sábado, 15 de julho de 2017

DRA. HARRIET FRAAD - CAPITALISMO E DOENÇA

                                                       Vídeo conferência.
      «Como é que o capitalismo despedaça as nossas vidas».


Gostava que, não apenas os profissionais de saúde, mas todas as pessoas, ouvissem a Dra Harriet Fraad e reflectissem sobre as experiências numerosas que apoiam as suas posições. 
O factor importante da solidão, do isolamento, de não estar incluído numa verdadeira comunidade, é posto em relevo. Os não valores do capitalismo, são justamente apontados, fazendo com que os pais se alheiem da educação dos filhos; mesmo os pais que têm meios, criam filhos com imensos problemas.

A questão difícil é como fazer uma prevenção destas questões, em que consumo de drogas, obesidade, marginalização social,  desemprego, criminalização da pobreza, etc. estão todas relacionadas, numa teia.

Mas não devemos cair na conclusão de não há nada a fazer. 
A própria conferencista aponta o exemplo de comunidades de auto-ajuda, cuja mais antiga é os Alcoólicos Anónimos.

Penso que devemos compreender que um sistema classista - em que o lucro é o motor de todas as actividades - vai inviabilizar a institucionalização doutro sistema no seu interior, em que a solidariedade é o princípio fundamental. 
A destruição da sociedade e das pessoas individuais faz parte do capitalismo; não é uma disfunção, é fundamental no seu modo operatório .

Penso que se deve fazer uma crítica radical da medicina corporativa: ela construiu um tecnopoder (ou biopoder) destinado a perpetuar-se, consumindo sempre mais recursos, apenas possível porque se exerce em países afluentes, onde existem fundos acumulados, quer por indivíduos, quer pelos sistemas do «welfare state» no sentido lato, os seguros de saúde, o Serviço Nacional de Saúde, etc. 
 Os protagonistas da política, imbuídos das falsidades do capitalismo, pensam que, havendo mais subsídios, mais dinheiro disponível para equipar e melhorar as unidades de saúde, haverá  uma melhoria automática da saúde geral da população. 
O resultado global é que se verifica nas últimas décadas um aumento de esperança de vida nos países afluentes, mas não um aumento de anos com saúde ou com qualidade mínima.

Porém, a sociedade de consumo é patogénica, em si mesma, pelos mecanismos enunciados pela Dra Harriet e também pelo facto  de desprezar uma real educação para a saúde dos cidadãos. 
Seria perfeitamente possível promover e prevenir. Bastava que nos anos ensino obrigatório e nos media fossem postos em relevo os meios e estratégias de que dispomos para prevenir a maior parte das doenças. 

Com efeito, sabemos que pequenos gestos triviais  podem manter a saúde em todas as etapas da vida:
- caminhar todos os dias cerca de quarenta minutos, pelo menos. 
- cozinhar refeições equilibradas e saborosas. 
- evitar alimentos processados industrialmente.
- dormir as horas necessárias e num horário regular.
- evitar substâncias viciantes: álcool, tabaco, cannabis, tranquilizantes, anfetaminas, etc...

A sociedade capitalista é patogénica e isso significa que torna muito mais fácil fazer exactamente o contrário dos comportamentos acima apontados.

Uma cultura de autonomia e - em simultâneo - de integração dentro da comunidade são importantes hoje para preservar e cuidar da saúde. Mas, além disso, serão importantes na emergência doutro paradigma, dum socialismo vindo de baixo.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

A ESCRAVIDÃO* DE QUE NÃO SE FALA

 *[ A condição de escravo não implica que a exploração seja violenta, brutal, penosa, mas apenas que o trabalho não é remunerado, é uma obrigação do trabalhador, mas não do seu patrão. Este pode decidir dispensar o escravo quando quiser, pois não existe qualquer tipo de contrato.]

TRABALHO GRATUITO DE MESTRANDOS E DOUTORANDOS, PARA VANTAGEM DOS «MANDARINS» NA UNIVERSIDADE


Muitos estudantes de mestrado e de doutoramento são «obrigados na prática» a darem aulas gratuitas e mesmo a classificar trabalhos de alunos de licenciatura (ambas atividades que envolvem evidentes responsabilidades profissionais). 

