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segunda-feira, 24 de março de 2025

PORTUGAL, «O COLAPSO EM CÂMARA LENTA»

 No vídeo seguinte são apontadas algumas das graves disfunções, que têm sido responsáveis pela crise. Esta tem sido mais longa e mais profunda que noutros países europeus. Na realidade, conjugam-se três crises, ou três componentes de uma mesma crise estrutural: demográfica, económica e social.

Na realidade, as raíses do fenómeno português podem ser procuradas bem longe, na História. Porém, no relativo curto prazo, situo a deriva agravada a partir do ano de 2015 quando, saído de uma grave recessão e com num processo anémico de crescimento, o país foi governado pelo centro-esquerda, tendo antes estado entregue ao centro-direita. 

Na realidade, trata-se de duas versões da classe dominante. Esta burguesia local tem estado vassalizada - principalmente - aos senhores da UE, à Comissão Europeia e aos governos dos países mais fortes (Alemanha e França sobretudo). 

A opção do governo P«S» de Carlos Costa, foi de  dar rédea larga à exploração de curtíssimo prazo resultante da bonança momentânea com o turismo, criando condições para uma enganadora retoma económica. Enganadora, pois não se baseava em desenvolvimento estratégico, como seria o caso, se houvesse real investimento em infraestruturas e em formação. Mesmo nos sectores «dos ovos de ouro», turismo e imobiliário, não havia real estratégia. O imobiliário foi entregue a empreendores exclusivamente virados para a construção ou reabilitação de elevados custos finais, destinada à fina camada de portugueses endinheirados e -sobretudo - aos muitos estrangeiros, principalmente da UE, mas também dos EUA, do Brasil, da China, etc. Estes superricos viam a compra de imobiliário em Portugal, como sendo um investimento com boas hipóteses de valorização. Era também avaliado este país como sendo «seguro», em termos de proteção da propriedade capitalista. 

Com a crise do COVID primeiro e depois com a deterioração do clima económico na UE, entrou-se em recessão. Esta, tem sido negada pelas estatísticas enviesadas. Mas, as condições precárias dos não-beneficiários com o «mini-boom» turístico, foram tornando-se cada vez piores. Muitos partiram para o estrangeiro, sobretudo jovens, como está documentado no vídeo. Mas, esta emigração em massa só trouxe prejuízo ao país, pois acentuou a condição de país exportador de mão-de-obra e cuja juventude - altamente qualificada- por falta de emprego adequado, é obrigada a fazer carreira no estrangeiro (a «drenagem dos cérebros» ou «brain drain»). 

A dependência estrutural de Portugal não é uma fatalidade, porém:

 Portugal possui boas condições naturais, climáticas e geográficas, para arrancar para um desenvolvimento autónomo. Mas, para isso, seria necessário que a camada dirigente dos partidos de governo tivesse uma perspectiva patriótica. Ora, esta camada é totalmente o oposto: sofre dum complexo de inferioridade face ao estrangeiro, em todos os setores do espectro político: de direita, de centro e de esquerda. O mais frequente, é digladiarem-se para arrancar mais benesses ao Estado, através do controlo da media de massas. 

A casta governante está inteiramente devotada aos interesses corporativos; sua sujeição canina ao imperialismo e à OTAN, são outro sinal claro disso.




sexta-feira, 21 de junho de 2024

SOBRE A EXTREMA-DIREITA EUROPEIA, NAS RECENTES ELEIÇÕES

 Quem está com o nariz sobre o assunto, frequentemente acaba por errar o diagnóstico, por estar demasiado focalizado em detalhes que são importantes, sem dúvida, mas que colocam de fora a realidade mais geral da dinâmica da sociedade. 

Quer queiram quer não,  sociedade está dividida em classes. Estas, têm antagonismo natural, visto que seus interesses fundamentais são contraditórios. Isto não significa que a classe dos oprimidos não se engane nas causas para as suas condições cada vez mais miseráveis e, particularmente, para a sua destituição da «cidadania»: Um conceito que apenas se aplica - em pleno - para a classe dominante, a burguesia, para os não proletários, para aquelas pessoas «naturalmente» candidatas ao poder (ou como auxiliares do mesmo).

A escola desempenha um papel, pois está sempre na situação ambígua de afirmar valores «republicanos» de igualdade, face às diversas etnias, às diversas origens sociais, por um lado. Mas, por outro, todo o sistema educativo é uma enorme máquina de selecionar os melhores serventuários do sistema.
Ou seja, está - em teoria - a proporcionar oportunidades para os destituídos (os seus filhos) se emanciparem mas, ao mesmo tempo, está criando e reproduzindo uma nova geração de serventuários, que não questionam sequer a classe dominante, seja porque pertencem a esta ou, mais frequentemente, porque pertencem a extratos que estão na orla do poder e desejam ascender a postos de prestígio. 
Os bons alunos reproduzem - inconscientemente, na maioria dos casos - os passos levados a cabo, na geração anterior, pelos seus pais. 
Por outro lado, os destituídos cedo reconhecem encontrar-se perante a falsa igualdade, de que a promessa de igualização das classes, através da educação que lhes é proporcionada. Ela está falseada à partida, pois o contexto social em que crescem as crianças, condiciona muitíssimo seu percurso escolar.
Na realidade, a chamada «escola republicana» é uma fábrica de fracassos, de excluídos. Aqueles mesmos que irão desempenhar as tarefas mais mal pagas e menos prestigiosas, de que o sistema, no entanto, precisa para se auto perpetuar.
É evidente que, se tivermos um pouco de empatia para com tais membros das classes ditas «inferiores», podemos compreender a sua revolta. 
Mas, isso não significa que eles próprios identifiquem corretamente o seu inimigo. Nem, tão pouco, que as soluções pelos partidos xenófobos e de extrema-direita, sejam as acertadas. 
Quer falemos de «pessoas de cor», de «gerações de filhos dos emigrados», ou de membros autóctones da classe operária, todos eles sempre foram exteriores ao padrão de cultura da escola. Estamos a falar daqueles que estão destinados, na imensa maioria, a preencher o papel social que tiveram os seus progenitores (não existe «ascensor social» para eles). Isto, faz parte da base do funcionamento concreto da sociedade de classes existente. 

O problema que se coloca em relação aos partidos de extrema-direita, semelhantes em xenofobia a vários partidos do sistema, é que as suas direções têm sabido usar, com sucesso, a insatisfação dos excluídos do sistema para se guindarem ao poder. A serem os novos senhores da República, os novos capatazes do poder do dinheiro. 
Se conseguirem, serão uma nova versão de burguesia reacionária, que em vários períodos da História, tomou conta das «democracias» burguesas, perante a desmoralização destas, devido ao facto dos detentores diretos do poder político terem perdido toda a credibilidade. Tão abjectos, tão desavergonhados se comportaram eles, que se tornava urgente (para importantes setores da burguesia industrial) a retirada dessa fração da burguesia dos comandos do poder, para a substituir por outra.
Essas guinadas para a extrema-direita, no passado, vieram evitar que  tal situação se tornasse revolucionária. O descontentamento e a indignação perante a perda de direitos tem levado, em vários momentos da História, os destituídos a tomar as coisas em suas mãos e correr com os parasitas que ocupavam o poder.

É este o contexto de fundo das derrotas dos partidos de centro-direita e do centro-esquerda no xadrez político-eleitoral europeu. A extrema-direita aproveita, como seria de esperar. Mas, não se pode ter qualquer ilusão de que ela poderá servir genuinamente os interesses do povo, ela apenas utiliza o seu descontentamento.