segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Ex-Primeiro Ministro de Singapura sobre o estatuto de Taiwan


 Taiwan tem uma longa história. Uma história que antecede de milénios a presença do poder imperial chinês na ilha. 

Foi a partir de Taiwan e de outros pontos da costa asiática, que se deu o povoamento das ilhas dos arquipélagos da Polinésia e parte da Indonésia. Existem evidências, do ponto de vista antropológico, linguísticas e - mais recentemente - do ADN destes povos, que demonstram essa antiga dispersão. 

No século XV, antes dos portugueses terem aí chegado, Taiwan era parte do império chinês. Mas a população autóctone era muito maioritária. Os comerciantes vindos do continente e alguns membros da administração eram os poucos habitantes da etnia Han (muito maioritária, hoje, na China continental).

Com o tempo e o intercâmbio com os «bárbaros do sul» (nome dado aos portugueses), assim como com outros aventureiros e piratas que frequentavam as águas da região, a percentagem da etnia originária foi decrescendo e aumentando a da etnia Han, dominante no continente. 
Mas, uma transição mais acentuada ocorreu no final do século XIX, com a invasão e colonização nipónica da ilha. Os japoneses expandiram-se em Taiwan, tal como noutras paragens do Extremo-oriente, à procura de recursos e de posições estratégicas, que lhes permitissem consolidar o império «do Sol nascente». A colonização japonesa de Taiwan terá sido menos brutal que a doutros países e povos (como foi o caso da Coreia), mas deixou más memórias a muitos taiwaneses.

Na guerra entre japoneses e  americanos, no final da IIª Guerra Mundial, as tropas de ocupação japonesas foram obrigadas a render-se, em Taiwan, aos americanos. Estes entregaram o governo de Taiwan ao Kuo Min Tang. Na guerra civil entre os exércitos do partido comunista e nacionalistas de Chian Cai Tchek  as tropas derrotadas deste último refugiaram-se em Taiwan, sendo transportadas em navios de guerra americanos. 

Chian Cai Tchek foi um general que, inicialmente, se aliou aos comunistas soviéticos. Esteve próximo do nascente Partido Comunista Chinês mas, passado algum tempo, tomou a chefia duma facção nacionalista, que se confrontou de modo sangrento com os comunistas. Esta guerra civil decorreu em simultâneo com a invasão japonesa. A luta contra o invasor motivou algumas tréguas entre os exércitos chineses inimigos, mas não houve realmente uma frente duradoira contra o invasor. 
Os comunistas chineses acusam as forças nacionalistas de fazerem o jogo do invasor, ao não tomarem a ofensiva quando tinham oportunidade de o fazer, etc. É difícil avaliar os papéis de uns e de outros na terrível situação de guerra civil e no meio de uma invasão estrangeira. 

O certo é que  comunistas e nacionalistas foram jogetes das superpotências vencedoras da 2ª Guerra Mundial, os soviéticos e os americanos. Durante muitos anos, a China Popular não foi reconhecida oficialmente pelo «Ocidente», havendo uma delegação da «República da China» (de Taiwan) nas Nações Unidas. Apesar disso, os ocidentais faziam comércio com a China comunista  (através de Macau e de Hong Kong).

Quando Nixon e Kissinger fizeram a grande viragem, que permitiu que o governo da China Popular fosse reconhecido como o legítimo para toda a China e se abriam as portas da ONU, muitas instituições multilaterais receberam representantes oficiais da China Popular e os diplomatas de Taiwan perderam o estatuto de representantes da China, em virtude dos acordos Sino-Americanos e de tudo o que se seguiu.

Hoje em dia, a polémica é alimentada pelos americanos, ao darem o dito por não dito (em relação à promessa de não expansão da OTAN para Leste, também faltaram aos compromissos): 
- Segundo os acordos de 1971, há só uma China; essa entidade é representada pelo governo de Pequim. Oficialmente, continua a ser  esta a posição dos EUA e da imensa maioria dos países representados na ONU, salvo uns poucos, que ainda mantêm relações diplomáticas com Taiwan. 

