sábado, 14 de janeiro de 2017

NA GUERRA, A PRIMEIRA VÍTIMA É A VERDADE...


Estamos à beira de uma guerra, mas ninguém no Ocidente se incomoda com isso. 
A opinião pública foi quase completamente anestesiada com a política-espectáculo e essa guerra é vista como mais um espectáculo. 
Só que, desta vez, pode ser bem pior do que aquando do desencadear das guerras locais, pois será uma guerra entre super-potências nucleares. O público, os eleitores, os contribuintes, dos países ditos «ocidentais» só se incomodarão quando os efeitos baterem às sua porta. 

A horrível guerra civil na Síria só começou a incomodar os europeus quando estes tiveram de abrir as portas dos seus países a um mar de refugiados. Mesmo nessas circunstâncias, não lhes interessava saber como é que a guerra (imposta a essas populações) destruíra o modo de vida dos sírios e as vidas de muitos parentes deles. O que lhes importava era se o seu modo de vida iria ser perturbado pela presença dessa gente de «tez escura». 

Há dias, li uma notícia sobre o estado de espírito na Dinamarca, segundo a qual muitos estariam convencidos que «os Russos vêm aí...». Ora, os dinamarqueses são um pequeno povo, mas com um nível elevado de cultura. Como é possível terem uma ideia tão absurda como a do exército russo ir invadir o seu território? Como é que estão convencidos que os russos querem destruir as suas infraestruturas? Qual seria o objetivo de uma coisa dessas? A população com medo, sujeita a uma lavagem de cérebro permanente não pensa, não equaciona as coisas. É lhe fornecida propaganda da forma mais neutra, como se fossem informações absolutamente verificadas, quando se trata, na melhor das hipóteses de conjeturas.
Não são conjeturas, as concentrações massivas de equipamento bélico ofensivo ultra sofisticado acompanhado de muitos milhares de tropas da NATO, nas fronteiras da Rússia, supostamente para «defenderem» os estados «ameaçados». Fazem reviver o «papão da guerra fria», desencadeando um reflexo anti-russo nestes povos, assim como noutros, incluindo os dos EUA que pouco sabem da história europeia, na qual participa desde sempre a Rússia. 
Nos EUA, um inquérito de rua a jovens com cerca de vinte anos mostrava que estes não sabiam nada da Guerra Civil (entre os estados do norte e do sul dos EUA), muitos nem sabiam que o norte tinha saído vencedor! Perante essa incultura abismal, entre jovens que nasceram e frequentaram a escola nos EUA, não nos podemos espantar da ignorância mais ou menos total no que respeita à história e cultura europeias.
O legado de Obama é realmente abismal. Numa correria contra o relógio, antes de sair da presidência, procura criar situações de conflito com a Rússia e a China, para embaraçar o eleito, mas ainda não empossado, presidente Trump. 
Vejam aqui  a extensão das manobras que o Estado profundo (Deep State) perpetua, para obrigar o novo presidente a obedecer aos «neo-cons» (que dominam o setor da defesa e diplomacia do governo Obama). 
Os neo-cons têm uma doutrina segundo a qual os EUA são a força indispensável, o benigno império do bem e da democracia, sem o qual o mundo cairá no caos, devendo portanto ser a superpotência única, não devem deixar que qualquer potência esteja em condições de disputar a supremacia. 
Neste caso estarão a Rússia e a China, pelo que eles, neo-cons, acham que se deve fazer uma política eufemisticamente designada por «containement», na realidade de provocações permanentes, com vista a encontrar um pretexto para uma guerra. 
Eles desejam esta guerra, porque estão convencidos que, se lançarem um primeiro ataque, ele seria suficientemente devastador para inviabilizar uma riposta da potência atacada.
Isso é loucura total, numa escala absurda, pois põem em risco a segurança global, põe mesmo em severo risco a população civil dos EUA. 
Com efeito, os dirigentes da China ou da Rússia podem, a certa altura considerar que já chega de seus países estarem constantemente a serem ameaçados por um país agressivo de 350 milhões de habitantes (1300 milhões, só os chineses, 1/5 da população de todo o planeta). 
Pensem que eles se podem sentir tão ameaçados que arrisquem -eles próprios - a desencadear um ataque nuclear de surpresa, arrazando os EUA e muitos dos países ditos aliados, na realidade vassalos!
Felizmente que Putin e Xi Jin Pin não são instáveis e caprichosos, projetando o seu ego numa força militar, ao contrário de dirigentes americanos e alguns europeus. 

