Mostrar mensagens com a etiqueta folclore. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta folclore. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 2 de junho de 2025

VILLA-LOBOS e Música da América Latina (Segundas-f. musicais nº36)

                                   O VIOLÃO DE VILLA-LOBOS, por TURÍBIO SANTOS


                       

Este meu texto é para confessar a minha ignorância. 
Eu sei que existem escolas nacionais no continente Sul e Centro Americano; que há imensos intérpretes que divulgam em concerto e disco as composições destes latino-americanos.  
Sei também que a música «erudita» desses países incorpora naturalmente muitos elementos de folclore tradicional destas regiões. No entanto, o meu foco de estudo tem sido a música «clássica» europeia, em especial o barroco, o classicismo e o romantísmo. 
Isso deve-se à minha educação; ao que tive oportunidade de aprofundar nos anos formativos da minha vida. Mas, reconheço que este etnocentrismo é - afinal - um empobrecimento ao nível pessoal e do público nos países europeus, em geral. 


Bachianas Brasileiras No. 5 • Villa-Lobos • Barbara Hannigan




Encorajo as pessoas que me lêem a procurar ativamente as obras de Villa-Lobos, como de outros geniais compositores da América Latina: Do México, até à ponta Sul do continente, da Argentina e do Chile.


Márquez: Danzón Nr. 2 ∙ hr-Sinfonieorchester ∙ Andrés Orozco-Estrada



 Tenho copiado obras de compositores latino-americanos para este blog. Pode considerar estes exemplos como um estímulo para descobrir outras jóias musicais da América Central e do Sul.













GUITARRA CLÁSSICA (contém várias composições para violão da América latina)

domingo, 22 de setembro de 2024

DANÇAS IBÉRICAS (Segundas-f. musicais nº18)

 FANDANGO- FLAMENCO - FOLIA - PASACALLES - CHACONA 

O Fandango é uma dança popular, de origem espanhola do séc. XVII, mas que pode ter sido adaptada de danças extraeuropeias, tal como outras danças, originadas na América Central ou do Sul, ou ainda nas Canárias.

                                                Fandango de Soler, discípulo espanhol de D. Scarlatti

Em Portugal, o fandango surge no séc. XVIII, provavelmente trazido por trupes teatrais castelhanas. Tornou-se rapidamente elemento do património folclórico português. 

Hoje em dia, o fandango está muito associado aos forcados do Ribatejo (uma espécie de «cowboy português») mas os grupos instrumentais e de danças, do Minho aos Açores, utilizam o fandango.

Dois grandes músicos de origem italiana, que exerceram a maior parte da carreira de músicos nas cortes da Ibéria, Domenico Scarlatti e Luigi Boccherini, compuseram fandangos, ou melhor, arranjos do fandango para cravo (Scarlatti) e para pequeno conjunto instrumental  (Boccherini).

A origem do fandango será talvez sempre obscura, como muitas expressões da criatividade popular, depois retomadas como moda pelas classes mais elevadas, como a aristocracia, no séc. XVIII.  

Sua difusão e perpetuação dá-se pela apropriação pelo povo e com modificação da dança cortesã. Isto é observável com as Pasacalles e a Chacona (ambas oriundas da América hispânica e trazidas pelos marinheiros), a Folia (de provável origem portuguesa). Todas estas danças, de origem plebeia, foram codificadas por músicos «eruditos» e integradas em Suites de danças ou em peças autónomas, do tipo «Tema com variações».

Quanto ao flamenco, a sua origem remonta ao início do Renascimento. Foram compostas versões instrumentais, por António de Cabezón (músico da corte de Carlos V), usando a sequência do baixo e a estrutura harmónica do Villancico «Guarda me Las Vacas», dos Séc. XV e XVI. 

                               Diferencias «Las Vacas», A. de Cabezón

Devido à relativa similitude do ritmo e das formas de dançar, muitas pessoas confundem o fandango e o flamenco. Porém, são duas formas de dança distintas, culturalmente pertencentes ao mundo ibérico, ambas de origem popular e posterior apropriação erudita. 

Em Portugal, é muito conhecida a toada do fandango; consiste num baixo obsessivo*, sobre o qual se vêm desenvolver variações do tema melódico.

                                        https://www.youtube.com/watch?v=E3NSldeHE_0

O esquema é semelhante ao das danças supracitadas, a Pasacalle, a Chacona, a Folia e o Flamenco

Para finalizar, vejamos/oiçamos uma versão para conjunto de câmara, sobre original para cravo de D. Scarlatti, interpretada no Palácio Nacional de Ajuda (Lisboa), pela Orquestra Sem Fonteiras.

                                          https://www.youtube.com/watch?v=7EMgb4BimxE

É curioso que as cortes europeias do passado tenham -repetidas vezes- assimilado danças populares, transformando-as em modas cortesãs. É difícil de imaginar isso hoje em dia, pois a aristocracia do dinheiro ou oligarquia, não tem qualquer afinidade com o sentir do povo; suas músicas e modas preferidas são totalmente diferentes das populares. Conservam assim a separação estrita da sua casta, originada pela fortuna.


-----------------

*) O «basso ostinato» é muito usado noutras composições, em escolas não-ibéricas: É o caso do célebre ground em Dó menor, por William Croft (durante muito tempo atribuído a Henry Purcell)