Em Taiwan, existe um governo de um partido diferente daquele que tem governado nos decénios passados. Este partido, o DPP, diz oficialmente perseguir o objetivo da independência de Taiwan. Ora, este partido tem uma maioria estreita nas eleições e conta com forte oposição do Kuo Min Tang (o partido fundado por Chian Cai Tchek), que não aceita a política separatista.

A economia da ilha está fortemente interconectada com a China continental. As matérias-primas, em particular alimentares, são importadas em grande parte do continente. As indústrias de microinformática e semicondutores, como a empresa TSMC, têm como principal destino de exportação a China Popular. Há grandes investimentos de capitais de Taiwan, na China continental. Para muitos milhares de pessoas e para a economia de Taiwan, um corte de laços comerciais com a China continental seria uma catástrofe.

A ambição americana é acirrar as inimizades, provocar o governo de Pequim a intensificar medidas que possam ser vistas como «estrangulamento» da ilha, para criar condições dum conflito aceso, em que eles (EUA) iriam socorrer o governo taiwanês, «ameaçado pelos totalitários». Até agora, esta manobra não tem surtido efeito, quer pela sabedoria e experiência acumulada de chineses, de ambos os lados do Estreito de Taiwan, quer porque as simulações do Pentágono têm mostrado que, numa confrontação militar, os EUA, inevitalvemente, iriam perder.

Ver também:

https://youtu.be/VL0rbkkrqhg?si=6-l_nsRHdFsH2iNL

domingo, 24 de agosto de 2025

GLENN GOULD INTERPRETA BACH

 


Glenn Gould consegue cativar a minha atenção do princípio ao fim, desfiando cada andamento de cada partita como uma narração única. 

A qualidade destas interpretações foi reconhecida com a designação de «Gravações do Século», ou seja, são gravações de referência para intérpretes e apreciadores de música barroca.

sábado, 23 de agosto de 2025

DMITRI ORLOV FALA SOBRE A GUERRA NA UCRÂNIA - O GOLPE FINAL


 Para Dmitri Orlov não há dúvida que a sociedade ucraniana está destruída, para além de qualquer recuperação, pelo menos, na duração de nossas vidas. Já o falecido Gonçalo Lira e outros, apontavam o facto da demografia ter atingido um ponto de não retorno. 
Os neocons americanos e demais imperialistas, têm um plano de «repovoar» a Ucrânia com emigrantes de países que eles também destruíram ou ajudaram a destruir. Estes proporcionariam trabalhadores manuais para os projectos industriais, agrícolas e, sobretudo, de mineração (lítio, metais estratégicos...). Quanto à agricultura, com os solos mais férteis comprados por grandes empresas de agronegócio, seria baseada em adubagem química e aplicações de insecticidas, em culturas OGM. 
Não me espanta nada que , depois da destruição física deste povo, venha a fase da colonização, no duplo sentido de exploração dos autóctones e de importação de emigrantes e de colonos, de países africanos e do Oriente próximo. 

A Rússia não está interessada em ser «sócia» nesta empresa de neocolonização, por duas razões simples de se perceber: 

- 1º Seria acusada de  explorar e escravizar os ucranianos, levantando mais rancor, alimentando prováveis movimentos de sabotagem ou de guerrilha anti-russa. 

- 2º A imensidão da Rússia e a quantidade de riquezas minerais inexploradas são largamente suficientes para garantir um futuro de bem-estar para a população, se as referidas riquezas ficarem em mãos nacionais russas e controladas pelo poder político, de forma a não serem sujeitas à predação de capitalistas nacionais e internacionais.  

De qualquer maneira, aconselho-vos a ouvir Orlov. Dmitri foi viver nos EUA com os seus pais, quando menino e regressou à pátria russa há poucos anos. Tem numerosos livros, um dos quais é particularmente interessante, pois estabelece o paralelo entre a decadência e colapso do império americano e do império soviético: 

- Ele prevê que o caos e miséria nos EUA ultrapassem a catastrofe dos anos 1990 da Rússia pós-soviética, de predação pelos oligarcas (locais e internacionais). Nos anos da presidência de Bóris Iéltsin, a Rússia sofreu uma «hecatombe» populacional, devido ao brusco desaparecimento das estruturas sociais que sustentavam a população mais pobre, mais idosa...