O agravamento da crise económica mundial, o não crescimento/recessão mundial que estão previstos para muito breve, vão originar pressões, não necessariamente no seio de grandes potências. Para «aliviar» a pressão sobre os governos, por parte das pessoas descontentes, recorrem a políticas belicistas, que acabam por conduzir a uma guerra. Tradicionalmente, a «unidade nacional» era assim obtida, evaporando-se ou silenciando-se as vozes críticas do governo, por imperativo «patriótico».

No nosso século, como verificámos, os tambores da guerra soam cada vez mais alto. Quando as pessoas «normais», nada inclinadas a aventuras belicistas, acordarem... será tarde demais!!! 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

QUARTETO «DISSONÂNCIAS» DE MOZART

Este é um dos quartetos dedicados ao seu amigo e colega Hadyn. 

A peça explora a dissonância, discursando em todo o esplendor das sonoridades graves (violoncelo) e das contrastantes cordas agudas, numa réplica optimista, como quem diz... "afasta os maus pensamentos e olha a beleza da Natureza!" 
Sim, parece mesmo ser isso que esta música me transmite. Uma filosofia de vida, cheia de sereno optimismo, em face das mais penosas ou menos felizes ocasiões das nossas vidas.
Estas cordas que «falam ao coração», são um discurso pleno de sentido, dos sentidos que naturalmente se enunciam com esta naturalidade divinal do génio mozartiano.   


                            



Não existe, porventura, algo mais transcendente, que eu conheça, em toda a literatura para quarteto de cordas. 
Para mim, este quarteto ressoa de modo muito particular pois me acompanhou desde os tempos da minha juventude. Costumava colocar o disco vinil no gira-discos, quando sentia necessidade de me revigorar, de espantar ideias pessimistas, de tomar coragem e seguir em frente.
Parece difícil de transmitir a beleza e a força da música clássica? Creio que não, creio que as pessoas que se dão ao trabalho de escutar, não apenas ouvir, verão que merece a atenção prestada. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

REFLEXÕES SOBRE ECONOMIA, SOCIEDADE E GUERRA

                           

