que -sem dúvida- tem sido apologista do Estado de Israel, ainda por cima, assimilando qualquer crítica a Israel, a anti-semitismo. 
Este «estado de terrorismo mental», instaurado por organizações como o CRIF, tem mantido  a imprensa e os intelectuais calados,  perante os repetidos crimes do governo de Israel, das suas forças armadas, contra o povo palestiniano. 
É realmente uma forma de censura, de censura tanto mais intolerável que ela se vai imiscuir nas vidas académicas, nas carreiras jornalísticas, na própria vida política, cerceando o debate, cerceando a liberdade de opinião. 
A maneira como uma certa «esquerda bem-pensante» equaciona esta questão da liberdade de opinião é absurda, a meu ver. 
Se eu tiver em frente de mim alguém que defende argumentos anti-semitas (anti-judaicos), eu irei contrapor aos seus argumentos, os meus conhecimentos e a minha lógica. 
Não preciso, nem devo, impedir outrem de exprimir o seu ponto de vista, por mais contrário que eu seja ao mesmo. Se o meu interlocutor usar estratagemas, recorrer a falsificações, etc, eu tenho o dever de desmontar isso tudo, exactamente como o fez Bricmont, em relação ao discurso de Onfray, sobre o conflito israelo-palestiniano. 
Se alguém censura (elimina a voz) o outro, sob pretexto de que este difunde ideias «erradas», está a cair na negação do outro e isto é o ponto de partida do totalitarismo, quaisquer que sejam as etiquetas afixadas.
Digo, como Voltaire... «estou pronto a bater-me para que, aquele que tem as ideias mais contrárias às minhas, as possa exprimir livremente.» 

domingo, 29 de julho de 2018

O CULTO DO EGO: «GENERATION SELF»

Laureen Greenfield discute com Chris Hedges o culto do indivíduo, o hedonismo, em torno do filme realizado por ela.
Uma cultura que se difundiu pelo mundo.