Ouve este podcast* em que, na 2ª parte, se explica a causa desta epidemia de adição e mortes causadas por «overdose», um excelente diálogo entre o Prof. de economia Richard Wolff e a Dra Harriet Fraad, psicoterapeuta.
Muitos factos são simplesmente omitidos pela media prostituta, o que permite a continuidade do negócio de morte.
Portugal é várias vezes referido como exemplo a seguir em oposição ao que se passa nos EUA.
Esperemos que eles não tenham sobrevalorizado o bom resultado das políticas de Portugal no domínio de combate às toxicodependências.
Os analgésicos opioides foram sendo aprovados por pressão da indústria farmacêutica, sendo esta responsável por estudos falsificados, ou cujos resultados não tinham sido revelados na íntegra. Soma-se publicidade enganosa, um contexto de crise (valores, família, sociedade...) e as pessoas começaram a consumir e ficar aditas a essas drogas legais. Agora, mata por «overdose» 70 mil por ano e causa um número de aditos da ordem de dois milhões, número que peca por defeito.
«Como é que o capitalismo despedaça as nossas vidas».
Gostava que, não apenas os profissionais de saúde, mas todas as pessoas, ouvissem a Dra Harriet Fraad e reflectissem sobre as experiências numerosas que apoiam as suas posições.
O factor importante da solidão, do isolamento, de não estar incluído numa verdadeira comunidade, é posto em relevo. Os não valores do capitalismo, são justamente apontados, fazendo com que os pais se alheiem da educação dos filhos; mesmo os pais que têm meios, criam filhos com imensos problemas.
A questão difícil é como fazer uma prevenção destas questões, em que consumo de drogas, obesidade, marginalização social, desemprego, criminalização da pobreza, etc. estão todas relacionadas, numa teia.
Mas não devemos cair na conclusão de não há nada a fazer.
A própria conferencista aponta o exemplo de comunidades de auto-ajuda, cuja mais antiga é os Alcoólicos Anónimos.
Penso que devemos compreender que um sistema classista - em que o lucro é o motor de todas as actividades - vai inviabilizar a institucionalização doutro sistema no seu interior, em que a solidariedade é o princípio fundamental.
A destruição da sociedade e das pessoas individuais faz parte do capitalismo; não é uma disfunção, é fundamental no seu modo operatório .
Penso que se deve fazer uma crítica radical da medicina corporativa: ela construiu um tecnopoder (ou biopoder) destinado a perpetuar-se, consumindo sempre mais recursos, apenas possível porque se exerce em países afluentes, onde existem fundos acumulados, quer por indivíduos, quer pelos sistemas do «welfare state» no sentido lato, os seguros de saúde, o Serviço Nacional de Saúde, etc.
Os protagonistas da política, imbuídos das falsidades do capitalismo, pensam que, havendo mais subsídios, mais dinheiro disponível para equipar e melhorar as unidades de saúde, haverá uma melhoria automática da saúde geral da população.
O resultado global é que se verifica nas últimas décadas um aumento de esperança de vida nos países afluentes, mas não um aumento de anos com saúde ou com qualidade mínima.
Porém, a sociedade de consumo é patogénica, em si mesma, pelos mecanismos enunciados pela Dra Harriet e também pelo facto de desprezar uma real educação para a saúde dos cidadãos.
Seria perfeitamente possível promover e prevenir. Bastava que nos anos ensino obrigatório e nos media fossem postos em relevo os meios e estratégias de que dispomos para prevenir a maior parte das doenças.
Com efeito, sabemos que pequenos gestos triviais podem manter a saúde em todas as etapas da vida:
- caminhar todos os dias cerca de quarenta minutos, pelo menos.
- cozinhar refeições equilibradas e saborosas.
- evitar alimentos processados industrialmente.
- dormir as horas necessárias e num horário regular.
A sociedade capitalista é patogénica e isso significa que torna muito mais fácil fazer exactamente o contrário dos comportamentos acima apontados.
Uma cultura de autonomia e - em simultâneo - de integração dentro da comunidade são importantes hoje para preservar e cuidar da saúde. Mas, além disso, serão importantes na emergência doutro paradigma, dum socialismo vindo de baixo.