ECONOMIA REAL VERSUS ECONOMIA DIGITAL No meu treino em biologia, que incluía com especial destaque bioquímica celular, microbiologia e ecologia, habituei-me a reflectir sobre a economia natural, ou seja a grande eficácia de seres vivos e dos ecossistemas que eles formam em optimizar a extracção e utilização de energia do ambiente.
O padrão de economia natural poderia ser o «equivalente de uma molécula-grama de glicose» ou fracções desta unidade, assim como na economia se adoptou o padrão do «equivalente energético do barril de petróleo», exactamente porque, num caso como noutro, o combustível é universal fonte de energia e as suas utilizações directas ou indirectas estão na base de toda a construção dos seres vivos num caso, das sociedades no outro.
Porém, as pessoas não têm o bom senso de realmente verem a economia, seja ela na escala global ou local, como essencialmente o modo como a energia é obtida e distribuída. Para isso concorrem diversos factores, como seja a separação da grande maioria da população do trabalho agrícola, para todo um ecossistema que utiliza o excedente agrícola para tornar possível a utilização de cada vez maior percentagem de mão-de-obra em tarefas de indústria ou de serviços. Assim, poucas pessoas (5 a 10%) nas sociedades ditas desenvolvidas têm profissão na produção de alimentos, o que faz com que a imensa maioria deixe de pensar e equacionar as suas vidas, a sua actividade, os seus projectos, em termos do real acesso a fontes de alimentos.
ECONOMIA MONETÁRIA A monetarização da economia começou há muitos séculos, porém a extinção de comunidades autónomas e auto-suficientes deu-se muito progressivamente. No mundo inteiro existem ainda vastas zonas onde as trocas não são mediadas pelo dinheiro, porém a imensa maioria dos humanos não vive nessas zonas. A humanidade vive maioritariamente em cidades, as quais possuem frequentemente muitos milhões de indivíduos. Embora uma certa agricultura urbana exista e tenha um papel a desempenhar no futuro próximo, não creio que as sociedades no seu todo estejam vocacionadas para uma reconversão completa de paradigma.
Penso que, a prazo, haverá uma mudança. Porque a economia das sociedades humanas não pode continuar a viver numa ficção, a de que o dinheiro, que é apenas papel ou electrões num computador, possa ser mais do que uma representação muito indirecta e muito simbólica do que é a riqueza verdadeira, ou seja, a que resulta de uma produção real, tangível, de bens, matérias-primas, produtos agrícolas ou piscícolas, assim como de bens industriais de toda a ordem, com utilidade – directa ou indirecta- na economia real.
O DINHEIRO COMO DÍVIDA Quando o mundo é inundado de unidades de crédito, de dívida (centenas de triliões de dólares!), que são tidos como receptáculos de valor quando, na realidade, não possuem nada a afiançar este mesmo valor. Quando as disfunções diversas originam assimetrias globais e brutais, quer entre países, quer no interior do mesmo país. Quando a única resposta dos bancos centrais a situações de risco de falência dos grandes bancos, tem sido «imprimir» dinheiro a rodos, oferecer-lhes esse dinheiro gratuitamente, ao comprar aos bancos títulos que eles possuem, mas que são sem valor ou com diminuto valor de mercado, pelo seu valor nominal. Quando se preparam os governos para fazer desaparecer o dinheiro físico, obrigando as pessoas a terem uma conta bancária (na Índia, por exemplo, muitas pessoas nas zonas rurais não possuem conta bancária), isto com o propósito claro de taxar as pessoas numa segunda fase, fazendo-lhes pagar para terem as suas poupanças no banco, em vez de receberem por isso um juro, por mínimo que fosse.
DESAPARECECIMENTO DO DINHEIRO FÍSICO Num contexto destes, a própria «elite» do dinheiro está a querer acelerar a vinda de uma enorme crise, que seja percebida pela população como uma situação de urgência extrema, que obrigue à tomada de medidas excepcionais: a totalidade dos activos financeiros terão de ser mantidos cativos dentro do sistema bancário, não poderá haver transacções em dinheiro físico, tudo será processado por via electrónica. Isso trará duas consequências:
-o dinheiro depositado pode ser - ele próprio - fonte de lucro para os bancos, independentemente deste servir ou não para gerar empréstimos;
- qualquer pessoa pode ter a sua vida escrutinada até ao ínfimo pormenor, por decisão arbitrária de poderes judiciais ou policiais, sem que o próprio cidadão tenha a menor ideia de que isso está acontecendo (transparência máxima da entidade controlada e opacidade máxima do poder controlador).
TOTALITARISMO Este cenário que, de ano para ano, se vai tornando mais visível, corresponde à ascensão de um totalitarismo planetário, de uma enorme acumulação de poder, mas de formas que não parecem – inicialmente – nefastas quer para a subsistência, quer para os direitos humanos das pessoas. Ou seja, estamos a assistir a uma progressiva transformação na chamada «Nova Ordem Mundial», um regime mundial de controlo máximo sobre a generalidade da população, que se pode classificar como «neofeudal».
CONTROLO Infelizmente, as pessoas aderem a ilusões de toda a espécie, acreditam em ideologias políticas que supostamente lhes trarão a salvação, mas isso não tem a mínima importância para os senhores do mundo. As pessoas poderiam organizar-se em cooperativas e em associações diversas, com finalidade de autogerir a sua vida. Nada disso está no horizonte a curto prazo, infelizmente, pois as pessoas têm ilusões persistentes e induzidas pela lavagem ao cérebro permanente. As campanhas de desinformação e deseducação constantes, junto com o conformismo (o que foi ontem, é ainda hoje e será também amanhã…) e a cobardia (a pseudodemocracia dita representativa é a perfeita desculpa para isso), encarregam-se de manter as populações calmas, submissas. Quando ocorrem explosões de descontentamento popular, elas viram-se contra os símbolos do poder e sobre seus agentes, não sobre os que são responsáveis directos do estado de coisas. As possibilidades de insurreições com verdadeiro ímpeto libertador, revolucionário, são mínimas, a elite sabe-o e conta sobre isso; porém, para se assegurar de que tem mão em qualquer dessas situações, ela própria manipula as ONGs, criadas ou subsidiadas pelos vários poderes (vejam-se as ONGs que o multibilionário Jorge Soros financia e controla, em muitos pontos do globo, através da sua fundação, por exemplo…)   
GESTÃO MUNDIAL DA CRISE A situação que se vem desenvolvendo é de uma crise mundial, mas as pessoas no «ocidente» não se apercebem disso, em geral. No entanto, sabemos que a catástrofe atinge muitos povos do chamado «Terceiro Mundo», afinal de contas a maioria da humanidade. Quando a crise atingia – no passado – proporções alarmantes para os poderes, uma das saídas possíveis era a guerra. Hoje em dia, essas guerras ocorrem, mas não enquanto confrontos directos entre superpotências. São confrontos em que as forças em presença são aliadas de um ou outro superpoder, que fica na retaguarda, fornecendo armas, informações, algumas vezes com «conselheiros» no terreno, só muito raramente tem envolvimento directo, com tropas combatentes.  