                       Image result for slave trade

Existe legislação suficiente para caracterizar como criminosas estas práticas, aliás perfeitamente documentáveis. No entanto, nem os agentes do poder, nem mesmo o «contrapoder» dos sindicatos intervém. Porquê?
A cumplicidade ou conivência generalizada com um crime, a complacência com ele, torna-o ainda mais grave e hediondo. 
É um comportamento criminoso perfeitamente consciente o uso abusivo do trabalho gratuito de estudantes. O mais notório caso é o de atividades docentes, para as quais se exige legalmente qualificação e reconhecimento específico. 
Sem darem um combate eficaz a estas práticas, sem as exporem, de tal forma que os atuais beneficiários delas tenham vergonha e se inibam de continuar, não é credível que políticos declarem «que querem combater injustiças, trabalho precário», etc. 
Combata-se já a exploração e o trabalho escravo e precário de milhares de estudantes na universidade.



Algumas pessoas dizem - e outras repetem - que «é o sistema» ou ainda que «instalou-se uma cultura»: isso são apenas desculpas lançadas pelos beneficiários do trabalho gratuito, eles próprios. 

O facto de serem docentes universitários, não significa que tenham escrúpulos. Há pessoas que, quando atingem um certo estatuto, julgam que podem fazer praticamente o que quiserem e não ser incomodadas. 
Julgam-se acima da lei; é exatamente um sistema feudal. 

Mas num Estado de Direito isto é crime. Isto chama-se sobre-exploração / trabalho escravo / chantagem / assédio.

Em Portugal, não consegui obter reportagens sobre o assunto, o que não significa de modo nenhum que seja menos grave ou generalizado do que noutros sítios. Aqui, abaixo, deixo uma selecção de artigos que mostram várias facetas do problema.


Condição de escravo moderno:



Em Espanha, já a própria universidade reconhece em parte o problema:

Exploração miserável na Austrália:

Em França, estão organizados para combater este flagelo:

Em Portugal...nada! Se alguém, entretanto, souber de alguma notícia relativa ao assunto, peço me informe!

quinta-feira, 13 de julho de 2017

«O ESTADO... ESTÁ FORA DE PRAZO»

O Estado é uma complexa e tentacular organização que se instalou e consolidou paulatinamente, há uns 6000 anos. 
Sofreu as mais diversas formas e reformas, mas - na sua essência - continua a ser baseado no monopólio da força e coerção, sobre um povo ou vários povos, além de que tem o monopólio de «sacar tributo» ou seja de decretar impostos, sendo criminalizados todos aqueles que violenta ou pacificamente põem seriamente em causa este domínio hegemónico. 


O livro de Gregory Sams é muito original e a entrevista acima reproduzida dá conta disso. O entrevistador não poupa questões difíceis, faz o papel de advogado do diabo, todo o tempo... o que torna a entrevista viva e intelectualmente provocante.
Muitos autores de um vasto espectro têm criticado a construção autoritária do Estado, sem por isso pretenderem a abolição de toda a forma de autoridade, simplesmente vendo esta como emanação de baixo para cima, ou seja, das comunidades. Estas estão muito mais em medida de exercer uma certa coerção no seio da própria comunidade do que uma autoridade exterior, judicial ou policial. O autor também privilegia a justiça de tipo reparativo sobre a justiça punitiva, que prevalece ainda hoje.
Ele não se considera anarquista: porém, muitos anarquistas evolucionistas, por oposição às tendências revolucionárias, têm tido ideias semelhantes a Gregory. 
São pessoas pragmáticas, que preferem avançar para objectivos de maior justiça, liberdade e igualdade, a fomentar um cataclismo, que provavelmente iria desencadear a construção de um poder tão ou mais ditatorial e opressivo do que o que foi derrubado.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

«CADERNOS SELVAGENS»: 5 PRIMEIROS NÚMEROS + LINHAS-GUIA

      


  


O projeto «Cadernos Selvagens» prossegue - desde finais de 2016, como foi aqui noticiado neste blog - como o órgão* da «Fábrica de Alternativas». 
 O lançamento de cada número tem sido ocasião para pequenas sessões informais, onde se lêem algumas produções, se conversa sobre os conteúdos e sobre outros assuntos que venham a propósito.

Estas sessões têm lugar na sede da Fábrica de Alternativas, como no mês passado, para apresentação da edição de Junho de 2017 .

Em baixo, transcrevemos as ligações para o formato electrónico das edições anteriores. Estas podem ser adquiridas, na sua versão em papel, na sede da Fábrica de Alternativas, ver a localização aqui.


