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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

NUM CONTEXTO DE CRISE, O OURO SERÁ DE NOVO MONETIZADO

Durante cerca de 5000 anos, o ouro e a prata foram usados como metais monetários. Além disso, também eram usados em joalharia. 
O único período em que os metais ouro e prata foram desmonetizados corresponde à janela estreita temporal, em termos históricos: desde que Nixon, em 1971, decidiu unilateralmente  e «provisoriamente» cancelar a convertibilidade do dólar em ouro, conforme constava dos acordos de Bretton Woods (1944)... até hoje! 
Num intervalo de tempo de mais de 40 anos, o ouro (e a prata) tem sido relegado ao papel de matéria-prima. Curiosamente, neste mesmo espaço de tempo largo, o ouro tem-se comportado como o melhor investimento, ultrapassando os índices de acções (Dow Jones, Nasdaq, etc...). Além disso, o dólar está constantemente a desvalorizar-se em relação ao ouro: estava a 35 dólares a onça de ouro, em 1971; agora, ronda os 1250 dólares.

Aproxima-se uma outra grande crise que, segundo muitos analistas dos mercados, fará com que a crise de 2008 se pareça com «um passeio no parque», não apenas em termos de destruição de capital, como de vidas e de capacidades produtivas... 
Os grandes bancos e os fundos que gerem as fortunas dos bilionários, já se estão - há muito tempo - a precaver, comprando ouro o mais barato possível, em grandes quantidades. 
Os bancos centrais, sobretudo dos países do Oriente, estão a fazer o mesmo. 

                  

               

O BIS (o banco internacional que funciona como entidade reguladora da actividade dos bancos centrais no mundo inteiro) já tinha instaurado de novo o papel do ouro, através das regras ditas de «Basel III» (O referido BIS tem sede em Basel = Basileia, na Suíça).


    Gold: Zero-Risk Monetary Asset | Bank of International Settlements

Mas, para que os grandes bancos possam adaptar-se a essas regras, elas são postas em prática 6-7 anos após terem sido acordadas. Basel III está plenamente em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2019. 

Com estas novas regras, o ouro é de novo monetizado, em certa medida, visto que passará a poder ser parte das reservas próprias dos bancos, ao mesmo nível que obrigações do tesouro (treasury bonds) e dinheiro líquido (cash), o que se designa por «Tier 1» ou seja, activos com risco zero (1) ... 
Num sistema em que os bancos podem emprestar apenas numa certa percentagem dos activos que possuem em reserva, a inclusão do ouro nestes activos, contabilizado para esse fim, terá - com certeza - efeitos a longo prazo, tanto no comportamento dos bancos em relação ao ouro, como na própria cotação do ouro, que deverá subir consideravelmente.

Não se admirem que estes factos não estejam nas primeiras páginas dos jornais económicos: sem essa discrição, os bancos e negócios teriam de pagar muito mais caro pelo ouro.  

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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

SIGNIFICADO DA SUBIDA DAS TAXAS DE JURO

          

Sabemos que a FED está empenhada na subida das taxas de juro, que servem como referência para o mercado do crédito americano e - por extensão - se repercutem nos mercados doutros países. Na Ásia, zona que tem sido a exportadora principal de bens para os EUA (e países europeus), esta subida já está a causar uma acentuada queda nas bolsas. Não admira, pois se os americanos tiverem menos condições para obterem crédito, irão consumir menos... logo, importarão menos bens da Ásia. 
O aumento das tarifas nos EUA, sobre importações provenientes da China (guerra comercial) também joga o seu papel, mas o factor principal reside na diminuição do consumo de bens nos EUA em consequência do QT,  quantitative tightening , ou seja, uma restrição progressiva do crédito, através da subida dos juros.