 AS GUERRAS DE HOJE Este permanente estado de guerra de intensidade baixa, porque não envolve o confronto directo entre potências nucleares, é porém eficaz em manter um determinado número de países debaixo da órbita de certas potências, enquanto outros alinham com potências rivais. Sem dúvida, o controlo de matérias-primas como o petróleo e outras, é um objectivo geoestratégico, mas também se verifica que, nas sociedades mais ricas, existem grupos de interesses fortemente mobilizados para empurrar os seus dirigentes para a guerra. Estes grupos corporativos são directamente e economicamente beneficiários de situações de guerra; não apenas os consórcios de armamento, mas também outros, como grandes empresas de construção civil e de infra-estruturas, pois à destruição causada por uma guerra, deverá suceder – mais tarde ou mais cedo- uma reconstrução dos edifícios e equipamentos destruídos. Vemos, portanto, que a guerra é hoje em dia, mais do que nunca, um negócio. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A REVOLUÇÃO LUTERANA TERÁ SIDO A MAIS IMPORTANTE DA MODERNIDADE

Não é em vão que coloco a hipótese do título:  A REVOLUÇÃO LUTERANA TERÁ SIDO A MAIS IMPORTANTE DA MODERNIDADE.

A cultura atual é sobretudo uma cultura que despreza o sacro, os assuntos de religião, mesmo entre aqueles que intelectualmente ainda se dizem possuir religião. 
Por isso, é bastante difícil fazer compreender aos contemporâneos que Lutero, ao abrir a Bíblia, lê-la e interpretá-la, ao traduzi-la em alemão, língua vernácula, não tem paralelo em importância na história das ideias do nosso tempo. Sim, ele foi contra o papado dessa altura, mas nisso não foi único, não foi o único que se rebelou contra os privilégios do clero, que os denunciou. Jan Hus, Zwingli e muitos outros antes e depois dele, fizeram-no nos termos mais enérgicos. 


Porém, aquilo que ele faz quebra a ideia de que o indivíduo apenas pode se aproximar de Deus sob a condução da igreja instituída, sob a orientação do poder eclesiástico, o qual se confunde com o poder temporal, nesse momento do fim do século XV e princípios do século XVI. 

