domingo, 30 de janeiro de 2022
HUMILDE PLANTA PÕE EM CAUSA A VALIDADE DA GENÉTICA MENDELIANA?
sábado, 29 de janeiro de 2022
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA, UM LOGRO? Conferência por Jean-Baptiste Fressoz
(falado em francês. Tem legendagem em inglês)
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
A CASTA, ou a colonização do Estado pelas corporações
Vou tomar um pouco de recuo. Vou tentar abarcar neste escrito de reflexão sobre política, uma visão panorâmica da Evolução do Estado, do Estado moderno em particular, da imbricação entre o Estado e os interesses corporativos, no capitalismo. Não irei ser exaustivo. Excluirei desta discussão os «capitalismos de Estado», que passaram por «socialismos», não que não sejam interessantes, mas pelo facto de serem merecedores doutra reflexão, centrada neles.
Eu irei refletir sobre o chamado «capitalismo de conivência», designação que eu acho a mais apropriada para traduzir do inglês «crony capitalism», ou do francês «capitalisme de copinage».
Adotarei um ponto de vista marxista, no sentido de dar como provado que o Estado é sempre uma configuração do poder, moldada de acordo com os interesses e a visão geral da classe dominante. Isto, sempre se verifica, em última análise, por mais que os discursos ideológicos - por vezes, só retórica vazia - tentem nos persuadir de que o Estado tem como vocação salvaguardar o interesse geral, por cima dos interesses particulares.
Aquilo que chamam neoliberalismo e se pode caracterizar justamente como nova etapa do relacionamento do capital (o «business») com o poder estatal, não caiu do céu. Houve homens e mulheres que fizeram muito para que ele triunfasse, teve organizações que o promoveram, estrategas que o pilotaram e -sobretudo- capitalistas oligárquicos, beneficiários da viragem, ocorrida desde o fim dos anos 70 do século passado, até hoje.
Na verdade, estamos a desembocar numa nova era. Mas, não é uma era em rutura com o que foi, no passado. Porém, é preciso não cair na ingenuidade teórica de a julgar pelos mesmos padrões que os do passado. Isto, porque, justamente, os padrões do passado serviram para a sociedade desse passado: Eram adequadas as visões de um Locke, de um Montesquieu, de um Marx, ou ainda de muitos outros brilhantes teóricos, para as suas épocas respetivas. Nessas épocas, eles tentaram descrever, analisar e, por vezes, reformar ou revolucionar, a sociedade que estava diante de seus olhos.
A sociedade medieva e o seu prolongamento até ao final do século XVIII foi caracterizada como sociedade feudal, organizada em torno dos «estados» ou «ordens». Eram a nobreza, o clero e o povo, cada uma com o seu lugar na sociedade, sendo tal ordem imutável, pois derivava da vontade Divina. Este complexo mental, que justificou os Estados monárquicos e o feudalismo, como «modo de produção», teve o seu «veneno mortal» no capitalismo nascente. Não irei aqui refazer a História, que está feita por inúmeros historiadores, isso seria presunção da minha parte. Mas a sociedade transformou-se, com o advento do capitalismo. Este, a partir do momento em que se tornou na força dominante, foi moldando, não apenas a esfera económica e produtiva, mas também o poder de Estado. O nascimento do Estado moderno não se fez de uma vez e sem sobressaltos, antes pelo contrário.
Porém, o sistema binário «Estado-capital» foi-se modificando ao longo do tempo, sendo visível uma cada vez maior concentração do capital nas mãos da finança. Também, os próprios bancos tomaram o controlo, de facto, sobre a indústria. A partir de certo ponto, sobretudo após a IIª Guerra Mundial, os grandes empórios da finança avançaram para tomar o controlo dos Estados. Conseguiram dominar as próprias instituições de regulação públicas, construídas após a referida guerra. Com efeito, as instâncias estatais, regionais e mundiais foram colonizadas por «apparatchik» formados na ortodoxia neoliberal. Estes, tomaram por dentro estas mesmas instituições. Este processo ocorreu a vários níveis e em simultâneo.