A economia americana está ainda numa fase de recuperação da grande depressão de 2008, pois os índices oficiais não reflectem a realidade. O crescimento do PIB é fictício, pois a taxa de inflação oficial calculada está muitos pontos abaixo da taxa real. Muitas empresas terão dificuldade em absorver as condições mais desfavoráveis de obtenção de crédito para elas próprias e - em simultâneo - uma perda nas vendas, pela menor capacidade aquisitiva dos seus clientes.  
No resto do mundo, já se nota uma grave crise nos mercados bolsistas dos países emergentes. Se o motor da economia mundial é o consumo, havendo diminuição significativa do mesmo nos países mais afluentes, como os EUA, isso implica um efeito desproporcional nas economias essencialmente exportadoras, como as do Extremo Oriente.

Se os países emergentes já entraram numa crise, a zona geográfica que se segue é - sem dúvida - a Europa, a qual não vê o fim das suas próprias crises internas: desde a Grã-Bretanha e o «Brexit» a arrastar-se, até Itália com o governo a propor um crescimento da dívida no orçamento em conflito com as regras acordadas ao nível da UE, passando pelos contestatários (polacos, húngaros e checos e agora, também os italianos) das políticas oficiais da UE sobre migrações e refugiados. 
Sabemos que o ranking da dívida dos países, emitida por agências «oficiosas» como «Standards & Poor», «Fitch» e «Moody's», vai condicionar o nível de taxas de juro das obrigações emitidas: quanto mais descrente estiver o mercado na capacidade dum dado país pagar o que pediu emprestado (quanto maior o perigo de bancarrota), mais elevados serão os juros que esse mesmo país terá de pagar para ter compradores das suas obrigações. 
A Itália está em vias de deixar de ser classificada como de nível «de investimento» ou seja, das suas obrigações soberanas passarem a serem consideradas demasiado arriscadas, «junk». 
Nessa ocasião, não haveria mais aquisição por parte das instituições que tradicionalmente o fazem, bancos, seguradoras ou fundos de pensões.  Então, restaria apenas o ECB (BCE), mas este prometeu acabar com as compras de obrigações soberanas da zona euro, até ao fim deste ano de 2018. 

Como todo o sistema económico e financeiro actual está estruturado em torno do crédito, da dívida, que consequências terá o congelamento do crédito, decorrente da generalizada suspeição sobre a capacidade de pagar dos diversos países?  
- Temos a experiência recente de 2008, para nos dar uma ideia, mas desta vez, os montantes em jogo serão ordens de grandeza maiores e quase todos os países têm um excesso de dívida acumulada, quer seja estatal, das empresas, ou das famílias: isto irá obrigar a que se adoptem medidas extremas. 
Uma delas é o «bail in», ou resgate interno, ensaiada primeiro em Chipre e depois na Grécia: 
Nestas circunstâncias, os que possuem dinheiro nos bancos vão ficar cortados do acesso às suas contas, vão obrigá-los a aceitar acções ou outro papel qualquer dos ditos cujos bancos, em troca  de poderem recuperar uma parte do dinheiro que estava depositado nessas contas.

domingo, 23 de setembro de 2018

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE I)

                          Resultado de imagem para tsunami


Olhando para o Mundo da minha janela, reparo que o jogo da grande política e estratégia não pára; mas - à superfície - tudo é feito para que as pessoas tenham uma percepção de que «tudo está na mesma». 

Bastam-me dois exemplos para ilustrar esta tendência:

Primeiro, a enorme perda de influência do dólar, o qual já não tem o domínio que teve outrora sobre os mercados financeiros, sobre as trocas comerciais e, sobretudo como moeda de reserva inquestionável, com a qual amigos e inimigos tinham de contar, nos cofres dos seus bancos centrais, sem o que muitas operações vitais deixavam de poder realizar-se. 
Hoje em dia, não apenas se desenvolve o sistema da nota de crédito em Yuan, dando muito maior flexibilidade a trocas efectuadas fora do dólar em África e no Médio Oriente, mas a China e Rússia estão a adquirir uma quantidade recorde de ouro, o que só pode significar que claramente estão a preparar a transição multipolar, como também vão-se livrando do dólar. 
A Rússia praticamente não tem mais «Treasuries» (obrigações do tesouro dos EUA, normalmente usadas como meio de reserva de dólares), lançou-as no mercado em Abril-Maio deste ano e avisou que o dólar já não era um activo «confiável». 
Quanto à China, com a sua «Belt and Road Iniciative» (as Novas Rotas da Seda), tem vindo a fazer empréstimos em dólares (uma maneira inteligente de se livrar deles) a países africanos, os quais podem pagá-los de volta, sob forma de Yuan ou de matérias-primas. 
A China tem usado também «Treasuries» para financiar mega-projectos de infraestruturas -caminhos-de-ferro, portos, aeródromos, estradas, etc. - em todo os espaço euro-asiático, para criação de um espaço único de circulação de mercadorias, desde a península coreana até às margens do Atlântico. 
Poderia continuar a dar exemplos de perda de influência americana e de perda de controle da situação geoestratégica relacionadas com ocaso do dólar, como moeda de reserva universal.  
Basta-me referir que as sanções económicas e as tarifas punitivas decretadas por Trump, apenas indicam fraqueza, não impressionam por aí além, fazem mais mal à população dos EUA e dos seus aliados europeus, do que propriamente aos países alvo das mesmas, nomeadamente o Irão e a China. Têm, ambos os governos destes Estados, meios para circunscrever  e tornear os prejuízos causados e sabem que as ditas sanções são fruto do desespero e susceptíveis de se transformarem em «tiros pela culatra». 
O mundo inteiro vê isso e pensa que os dias do Império do dólar estão contados.

O segundo exemplo, é o da movimentação da Itália para fora da zona euro. Os italianos não querem mais sofrer com o euro. Sabem que o seu caminho é o da saída. 
Mas, querem fazer as coisas de maneira mais inteligente que os gregos, que ficaram entalados com uma dívida impagável e uma espoliação de muitos activos e propriedades (incluindo portos e aeroportos) dados em contrapartida de «resgates» mais que dúbios. 
A Itália tem possibilidade de decretar a saída do Euro mas, para isso, terá de proteger-se de efeitos secundários que poderão ser demasiado penosos, tanto política como economicamente. Só será possível fazerem a transição se tudo for preparado em segredo e no último instante decretarem o controlo de capitais e o fecho  dos bancos (com a possibilidade da população retirar algumas centenas de euros por semana  das suas contas-correntes nos ATM). 
Isto, a acontecer, automaticamente criará uma crise de confiança no espaço europeu,  pelo que todos os países da «eurolândia» serão arrastados para soluções similares se não quiserem logo ver seus próprios bancos colapsar, por insolvência manifesta. 

Estes dois exemplos não me tiram o sono, felizmente, porque eu não detenho meios para influenciar os acontecimentos: só teria se fosse um grande bilionário ou trilionário, dono de bancos  e de ramos inteiros de indústrias.

Mas tenho o bom-senso de me precaver destas eventualidades, que parecem como uma enorme vaga, um tsunami, que se vai aproximando cada vez mais da costa, enquanto as pessoas despreocupadas, não ligam, continuam na praia a apanhar sol e a brincar... 

Não é somente por compaixão e solidariedade humana mais básica, que não tenho vontade que essas pessoas sejam vítimas de uma tal desgraça. Quanto maior número de pessoas souberem precaver-se, melhor estarão - colectivamente - para reconstruir as coisas. 
Não sei como nem quando irá rebentar, mas uma catástrofe económico-política de grandes dimensões está fermentando, somente a media hipócrita, ao serviço dos seus donos, mantém todos distraídos. 

Tenho poucas esperanças numa revolução mundial, que varra de vez este capitalismo depredador e monstruoso: Seria bom que, ao fim e ao cabo, esta crise vindoura assinalasse a morte e enterro do sistema capitalista mundial. Mas isso, embora não seja inverosímil, não me parece provável. 