Nessa época, também, os reis de Portugal estavam empenhados em continuar e aprofundar uma expansão do poder régio, por terras então desconhecidas (para os europeus ocidentais). Os «descobrimentos» portugueses e espanhoís, foram uma enorme abertura ao mundo, foram uma transformação brutal nesses países colonizados a ferro e fogo, uma acumulação de riquezas que iniciou a era capitalista na Europa, etc. 
Mas o facto de que a Escritura pode ser lida, pode ser ponderada e meditada por todos os que saibam ler e escrever, mudou a própria concepção do que seja o ensino. O escolástico ou académico típico passou a englobar no seu estudo a análise criteriosa das fontes, a discutir o rigor das traduções, etc. 
O legado do luteranismo, como ramo da religião cristã, sendo rico e contraditório, não o pretendo ter avaliado aqui. Apenas desejo sublinhar a enorme importância da ruptura operada por Lutero, uma ruptura, muito para além dos aspectos institucionais da Igreja, das relações com o poder civil, etc. Uma ruptura que, sendo essencialmente espiritual, sendo baseada num desejo de maior fidelidade à Escritura, vai arrastar múltiplas consequências: 

- O Iluminismo, em grande parte, nasce em consequência da Reforma, pois esta coloca como questão fundamental que a Bíblia tem que ser um livro aberto, um livro que os olhos e espírito do crente podem e devem ler, sobre o qual ele deve meditar, seria e constantemente. A Natureza, dirão os Iluministas, é um livro aberto também e Deus deu-nos a capacidade de conhecimento e temos de exercitá-lo estudando a Sua Obra, que é a Natureza.

- O princípio da educação popular, já não é apenas bom para o povo saber ler e escrever. É mesmo uma missão dos soberanos luteranos espalharem ao máximo a educação, por forma a que o povo tenha pleno acesso à leitura da Bíblia. Não foi com considerações materialistas, utilitárias, que as escolas para o «povo miúdo» foram fundadas, mantidas e expandidas. Foi na base de uma noção teológica, de criar as melhores condições possíveis para os súbditos aprenderem a Palavra de Deus. 
Nos países católicos, pelo contrário, a instrução elementar era tida como conducente a atitudes sediciosas, a questionar a autoridade: só uma pequena minoria, privilegiada social e economicamente (ou não, mas destinada ao baixo clero) tinha acesso a aprender a ler e escrever. A elevada taxa de analfabetismo continuou como uma chaga durante vários séculos, até bem dentro do século XX, no Sul da Europa [Portugal, Espanha, Itália (do sul)...]

- O princípio da liberdade religiosa; a fé cristã é afirmada com rigor nos países do Norte da Alemanha e Escandinávia, a versão luterana da mesma é abraçada pelos monarcas, aristocracia e altos funcionários, mas não se vê uma conversão forçada, na generalidade dos casos, não se vêem perseguição e autos de fé, como em países católicos, com a Inquisição, que condenaram muitos intelectuais à fogueira por «ideias protestantes, heréticas». 
A liberdade religiosa permitiu, mais tarde, a liberdade política; apenas depois de ser admitido que se poderia ser leal ao soberano, apesar de não se professar a mesma religião ou confissão, se tornou aceite que a dissidência política não era sinónimo de traição à pátria. 
Isso demorou muito tempo a ser aceite, mas veja-se que os países com melhor e mais longo registo de liberdade política, também são os que tiveram maior tolerância em termos religiosos, entre eles os de confissão luterana maioritária.

Evidentemente, muito do que aconteceu em 600 anos, foi devido a enormes forças sociais que se desenvolveram, mas certos acontecimentos da vida intelectual, como o pregar as 95 teses na porta da Universidade de Wittemberg, assim como a Bíblia traduzida para o alemão por Lutero, têm uma marca simbólica muito grande. 

Como acontecimento intelectual, só consigo encontrar paralelo no «De Revolucionibus» o célebre tratado de Copérnico, que desencadeou uma controvérsia científica, a qual foi desde cedo «misturada» com argumentos teológicos.