Sei que sou totalmente incompetente para escrever esta História, ou seja, a história de como o capital financeiro e das empresas tecnológicas (como as da «Silicon Valley») se foram apropriando do controlo das instituições estatais. Note-se que estas instituições de direito público (nacional ou internacional) eram, ao mesmo tempo, reguladoras dos mercados e tinham capacidade de sancionar os negócios da banca e das grandes empresas multinacionais. Este processo de infiltração e controlo, tanto ao nível de instâncias nacionais (Estados-Nação), como regionais (ex.: União Europeia), ou globais (OMC, FMI, BIS, etc.), teve o resultado prático de pôr os grandes grupos corporativos acima de qualquer lei, de qualquer regulação. São, simultaneamente, os «réus» e os «juízes» em causa própria. No máximo, terão algumas multas cosméticas, sem efeito na rentabilidade dos seus negócios ou somente repreensões moralizantes. De qualquer maneira, se soubermos dos escândalos, quer nacionais, quer internacionais vemos, pelo modo como não se fez justiça, que este mundo é regido, não pela lei (dos Estados ou Internacional), mas - de facto - pela força, pela chamada «lei do mais forte».
O papel do Estado, nestas circunstâncias, é cada vez mais reduzido. A função principal que lhe é reservada, é a de reprimir o povo, mas dando a ilusão de que está ao seu serviço. Vimos isso com a repressão do movimento dos «Gilets Jaunes» em França, ou dos protestos contra a obrigatoriedade da vacinação anti-COVID e das políticas de «lockdown». A mesma coisa se observou, em relação muitos outros movimentos populares, nos últimos 20 anos, em particular.
A exceção (o facto de não haver repressão pelas forças da «ordem»), são as manifestações identitárias (sobre a igualdade de género, o combate à homofobia, antirracismo, etc.). Mas, esta luta identitária e parcial é sempre liderada por pessoas imbuídas duma ideologia favorável à classe reinante. Esses líderes põem as suas lutas parciais em oposição a outras, nomeadamente às lutas de classe de caráter económico. Porém, a luta contra a exploração económica nunca deixou de ter razão de existir, como é evidente.
As lutas de classe, as lutas pela paz, pela independência dos povos e nações e, ainda, a luta anti-imperialista, caracterizaram os movimentos sociais nos anos 60 e 70 do século passado. Nos anos mais recentes, elas foram controladas e depois anuladas pelos Estados, enquanto mandatários do grande capital, com a colaboração dos partidos que se revezavam no poder.
A perversidade desta mudança e a falta de formação política dos cidadãos, fez com que muitos continuassem a «ter fé» nos dirigentes de partidos que recolhiam os votos do proletariado e da pequena burguesia. Não viram logo que estes partidos, nominalmente socialistas ou de esquerda, desencadeavam ou viabilizavam os piores recuos. E isso, continuamente, desde há 40 anos: A contrarreforma do código do trabalho, a contrarreforma do sistema de pensões e muitas outras, todas elas ditadas pelo capital globalista.
A casta política é a mesma que a casta dos negócios e dos empórios financeiros. Ela serve-se de peões para a sua política contra os povos:
- Os jornalistas da «média corporativa», tendo como proprietários os grandes capitalistas. A concentração da «mass media» é tal que, na prática, existe uma exclusão de tudo o que seja real ou virtualmente contrário à narrativa da oligarquia. São gentes dos media que têm conduzido, com enorme arrogância, campanhas de terrorismo psicológico, desencadeando uma psicose de medo na população, a pretexto do COVID.
- As «forças da ordem» são chamadas, com cada vez maior frequência, a desempenhar um papel repressivo. Foram treinadas/condicionadas, para exercer uma repressão brutal de qualquer dissidência, mesmo a mais pacífica. À medida que a situação social e económica dos desapossados piora, os governos vão recorrendo, com maior frequência às «forças antimotim».
- As ONGs (Organizações Não Governamentais) que se têm posto ao serviço do globalismo. Usam «causas» como o «Aquecimento Global», a «Economia Verde», o «Feminismo». mas estas lutas foram tornadas inócuas. Foi desativado seu potencial revolucionário. Os que estão à frente dessas ONGs utilizam as suas posições de maior destaque para fazer carreira política. Muitos desses líderes acabam por ocupar cargos no governo, terem assentos de deputados, ou noutros postos do aparelho político.
A total dominação do Ocidente pela «casta» irá trazer como consequência o fim da democracia liberal. Como têm vindo a anunciar Klaus Schwab e outros, planeiam substituir a democracia liberal por uma ditadura, onde a técnica transgénica, nano-computorizada e a «AI» (Inteligência Artificial), serão aplicadas ao controlo total da sociedade. É o programa da oligarquia mundializada. Parece-se com romances ou filmes de ficção científica. Porém, desta vez, é a realidade.
