Muitas pessoas, mesmo relativamente instruídas em termos de políticas financeiras, ignoram tudo das contas públicas e finanças do Japão, a terceira economia mundial.
O Japão, essencialmente, leva a cabo uma política de impressão monetária desde os anos noventa, com zero de sucesso. A sua política monetária consiste em tornar o yen muito barato, por forma a que os investidores internacionais procedam ao «carry trade» com o dólar ou outras divisas «fortes». Com isso, aumenta a competitividade dos seus produtos, sendo um dos maiores exportadores mundiais de produtos industriais sofisticados. Mas, o modo como «embaratece» o yen é muito importante compreender, também: o banco central do Japão compra essencialmente toda a dívida em obrigações do tesouro, sendo um papel com um rendimento virtualmente zero (0,3%). Quando se está num ambiente em deflação, manter em carteira um activo com juro próximo de zero é aceitável, pois ainda assim o valor do activo não desce, mas quando a inflação começa da despontar, como agora, com 1% sendo previsto que atinja os 2% dentro de pouco tempo, qualquer investidor quer livrar-se das obrigações japonesas da dívida que apenas lhe trazem prejuízo.
Ora, a situação presente é de que o serviço da dívida (pagamento do capital mais os juros) ascende a 24,1% das receitas de impostos, sendo que a inflação agora é somente de 1%. O BCJ (Banco Central do Japão) está a comprar todas as obrigações que aparecem no mercado, tendo para isso que imprimir triliões de yen. É certo que os juros pagos com o dinheiro do orçamento irão quase todos para detentores japoneses, o próprio Banco Central, fundos de pensões, investidores particulares... Porém, o peso crescente da dívida no orçamento, torna o próprio funcionamento do Estado e da economia muito frágil: Bastaria a subida de 0,3% de juros para 1% de juros - provável, numa situação onde a inflação cresce - para que praticamente a totalidade da receita de impostos seja devorada pelo serviço da dívida. Seria um cenário catastrófico. Caso a situação atinja esse ponto, a realidade do endividamento extremo das principais economias e Estados ao nível mundial será impossível de esconder do grande público. Pois, a realidade é que essa situação já existe e os governos e bancos centrais têm-se limitado a disfarçar o descalabro. Mas a ignorância do público, em geral, que se verifica mesmo nas economias mais afluentes, é o único facto que nos distancia de um colapso geral neste cenário, em que se acumularam triliões de dívida ... essencialmente impagável!
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