Em Portugal, alguns espíritos, apesar da Inquisição, ousaram estudar as teses luteranas. 
Um deles, Damião de Goís, teve a audácia de falar com o próprio Lutero e seus adeptos. 

Ele era um diplomata, um cronista (historiador) do Reino, alguém com cargos oficiais. Isso foi a sua proteção, pois quando foi denunciado ao Santo Ofício, não terá sido violentamente interrogado; mas não deixou de ser condenado, de sofrer prisão e humilhação, por ter encetado o diálogo com luteranos. 
Goís, provavelmente, era um erasmiano ou seja, advogava uma reforma por dentro da Igreja, sem ruptura.


  
  

domingo, 8 de janeiro de 2017

TRATADOS DE LIVRE COMÉRCIO, GLOBALISMO E ESQUERDA

Os supostos tratados de «comércio livre», quer se chamem CETA, (entre a EU e o Canadá), ou TTIP (entre a Europa e EUA), etc. são apenas pára-ventos para avanço do programa ou agenda globalista.

Primeiro, é necessário compreender que esta agenda globalista existe, que não é «teoria» de conspiração nenhuma, até mesmo as pessoas mais ingénuas não podem deixar de a reconhecer nos discursos oficiais de chefes de estado e de governo, ou entidades das grandes organizações. Eles argumentam que se trata dum paradigma essencial ao mundo contemporâneo. Se não aceitamos a «globalização», somos como «homens das cavernas»!
Não, não é assim, pois a globalização que nos vendem como inevitabilidade, significa simplesmente a forma de garantir os lucros das transnacionais, do capital financeiro, dos multibilionários, que dominam sectores industriais e países inteiros. 

A legislação dos países é considerada um obstáculo para os globalistas porque coloca – explícito ou implícito - o princípio da soberania nacional.
Isso é intolerável para as entidades transnacionais, que desejam ver assegurados seus lucros, seja qual for a situação do país em causa. A legislação de muitos países possui cláusulas que previnem que os interesses materiais sejam sobrepostos à própria vida das pessoas, seja ela directamente, seja indirectamente, com legislações que protegem as condições de trabalho, o ambiente, a saúde pública, etc.

Sob a capa de modernidade, esta ideologia globalista quer anular o princípio da soberania nacional. Porém, este é absolutamente vital para a preservação dos direitos e garantias dos cidadãos nos diversos países. Argumenta-se que, mesmo assim, os direitos desses cidadãos estão a ser espezinhados, pelos próprios governos, em muitos casos. Pergunta-se: se essas frágeis garantias que estão na lei forem retiradas ou anuladas, acham que as coisas melhorarão ou piorarão?

Acontece que a esquerda estúpida não percebe. Existe uma esquerda inteligente que percebe, mas ela é minoritária dentro da própria esquerda. A esquerda estúpida é capaz de glorificar as «lutas de libertação nacional» e simultaneamente desprezar, quando não até designar como «extrema-direita», a luta pela preservação da soberania nacional… Por causa da esquerda estúpida, a extrema-direita tem tomado conta do assunto e tem arrastado consigo muita gente.
Existem muitos cidadãos que se apercebem das coisas apenas até um certo ponto, porém, eles não são totalmente responsáveis pela sua incultura política. Com efeito, muitos dos que tinham a obrigação de esclarecê-los ainda os tornam mais confusos.

O globalismo é uma ideologia perniciosa, que nada tem que ver com o internacionalismo; é uma ideologia que corresponde ao projecto de uma Nova Ordem Global, a um Superestado planetário, com um governo único, uma moeda única, umas forças armadas únicas. Ou seja, é exactamente o «sonho molhado» de Hitler, Mussolini e todos os nazi e fascistas a eles associados. 
O globalismo não é fruto do liberalismo, mas do fascismo; se querem designar a ideologia da casta dominante, não a designem como «neoliberal», porque de liberal não tem nada! Chamem-na antes de neofascista. 
O fascismo define-se como a fusão do Estado e das corporações: isto quer dizer que tudo, toda a sociedade está «dentro» do Estado e que o Estado tem o direito e mesmo a obrigação de se imiscuir em todos os aspectos da sociedade; em suma, estamos muito próximos da realização da sociedade do Big Brother, profetizada por Orwell e outros. 