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*LINHAS-GUIA PARA OS «CADERNOS SELVAGENS»
Os Cadernos Selvagens (CS) não são propriedade de ninguém, são uma etiqueta (label) para identificar uma comunicação escrita sob forma digital ou em papel, cuja característica é a não-conformidade com a norma, a recusa de submissão a padrões ideológicos, morais, religiosos ou outros, a liberdade de crítica e de criação e o respeito absoluto pelos direitos e liberdades dos indivíduos.
A partir do número 4, os «CS» serão assumidos como revista da «Fábrica de Alternativas» de Algés.
- A Comunidade na forma da Assembleia da Fábrica de Alternativas escolhe o grupo redatorial desta publicação, composto por três pessoas, que terá de se submeter a estas linhas-guias 
LINHAS-GUIA PARA OS CADERNOS SELVAGENS 
(Será presente este texto, depois de corrigido e aprovado, em cada número da revista) 
- Antecedendo a saída de cada número (pensa-se, por enquanto, em 4 números por ano), será lançado um apelo a participação por vários canais de comunicação.
- Os conteúdos são decididos pelas pessoas que se disponibilizam a colaborar com os «CS», desde que os referidos conteúdos respeitem os seguintes princípios: 
- Não serão tolerados ataques pessoais, 
- Quaisquer apologia de ideias, sistemas ou credos contrários à dignidade do ser humano não serão tolerados, como sejam o racismo, xenofobia, sexismo, homofobia, etc. 
-Não serão permitidos textos anónimos, todos os textos devem ter menção do nome real do/s autor/res. Quanto aos textos colectivos deverá também ser mencionado o nome do colectivo que o redigiu, ou dos seus membros.
- O número de páginas não deverá exceder 40 no total, por edição (devido aos custos associados à edição em papel). Se o material destinado a publicação exceder esta paginação, serão escolhidos os textos a publicar, por ordem de chegada à redacção, sendo possível (com o acordo do receptivo autor) que os textos que não couberam numa dada edição sejam conservados para a edição seguinte.
- Cada número terá um editorial da responsabilidade do colectivo de redacção, ocupando uma página, no máximo. Todos os números terão uma pequena informação sobre a «Fábrica de Alternativas» (o que é; meios de contacto; morada; horários…) 
-Cada número terá uma crónica da «Vida na Fábrica de Alternativas» onde serão relatados os acontecimentos mais relevantes, como debates, iniciativas, concertos, etc. Este texto pode ser redigido, pelo grupo redatorial, mas também pelos protagonistas dessas actividades, como forma de estimular o conhecimento da Fábrica de Alternativas por um lado, como treino de reportagem de qualidade e como encorajamento a participação mais activa e reflexiva dos próprios intervenientes, por outro. Essa crónica deverá ocupar um máximo de 6 páginas (texto e imagens).
- Quaisquer textos serão da exclusiva responsabilidade de quem os assina. Os «CS» declinam quaisquer responsabilidades sobre informações incorrectas, ou outras falhas de conteúdo, com excepção dos textos produzidos pelo próprio comité redatorial dos Cadernos. 
- Cada número em papel será lançado numa pequena sessão de apresentação, onde a comunidade da Fábrica de Alternativa e seus amigos irão debater presencialmente determinados assuntos relacionados com a publicação. 
- A edição online de cada número só ficará acessível algum tempo após o lançamento da edição em papel. 
- Cada participante que veja editado material seu nos «CS» deverá, em princípio, contribuir financeiramente para custear a mesma edição. O seu contributo será proporcional ao número de páginas em que interveio. O produto da venda de cada número, uma vez deduzida uma quantia pré-determinada para a «Fábrica de Alternativas», irá ser repartido na mesma proporção em que contribuiu.
- Quaisquer divergências que surjam, com quem publicou ou pretende publicar textos nos «Cadernos Selvagens», serão resolvidas em diálogo com o grupo redatorial. Em última instância, decide a Assembleia da Fábrica de Alternativas.

ALIMENTAÇÃO E DOENÇA: O ALIMENTO COMO DROGA

A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA PADECE DE UMA GRAVE DOENÇA: A ALIMENTAÇÃO INDUSTRIALIZADA


Com a sofisiticação que conhecemos em medicina e biologia, pode-se medir no cérebro as respostas aos alimentos ou drogas em determinadas zonas e o efeito nestas, «remuneradas» com ondas de prazer (na realidade, neurotransmissores que ativam certos circuitos neuronais). São substancialmente parecidos, nos seus efeitos nos centros cerebrais do prazer, o sabor de um alimento açucarado e duma dose de droga (anfetamina, heroína, cocaína, cannabis, etc) 

Os industriais da alimentação jogam com um cocktail de moléculas, não apenas para obterem «sabores», mas também para conseguirem a adicção do cliente. 