Em qualquer circunstância, para retomar a analogia da vaga gigante ou tsunami, não perdemos nada por subir para colinas, a umas centenas de metros acima do nível do mar. 
Mesmo que a minha análise seja demasiado sombria e afinal não aconteça nada de muito grave, o que se perdeu, fazendo essa pequena retirada? 
Se, pelo contrário, as minhas previsões se realizarem, aqueles que - por ignorância ou desleixo -  ficam na praia a brincar... com certeza serão varridos e arrastados pelo tsunami, sem salvação possível. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

PARA QUANDO O FIM DO DÓLAR COMO MOEDA DE RESERVA?

Já há algum tempo que tinha aventado esta hipótese e mesmo afirmado ser inútil, ao fim e ao cabo, uma moeda de reserva (ver aqui). No entanto, estes processos são «tectónicos», ou seja, no mundo de hoje, estendem-se por dezenas de anos. 
Um caso muito típico disso, é o do ministro alemão que apela à criação de um sistema europeu em alternativa ao sistema SWIFT, de pagamentos internacionais. Este sistema, embora sediado na Bélgica, é controlado nos EUA. Todas as pessoas bem informadas sabiam disso, evidentemente, desde a sua criação. Mas, o facto do ministro alemão exprimir isso, mostra como as sanções irracionais e prejudiciais contra a Rússia e agora também contra o Irão, impostas pelo Império têm um efeito negativo, não apenas nos referidos países, como também nos aliados (na realidade súbditos) europeus. Os EUA queriam afirmar, com essas sanções, a sua posição de potência hegemónica; afinal, o que conseguiram foi afastar os seus melhores aliados na Europa.
Do lado do grupo dos «sancionados», a reacção foi criar um sistema financeiro alternativo. A Rússia e a China possuem sistemas equivalentes ao SWIFT, mas sob controlo dos seus bancos centrais respectivos. A contrapartida para a NATO é um sistema de defesa e segurança, a Organização de Cooperação de Xangai, que agrupa também as ex-repúblicas soviéticas da Ásia e à qual o Irão está em processo de adesão. A Turquia fez um pedido formal, na última cimeira da organização, facto que se pode correlacionar com a guerra económica decretada por Washington. A Rússia, a China e mais de sessenta nações constituem os parceiros de um banco internacional de desenvolvimento, o equivalente do Banco Mundial, que tem financiado múltiplos projectos, principalmente em África, atraindo assim um número crescente de nações deste continente a fazerem parte de um mundo onde as trocas são feitas fora do dólar. 
A forma preferida de reserva dos dólares, detidos ao nível dos bancos centrais, tem sido as obrigações do Tesouro dos EUA, a dez anos. Estas têm sido vertidas no mercado, em grande quantidade nos últimos tempos, pela Rússia e pela Turquia. Também o foram, há algum tempo atrás, pelo Japão. Ora, a cotação destas obrigações não se alterou de modo significativo, o que implica terem sido absorvidas por entidades misteriosas, como o Luxemburgo ou as Ilhas Caimão, sem dúvida por ordem do governo dos EUA, visto que a Reserva Federal (o banco central dos EUA) não terá sido um comprador maciço destas «treasuries», nestes últimos tempos. Os EUA não poderão indefinidamente usar estratagemas para aguentar a cotação das «treasuries» e portanto do dólar. Chegará um momento, quando houver um volume significativo de trocas usando o Yuan (não esquecer o recente lançamento do petro-yuan, um contrato de futuros para compra de petróleo usando a moeda chinesa), em que muitos países não verão vantagem nenhuma em possuir em reserva dólares, visto que as suas trocas comerciais e seus pagamentos serão maioritariamente fora do mundo dominado pelo dólar.
Caminha-se assim, a passos largos, para um mundo formado por dois grupos de Estados, num sistema internacional bipolar. Um mundo estará dentro da esfera de controlo angloamericano, com o dólar a reinar como dono e senhor de todas as transacções comerciais que se efectuem no seu interior. Outro, será o mundo dominado pela nova potência dominante mundial - a China - tendo como parceiros e aliados, a Rússia e praticamente toda a Ásia central e oriental. Mesmo o Paquistão, mesmo o Japão, estão a orientar-se em direcção aos BRICS e a participar activamente em projectos importantes da Nova Rota da Seda. Porque têm simpatia pelos Estados fundadores dos BRICS? Porque têm afinidades com o regime herdeiro de Mao? Porque eles próprios mudaram radicalmente seu governo? Não, não e não! Simplesmente, sabem ver de onde o vento sopra e não querem ficar para trás.
As «luminárias» que se exibem nos media neste país e, infelizmente, também no chamado «mundo ocidental», nunca põem as questões pertinentes, nunca explicam o contexto em que as coisas ocorrem. Também o seu «império» é de curta duração: Ao fazerem um «blackout» de todas as notícias que contradizem a narrativa simplista de Washington, Londres, Bruxelas... ao sonegarem dados importantes sobre os BRICS e questões associadas, estão a descredibilizar-se junto duma parte do público, a parte que não renunciou a pensar pela sua própria cabeça.
Temos de recorrer à RT e ao Asian Times e outros meios informativos, ditos «alternativos», pois a media «mainstream» tornou-se repositório da pior propaganda, não havendo praticamente nenhuma verdade nas «notícias» por eles cozinhadas...