É triste que uma parte da esquerda tenha sido neutralizada, arregimentada e manipulada, ao ponto de servir como instrumento do globalismo.


sábado, 7 de janeiro de 2017

ENTREVISTA COM GRAHAM HANCOCK

UMA LIÇÃO DE HUMILDADE E DE SABEDORIA...



Na longa entrevista de cerca de hora e meia, Graham Hancock revela-se como uma personalidade rica de experiência e de coração. A sua procura por caminhos tidos como «heréticos» ou «esotéricos» é fascinante e parece-me muito bem documentada. Não li ainda o livro Magicians of the Gods, mas prometi a mim próprio fazê-lo, logo que surja a oportunidade. 

Estranhamente, antes de ouvir falar deHancock e de suas hipóteses, tinha a intuição de que Atlantis era muito mais do que mera construção mitológica, que tinha base num longínquo estado de civilização, destruído por cataclismo(s). A confirmação de que existem boas razões para crer que a história narrada por Platão não é apenas uma «invenção», mas tem uma base muito real, permite-nos abrir o campo interpretativo do passado distante. 

Gosto também do humanismo que ele demonstra ao longo da entrevista. Identifico-me com a sua visão pela emancipação da tutela das pessoas e dos povos em relação a líderes, que ele afirma não serem necessários. A humanidade pode viver sem líderes, diz ele a certa altura. Acho este ponto de vista muito apropriado e sensato; se é "radical", será no sentido de ir à raíz dos problemas. 
Um autor e uma obra a descobrir!


REUNIÃO DO GRUPO «SOLUÇÕES PARA A PAZ»

NA FÁBRICA DE ALTERNATIVAS (ALGÉS)

Reunião do Grupo "Soluções para a Paz" aberta a todos os interessados
Quarta-feira dia 11 de Janeiro pelas 21H00

De acordo com o combinado na anterior reunião de fazermos o próximo encontro na primeira quinzena de janeiro para debater os princípios que deverão reger a nossa actividade.

PRINCÍPIOS DO MOVIMENTO PARA A PAZ «SOLUÇÕES PARA A PAZ»

Com a presente declaração de princípios, entendemos estabelecer e dar a conhecer a nossa base de entendimento e acordo, com vista a uma eficaz busca de caminhos para a paz.
Consideramos que todas as pessoas são bem-vindas, dentro do espírito dos princípios abaixo delineados, cabendo naturalmente entre nós várias escolhas pessoais ao nível das ideologias, dos credos religiosos e das diversas opções noutros domínios.
Embora sejamos independentes de quaisquer filiações partidárias, religiosas ou outras, estamos abertos a partilhar com outros, dentro de um espírito de tolerância e de reciprocidade, de ações futuras para fazer avançar a causa geral de paz e não-violência.

Os pontos seguintes são considerados princípios gerais, que devem enformar a construção da nossa associação e nortear a sua prática, desde o primeiro momento.
- por uma cultura  de paz, através da educação
-pelo desenvolvimento sustentável nos planos económico e social
-pelo respeito de todos os direitos humanos
- pelo respeito dos direitos dos animais e pela proteção e preservação do ambiente
- pela igualdade entre mulheres e homens
- pela promoção da democracia
-pela expressão livre e participada das informações e conhecimentos
-pelas medidas que promovam a paz e a segurança internacionais

Os nove pontos gerais acima são todos, conjunta e mutuamente, solidários. Seu conteúdo preciso será desenvolvido e explicitado, quer nos documentos, quer nas práticas que iremos desenvolver.
Estamos em solidariedade com outros grupos e individualidades, quer a nível nacional quer internacional, que desenvolvam trabalho concreto e convergente com o nosso.