                  

A Radio Canada apresenta um video de grande interesse para a saúde pública. Os médicos e pessoal de saúde confrontados com os maus hábitos alimentares da população (pelo menos em Portugal) costumam responder com aquilo que é de mais fácil aceitação para o público... tomar um medicamento, um comprimido para isto e para aquilo... 
O problema é que isto funciona objectivamente como reforço do comportamento adictivo, pois «desculpabiliza» o paciente em relação à quantidade e à qualidade do alimento ingerido. 

Tomando exemplo de mim próprio: há uns anos tive a notícia desagradável de sofrer de hipertensão e de ter de fazer tratamento sob pena de ter um ataque cardíaco. 
Receitaram-me estatinas, que eu tomei durante algum tempo. Mas as estatinas interferiam com outro medicamento que eu tomava regularmente (e não podia deixar de tomar). 
Por isso, em vez de continuar com as estatinas, decidi fazer uma  dieta rigorosa, limitando a ingestão de gordura animal, de acúcares, de gordura vegetal hidrogenada... 
Sem extremismos, tornei-me «vegetariano» a 80%, ou seja, ainda como carne e peixe, mas em proporção diminuta... 
Consegui não apenas sobreviver mas viver melhor, com tensão arterial normal e sem quaisquer drogas para baixar a tensão. Mas tive de exercitar a vontade, não comer em cafés e pastelarias a não ser em circunstâncias indispensáveis, ir muito pouco a restaurantes e, nestes, escolher os pratos com rigoroso espírito crítico...
As pessoas deviam deixar de seguir o seu «instinto» e educarem o seu paladar, para apreciar a subtileza dos sabores de frutas e legumes, a sua enorme variedade, evitarem certo tipo de cozinhados, os fritos - por exemplo - muito saborosos mas desastrosos em termos de saúde, etc. 
O «instinto» é o resultado de milhões de anos de evolução biológica: pode ter ainda um valor de sobrevivência para muitas situações, mas noutras, é desencadeador de resposta comportamental muito inadequada. 
É caso do seguinte reflexo, instalado há milhões de anos: «comida doce = a boa comida»

terça-feira, 11 de julho de 2017

O DIÓXIDO DE CARBONO E O AQUECIMENTO GLOBAL


Considero este documentário muito bem feito, nada demagógico, rigoroso cientificamente. 

O fundo da questão é evidentemente o dinheiro... Vejam porquê, aqui: ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, FRAUDE CIENTÍFICA DO GLOBALISMO

segunda-feira, 10 de julho de 2017

TUDO A POSTOS PARA UM COLAPSO DA ECONOMIA MUNDIAL

Como tenho apontado repetidas vezes (ver aqui, aqui e aqui), aquilo que nos é vendido pela media corporativa, reproduzindo acriticamente o discurso dos governos e bancos centrais e os factos da economia real, que é ressentida pelas famílias e pelas empresas, estão em total dissociação.

Porém, não se pode atribuir facilmente o ponto de início para a presente crise, pois – se examinarmos com atenção os dados – vemos que não houve verdadeira recuperação da crise de 2008. Diria que se trata do prolongamento de uma doença terminal, passando de uma situação aguda, para uma situação crónica.

Os empregos não retomaram os níveis de 2007, os salários médios são muito mais baixos: há uma descida em termos absolutos devido a muitas pessoas serem empregadas em trabalhos temporários, sazonais ou a tempo parcial. 

Os volumes de endividamento das famílias não diminuíram e portanto estas ficam mais expostas - que em 2008 - a serem atiradas para a pobreza.

Quanto aos Estados, eles têm vindo a endividar-se cada vez mais, o que só tem sido possível apenas pela conjuntura de juros excepcionalmente baixos (artificialmente criada pelos bancos centrais), mas isto poderá mudar bruscamente. Eles não conseguirão obter empréstimos, senão a um juro bem maior.

Os valores das cotações bolsistas são – em si mesmo – uma «aldeia Potemkin» visto que a bolha é nutrida pela auto compra de acções das empresas, pela compra discreta de biliões por parte dos bancos centrais de vários países ocidentais e pela repressão sobre os juros dos depósitos bancários, forçando a investir nos mercados com maior risco…

Muitas empresas, sobretudo as que dependem da capacidade do público em gastar dinheiro, como o comércio de retalho, estão a sofrer dificuldades. Muitos centros comerciais estão com um número elevado de lojas vazias, mesmo centros comerciais situados nos bairros «chiques», para não falar dos que estão nas periferias urbanas (nas cidades dormitório das classes laboriosas), que apresentam um aspecto confrangedor.