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ALGUNS ARTIGOS SOBRE DMITRI ORLOV, NESTE BLOG:


DMITRI ORLOV SOBRE O PRESENTE E FUTURO


Dmitry Orlov & Jeffrey Sachs: DUAS VOZES DE PAZ



sexta-feira, 22 de agosto de 2025

A reforma de fogo do Papa Leão


Se as 15 medidas forem concretizadas plenamente, será  uma transformação  profunda da Igreja  Católica.  Mas se estas reformas forem sabotadas por dentro, será  apenas mais uma colecção  de boas intenções. 
 

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Novas evidências sobre a origem, evolução e extinção dos neandertais


 A dispersão dos neandertais em todo o continente euroasiático proporcionou o aparecimento de formas regionais, encontros e cruzamentos com Homo sapiens e Homo denisovans. Deriva daí, que os humanos contemporâneos, que não sejam subsaarianos, possuem cerca de 1 a 2% de genoma neandertaliano. Em termos de sequência genética, pode-se dizer que a espécie humana de hoje tem várias origens, pode-se considerar que a formação de híbridos entre "raças "  (hoje extintas) contribuiu de modo decisivo para as capacidades diferenciais de adaptação aos ambientes particulares.  Por exemplo: Adaptações  ao frio extremo nas populações do  Norte  Europeu e Siberiano, respectivamente, através  da assimilação de genes neandertais e denisovanos.

Estas descobertas, não  só  modificam profundamente a maneira como concebemos os processos de evolução humana no passado longínquo, como têm importância  para as populações contemporâneas:  Correlacionam-se certas resistências ou susceptibilidades a doenças, com certos pedaços  de genoma,  com certos variantes de genes, herdados das outras espécies humanas, que se cruzaram com nossos antepassados diretos, Homo sapiens.

sábado, 16 de agosto de 2025

UMA DAS OBRAS REVOLUCIONÁRIAS, QUE MAIS TEM EXPOSTO O CAPITALISMO


 Estou a falar-vos da «Beggars Opera» de John Gay, com música de Christoph Pepusch, estreada em Janeiro de 1728. A gravação aqui apresentada, foi gravada em 1991, na Igreja St. Paul em New Southgate, Londres, Reino Unido.

Esta peça de teatro musical, que foi um sucesso em Londres na época, mostra os caracteres de personagens com a crueza satírica duma crítica social, a mais impiedosa que este século produziu.

ACONTECE QUE ESTE SÉCULO XVIII, FOI...

- O século do triunfo do capitalismo mercantil

- O século das «Luzes» e da liberdade de crítica nos países que não estavam sujeitos à Inquisição

- O século em que se deu a secessão da colónia americana da coroa britânica, em resultado da guerra revolucionária, com a independência dos Estados Unidos.

- O século em que eclodiu a Revolução Francesa, com todas as suas peripécias épicas e sangrentas.

Esta peça serviu de inspiração à dupla Brecht-Weill para a famosíssima «Ópera de Três Vinténs» (1928).

Ambas as óperas possuem uma estrutura mais aproximada ao teatro popular: Ambas têm numerosas partes faladas (não com recitativos cantados, como era norma na ópera «séria»). As partes cantadas são de sabor popular, com letras e melodias fáceis de memorizar. Os acompanhamentos evocam música de fanfarra ou de teatro de rua, sublinhando a natureza «reles» dos personagens (um sub-mundo de criminosos, prostitutas, proxenetas, receptadores, agiotas... ) por oposição ao que se considerava ser assunto próprio da ópera, como as paixões de «altos personagens», como os reis, os príncipes e os heróis...

A contribuição destas obras para a transformação da visão sobre o teatro e a ópera, pode ser avaliada pelo facto destas terem tido, em quase 300 anos, uma carreira notável nos palcos, no cinema, nas gravações em disco e na adesão do público, incluindo público «popular» não apreciador de obras musicais eruditas.