https://www.zerohedge.com/news/2018-08-21/germany-calls-global-payment-system-independent-us

http://thesaker.is/so-what-will-the-sanctioned-supergroup-do/


terça-feira, 7 de agosto de 2018

BANCO CENTRAL EUROPEU - UM CÍRCULO VICIOSO INFERNAL INSTALADO NA ECONOMIA EUROPEIA

                     Resultado de imagem para ECB

A política monetária decidida pelos bancos centrais traduz-se em efeitos concretos nas economias, não apenas nas regiões correspondentes às divisas que emitem, como até globalmente, na economia mundial.
Como exemplo podemos citar a FED, Reserva Federal Americana, o banco central dos EUA. Com as sua política de subida progressiva das taxas de juro, o «tapering», desde há dois anos atrás, tem mantido o dólar bastante alto, mesmo ao ponto de este seu valor, face a outras divisas, ser prejudicial para os próprios EUA. Além disso, o alto valor do dólar tem sido desastroso para os países emergentes, que têm pedido dinheiro emprestado em dólares e vêm a sua dívida aumentar sem poderem fazer nada.

Do lado do banco central europeu (ECB) nada disso aconteceu, entretanto. Apenas uma vaga promessa de que iria reduzir o programa de compra sistemática das emissões de dívida dos países mais fracos do euro. Caso o ECB efectivamente cumpra a promessa, as obrigações destes países irão, sem dúvida, sofrer um tombo (e os juros das mesmas, uma subida abrupta). Veremos se irá aplicar mesmo esta medida que anda a anunciar há tanto tempo
Em consequência dos juros das obrigações soberanas desses países, a estrutura toda do crédito ficará afectada, provocando um arrefecimento brusco da economia. 
Mas a economia do espaço Euro está longe de estar «sobreaquecida»; esta travagem equivaleria a uma descida para nova crise de depressão. 
As economias dos países que beneficiam das compras sistemáticas de obrigações soberanas (Portugal, Espanha, Itália, Grécia) estão - neste momento - a sobreviver, com algumas dificuldades. O encarecimento brusco dos juros seria sinónimo de catástrofe para elas. A economia real sofreria imediatamente com isso e também os especuladores internacionais, «hedge funds», etc., iriam atacar o Euro e «abocanhar», por baixo preço, muitos activos rentáveis, denominados em Euros. 