Aquilo que não nos dizem os governantes e os media é que os «instrumentos» utilizados para supostamente monitorizar e  «regular» a economia, não são senão pseudo instrumentos, como é o caso do PIB, o qual serve sobretudo para fazerem política (pró ou anti-  governo) dando um ar de «cientificidade».

 O PIB é um mau instrumento e -sobretudo - não é compreendido como aquilo que ele é: mede as transacções que se efectuaram dentro de um mercado nacional, num ano. Não diz nada sobre a qualidade das mesmas, além de que vai reflectir mecanicamente o aspecto demográfico: 
- num país em rápido crescimento demográfico, o PIB pode dar a ilusão de uma economia «a crescer»; 
- num país cuja população está em declínio demográfico, a contracção do PIB não significa necessariamente que a economia individual das pessoas tenha piorado.

Muito importante, mas raramente tratado pelos que se arvoram em «comentadores económicos» (compreende-se porquê…), é o afastamento entre as camadas mais pobres e mais ricas da população, no que toca à distribuição de riqueza. Os estudos que se têm debruçado sobre este afastamento são unânimes em considerar que, nestas últimas décadas, o fosso entre muito ricos e pobres vai alargando, na generalidade do «Ocidente». Pelo contrário, a quantidade de pessoas da classe média que passam para a classe pobre tem vindo a aumentar.

Como este sistema não é sustentável, provoca cada vez mais contradições internas e estas tornam-se cada vez mais agudas. Com efeito, a resposta inflacionária voluntarista de criar triliões a partir de nada, supostamente para criar um efeito de «miragem de crescimento» falhou redondamente, maciçamente em todos os recantos onde foi ensaiada, nos EUA, na Europa, no Japão. 
No entanto, os Bancos Centrais dessas regiões apenas se preparam para fazer mais do mesmo, aquando de um súbito agravamento da presente crise. 
Estamos certamente mergulhados numa crise mundial de depressão, em que os índices do PIB não precisam de ser necessariamente negativos, mas que são demasiado fracos para reconstituir a capacidade produtiva passada, destruída pela grande crise de 2008. É exactamente aquilo que se está a verificar.

As pessoas bem informadas, «por dentro dos negócios», já começaram há algum tempo a resguardar-se, saindo discretamente das áreas de investimento onde têm crescido as bolhas especulativas. 
Vejam-se as vendas de acções em grande escala por «hedge funds» por exemplo, ou como os grandes fundos do imobiliário estão a vender parte do seu capital imobiliário às empresas de menor dimensão ou a particulares.

Tudo isto que escrevi acima é conhecido dos grandes bancos e grandes investidores, mas não é patente para o público em geral, mesmo o que acompanha a actualidade económica. 
O resultado é que os primeiros se têm estado a aproveitar das baixas cotações dos metais preciosos (ouro e prata) transitórias, que ocorrem. Salvaguardam agora os lucros realizados nos mercados mais especulativos e esperam obter mais lucros quando estes mercados descerem acentuadamente e os  pequenos investidores, em pânico, forem comprar ouro ou prata, por um preço muito mais elevado .

As pessoas menos atentas, ou que se deixam embalar pelas canções de sereia da media ao serviço do grande capital, verão as suas poupanças subitamente reduzidas a metade ou menos, além de que ficarão impossibilitadas de viver apenas do salário ou da pensão, porque - entretanto - a inflação disparou. 
Basta um instante para que se instale o caos, o pânico, na economia real a partir do colapso nos mercados!

Os bens mais expostos a desvalorização brusca são os financeiros... acções, obrigações, fundos, derivados, depósitos a prazo. 
Os bens que podem conservar ou aumentar o seu valor, no contexto de uma crise, são os bens físicos facilmente transaccionáveis (ouro e prata, antiguidades, ou objectos de colecção), ou património com valor seguro (o imobiliário, susceptível de ser alugado; terrenos agrícolas, a produzir ou com possibilidade de serem produtivos a curto prazo).

 A constatação do perigo iminente não resulta de quaisquer fantasias ideológicas, mas da observação fria dos factos da economia real, por um lado e, por outro, de ver o que os muito ricos têm feito nos últimos tempos.