Infelizmente, não poderemos contar com os partidos de esquerda parlamentar para levar a cabo um combate eficaz contra a dita casta. Tal esquerda, antes portadora de esperança, passou a ser porta de entrada para a «casta». Evidentemente, não falo de toda a militância de esquerda, mas da «elite» nessa esquerda. Em vários países, tanto da Europa como da América do Norte, já não existe esquerda com representação parlamentar e coerente com os ideais que, antes, professava. É penoso ver que o termo «esquerda», só permanece válido como designação dos deputados que se sentam do lado esquerdo nos hemiciclos. A corrução e desnaturação dos sistemas parlamentares serve a oligarquia que, assim, poderá continuar a desenvolver o seu programa, deixando o povo na ilusão de que vive «em democracia».
Mas, as pessoas vão acabar por abrir os olhos, não há hipótese de que se mantenha por muito tempo o estado hipnótico, perante realidades duras e em contradição com as ilusões induzidas. Com o rebentar da crise, vai haver revoltas, causadas pelo desespero. Serão reprimidas. Mas, o agudizar da crise vai impulsionar mais e maiores revoltas. A casta no poder não irá, voluntariamente, largar nem um pedacinho dos seus privilégios e luxos. A sua loucura e arrogância são tais, que estão seguros de implantar uma «nova era industrial»: a do «transumanismo».
Só espero que, neste confronto, que eu vejo como inevitável, a «casta» seja varrida.
PS1: Num artigo citado no Herland report, Paul Craig Roberts alerta-nos para o facto de termos escapado por pouco a uma tirania global: Se a «casta» não for arredada do poder, temo que acabem instaurando a tirania plena: Isto porque, no caso de permanecerem regimes com um certo grau de liberdade, os seus crimes poderão ser investigados, julgados e condenados. Como sabemos, eles são enormes e monstruosos. Para apagar o rasto deles, irão tentar impor a tirania, ou o totalitarismo.
AQUILO QUE NÃO TEM PREÇO [entrevista a Annie Le Brun]
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
INVERNO [OBRAS DE MANUEL BANET]
«Paisagem vista através de janela»(Fyodor Smirnov)
Assomam pássaros esbaforidos aos beirais das janelas
Ventos frescos varrem as nuvens e trazem perfumes agrestes
Tudo a renascer à minha volta no tempo certo da Primavera
Mas aqui o Inverno permanece, não me veio visitar, comigo mora.
Envolto em neve resplandecente abraça-me e seus frios lábios
Segredam amorosamente a cada instante da terna estação
- As memórias são teu vital sustento… o passado vive!
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
BLACKMAIL
Segundo o pensamento das elites de Washington, para que o império EUA mantenha a sua hegemonia, precisa de inviabilizar a subida de qualquer poderio rival que possa colocar em risco essa hegemonia. É esse o caso da Rússia e da China, segundo os imperialistas americanos. Simples e direto, este raciocínio é falso e especioso. É basicamente erróneo, porque nunca nenhum poder, por maior que fosse, foi detentor duma hegemonia em todo o planeta. Querer isso, é um sonho megalomaníaco, que apenas o Império Britânico, onde «o Sol nunca se punha», tentou (e falhou), durante um período relativamente curto, menos de um século. Os poderes europeus, na sua expansão imperialista e colonial, entraram numa rivalidade mais acesa no século XIX, ao ponto de desembocarem na Iª Guerra Mundial, em 1914.
O sonho imperial de hegemonia planetária está decisivamente posto em causa pela subida em potência da China e da Rússia, aliadas e em sintonia, para enfrentar os ataques raivosos dos governos de Washington e das «repúblicas das bananas», em que se transformaram os países europeus, mesmo os mais ricos e com passado «glorioso».
Em termos económicos e no longo prazo, os dois gigantes do Continente Euroasiático e seus aliados, estão preparados para enfrentar as mais drásticas sanções que os EUA e o «Ocidente» se lembrem de lançar. De facto, as sanções atualmente em vigor, lançadas com pretextos falaciosos, apenas tiveram efeitos nefastos para as economias europeias. Estas, ficaram com menos mercados para aí colocarem os seus produtos, ficaram também com menos matérias-primas para suas indústrias e carentes de componentes de alta tecnologia, como os «microchips», fabricados quase exclusivamente na China e fornecendo a indústria automóvel e de eletrodomésticos. O embargo de produtos agrícolas à Rússia teve como resultado o desenvolvimento rápido da agricultura russa, fazendo dela um setor exportador, além de ter atingido a autossuficiência no setor alimentar. Pelo contrário, as proibições de exportação para a Rússia, liquidaram muitas pequenas e médias empresas agrícolas europeias. Tiveram especial dureza nos países da orla do Mediterrâneo (exportadores de fruta e legumes frescos).