O ECB causa e mantém uma estrutura artificial do crédito no espaço Euro, ao fazer as compras sistemáticas da dívida dos referidos países. As obrigações destes, estando artificialmente cotadas, vão influenciar o preço do dinheiro, a estrutura do crédito em toda a zona. 
A remoção deste amparo artificial irá fazer com que as obrigações de dívida dos países do sul europeu revertam para valores realistas, que reflectem o grau de confiança dos investidores internacionais nestes títulos e, por extensão, nas economias dos países emissores. 
Assim, criou-se uma dependência tremenda, entre o banco central e os países mais fracos da zona Euro. A continuação deste estado de coisas, que dura desde 2012, levanta a questão importante da alocação do capital: 
- Com efeito, num sistema capitalista, a maneira de avaliar a pertinência de um investimento é pelo retorno sobre o capital investido, o rendimento obtido depois de descontadas as diversas despesas, incluindo o custo do crédito. Ora, caso o crédito seja artificialmente baixo, a avaliação da adequação e rentabilidade dum investimento poderá ser muito falseada. 
Quanto mais tempo a estrutura do crédito estiver distorcida e der sinais errados à economia real, mais se irão multiplicar os investimentos equivocados, que resultarão em perdas em vez de lucros, logo num maior número de falências. 
Uma má alocação do capital, o seu desvio para muitos negócios que são apenas rentáveis na aparência e no curto prazo, verifica-se já hoje, em detrimento de outros investimentos, que poderiam ser realmente produtivos: 
- Vejam-se as valorações bolsistas, geralmente a níveis de 20 ou 30 vezes acima da avaliação das empresas cotadas, ou no imobiliário: trata-se de bolhas especulativas, portanto totalmente insustentáveis e destinadas a rebentar, mais cedo ou mais tarde.

Está, desde há vários anos, instalado um sistema de dependência mútua, mas destrutivo, porque a remoção destas compras sistemáticas pelo ECB poderá precipitar uma catástrofe; mas sua manutenção apenas origina distorção inflacionária dos mercados, que mais cedo ou mais tarde, acabam por reverter aos valores de longo prazo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

JAPÃO, CENÁRIO DA PRÓXIMA CRISE?

Muitas pessoas, mesmo relativamente instruídas em termos de políticas financeiras, ignoram tudo das contas públicas e finanças do Japão, a terceira economia mundial.

                       Banco de Japón transforma su política monetaria

O Japão, essencialmente, leva a cabo uma política de impressão monetária desde os anos noventa, com zero de sucesso. A sua política monetária consiste em tornar o yen muito barato, por forma a que os investidores internacionais procedam ao «carry trade» com o dólar ou outras divisas «fortes». Com isso, aumenta a competitividade dos seus produtos, sendo um dos maiores exportadores mundiais de  produtos industriais sofisticados. Mas, o modo como «embaratece» o yen é muito importante compreender, também: o banco central do Japão compra essencialmente toda a dívida em obrigações do tesouro, sendo um papel com um rendimento virtualmente zero (0,3%). Quando se está num ambiente em deflação, manter em carteira um activo com juro próximo de zero é aceitável, pois ainda assim o valor do activo não desce, mas quando a inflação começa da despontar, como agora, com 1% sendo previsto que atinja os 2% dentro de pouco tempo, qualquer investidor quer livrar-se das obrigações japonesas da dívida que apenas lhe trazem prejuízo. 
Ora, a situação presente é de que o serviço da dívida (pagamento do capital mais os juros) ascende a 24,1% das receitas de impostos, sendo que a inflação agora é somente de 1%. O BCJ (Banco Central do Japão) está a comprar todas as obrigações que aparecem no mercado, tendo para isso que imprimir triliões de yen. É certo que os juros pagos com o dinheiro do orçamento irão quase todos para detentores japoneses, o próprio Banco Central, fundos de pensões, investidores particulares... Porém, o  peso crescente da dívida no orçamento, torna o próprio funcionamento do Estado e da economia muito frágil: Bastaria a subida de 0,3% de juros para 1% de juros - provável, numa situação onde a inflação cresce -  para que praticamente a totalidade da receita de impostos seja devorada pelo serviço da dívida. Seria um cenário catastrófico. Caso a situação atinja esse ponto, a realidade do endividamento extremo das principais economias e Estados ao nível mundial será impossível de esconder do grande público. Pois, a realidade é que essa situação já existe e os governos e bancos centrais têm-se limitado a disfarçar o descalabro. Mas a ignorância do público, em geral, que se verifica mesmo nas economias mais afluentes, é o único facto que nos distancia de um colapso geral neste cenário, em que se acumularam triliões de dívida ... essencialmente impagável!