Durante todo o período que sucedeu à grande ruptura de 2007/2008, as opiniões públicas foram embaladas por vozes de sereia, que proclamavam uma espectacular recuperação dos mercados financeiros e das economias dos países do «Ocidente». Na realidade, o que é que se passou?
As sociedades ocidentais têm estado dominadas por um tipo de capitalismo designado por «crony capitalism», ou seja, capitalismo mafioso. Neste capitalismo, não funcionam as «regras de mercado», muito pelo contrário: Os mecanismos de formação de preços nos mercados financeiros - nas acções, nas obrigações, ou nos derivados - estão todos manipulados pela intervenção constante dos Bancos centrais, com o beneplácito dos governos e para maior salvaguarda, não das economias nacionais, mas das mega corporações, com projecção mundial.
A este estado de coisas soma-se, no «Ocidente», uma descida constante dos índices da «economia real», ou seja, os que revelam dados da produção de bens e serviços.
Sabemos bem que os países asiáticos se tornaram os fornecedores da maioria dos bens industriais no mundo inteiro, invertendo completamente a situação, relativamente à realidade de há cerca de 40 ou 50 anos atrás, em que as produções industriais estavam situadas, em maioria, na América e Europa.
Em muito poucas décadas, o Ocidente desindustrializou-se e o Oriente recebeu todo o tipo de indústrias, quer as tradicionais, quer as «de ponta», principalmente devido à política de deslocalização, levada a cabo pelos grandes industriais europeus e norte-americanos. Estes puseram seus lucros em primeiro lugar; não se importaram nada com a sustentabilidade das economias de seus próprios países.
Agora, acumulam-se sinais inquietantes de um excesso de confiança nas bolsas e no imobiliário.
Mas a economia real estagna, por mais que as estatísticas dos governos (quer dos EUA, quer da UE) sejam manipuladas, de maneira a dar impressão de que há uma recuperação.
Os empregos criados são de baixa qualidade, temporários, muitos deles, a tempo parcial.
A inflação é também manipulada para dar impressão de crescimento do PIB. Se houver uma subestimação acentuada do fenómeno inflação, os valores de aumento aparentes do PIB não serão corrigidos de forma adequada.
Os índices das bolsas também estão falseados, com a contínua auto-compra de acções pelas grandes empresas, as que detêm um peso importante nas transacções em bolsa.
Os bancos centrais, com os seus programas de «QE», também contribuem de maneira decisiva para esta falsa euforia.
Os grandes bancos - tal como nas vésperas do grande «crash» de 2008 - estão a emprestar muito pouco uns aos outros, o que indica desconfiança recíproca na liquidez dos mesmos.
Os especuladores continuam atirando capitais (que podiam ser para investimento produtivo) para a nova «túlipa-mania», as criptomoedas.
O aumento anunciado, em 4 etapas, das taxas de juro pela FED (Reserva Federal Americana, Banco Central - privado- dos EUA) irá provocar uma saída dos capitais investidos na Europa (e no Japão), atraídos pelas melhores taxas de juro do outro lado do Atlântico. A manter-se o programa anunciado, o resultado será catastrófico para o conjunto da UE. A única incógnita é saber-se quando é que a fuga de capitais para os EUA começará em grande escala: talvez ela seja visível já nesta Primavera e Verão de 2018. Esta saída de capitais irá provocar um abrandamento das actividades económicas, em todo o lado de cá do Atlântico, a poucos meses de intervalo.
Em particular, irão sofrer maior embate países como Portugal, muito dependentes de factores "voláteis" - como o turismo - para a sua recuperação, depois dos anos de austeridade forçada.
Claro que os EUA, a prazo, não irão «vencer» numa competição em que têm jogado a cartada de afundar os seus próprios aliados e parceiros mais chegados, os países europeus, principalmente.
Mas, transitoriamente, a sua economia parecerá mais atraente que as da União Europeia.