A fabricada «ameaça de invasão» da Ucrânia pelo exército russo, já tratada por mim detalhadamente noutro artigo deste blog, tem como única razão de ser, que os americanos temem - acima de tudo - a independência energética dos alemães.
Com efeito, a Alemanha possui um nível científico e tecnológico muito elevado, e conservou sua infraestrutura industrial, ao contrário doutros países europeus que a exportaram largamente para o Extremo-Oriente, em particular. Por estes motivos, a Alemanha será, provavelmente, o poder dominante no século XXI, na Europa. Ora, para o imperialismo dos EUA, isso não será nada favorável: Na Alemanha está estacionado (desde o fim da IIª Guerra Mundial) um exército de ocupação americano, essencial para o dispositivo hegemónico no coração da Europa. Mas, nenhuma potência de primeira grandeza ficará satisfeita de ter um corpo estranho permanentemente estacionado no seu território, com as consequências políticas, económicas e de autonomia que isso implica.
A questão do «Nord Stream 2» é - portanto - o fator que está por detrás de toda a histeria fabricada em torno do «perigo» russo, da sua preparação da invasão da Ucrânia, que nunca foi, nem será efetiva, como já demonstrei anteriormente.
O jogo dos EUA é, antes de mais, um jogo de pressão destinado aos «aliados/vassalos» europeus, em particular, sobre os alemães. Do ponto de vista económico, a Rússia está pouco interessada em vender o seu gás natural à Europa. Ela tem um mercado sempre aberto e voraz em recursos energéticos, na China. Ela não terá problemas em colocar aí o seu gás natural, caso os europeus não o comprem. Pelo contrário, estes têm tudo a perder: um abastecimento regular e garantido, com preços estáveis, resultantes de contratos a longo termo.
Sem isso, será impossível a Europa cumprir a severa transição energética, que a si própria impôs. Não vou aqui discutir se foram sábias, ou não, as decisões políticas e económicas dos governos europeus. Apenas constato que a transição para uma energia menos poluente (eliminação do carvão como fonte de alimentação de centrais elétricas, entre outros objetivos), fica posta em causa, se a Europa não puder contar com o gás russo, no período de transição.
A referida transição tornou-se mais difícil, pela decisão de desativar as centrais nucleares, um pouco por todo o lado, na Europa, mas em particular, na Alemanha. Foi uma decisão precipitada, motivada, não pela necessidade, mas pelas agendas eleitorais na Alemanha e em vários outros países.
Todos nós já sabemos que as energias eólica e solar não são operacionais, se não existir outra fonte de energia de produção constante, alimentando a rede elétrica. Por definição, nem as eólicas nem os painéis voltaicos, podem jamais ser fontes constantes. Também não existe qualquer processo pouco dispendioso de armazenar grande quantidade de energia duma fonte intermitente (como são as energias solar e eólica). Portanto, só a energia nuclear ou o gás natural poderiam fornecer a base de estabilidade para as redes de energia elétrica, aquando dos picos de consumo (ou quando é noite, ou quando não há vento).
A «solução» americana, de fornecer à Europa (no caso desta renunciar ao Nord Stream 2) gás de fracking, através da sua liquefação e envio em grandes navios-tanques, é uma «pseudo-solução». Envolve compressão, confinamento em tanques capazes de sustentar uma grande pressão, deslocação em navios-tanques, os quais têm de ter determinadas características. Todas as infraestruturas portuárias e todas as outras componentes do processo terão de ser construídas especificamente para este fim. O resultado é que a montagem do dispositivo e a operação do mesmo, irão encarecer o produto. O envio de gás por gasoduto, é incomparavelmente mais barato e mais seguro.
São dois, os motivos que levam os americanos a tentar impor aos europeus a renúncia ao «NS2» e ao gás russo:
-Querem «desencravar» a indústria do fracking que está em crise: O preço do gás não cobre as despesas de exploração dessas empresas. Estas empresas que exploram o gás de xisto, fizeram empréstimos, sobre empréstimos que foram «segurados» pelos bancos. Estes, por sua vez, venderam esta dívida a clientes, tal como tinham feito com as hipotecas «subprime». A única maneira das empresas de fracking pagarem os empréstimos, é tornarem-se rentáveis, coisa que até agora não provaram sê-lo. Por razões ideológicas, não creio que o governo dos EUA vá subsidiar diretamente o setor do fracking. Portanto, os vassalos europeus, quer gostem ou não, serão forçados a tornar viável este setor energético dos EUA, que é um enorme buraco, um péssimo investimento.
- Querem partir a Europa em duas metades assimétricas; a metade que lhes é submissa, totalmente separada da Rússia europeia que é uma fatia muito grande da Europa. Lembremos que esta se estende do Atlântico aos Urais! A necessidade de terem a Rússia como inimiga é, sobretudo, a de terem na mão os seus aliados (súbditos) da Europa ocidental. Poucas pessoas sabem que a Rússia de hoje, apesar de ser um gigante, em termos de área, tem um PIB da mesma ordem de grandeza que uma Itália! Por isso, a estratégia americana é simples; trata-se de manter a tensão nas fronteiras europeias da Rússia, para que se eternize a NATO. Se esta se mantiver, a Europa continuará firmemente sob o controlo da «Nação indispensável» (Barack Obama dixit).
Não é nada difícil compreender - neste imbróglio relativo à «invasão» da Ucrânia - o seu papel de propaganda, de manobra de diversão: Trata-se de dissipar o efeito, nos aliados europeus da NATO, da posição russa de exigir uma negociação séria, para obter garantias sólidas quanto à sua segurança própria e dos seus vizinhos. Os europeus (de todas as nações) só teriam a ganhar com tal abertura de negociações diplomáticas, com vista à obtenção, para a Europa no seu todo, de garantias de estabilidade, tanto em termos militares, como políticos e económicos. Isso não poderá jamais agradar aos imperialistas americanos!
Em primeiro lugar, ficaria claro que não é assunto deles, não têm legitimidade para se sentarem à mesa das negociações: não tem a ver com as fronteiras americanas, nem diz respeito às relações com os vizinhos dos EUA. Em segundo lugar, poderia desembocar na desativação da NATO, substituída por uma estrutura não-militar, mas diplomática. Essa estrutura iria debruçar-se sobre conflitos pendentes e sobre os futuros. Teria a função de encontrar vias para uma resolução pacífica, diplomática, dos mesmos. Talvez bastasse darem mais operacionalidade à OSCE.
Um «capo» da Máfia nunca vai aceitar que os seus «protegidos» se organizem fora da sua «proteção» (ou racket). Quanto tempo demorará a Europa a libertar-se deste «padrinho»?
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PS1: Veja o vídeo de entrevista de «Grayzone» AQUI
PS2: Artigo de Mike Whitney extremamente bem documentado e demonstrando o absurdo da política americana em relação à Rússia, agora e desde o fim da Guerra Fria: https://www.unz.com/mwhitney/moscow-to-washington-remove-the-nukes-on-our-doorstep-and-stop-the-eastward-push/
PS3: Hoje 02/02/2022, síntese magistral sobre a crise Rússia/ EUA/NATO/Ucrânia https://www.paulcraigroberts.org/2022/02/02/the-world-needs-a-russian-chinese-pax-romana/
PS4: Artigo «How NATO Empire-Building set stage crisis over Ukraine» está escrito na perspetiva do constitucionalismo e dos valores tradicionais da América. É uma crítica contundente da geopolítica e política externa levadas a cabo pelos EUA desde o colapso da URSS. https://www.zerohedge.com/geopolitical/how-nato-empire-building-set-stage-crisis-over-ukraine
PS5: Este artigo descreve o jogo geopolítico americano, ao longo dos anos, em relação ao gás natural russo, importado pela Europa desde os anos 60. https://www.zerohedge.com/geopolitical/pipeline-politics-hits-multipolar-realities-nord-stream-2-ukraine-crisis
PS6: Maria Zakharova põe a claro a situação de vassalos dos países europeus da NATO, em particular da Alemanha, face aos EUA. O que também eu tinha escrito há um mês. Qualquer pessoa não-mentecapta sabe que é assim. https://www.rt.com/russia/548712-germany-occupied-us-nordstream-zakharova/
PS7: Mike Whitney «In a world where Germany and Russia are friends and trading partners, there is no need for US military bases, no need for expensive US-made weapons and missile systems, and no need for NATO.» https://www.unz.com/mwhitney/the-crisis-in-ukraine-is-not-about-ukraine-its-about-germany/
PS8: Conforme o artigo de Pepe Escobar, a guerra da energia segue o seu caminho, conforme eu previra há mês e meio!
[OBRAS DE MANUEL BANET] IRRADIAÇÃO CÓSMICA
Universo paralelo? Ver AQUI
Sem princípio nem fim,
Sem fim nem princípio
Em frente de mim o infinito
Em mim a escura pedra
Da cabeça aos pés
A vida que teima
E vive em si e por si
Não importam as elucubrações
A energia que banha o meu ser
É a mesma que banha todos os seres
Desde os primórdios do Universo
Somos.
(Murtal, Parede 24-01-2022)